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História Realidades Ocultas - Um cemitério muito louco.


Escrita por: MalkBobo

Notas do Autor


Boa leitura!

Capítulo 12 - Um cemitério muito louco.


  Naquela noite, todos tinham muito o que fazer. Maria Eduarda precisava ir para casa afinal, não dava notícias para sua família desde o dia anterior e não conseguiria ignorar eternamente as ligações da mãe. Assim, Kurai resolveu levá-la em casa, sendo acompanhada pelo Clécio. A Ashumaru decidiu ir junto, pois não tinha mais nada melhor pra fazer.

Simultaneamente, Wander e Gabriel deixaram a rodoviária da cidade e se embrenharam na mata. Era uma tarefa muito difícil, pois estava tudo muito escuro e a trilha era bastante fechada. O mais velho andava tão rápido quanto possível, sendo seguido pelo adolescente.

Depois de uma longa caminhada eles chegaram a uma clareira, onde era possível enxergar razoavelmente bem devido à lua cheia que brilhava majestosamente no céu.

– Por que tivemos que vir tão longe? – perguntou Wander, ofegante.

– Queria o que, treinar poderes paranormais na frente de todo mundo?

– Tá certo, e que sorte que você conhecia essa clareira né?

– Nunca vim aqui antes, mas a minha intuição me disse que tinha um lugar como esses. Você também é paranormal, deveria ouvir melhor a sua intuição.

– A minha nesse momento tá me dizendo que vai dar merda.

Nesse momento, Gabe deu um soco na barriga do rapaz.

– Porque você fez isso? – perguntou Wander, se encolhendo.

– O treinamento já começou, leve isso a sério!

– Pelo menos a Rute não me batia...

– A velha Rute é uma lenda viva, mas os anos a deixaram mole, garanto que treinando comigo você vai deixar de ser um inútil em pouco tempo. Pensa rápido!

Antes que pudesse esboçar qualquer reação, Wander foi atingido por uma pedra que o Gabe atirou contra ele.

– Ai, isso doeu! – o garoto reclamou.

– Você possui telecinese, use-a pra se defender.

Gabriel atirou outra pedra contra ele, porém desta vez ele desviou a trajetória do projétil com o seu poder mental.

– Chupa essa!

A comemoração do Wander não durou muito, pois o outro arrancou o galho de uma árvore e começou a golpeá-lo.

– Peraí, eu não consigo mover coisas tão grandes assim – o garoto reclamou, enquanto desviava com dificuldade das investidas do homem.

– Aprenda ou morra!

Wander continuava se esquivando, porém em pouco tempo ele cansou e acabou sendo atingido, ficando bastante machucado.

– Droga...

Sem dizer nada, Gabriel continuou batendo, deixando o discípulo em frangalhos.

– Você não tem jeito, acho que é melhor te matar aqui do que deixar a Tatielly fazer isso mais tarde– o galho começou a brilhar.

– Esse troço tá brilhando, que é isso? – o garoto ficou desesperado.

– Sabia que é possível energizar objetos? Quando eu bater com esse galho em você ele vai explodir. Não sou médico mas, acho que esse seu corpo frágil vai resistir.

Gabe realizou o ataque com o galho energizado. Wander já estava cansado e ferido demais para fugir, então se lembrou da lição que recebeu da mestra Rute.

“Colocar os pés em contato com a terra melhora o fluxo de energia mística, mas eu tô de tênis e não vai dar tempo de tirar... preciso tentar outra coisa”

Quando estava prestes a ser atingido, Wander colocou as palmas das duas mãos no chão e logo que sentiu um formigamento passando pelo seu corpo, então se concentrou no galho que Gabriel segurava e com um grande esforço conseguiu paralisá-lo. Assim que percebeu o que estava acontecendo, Gabe largou o objeto que em frações de segundos explodiu. Depois disso, Wanderwal desmaiou.

– Você não tinha a intenção de acertá-lo, não é? – disse Natália, que havia acabado de chegar acompanhada da Angel.

– Tinha, ser morto por mim aqui ou pela Tatielly mais tarde não faz diferença. Aliás, estou sentindo que você está acompanhada, por acaso é ela?

Natália e Gabriel não haviam conversado desde que tiveram aquele desentendimento, mas a conexão entre eles era tão forte que de alguma forma os dois sempre pensavam juntos, então tiveram a mesma ideia e sabiam disso.

– É sim, seu nome é Angel.

– Eu ainda não entendi do que vocês estão falando – perguntou a fantasma que não era visível, mas podia ser ouvida pelo Gabe.

– Já vamos te contar todos os detalhes – falou Natália – Já que queremos que o Wander faça uma Soul Blade com a Angel, você não deveria estar treinando a percepção espiritual dele ao invés de um exaustivo treino de combate?

– De que adianta ele ter uma arma espiritual e não saber usá-la? Alem disso eu precisava passar o tempo até vocês chegarem.

– Você é horrível, te odeio do fundo do meu coração – falou Angel, com um tom calmo.

– Existe um clube de odiadores do meu irmãozinho, já pensou em se filiar? – ironizou Natália.

Nesse momento, o Wander acordou.

– Ai... – ele estava todo dolorido – eu tô vivo?

– Por enquanto. Uma pergunta, quantas pessoas estão aqui? – perguntou Gabe.

– Ué, só nós dois – Wander não entendeu a pergunta.

– Ele precisa melhorar sua percepção espiritual urgentemente – disse Natália.

– Agora você precisa melhorar sua percepção espiritual – o homem repetiu as palavras da irmã para o Wander ouvir.

– Beleza, vai tentar me matar de novo?

– Vou, mas a forma mais rápida de um paranormal aprender a se comunicar com os mortos é passar um tempo em um local com muitos espíritos, mas não tenho certeza se há algum lugar assim aqui perto.

– Espera! – disse Angel – há um antigo cemitério de escravos nessa região, é assustador, mas deve funcionar.

– Ótimo, nos leve lá – falou Gabriel.

– Com quem você está falando? – perguntou Wander.

– Cala a boca e me segue.

Angel saiu flutuando, sendo seguida por todos os outros. Eles correram por horas em uma estrada de terra e quando já era mais de meia noite eles chegaram. Era uma grande área coberta de mato, pessoas desavisadas nunca desconfiariam que havia centenas de corpos enterrados ali.

– Chegamos – disse Angel – o cemitério é logo ali na frente, mas eu só venho até aqui. Boa sorte pra vocês!

– Eu também não vou além, já tô vendo um negão me olhando e não do jeito que eu gosto – falou Natália.

– Eu fico por aqui, quem tem que treinar percepção espiritual não sou eu – declarou Gabriel.

– O que quer dizer? – perguntou Wander, que ouviu apenas a última fala.

– Que eu fico aqui e você entra, e não ouse voltar antes de aprender a sentir a presença de espíritos!

– Tá bom, não deve ser mais assustador do que ver a sua vizinha de cento e cinquenta quilos dançando funk de fio dental.

Wander prosseguiu, enquanto os outros três ficaram observando.

– Será que ele vai ficar bem? – perguntou Angel.

– Ele sobrevive – disse Gabriel.

– Outra pergunta, que plano é esse que vocês tem? Parece que envolve eu e o Wander, estou certa? – indagou a fantasma.

– Exato – respondeu Natália – Gabe, vou voltar para o seu punhal, mostre pra ela como funciona a Soul Blade.

O homem tirou o punhal da cintura e o espírito da Natália literalmente entrou nele.

– O que foi isso? – Angel ficou admirada.

– Isso se chama Soul Blade, uma arma espiritual muito poderosa que é construída a partir de um contrato entre um espírito e uma pessoa que tenha sensibilidade espiritual.

– Me explica melhor.

– O primeiro requisito é o vivo conseguir se comunicar com o espírito. Há grandes paranormais que conseguem ver e conversar com mortos como se estivessem vivos, mas se apenas conseguir ouvir já dá pro gasto. Eu consigo apenas ouvir espíritos, com exceção da minha irmã.

– Entendo...

– O passo seguinte é a escolha da arma, que deve estar em sintonia com a personalidade de ambos. Em seguida vem a parte mais complicada que é o contrato em si, um acordo verbal entre as partes. Nesse acordo deve ser especificada em que situação a Soul Blade pode ser utilizada, inclusive com alguma consequência ruim caso ela seja usada indevidamente. Deve ser estabelecido o tipo de poder vocês desejam que ela tenha e principalmente, uma condição para a libertação do espírito.

– Quer dizer que eu vou ficar presa?

– Mais ou menos. O ideal é que o espírito não saia da blade, pois isso a enfraquece, mas se for especificado no contrato você poderá sair por períodos curtos. Mas lembre-se de nunca abandonar totalmente a arma, não conheço os detalhes, mas há escrituras muito antigas que dizem que as consequências de uma quebra de contrato tanto para o espírito tanto para o vivo são centenas de vezes pior do que a mais terrível das mortes.

– Bem... parece razoável.

– Para terminar, as partes devem selar um juramento, depois eu ensino as palavras certas para vocês. Também levem em consideração que a força de uma Soul Blade depende de quão severas forem as condições de uso e quanto mais íntimos o vivo e o espírito forem, melhor. Isso é tudo por hora, o resto vocês vão descobrir sozinhos.

Enquanto isso, Wander adentrava cada vez mais no cemitério. Ele não sabia disso, mas estava sendo observado por vários espíritos, a maioria aparentemente bem, mas alguns deles estavam presos por grilhões e outros repletos de marcas e ferimentos.

– Um vivo, faz tempo que não aparece algum por aqui – disse uma mulher.

– Deve ser um daqueles moleques que vem pra cá fumar aquele fumo estranho, vou dar um jeito nele – falou um homem alto e forte, mas que não tinha braços nem olhos.

– Deixa o menino, ele deve ter se perdido – uma mulher bastante idosa o repreendeu.

– Se ele desrespeitar o nosso lugar vou aparecer pra ele, duvido que ele aguenta olhar pra mim – o homem deu uma risada.

– Você não precisava manter as feridas de quando morreu, faz isso só pra assustar os outros – disse a velha.

– É fácil falar, a senhora morreu de velhice! – ele gritou – Arrancaram os meus olhos e os meus braços antes de me matarem!

Todos ficaram em silêncio e observando o visitante, uns com curiosidade e outros com desconfiança. Wander andava pelo cemitério, olhava em volta tentando enxergar alguma coisa diferente, sem sucesso.

– Já tô aqui há um tempão e não vi espírito nenhum – o garoto estava ficando impaciente.

– Então esse moleque quer ver mortos? Vou mostrar uma coisa que ele nunca vai esquecer.

O espírito sem olhos começou a se concentrar, na tentativa de se tornar visível. Nesse instante, um garoto com cerca de quatorze anos montado em um grande cavalo chegou perto dos outros.

– O que você veio fazer aqui, pensa que pode sumir e aparecer quando quer? – gritou o espírito deformado.

– Deixe esse sujeito comigo, descobrirei o que ele quer de verdade!

O garoto desceu do cavalo e se aproximou do Wander, que não via nem ouvia nada do que estava acontecendo. Em seguida, entrou no corpo do nosso amigo.

– Não sei por que vocês dão tanta atenção a esse fedelho – reclamou o espírito deformado, já tendo interrompido o processo de materialização.

– Deixa de ser invejoso, você sabe muito bem quem ele é – falou a velha, com um sorriso no rosto.

*****

Wander estava em um lugar totalmente escuro e silencioso. Ele começou a andar e nem mesmo seus passos faziam barulho, tentou falar, porém o som não saiu.

“Onde eu estou? Lembro que eu tava no meio do mato, era escuro mas nem tanto”, o garoto pensou, e logo olhou para o alto, vendo apenas a escuridão “o céu era estrelado e a lua estava cheia, definitivamente não estou mais naquele cemitério.”

Ele andou até cansar, então sentou.

“Pelo menos aqui tem um chão. Será que eu morri?”

Wander levantou, andou, sentou de novo, deitou e depois levantou mais uma vez. Não sabia quanto tempo havia passado, mas estava ficando perigosamente entediado.

“Ei, alguém me ouvindo?” ele tentou gritar, mas logo lembrou que não era possível emitir sons naquele local “Eu devo tá morto mesmo... se existem fantasmas eu quero ser um, onde eu gostaria de ir? Vestiário das modelos da Victoria’s Secret seria show, mas antes disso eu queria ver como a minha avó está”.

Nesse momento a escuridão se desfez e o garoto percebeu que estava em casa.

“Caraca, tô em casa! Será que eu sonhei tudo e isso e não existe essa história de paranormais, espíritos nem amuletos?”

Wander começou a andar pela casa e viu sua avó cozinhando. Ao contrário do lugar escuro e silencioso de antes, ele conseguia ouvir o som da panela de pressão e sentir o delicioso cheiro da comida.

– Vó, tava com saudade da senhora e da sua comida...

Dessa vez ele conseguiu falar, porém a senhora não respondeu.

– Vó? – ele gritou, mas ainda assim foi ignorado – Tô pensando em virar traficante, o que a senhora acha?

Wander se encolheu já esperando ser atingido por uma colher de pau ou outro utensílio de cozinha, porém sua avó continuou trabalhando na cozinha como se não o tivesse visto.

– Puta que pariu, ou ela ficou surda ou... será que eu morri mesmo?

Ele ouviu a voz da sua mãe gritando, então foi conferir.

– Eu não tenho dinheiro pra isso! – a mãe gritou.

– Mas mãe, todo mundo na escola fica me zoando porque o meu tênis tá furado – um menino com cerca de dez anos de idade reclamou, e logo o Wander percebeu que era ele mesmo criança.

– Quer tênis novo, vai pedir pro seu pai!

– Toda vez que eu vou na casa dele ele finge que não tá! Quer saber, eu não tenho pai.

O pequeno de casa pisando duro.

“Que estranho ver a mim mesmo nessa época. Será que eu viajei no tempo? Não duvido mais de nada.”

– Que gritaria foi essa? – a avó, que veio da cozinha, perguntou.

– Esse moleque achando que eu tenho dinheiro pra tênis novo, ele tem que pedir é pro pai dele – respondeu a mãe.

– Ele tem só dez anos, você é que tinha que entrar na justiça e pedir pensão.

– Não quero assunto com aquele cara!

A idosa percebeu que não adiantaria argumentar e voltou para seus afazeres.

“Com essa idade eu já sabia que não dava pra contar com o meu pai. Também foi a última vez que eu pedi alguma coisa pra minha mãe”.

Wander resolveu ver como ele mesmo estava, e automaticamente apareceu em um terreno baldio perto dali, onde sua versão mais nova movia mentalmente algumas pedras.

– Um dia eu vou ficar rico com esse meu poder, aí todo mundo vai ver!

“Eu ainda achava que ia ficar rico, ainda bem que desisti dessa ideia quando fiz quatorze, sei lá, tem gente bem mais na merda do que eu. Mas não posso negar que meus shows de mágica na praça já me tiraram do sufoco várias vezes”.

Ele continuou obsevando a si mesmo no passado. Assim o Wander crianças sentiu fome, voltou para casa.

“Estranho, toda vez que eu penso em alguém acabo aparecendo perto dela. Quem eu gostaria de ver agora? Victoria’s Secrets fica pra depois, agora eu quero saber a identidade secreta dos caras do Slipknot.”

Wander sumiu dali e viu ele mesmo, já adolescente, na casa do seu amigo Orelha. Os dois estavam vendo o DVD de um show do Slipknot e tocando guitarras imaginárias.

“Não era bem assim que eu estava imaginando, quer dizer que eu não posso ir pra qualquer lugar. Quem poderia me ajudar a saber o que está acontecendo? Já sei, o Gabriel”.

Agora, o rapaz foi transportado até o momento lá do capítulo quatro onde ele estava apanhando do Gabriel e insistindo em dizer que não estava com o amuleto do fogo, até que foi salvo pela Ashumaru, que disse ao homem que realmente o Wander não estava com o amuleto.

“Essa não é a lembrança que eu queria agora, não é bem assim que eu imaginei que seria viajar no tempo. Espera, lembrança, memória, mente... É isso, eu não estou viajando no tempo, estou viajando na minha própria mente, nas minhas memórias”.

Assim, o lugar onde estava se desfez, dando lugar a um labirinto. Nas paredes deste labirinto, havia espécies de projeções de diversos momentos da sua vida, tanto felizes quanto tristes.

“Definitivamente eu morri, só não esperava que era desse jeito que a minha vida ia passar diante dos meus olhos. Já que é um labirinto deve ter uma saída, vou procurar.”

Ele ficou andando, rodando, se perdendo. Algumas vezes parava para prestar atenção nos “filmes” que passavam nas paredes. Um desses filmes mostrava ele, o Gabriel e a Ashumaru dentro da Fiat 147 indo para Petro City.

“Foram oito horas divertidas, o Gabriel todo metido a Vegeta, mas eu acho que no fundo ele não é um cara mal. E a Ashumaru, doida pra dar pra ele... Acho que se nesse dia eu não tivesse junto, ela tinha estuprado o cara. Foi legal, só faltou a Madu pra ficar a galera toda reunida...”

Wander continuou andando, até que viu uma imagem dele conversando com a Sara, a garota que morreu queimada no início de tudo.

“Isso foi muito injusto, a Sara morreu só porque alguém queria me encontrar. Ela perdeu a vida, os pais dela perderam a filha, só por causa de uma estúpida guerra por poder sobrenatural que a maioria das pessoas nem sabe que existe”.

Assim que pensou nisso, algumas paredes caíram, deixando apenas um caminho. Sem ter muito o que fazer, Wander apenas seguiu até encontrar um menino negro segurando uma corda e em frente a uma porta.

“Esse garoto eu nunca vi”, pensou Wander.

– Quem é você e o que faz aqui? – perguntou o menino.

– Eu é quem pergunto, aqui é a minha mente,o que está fazendo aqui?

– Também é a minha mente!

– Eu achei que tava entendendo, mas agora já bagunçou tudo de novo. Você disse que também é a sua mente? – Wander destacou a palavra também.

– Exatamente! Duas mentes, ou melhor, duas almas em um só corpo.

– Tá certo então, essa porta deve ser a saída não é? Eu sei que eu já tô morto, mas se eu conseguir sair desse labirinto maluco da minha vida eu vou poder viajar por aí como alma penada e ajudar meus amigos a parar os planos de uma mulher muito má.

– Está bem, pode entrar.

O menino saiu da frente do Wander, que logo caminhou para a porta.

– Valeu mesmo, tu é sangue bom! Mas você falou que eu posso entrar, não era pra dizer que posso sair?

– Não, é entrar mesmo.

Assim, a porta se abriu Wander foi sugado por ela. Depois de passar por uma luz muito intensa, novamente ele apareceu em outro lugar, dessa vez uma fazenda de gado.

– Onde eu estou? Dessa vez não pode ser a minha mente porque eu nunca nem vi um boi vivo.

Ao andar pela fazenda ele viu o mesmo menino com quem falou quando estava no labirinto. O garoto estava tocando alguns cavalos e os guardou no estábulo.

– Ô negrinho, cadê o meu cavalo baio que acabei de comprar? – perguntou um homem de meia idade que acabara de se aproximar.

– Eu... – o menino começou a olhar entre os cavalos procurando pelo tal, entrando em desespero ao perceber que não estava ali – ele tava aqui agora a pouco.

– Ara, vou te ensinar a cuidar melhor das coisas dos outros! – o senhor começou a açoitar o pobre garoto.

– Ei, vem bater em alguém do seu tamanho!

Wander gritou, contudo não era ouvido. Tentou segurar a mão do homem que batia, tentou bater no indivíduo, e até mesmo tirar o menino dali, mas era tudo em vão, ele conseguia ver e escutar tudo, porém sem interagir com nada.

– Agora vá procurar o cavalo e não ouse voltar sem ele!

Assim que o senhor ordenou, o menino correu para procurar pelo animal, mesmo estando machucado pela surra que levou. Wander foi atrás dele, rezando para que ele conseguisse encontrar o tal cavalo. O menino procurou até o anoitecer e finalmente, encontrou o equino e o laçou.

– Isso moleque, agora leva ele de volta pro dono! – Wander vibrou.

O menino tentou levar o cavalo de volta, porém o animal era muito forte e estava bastante agitado e logo conseguiu arrebentar a corda e correu para longe.

O escravo começou a chorar. Já estava escuro e era impossível procurar o cavalo naquelas condições e sem ter outra opção, o menino voltou para a fazenda na esperança de receber “apenas” outra surra como a que recebera mais cedo.

– Não volta pra aquele lugar não, foge que é melhor! – Wander gritava em vão.

Assim que o menino voltou, o senhor já o esperava junto com outros dois escravos grandes e fortes.

– Tô vendo que não voltou com o meu cavalo, botem ele no tronco!

Os outros pegaram o menino e o amarraram em um tronco. Em seguida, o dono o açoitou quase até a morte e no fim, ordenou que os homens o colocassem sobre um enorme formigueiro.

– Amanhã de manhã vamos ver se as formigas fizeram o serviço direito...

O homem se recolheu, deixando o menino sendo comido lentamente pelas formigas. Wander tentou ajudá-lo de toda forma, e quando percebeu que não poderia, apenas ficou ao lado dele e chorando.

O menino morreu durante a madrugada. Wander apenas ficou esperando o amanhecer para tentar de alguma forma tentar atingir o fazendeiro, talvez com sua telecinese.

Enfim amanheceu. O dono da fazenda foi até o formigueiro aonde deixou o pequeno escravo no dia anterior, e começou a balbuciar.

– O que... o que é isso? O negrinho tá sem nenhuma formiga e nenhuma marca?

Wander olhou para o formigueiro. O corpo do menino ainda estava lá e todo desfigurado, mas conseguiu ver o seu espírito ileso de pé em cima do corpo, acompanhado do de uma mulher, provavelmente um espírito também.

– Aquela mulher – o fazendeiro ficou espantado – é a nossa senhora, o que eu fiz, matei um santo!

O homem saiu correndo em uma crise de loucura.

– Ô garoto! – Wander o chamou – agora que você tá morto deve conseguir me ouvir né.

– Consigo sim – o menino respondeu.

– Eu passei pela minha mente e depois pela sua, isso aconteceu com você de verdade não é?

– Aconteceu...

– Sinto muito mesmo! Quantas vezes eu reclamei da minha vida mas pô, tu era escravo e morreu desse jeito. Você tá no meu corpo agora tô certo? Deve ser por isso que tinha o labirinto da minha vida e agora esse filme da sua, são duas almas em um mesmo corpo.

O local onde estava se desfez, e tanto o Wander quanto o garoto ficaram apenas em um lugar totalmente vazio.

– Você percebeu rápido – disse o garoto.

– Desculpa... se quiser pegar o meu corpo emprestado um pouco pode pegar, o mundo tá melhor do que na sua época. Já que tá com o meu corpo pode ir na minha casa, a minha avó cozinha bem pra caramba, você vai gostar. Também tem muita garota bonita na minha escola, com meu corpo tu não vai arrumar nada mas olhar você pode.

– Não precisa, já não possuo essas necessidades humanas. Viestes procurando alguma coisa e eu, como guardião das pessoas que perderam algo, vou te ajudar já que tens bom coração.

– Valeu, mas... eu não perdi nada.

– Mas ao seu lado há pessoas que perderam. Entes queridos, ou até a própria vida, e você pode ajudá-las a encontrar.

– Ah tá bom... brigado então!

– Agora vou deixar o seu corpo...

– Peraí, tenho só uma pergunta! Eu nunca fui ligado nessas coisas mas agora fiquei curioso, você é mesmo um santo? E aquela mulher era a nossa senhora?

– Não sou um santo, apenas um espírito que resolveu ajudar pessoas quando possível, e aquela mulher também era um espírito, porém muito mais evoluída do que nós e que veio me ajudar a começar a minha nova “vida” sem corpo.

– Ah tá, beleza então.

Nesse momento, Wander abriu os olhos e viu que estava deitado no meio do mato, com os primeiros raios de sol da manhã batendo no seu rosto.

– Ai... será onde estou agora?

Ele olhou em volta e viu que estava naquele antigo cemitério, porém dessa vez não estava sozinho, ele viu muitas pessoas em torno dele.

– Tô vendo um monte de gente, será que ainda tô dentro da minha mente?

– Você pode nos ver? – perguntou o espírito de uma mulher.

– Por que, não era pra ver não? – Wander estranhou.

Os espíritos ficaram maravilhados, não era comum vivos conseguirem vê-los.

– Já entendi – Wander deu um sorriso – Escutem, vocês não precisam ficar aqui, já são livres! Agora eu tenho que ir porque que tem alguns amigos me esperando, mas quando tudo terminar eu volto aqui, podíamos dar uns rolés por aí, mostrar como as coisas estão hoje em dia.

Wander saiu, deixando os espíritos perplexos diante da naturalidade com que ele os tratou. Mais afastado, o menino no cavalo observava tudo em silêncio.

– Negrinho do pastoreiro – a mulher mais velha do cemitério se aproximou – aquele rapaz deve ser muito especial, você deu dom muito raro a ele.

– Eu não dei dom nenhum, ele já o possuía. A única coisa que fiz foi guiá-lo numa jornada por sua própria alma e dessa forma sua visão se abriu. Mas só o deixei sair porque me certifiquei de que ele é bom, estou esperançoso de que ele ainda ajudará muita gente.


 


Notas Finais


Faz tempo que eu queria fazer referência a uma lenda brasileira e agora tive a oportunidade, espero que tenha ficado bom até porque deu trabalho pra caramba.
Ate o próximo capítulo.


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