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História Reasons to Stay - What's your hurry?


Escrita por: w4sp

Capítulo 2 - What's your hurry?


Após a ressaca do domingo, tinha tudo para ter uma semana tranquila no laboratório. Mas eu não estava precisando de tranquilidade. Me mantive ocupada com meus estudos e projetos, além de ajudar meu amigo Scott, que também veio dos Estados Unidos para estagiar no DYAD. Dessa forma, os dias se passaram sem que eu percebesse. Como consequência, meu corpo sentiu o peso da semana, e na sexta-feira, sem jantar ou tomar banho, me despi com dificuldade e simplesmente apaguei em minha cama.

Teria continuado dormindo na tarde de sábado, se não fosse por Scott, que bateu na porta do meu apartamento por volta do meio-dia. Vesti uma camiseta básica azul e uma calça de moletom da mesma cor, prendi meus dreads num coque e fui atender meu amigo. Ele tinha sacolas nas mãos. Dei espaço para que ele pudesse entrar e o interroguei com os olhos.

“Percebi que ontem saiu do instituto cansada, por isso resolvi trazer seu almoço. Nosso, na verdade.”

Ao ouvir a palavra “almoço”, meu estômago automaticamente roncou, gritou, reclamou. Eu tinha passado muito tempo sem comer. Abracei Scott como se ele fosse o próprio Papai Noel me trazendo presentes.

“Obrigada, Scott!”

Almoçamos enquanto conversávamos sobre Game of Thrones. Scott deve ser o cara mais nerd que já conheci. Todo domingo se reunia com outros nerds do instituto para jogar RPG. Confesso que já participei algumas vezes, mas não era tão frequente.

“Amanhã não iremos jogar.” Ele comentou com um ar de mistério.

“Por que?” Perguntei com seriedade, franzi o cenho, e então, vi um sorriso tímido se formar no rosto dele.

“Vou sair com uma garota, Cos.”

Duas novidades que me deixaram perplexa em menos de um minuto. Ele gargalhou quando arregalei os olhos.

“O quê? Como?”

“É. O nome dela é Bree. A conheci num salão, quando fui cortar o cabelo.” Scott suspirou apaixonado.

Fiquei feliz por meu amigo mas, naquele momento, lembrei de Delphine e respirei fundo. Scott percebeu quando forcei um sorriso e me abraçou.

“Sinto muito, Cos.”

“Não sinta. Desculpa por isso, Scotty.”

“Sem problemas!” O sorriso dele foi animador. “Sei como deve estar se sentindo, mas vai passar em breve, tenho certeza!” Ele falou com tanta convicção que parecia prever um futuro próximo. Abri um sorriso, dessa vez sincero, acreditando em suas palavras.

Scott deixou o apartamento por volta das quatro da tarde. Aproveitei para acender uma ponta na sacada do meu apartamento enquanto ouvia Cyndi Lauper. Comecei a pensar em que roupa usaria mais tarde. Examinei o céu e tive certeza de que iria chover.


 

Antes de entrar no bar, tirei minhas luvas de frio e as coloquei dentro do meu sobretudo vermelho. Dez da noite. Felix já estava me esperando, novamente no balcão, como na semana passada. Me aproximei, sentando ao lado dele e acenei para Jesse, que preparava alguma bebida não muito distante de nós.

“Ei, Fee.”

“Cos!” Me cumprimentou com um beijo no rosto.

“Não esperou por mim para começar a beber?” Brinquei, estranhando aquele gesto incomum.

“Apenas um drink!” Ele se justificou, mostrando os dentes perfeitos em um sorriso. “Hoje vou te acompanhar, você sabe.”

“Perdoado. O que está bebendo?”

“Não sei te dizer. Como está frio, pedi para Jesse me surpreender com algo que me aquecesse e ele me veio com um drink maravilhoso.”

“Acho que vou pedir o mesmo, então.”

“Cosima! O que vai ser?” Jesse se aproximou. Levava sempre um sorriso no rosto, algo que eu estimava.

Nesse momento, deixei que ele tomasse conta do meu drink. Enquanto esperava, conversei com meu amigo sobre a visita de Scott.

“Quer dizer que Scott está saindo com alguém?!” Felix perguntou, surpreso.

“Está. O nome dela é Bree.”

“Estou em choque, Cosima.”

“Por que?”

“Sempre achei que esse tal de Scott tivesse uma queda por você.”

“Não, Fee. Somos amigos. Além disso, ele sempre me respeitou, mesmo quando eu estava com…” Eu parei, de repente, percebendo o que estava a ponto de falar.

“Com Delphine.” Felix completou, e suspiramos em conjunto.

Um pequeno filme começou a passar pela minha cabeça. O momento em que botei os olhos na francesa assim que cheguei no DYAD. Aquele par de olhos castanhos me examinando sem pudor. Nosso primeiro beijo na biblioteca. Nossa primeira noite em meu apartamento. Nossa tensa conversa sobre a volta dela para Paris até chegarmos a um consenso. E finalmente, nossa ruptura e despedida oficial no aeroporto. Lá estava eu, outra vez, pensando em Delphine Cormier. Por sorte, Jesse me trouxe de volta, chamando meu nome.

“Cosima, aqui está. Espero que goste.” Ele colocou uma taça de vidro diante de mim e me examinou com os olhos, sem dizer nada, mas logo percebi a preocupação estampada em seu rosto e decidi que ali não seria um bom lugar para um drama. Sorri em agradecimento e provei o drink. Bom. Meio amargo, forte. Era algo que eu não soube decifrar, mas me senti aquecida, como Felix havia dito.

    A bebida não demorou muito em minhas mãos e logo Jesse me trouxe outra taça. Fiquei sem entender, mas ele se adiantou, antes que eu perguntasse.

“Esse é por conta da casa.” E piscou o olho, como se fôssemos confidentes. Como se ele soubesse o que eu estava sentindo. Não sei se foi o álcool ou se foi o momento, mas já estava animada novamente.

    O movimento no bar aumentava com frequência, e em algum momento da noite, abandonei o banco ao lado de Felix e fui ao banheiro. O movimento lá dentro era intenso. Enquanto aguardava alguma cabine desocupar, me olhei no espelho. Estava me sentindo bem. Não estava tão bêbada como da outra vez, quando esbarrei com uma mulher maravilhosa. Sorri com a lembrança. Se eu tivesse a oportunidade de encontrá-la de novo… Balancei a cabeça e fui até a cabine vazia. Finalmente.

Ao sair do banheiro, avistei Felix, que continuava no mesmo lugar, mas meu lugar estava ocupado. Que ótimo! Os outros bancos de frente ao balcão estavam todos ocupados. Então eu travei. Meu coração acelerou quando a mulher com um longo casaco de lã cinza e calça jeans ao lado dele virou o rosto na direção em que pude ver aquele belo par de olhos azuis e uma franja familiar. Estava vendo o anjo em forma de mulher mais uma vez, e hoje, de cabelos soltos. Impecável. Só podia ser um recado divino. Pensei em voltar ao banheiro. Ainda dava tempo de voltar para casa sem que meu amigo percebesse? Quando me dei conta, já era tarde para isso. Felix me encarou e acenou. Eu estava tendo minha segunda chance. Caminhei até eles, tentando disfarçar minha leve embriaguez.

“Cosima! Esta é Shay.” Felix se apressou com as apresentações, como se soubesse das minhas intenções. Sabia que eu poderia fugir. Oh, Fee, você já me conhece tão bem…

“Olá, Cosima.” A figura celeste com o nome de Shay me cumprimentou com um aperto de mãos. “Peguei seu lugar, não foi?” Ela se direcionou a mim, e então olhou para Felix.

“Não tem problema, Shay.” Felix balançou a mão num gesto vago. “Cosima não vai se incomodar em sentar ao seu lado. Estou de saída.” Ele completou, se levantando e me puxando suavemente para o banco que ele havia acabado de desocupar.

“Para onde vai?” Perguntei da forma mais calma que consegui.

“Para a casa do meu namorado.” Ele piscou o olho.

“Mas já são…” Eu procurei meu celular para consultar a hora, mas Shay foi mais rápida.

“Uma hora.” Ela pegou uma taça em sua frente e bebeu devagar. Vinho branco, talvez.

“Meninas, Colin está me esperando. Shay, pode tomar conta da minha amiga?”

“Claro, mas…” A loira olhou para mim, e então para ele, confusa.

“Cosima não vai fugir, a não ser que você seja francesa.” Ele chegou perto dela com um cuidado teatral. “Você é francesa?”

“Não.” Ela riu, e eu sorri, não só com a resposta, mas também por ter ficado encantada com aquele riso.

“Estou mais calmo, então.” Ele bateu uma palma, satisfeito, e deixou um beijo em nossos rostos, antes de partir.

“Então, Cosima…” Shay voltou sua atenção diretamente para mim. “Problemas com francesas?”

Afirmei com a cabeça, ela sorriu para mim.

“Deixe eu adivinhar. Ex?”

“É.”

“E onde ela está agora?”

“Na França, acredito.”

“Então não temos preocupações, temos?”

“Não temos.”

Fui sincera, e pela primeira vez em muito tempo, não me senti desconfortável em falar sobre isso. Não que eu quisesse prolongar a conversa, mas acho que eu seria capaz de explicar o que aconteceu. Fiquei aliviada por dentro quando Shay mudou de assunto, deixando explícito que não queria retomar aquele assunto. Nunca mais, se fosse possível.

    Canceriana. Nutricionista. Pablo Neruda. Neil Young. Tulipas. Vinho. Espanha. Verão. A mulher despertou de vez a minha curiosidade e a cada descoberta, ela se mostrava cada vez mais incrível. Ela me contou sobre o gosto por artes e literatura, além de relatar os dias ensolarados em Barcelona, me convencendo de que eu deveria visitar o lugar, um dia. E então, ela perguntou sobre mim. Pisciana. Cientista. Patricia Highsmith. Janis Joplin. Estados Unidos. Ela gargalhou quando eu falei sobre meu interesse em “ervas”. E no meio de tanto assunto, não notamos que o tempo havia passado tão rápido. O bar estava para fechar. Para quê tanta pressa?

“Acho que é hora de ir…”

“Posso te deixar em casa, se quiser. Além disso, acho que vai chover.” Shay se levantou e segurou minha mão.

Não vou aceitar. Não vou. Não.

 

O fusca azul dela era lindo.



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