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História Rebel Heart - When It Comes To You


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


√ Desculpem-me qualquer erro. Boa leitura!

Capítulo 10 - When It Comes To You


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - When It Comes To You

Senti minha cabeça pesar sobre o tecido macio do travesseiro. Meu corpo, que ainda carregava rastros dolorosos da pancada, acomodava-se no colchão que mais parecia uma pluma. Uma névoa escura me cobria e por mais que eu quisesse acordar, ela não permitia. Dor. Dor e palavras sussurradas na penumbra. Embora eu tentasse, não conseguia abrir os olhos. As palavras sussurradas ficaram mais claras, me puxando da escuridão.

— Ela está bem, crianças. Foi só um grande susto. — Disse uma voz desconhecida, calma e serena.

— Então por que ela continua inconsciente? — Era Rosie, e estava desesperada. 

— Como eu disse antes, a pressão dela baixou o suficiente para causar um desmaio. Quando ela estiver pronta, ela vai acordar. 

— Vocês poderiam falar um pouco mais baixo? Estou com uma puta dor de cabeça — murmurei de olhos fechados e a voz carregada de dor.

— Meri, graças á Deus! — senti seus braços ao meu redor, me causando uma dor fina na costela, o que me fez gemer imediatamente e abrir os olhos.

— Rosie, você está me machucando — reclamei. 

— Você me assustou! — Ela se afastou, ignorando meu humor. 

— Você está bem, querida? — Uma mulher jovem, de longos cabelos louros e olhos castanhos, com um traje branco, limpo e bem-passado, apareceu no meu campo de visão. 

Foi então que percebi que estava na enfermaria da universidade. 

— Estou com dores no corpo e na cabeça — respondi. — Eu vou sobreviver — tirei minhas próprias conclusões. 

— Tome isto, vai melhorar — a loura me trouxe um copo de água gelada e um comprimido. 

Sentei-me na maca com um grande esforço, esboçando caretas de dor. Coloquei o comprimido na boca e engoli com a ajuda da água, o que fez meu cérebro congelar. Fechei os olhos com força, me recuperando da sensação horrível. 

Ela retirou o copo da minha mão e flash's do que aconteceu atingiram minha cabeça como pontadas. Um arrepio percorreu minha espinha ao pensar que eu poderia estar morta agora, tudo por causa do imbecil do Christian. Ele tentou mesmo forçar a barra? Como ele poderia ter sido tão canalha? 

— Você estava na universidade? — perguntei á Rosie.

— Não — respondeu. — O Justin ligou para o Eggsy e corremos para cá.

— E onde eles estão?

Rosie fez uma careta.

— Quando o Justin descobriu o que aconteceu, ele ficou louco. O Eggsy está lá fora tentando controlar a situação.

Vincos de incompreensão surgiram entre minhas sobrancelhas. Justin não sabia o que tinha acontecido entre eu e Christian, e achava improvável que o mesmo contaria. 

— O que exatamente aconteceu?

— É que... — ela pareceu hesitante. Ergui as sobrancelhas, pressionando-a, e ela soltou a verdade: — O Ryan ficou com raiva pelo que aconteceu na festa, e ele espalhou uma mentira sobre você para todos os alunos.

— O que ele inventou, Rosie? — meu sangue ardeu em raiva.

— Não liga para o que esse babaca diz, Meri — ela tentou desviar do assunto.

— Rosie — pressionei-a mais uma vez.

Ela suspirou.

— Ele disse para todos que você é garota de programa. 

Meus olhos foram cobertos por uma manta vermelha de ódio. Eu não podia acreditar que Ryan tinha sido tão estúpido a ponto de inventar uma mentira tão miserável quanto esta. Como ele pôde ser tão baixo? Maldito filho da puta!

— O Justin ficou com raiva e o mandou para o hospital depois de dar uma surra nele — encolheu os ombros. — Isso deu um problemão, pois os pais de ambos foram chamados, e acho que o Justin está muito encrencado. Agora todos acham que você estava com o Justin e o Ryan ao mesmo tempo.

O que... O quê?! Puta que pariu! Minha cabeça girou com tanta informação e meu estômago afundou. Eu estava completamente perdida. Tudo começou por causa de Christian, mas na verdade, o culpado de toda a história era o Ryan. Por isso aquela conversa do Christian de me pagar para fazer sexo com ele. As peças se encaixavam. Mas por que Justin tinha de se meter? Por que ele tinha que dar uma de herói e ferrar com tudo para ele? Eu realmente não entendia... Ele me rejeitava, mas na primeira oportunidade me defendia de tudo e de todos. Qual era o problema dele? 

Escorreguei pela cama, firmando meus pés no chão. 

— Os meus pais sabem sobre isso? — perguntei enquanto deslizava meu casaco sobre os braços.

— Eu não... eu não liguei para eles. Na verdade, eu não tinha pensado nisso. — Ela se atrapalhou com as palavras.

— Ótimo — murmurei. — Eu tenho que ir agora.

— América, espera — segurou meu pulso, me impedindo de atravessar a porta. — O que você vai fazer? Por favor, não piore as coisas.

— Pior que isso não dá para ficar — suspirei. — Não vou fazer nenhuma besteira. — Encarei seu olhar desconfiado. — Eu prometo.

Rosie largou o meu braço. 

— Eles estão na diretoria? 

Ela assentiu. Virei o corpo sobre os calcanhares e saí da enfermaria fechando a porta atrás de mim. Para minha surpresa, dei de cara com Christian com uma expressão culpada tomando o seu rosto. Tentei escapar antes que ele pudesse me ver, mas era tarde demais: ele já corria atrás de mim tentando me alcançar.

— América, por favor — ele suplicou. — Por favor, espera.

Sua clemência me causava uma dor de cabeça enjoada, então parei. Virei-me para ele com os braços cruzados e uma expressão dura. 

— O que você quer, Christian? — perguntei, seca.

— Eu... — ele arquejava. — Eu queria me desculpar pelo que aconteceu. Não era eu.

— Era só isso? — virei-me para sair andando, mas ele me segurou, me fazendo voltar para a posição inicial.

Olhei para a sua mão em meu braço, indiferente, e ele se afastou, envergonhado. 

— Eu sei que fiz besteira, e estou muito envergonhado por isso — suspirou. — Eu estava fora de mim, aquele não era eu. Sei que não é desculpa, e talvez não seja um bom motivo para ter o seu perdão, mas espero que você possa me perdoar algum dia.

— Christian, eu sempre te achei um cara legal — disse eu. — E sei que você agiu por causa da mentira que o Ryan saiu espalhando sobre mim...

— Você sabe...

— Todo mundo sabe, Christian — respirei fundo. — E você acreditou... Todos acreditam nessa mentira agora. Sinceramente, como podem achar isso de mim? — Eu não escondia minha mágoa. — Se eu não tivesse te parado, você teria...?

Ele arregalou os olhos.

— O quê? Não! Claro que não! América, eu não seria capaz de fazer isso com você ou qualquer outra pessoa — ele estava desesperado para que eu acreditasse.

— Tudo bem, Christian. Eu acredito em você. Mas — olhei em seus olhos — não tente fazer mais nenhuma gracinha ou não respondo por mim. 

— Não se preocupe, América — ele jurou. — Me desculpe por tentar forçar a barra com você.

Acenei com a cabeça. Ele se virou a andou na direção oposta.

— Esse desgraçado tentou o quê?!

Virei sobre os calcanhares, vendo Justin parado atrás de mim com o rosto coberto por linhas de raiva. Ele tinha escutado tudo; não havia nada que eu pudesse fazer, ele já tinha perdido a cabeça.

— Justin...

Ele passou por mim sem me dar a chance de pará-lo.

— Christian. — Justin o chamou. 

Chris parou e se virou, e, logo de cara, recebeu um murro repentino que o fez cair sobre os armários e depois no chão. Aproximei-me depressa e puxei Justin pelo braço, tentando evitar uma desgraça.

— Você está maluco, cara? — exclamou Christian, se levantando, enquanto tentava estancar o sangue que escorria do seu nariz com a mão.

— Maluco quem vai ficar é você depois de eu quebrar esse seu rostinho bonito — Justin tentou avançar mais uma vez, fazendo Christian recuar, mas o segurei.

— Justin, para com isso! — supliquei, atraindo sua atenção. — Fica calmo, tá legal? — pedi olhando nos seus olhos.

Ele olhou para Christian por cima de mim: os olhos cobertos por uma manta vermelha de raiva.

— Se você tentar se aproximar dela novamente, eu te mando para o hospital para compartilhar o quarto com seu amigo imbecil — ameaçou.

Olhei para Christian, suplicante.

— Por favor, vá embora — pedi.

Ele lançou um último olhar de ódio para Justin e seguiu pelo corredor com a mão no rosto, ensanguentada. Voltei-me para Justin, irritada.

— Você está maluco? 

— Esse cara tentou forçar a barra com você — ele se defendeu no mesmo tom. — Eu deveria acabar com a raça dele!

— Você não acha que está ferrado o bastante? Pelo amor de Deus, se controla! 

— Você não pode pedir para eu me controlar! — revidou. — Você sabe o que esses idiotas andam comentando sobre você entre si?

— Sei.

— E como pode estar tão calma?

— Porque não é verdade. Aliás, por que você está tão irritado? 

Ele respirou fundo e desviou o olhar.

— Justin — busquei o seu olhar. 

— Quando se trata de você, eu fico louco. Não consigo me controlar e perco a cabeça. Não sei o que estou sentindo, mas não aguento ficar de braços cruzados enquanto esses babacas magoam você. — Despejou de uma só vez, como se um peso tomasse os seus ombros. — Quando eu soube que o Ryan anda espalhando um monte de mentiras sobre você, eu quis socá-lo até o corpo dele estar sem vida, por que quando se trata de você, não importa as consequências. 

Olhei para ele, surpresa.

— O que... — engoli em seco. — O que você quer dizer com isso? 

— Eu não sei, América — ele estava perdido. — Eu só sei que estou ficando louco. Você me deixa louco. — Acrescentou.

Ficamos ali, parados, olhando nos olhos um do outro. Meu coração estava dando muitos sinais de vida ultimamente. Olhar para ele, estar perto dele, fazia meu coração dar pulinhos de alegria. E o que mais me admirava era saber que ele se importava a ponto de quebrar a cara de todos à nossa volta. Eu deveria estar tão irritada a ponto de socá-lo, mas na verdade, estava muito agradecida.

— Obrigada, Justin. Obrigada por me defender — olhei nos seus olhos cansados. 

Ele suspirou.

— Você está bem?

Balancei a cabeça positivamente.

— Hum-hum. E você está muito encrencado? 

Ele puxou o canto da boca em um sorriso fraco, sem cor.

— O suficiente — respondeu.

— Eu vou conversar com o diretor, vou explicar tudo o que aconteceu, vou dizer que é tudo culpa minha — disse eu, determinada. — Eles não podem punir você.

— Esquece isso, ruivinha — ele suspirou. — Os pais do Ryan entenderam a gravidade do que ele fez, mas os que deixou irritado foi eu ter quebrado a cara dele. Mas ele vai ficar bem. E não me arrependo — deu de ombros.

— Justin — repreendi-o.

— Ele mereceu — retrucou. 

Balancei a cabeça em repreensão.

— E o que vai acontecer com você?

— Eles não vão me expulsar, é o importante. 

— Por favor, não faz isso de novo — pedi, apreensiva. — As pessoas podem dizer qualquer coisa quando estão com raiva, cabe a nós decidir dar ouvidos ou não. E não quero que se prejudique por minha causa, não vale a pena.

— Como não? Nenhuma mulher merece ser tratada desta forma.

— Guarde as suas forças para defender, quem sabe, a mulher certa para você. Neste caso, não sou eu. Não serei eu a mulher certa para nenhum homem.

— Está errada — disse ele, convicto. — Toda mulher merece seu príncipe encantado.

— Não existe príncipe encantado, Justin — um sorriso pequeno, opaco, tomava os meus lábios.

— Não, não existe. Não àqueles que surgem em um cavalo branco, vestido de armadura, pronto para enfrentar um dragão por você — fez uma pausa e olhou nos meus olhos. — Mas existe por aí um cara legal, cheio de defeitos, mas super disposto a te amar.

Soltei um riso sem humor.

— E quem seria esse cara super disposto a me amar?

Ele abriu a boca para responder, mas foi interrompido no ato:

— Aí estão vocês.

Eggsy se aproximava por trás de mim.

— Meri, está tudo bem? — perguntou ele ao parar do meu lado.

— Estou bem, Eg.

— E você, campeão? Está mais calmo? — voltou-se para o primo.

— Não enche — murmurou Justin.

— Seu pai está lá fora te esperando — disse ele.

— Vou lá enfrentar a fera então.

— Ei, eu posso falar com o seu pai, explicar o que aconteceu — olhei para Justin, apreensiva.

— Não se preocupe, ruivinha — segurou os meus ombros. — Eu cuido do meu pai, tá? 

— Tem certeza?

— Tenho. O Eg vai te levar para casa, descanse. Foi um dia cheio para todos nós.

— Mas e a sessão de fotos? 

— Esquece isso. Eu me viro sozinho por hoje.

— Mas eu estou bem — insisti.

— Foi um susto e tanto, América. Não se preocupe com o trabalho. Amanhã você pode retomar as atividades normalmente, mas agora eu quero que vá para casa e descanse. Não seja teimosa.

Bufei.

Ele se aproximou e beijou a minha testa.

— Até amanhã, ruivinha. 

Ele deixou o corredor depois de um leve aperto no ombro do primo. Virei-me para Eggsy e ele me observava com um olhar acusador e os dedos acariciando o queixo, estava pensativo.

— Que foi? — arqueei a sobrancelha.

Ele soltou um risinho e balançou a cabeça.

— Qual é o motivo da graça, Eggsy? 

— Vocês dois parecem um casal — ele me olhou com divertimento. 

— Engraçadinho — murmurei.

— Só vocês não veem. 

— O quê? 

— O quanto gostam um do outro.

Soltei um riso debochado.

— O Justin não gosta de mim desse jeito, lembra? Você mesmo disse — arqueei a sobrancelha e abaixei no mesmo instante. 

— Hum, você ouviu — murmurou ele, tirando as próprias conclusões. 

— É, ouvi. 

— Eu só disse aquilo porque estava preocupado com você, na verdade, eu não sei o que se passa na cabeça do Justin em relação á você. E seria uma boa ver vocês juntos, afinal, ele é um cara legal.

— Você está se preocupando atoa. Eu não gosto do Justin desse jeito, lembra? Só quero transar com ele.

— É mais engraçado ainda ver você tentando convencer a si mesma, mas seus olhos denunciam a verdade.

Revirei os olhos.

— Eg, foi um dia cheio, estou com uma baita dor de cabeça — esfreguei as têmporas. — Aguentar suas baboseiras não está ajudando, tá legal? Podemos ir? 

Ele achou graça. Eggsy sabia ser bem irritante às vezes. Depois de achar Rosie pelos corredores, seguimos viagem no seu carro. Olhei pela janela toda a viagem, enquanto a letra de Salted Wound perturbava meus ouvidos. Eu não estava apaixonada por Justin, muito menos me apaixonando por ele. 

                                [...]

Ele atendeu na terceira chamada. 

— Alô?

— Justin, oi, sou eu, a América. 

Ele soltou um risinho.

— Eu sei, ruivinha. Eu não disse para você descansar? 

Abri um sorriso mesmo ele não podendo me ver.

— Ninguém manda em mim, você já deveria saber.

— Teimosa — havia um sorriso nas suas palavras.

— Hum, estou atrapalhando? 

— Não. Eu já acabei aqui.

— Sério? 

— Sério. Foi bem rápido e prático, agora estou esperando os meninos arrumarem as coisas para eles poderem ir para casa. 

— Ah.

— O Andrew está com bastante saudade — ele provocou, com um tom amargo por trás do divertimento. 

— Eu nunca estive interessada nele. 

— Mas ele parece bastante interessado em você.

— E você não precisa ficar com ciúme — provoquei.

Justin não respondeu e imaginei sua careta. 

— Topa sair comigo? — convidou, ignorando a provocação anterior.

— O quê? Agora?

— É, agora. Eu estava pensando em ir ao Buckman, dizem que é ótimo. 

— Aquela lanchonete de frente para o mar? 

— Exato. Está quente. Podemos tomar um sorvete, o que acha? 

— Está me convidando para um encontro, Justin Bieber? — arqueei a sobrancelha involuntariamente, com um sorrisinho no canto da boca. 

— Estou te convidando para tomar um sorvete, como amigos.

— Que chato.

— Você vem ou não? — perguntou ele, um pouco risonho.

— Você venceu. Chego aí em trinta minutos.

— Não se atrase.

Foi a última coisa que ouvi antes de encerrar a chamada. Escorreguei pela cama, deixando o celular em cima do mesmo, e corri até o banheiro. Depois de tomar um banho para aliviar o calor daquele dia infernal, vesti um short azul celeste e uma blusa branca de alcinha com detalhes em renda. Arrumei uma bolsa básica e corri para o ponto de ônibus. Aquela situação só me fazia lembrar do quanto eu ainda estava com raiva pelo carro da Amélia.

Justin estava sentado em uma mesa ao lado do janelão de vidro que tinha uma bela vista para o mar. A luz do sol clareando o seu rosto o fazia parecer um sonho. Os olhos mais claros, a pele um pouco corada pelo calor, os lábios marcantes e o olhar sereno para o mar o fazia parecer que tinha acabado de sair de um conto de fadas. Eu não podia negar que Justin era um máximo: o paraíso e o pecado ao mesmo tempo, e qualquer mulher que fosse sua namorada ou, futuramente, esposa, teria muita sorte. Talvez eu estivesse errada quando disse que os homens são todos iguais.

— Dois minutos adiantada — disse eu chamando sua atenção, enquanto me sentava à sua frente.

Ele olhou para mim e sorriu, e, caramba, aquele sorriso era mais brilhante que o próprio sol. Seu cabelo estava um pouco maior, tocando o início da testa. 

— Eu deveria puxar a cadeira para você — disse ele.

Achei graça. 

— Sem formalidades, por favor. 

— Coisas assim são boas de vez em quando. 

— Bem, esse tipo de coisa é o que se deve fazer quando se tem uma namorada — arqueei uma sobrancelha. — Somos amigos — lembrei-o.

— Por que a ideia de ter um namorado te apavora tanto? — colocou os braços sobre a mesa, curioso.

— É complicado — respondi, tentando desviar do assunto. 

— Descomplique então. Quero saber — ele insistiu. 

— Você é sempre assim tão intrometido? 

— Só com as pessoas que me importo — olhou nos meus olhos. — Eu sei que não tem chances do Eggsy me contar, muito menos a Rosie, então pensei que, sei lá, você mesma pudesse me dizer. 

— É algo que está no passado, não quero relembrar. — Confessei com algo fino atravessando o meu coração. Dor.

— Isso machuca você, não é? — Seus olhos se tornaram apreensivos. 

Custou-me um pouco concordar com a cabeça.

— Lembra do que eu te disse? Temos que ser maiores do que os nossos medos, do que o que sofremos. Se não superar seus próprios demônios, como pode viver? 

— Isso leva tempo, Justin. O processo é lento, machuca. — Meus olhos arderam. 

— Eu acredito em você — ele segurou minha mão por cima da mesa, publicamente, o que me causou um leve desconforto.

Abri um sorriso sem graça e recolhi minha mão quando a garçonete se aproximou para anotar nossos pedidos. Era notável seus olhares piscantes para Justin, as bochechas coradas e o nervosismo... Típico. Aquele tipo de garota sonhava com um cara bonito, perfeito, com um lindo Mustang estacionado em sua garagem, preparado para levá-la a qualquer lugar. Deus, era tão clichê. O meu antigo eu amava clássicos e clichês. Talvez eu ainda gostasse, não tinha certeza.

— Você deveria chamá-la para um encontro — disse eu, olhando disfarçadamente para a bancada do outro lado da lanchonete, depois de dar um gole no milkshake. 

Justin sorriu divertido, entendendo o recado. A garota que nos atendeu não parou um só segundo de olhar em nossa direção, duvido que sequer piscou. Não era só ela, mas todas as garotas daquele lugar olhou pelo menos uma vez para ele. Justin era bonito, tinha um sorriso magnífico e a luz do sol batendo contra o seu rosto era o pior dos pecados. Eu não as culpava. 

— Estou em boa companhia — ele respondeu com a expressão mais serena possível.

Sorri.

— O que você está tentando fazer, hum? 

— Do que você está falando, ruiva? — Ele deu um gole no milkshake sem desviar o olhar de mim. Era... sexy.

— Eu geralmente não saio com garotos para fazer esse tipo de coisa — olhei ao redor.

— Tomar um milkshake, você quer dizer? 

— É, é isso. Estou me sentindo estranha. 

— De um jeito estranho bom ou ruim? — suas sobrancelhas se juntaram.

— Estranhamente bem — confessei um pouco baixo.

Ele abriu um sorriso pequeno, um tanto acusador.

— Então relaxa — disse ele, despreocupado, posicionando o canudo entre seus lábios entreabertos.

Não. Eu não queria, muito menos podia relaxar. Não queria me acomodar à Justin. Não queria gostar de estar com ele desse jeito. Era um limite que eu não queria ultrapassar. Ele fazia tudo parecer tão simples, e eu queria tanto acreditar que... Não. Ninguém iria me fazer de boba novamente, eu não ia ser machucada pelo mesmo erro. 

— Tenho uma novidade — ele disse de repente, me despertando dos devaneios. 

Ergui o olhar para seus olhos brilhantes e o sorriso aberto. Oh... Onde eu estava me metendo?

— Adivinha quem foi convidado para outra sessão? 

— Não brinca!

— Não brinco, não — respirou fundo, mal conseguindo conter o próprio entusiasmo. — Um amigo do meu pai me indicou e eles gostaram muito do meu trabalho. 

— Isso é um máximo! Eles não vão se arrepender — eu estava feliz por ele. — Vamos, me conte mais.

— Bem, as novidades ainda não acabaram — disse ele. — É uma campanha para uma revista. Basicamente, a capa dela. Eles me deram liberdade para escolher o tema, o que é ótimo. 


— Hum-hum — balancei a cabeça, incentivando-o a continuar. 

— Quero fazer algo diferente e simples. Quero mostrar para as pessoas as mulheres de verdade, aquelas que não precisam de maquiagem ou reparos para serem bonitas. Aquelas que, com um simples sorriso, consegue colorir um dia nublado e cinzento. Aquelas que são inteligentes e bonitas e atraentes por serem o que são.

— Isso é uma iniciativa muito bonita, mas não acho que restaram muitas mulheres assim. As poucas que restaram são difíceis de achar — disse eu.

— Tenho uma bem aqui debaixo do meu nariz — ele me encarou fixamente. 

O que... O quê?

Olhei para trás, mas tudo que encontrei foi a parede. Voltei-me para ele e apontei o dedo na minha própria direção.

— Eu? — questionei, surpresa. — Justin, você enlouqueceu? 

— Qual é o problema, Meri?

Balancei a cabeça em reprovação.

— Você está idealizando uma mulher que não sou — eu continuava balançando a cabeça. — E eu uso muita maquiagem, caso não percebeu.

— Mas você não precisa — retrucou. — Usa esse peso de maquiagem por não saber o quanto é linda. Talvez só precise de alguém que lhe diga.

Deixei o corpo cair sobre a cadeira, estupefata.

— Eu não... Justin eu... Eu nem sei o que te dizer.

— Diga sim — pediu, olhando nos meus olhos. — América, diga sim — pediu mais uma vez, entre risos.

— Sim — murmurei.

— Sim?

— Sim! — concordei entre risos.

Ele comemorou.

— Não acredito que vou fazer isso — levei a mão á cabeça, sabendo que, de alguma maneira, aquilo não ia acabar bem.

Ele sorriu convencido. Abriu a boca para falar mais um de seus comentários cheio de humor mas, para interrompê-lo, seu celular começou a vibrar em cima da mesa, chamando sua atenção. Olhou para mim, hesitante.

— Pode atender, pode ser importante — confortei-o.

— Só um minuto — ele pegou o celular e atendeu a chamada. — Sim? — Aos poucos sua expressão tranquila e radiante foi se enchendo de angústia e preocupação, me deixando aflita.

Busquei respostas no seu olhar, mas não encontrei nada. 

— Eu já estou indo — disse ele; a voz embargada.

Ah, não... Justin desligou a chamada e me olhou com os olhos levemente vermelhos.

— Ei, o que aconteceu? — perguntei baixo e apreensiva.

Ele engoliu em seco; um nó parecia fechar a sua garganta.

— Meu pai, ele... ele está no hospital — custou um pouco para ele responder. — Meri, eu... Me desculpe, eu preciso... — ele estava totalmente perdido.

— Ei — alcancei a sua mão. — Está tudo bem, não se preocupe comigo. O que aconteceu?

— Eu não entendi muito bem, parece que ele passou mal e o levaram para o hospital... — ele tentava buscar as informações em sua cabeça.

— Você sabe para qual hospital o levaram?

Ele assentiu com a cabeça.

— Tudo bem, fica calmo. Tudo vai dar certo — tentei confortá-lo. — Você consegue dirigir? Prefere que eu chame um táxi?

— Eu consigo — afirmou ele, se levantando, e o acompanhei.

Ele tirou o dinheiro tão rápido da carteira que não consegui — e nem tinha cabeça — questionar. Segurei sua mão e o puxei para fora da lanchonete; a mesma tremia. 

— Meri, você não precisa vir comigo se não quiser — disse ele antes de subirmos na moto.

— Está tudo bem, eu vou com você — eu não o deixaria sozinho.

Ele assentiu. Justin dirigiu um pouco acima da velocidade, cortando todos os carros que surgiam à nossa frente. Seu corpo estava tenso ao meu redor. Abracei-o por trás e deitei a cabeça em seu ombro, tentando confortá-lo de alguma forma. Chegamos à emergência um pouco mais de dez minutos depois. Corri para acompanhá-lo até a emergência. Ele disse o nome do pai tão rápido que teve de repetir para que a recepcionista pudesse entender. Ela nos informou que Peter Bieber ainda passava por avaliação médica e que era necessário esperar. Nos disse que o estado de Peter era instável, e logo mais teremos novas notícias pelo médico que estava cuidando do seu caso. Convenci Justin a se sentar. Ele me contou, com uma dor no tom de voz, que o pai sofria de insuficiência cardíaca, mas garantiu que ele seguia uma alimentação recomendada pelo médico, que tomava os remédios e todos os cuidados necessários, e que fazia alguns anos que ele não ia parar na emergência por causa da doença.

— O seu pai vai ficar bem — disse eu, tomando suas dores. Eu era péssima em consolar alguém. — Ele está instável, isso é bom.

— Não posso perdê-lo, América — sua voz saiu rouca do fundo da garganta. — Ele é tudo o que eu tenho. 

— Não diz isso — afaguei suas costas. — Seu pai vai ficar bem. Tenha fé. 

Ele olhou para mim com lágrimas nos olhos.

— Obrigada por estar aqui — agradeceu ele.

— Não precisa me agradecer — sorri melancólica. — É para isso que servem os amigos, não é?

Ele tentou sorrir, mas falhou miseravelmente. O doutor surgiu em nossa direção, de uma altura razoável e um cansaço aparente acumulado nas olheiras abaixo dos olhos. Aparentava ser jovem, vinte oito ou trinta anos. 

— Você é o Justin Bieber, certo? — perguntou ele, avaliando-o com um olhar impassível.

— Sim, sou eu — respondeu Justin, aflito. — Como ele está?

— Seu pai sofreu uma parada cardíaca, mas está instável. Conseguimos controlar a situação a tempo e usamos a Enzima Conversora de Angiotensina para dar continuidade ao procedimento. 

Justin relaxou sobre os meus braços, uma onda de alívio diminuindo a tensão dos seus ombros.

— Ele já pode ir para casa?

— Eu recomendo que ele fique um ou dois dias de observação para termos certeza de que tudo está realmente bem. 

— Eu posso vê-lo?

— Sim, claro. Ele está no quarto duzentos e vinte e três, pode seguir à esquerda.

— Obrigado, doutor.

Ele acenou com a cabeça.

— Qualquer dúvida, pode me procurar. Dr. Harshel — ele apontou para o seu nome costurado no jaleco branco.

— Obrigado — Justin agradeceu mais uma vez.

— Com licença — ele se retirou. 

Justin inclinou a cabeça para trás, respirando fundo.

— Ei, está tudo bem? — segurei o seu braço.

Ele olhou para mim; um alívio imenso se espalhando pela íris castanha.

— Está — afirmou ele. — Estou bem.

— Você quer ver o seu pai? Eu espero aqui.

— Eu já volto. — Ele beijou a minha testa como um ato de despedida e se apressou pelo corredor quase vazio.

Sentei-me na sala de espera. Eu agradecia mentalmente a Deus por tudo estar bem. Talvez eu fosse fria demais às vezes, até insensível, e por mais que eu buscasse não me importar, doía ver alguém de quem eu gostava sofrer. Justin tinha chegado na minha vida um pouco mais de um mês e já tinha garantido seu lugar. Eu ainda queria transar com ele, era meu objetivo, mas esperava que pudéssemos ser amigos depois disso. Não queria afastá-lo.

Esperei. Hospitais me davam calafrios. Para meu alívio, não precisei esperar tanto, pois Justin estava de volta depois de vinte minutos. Mais relaxado. Mais aliviado. Tudo tinha dado certo.

Levantei-me.

— Como ele está?

— Bem — respondeu ele. — Foi apenas um susto. Ele está louco para ir embora. 

— Eu também não sou muito fã de hospitais — fiz uma careta.

— Bem, eu preciso te agradecer mais uma vez. Obrigado por estar aqui, obrigado por me apoiar. 

— Não precisa me agradecer, Justin. Você faria o mesmo por mim, não é?

— Sim, faria — concordou depressa. — Você não tem obrigação de estar aqui, mas está. Isso é muito significativo para mim. — Ele estava realmente agradecido.

Sorri sem mostrar os dentes.

— Desculpe por estragar nosso milkshake — agora estava um pouco constrangido.

— Não se preocupe com isso. Afinal, era só um milkshake. 

— Estou me sentindo culpado mesmo assim. 

— Se preocupe com o seu pai, é o que importa — olhei em seus olhos. — Você vai ficar aqui, eu suponho.

— Eu preciso estar com ele.

— Eu compreendo. Bem, eu não tenho nada para fazer, posso ficar aqui com você e te fazer companhia.

— Não posso te pedir isso, ruivinha — balançou a cabeça. — Você já fez demais.

— Tem certeza?

— Hum-hum. Eu vou levá-la para casa, certo?

— Não, fique com o seu pai — neguei a carona. — É fácil pegar ônibus aqui, eu chego em casa em um minuto.

— Eu te levo, ruiva, sério.

— Não precisa, sério — disse eu. — Seu pai precisa de você aqui. 

Ele suspirou.

— Tem mesmo certeza?

— Tenho — balancei a cabeça. — Eu vou ficar bem. 

Ele assentiu com a cabeça.

— Me manda uma mensagem para dizer que chegou bem em casa?

— Mando, sim. E se precisar de qualquer coisa, não importa o horário, pode me ligar que eu venho correndo para cá.

— Obrigada — disse ele sem som e me puxou para um abraço. 

Coloquei meus braços ao redor da sua cintura —por ele ser mais alto que eu —, pois era mais confortável. Senti seu coração calmo bater contra minha bochecha. Ele tinha cheiro de perfume amadeirado e algo á mais, como um cheiro único. 

— E como fica o trabalho? — perguntei ainda com a cabeça descansando em seu peito. 

— Eu não sei o que vou fazer, mas eu te aviso se houver alguma mudança.

— Até mais, Justin — despedi-me ao me afastar, focando nos seus olhos.

— Até mais, América. 

Olhei uma última vez para sua íris clara e segui pelo corredor, sumindo entre os jalecos brancos que vinham de todos os lados. Tinha escurecido quando saí para o lado de fora. Estava frio também. Procurei pelo ponto de ônibus mais próximo. Sentei-me em uma cadeira ao lado da janela e observei as luzes piscantes da cidade à noite. Algo me incomodava lá no fundo, algum tipo de angústia, mas não era fisicamente, e sim emocionalmente. Eu não queria sequer pensar na possibilidade de... Não. Eu fiz um juramento, uma promessa, e ia cumpri-la. 

Cheguei em casa e encontrei Amélia com seus livros da faculdade espalhados pela mesa redonda de quatro cadeiras, papai assistindo um filme de ação antigo na tevê e Isaac ao seu lado, com os olhos vidrados no celular. Suas cabeças viraram para me encarar. 

— Filha — mamãe surgiu da cozinha com uma tigela de fazer bolo, com a massa misturada dentro da mesma, e usava um avental. — Chegou a tempo do jantar. 

— Pode nos dizer aonde estava? — perguntou papai com o tom duro de sempre.

Suspirei.

— Eu não estava enfiada no quarto de qualquer homem por aí, respondendo o que está pensando — respondi, afiada.

— América... — disse mamãe em tom de aviso.

— Desculpa — murmurei. — Eu estava no hospital acompanhando um amigo.

— O Eggsy está bem? — exclamou mamãe, preocupada.

— Não é o Eggsy, mamãe — respondi. — É o primo dele. Ele chegou na cidade há pouco tempo e estuda com a gente. Estávamos dando um passeio á tarde mas o pai dele passou mal e eu o acompanhei até o hospital. Basicamente, foi isso que fiz a tarde toda.

— Mas ele está bem?

— Está. Foi apenas um susto. Aliás, estamos trabalhando juntos, eu e o primo do Eggsy. 

— Você? Com um emprego? — Amélia se intrometeu, boquiaberta.

— Um carro não vai posar na minha garagem de graça — revidei com a voz afiada feito ferro e ela bufou. — Ele é fotógrafo, e eu sou a assistente dele. Só é por duas semanas. Mas surgiu outra oportunidade e ele quer que eu seja a modelo desta vez.

— Meri modelo? Essa eu quero ver — Zac sorriu divertido, mas orgulhoso.

— Não enche, Isaac! Eu só aceitei porque ele insistiu e estou precisando do dinheiro — disse eu. 

— Meu amor, eu fico feliz mesmo assim! — mamãe abriu um grande sorriso, entusiasmada. — Conte-me mais.

— Hum, eu vou tomar banho, tá? Eu conto no jantar.

Segui para o meu quarto louca para tomar um banho e tirar o cheiro de hospital do corpo. Antes de ir para o banheiro, deixei uma mensagem para Justin dizendo que eu tinha chegado bem em casa e perguntando se estava tudo bem por lá. Vesti um short confortável e uma camiseta de alcinha depois do banho. Justin ainda não tinha respondido a mensagem. Voltei para a sala e todos já estavam reunidos na sala de estar. Sentei-me na ponta da mesa e mamãe me serviu arroz, strogonoff e batata palha. O cheiro estava delicioso. Entrei em poucos detalhes sobre o emprego. Na verdade, ninguém falou muito.

Fui parada pelo meu pai antes de entrar no quarto depois do almoço.

— Sim? — virei-me para ele.

— Você arranjou mesmo um emprego?

— Por que eu mentiria? — arqueei a sobrancelha.

— Você não precisa fazer isso. Seu castigo já acabou e você vai receber sua mesada novamente.

— Bem, eu quero fazer isso — disse eu, convicta. — Estou fazendo algo de bom finalmente, você deveria estar feliz.

— Eu estou — afirmou ele, depressa. — Eu só... não quero que fique chateada porque eu dei o carro para Amélia.

— Não estou — só um pouco. — Posso ir dormir agora?

Ele assentiu. Abri a porta do quarto, e antes de fechá-la, ele disse:

— Eu te amo, filha. Não se esqueça disso.

Olhei para ele, surpresa. Hum... Eu também te amo, quis responder, mas não o fiz. Murmurei um "boa noite" e fechei a porta. Deixei apenas a luz do abajur da mesa de cabeceira esquerda ligada e vi a resposta de Justin para a mensagem que mandei antes do jantar.

Justin: Está tudo bem, ruivinha.

América: Estou com dó de você. Dormir numa cadeira de hospital não é nada confortável. Dá tempo de dividir a cama comigo: quente e confortável

Justin: Só você para me fazer rir uma hora dessas. Agora vá descansar. Boa noite. :)

América: Se cuida.

Não esperei resposta. Coloquei o celular em cima da mesa de cabeceira e virei para o lado direito, debruçando-me sobre o travesseiro. Adormeci com Justin nos meus pensamentos.

                                […]

Avistei a silhueta de Easton ao longe, mas ele sumiu rápido demais entre as pessoas para que eu pudesse alcançá-lo. Fiquei um pouco no estacionamento, conversando com alguns colegas de classe. Não encontrei o meu casal de amigos, então imaginei que eles tivessem ido dar uma força á Justin no hospital. Eu tinha deixado uma mensagem de texto para ele hoje mais cedo, mas não recebi respostas até o momento. Ouvi o sinal bater e me despedi dos meus colegas e segui para a sala de aula lutando por um espaço entre a multidão de alunos. As fofocas estavam por todos os lados, eu era o assunto do momento novamente. Os olhares eram direcionados à mim quando eu passava e depois eles conversavam entre si, comentando sobre o ocorrido de ontem. Eu tinha problemas maiores para me preocupar com fofoca alheia.

A primeira coisa que percebi ao entrar na sala foi que Easton não estava sentado no seu lugar de sempre. Olhei para os cantos da sala mas não o encontrei. Sentei-me na minha cadeira com vincos de incompreensão surgindo entre as sobrancelhas. Esperei ele passar pela porta mas não aconteceu. Olhei para trás, por cima do ombro, e tornei a encontrar a cadeira vazia. Eu o vi agora a pouco, onde ele teria se metido? Pensei em procurá-lo no mesmo momento que o velho entrou para dar aula.

Quando o sinal finalmente bateu, arrumei a mochila e saí em busca de Easton. Procurei-o em todos os lugares, até mesmo em lugares que eu nunca tinha pisado — como a sala de experimento científico. Não o achei na cantina ou biblioteca. Cruzei o campo de futebol e, por acaso, o avistei sentado na arquibancada. Aproximei-me com cautela, o máximo para ver sua expressão vazia.

— Easton? 

Ele não olhou para mim.

— Oi, Meri — respondeu sem emoção.

— Está tudo bem?

Ele finalmente olhou para mim e não, não estava nada bem. Olhei para o espaço vago ao seu lado, pedindo permissão para me sentar, e ele assentiu. Acomodei-me ao seu lado e olhei nos seus olhos antes cheios de vida, agora apagados e mortos. 

— É o seu pai? — perguntei baixo, apreensiva e triste.

Easton engoliu em seco. 

— Estou tentando, América... — sua voz saiu cheia de dor; o olho esquerdo ainda um pouco roxo. — Mas eu já cheguei ao meu limite, sabe? Não consigo mais lutar essa batalha sozinho, minhas forças já se esgotaram o suficiente. 

— Não deixe isso te abalar, East — eu tentava desesperadamente aliviar a sua dor. Como eu disse: péssima em consolar pessoas. — Eu sei que dói, mas temos que ser maiores do que o que sofremos — acrescentei lembrando das palavras de Justin.

— Eu sei que parece simples — ele balançou a cabeça. — Mas não é só o meu pai... Sou eu. 

— Como assim? 

— Não consigo falar — seus olhos se encheram de lágrimas e a voz se tornou mais rouca. — Não quero que você se afaste de mim pelo que eu sou.

Vincos de incompreensão surgiram entre minhas sobrancelhas. 

— Easton, não vou me afastar — segurei sua mão como uma promessa. — Por Deus, o que está acontecendo? 

Ele fechou os olhos com força e as lágrimas pingaram no seu colo. Ah, não...

— Ele tem vergonha de mim, América — disse ele, quebrado.

— Vergonha de você? Como ele pode ter vergonha de você? — eu estava inconformada. — Easton, você é incrível! Inteligente, gentil, atencioso, amoroso... Qualquer pai teria orgulho de ter você como filho. Se o seu pai tem vergonha de você, sinceramente, isso não é um pai de verdade. Desculpe a sinceridade, mas seu pai é um babaca! Onde já se viu uma coisa dessas? — É, eu desandava em falar quando estava nervosa ou com raiva. E continuei: — E quer saber de uma coisa? Quando ele estiver sozinho e olhar para trás, vai se arrepender de não ter te dado o devido valor, ele vai...

— Eu sou soropositivo, América.

— Ele vai ver que cometeu a pior burrada da vida dele e... — parei. Paralisei. Ergui o olhar para Easton, estupefata. — O quê? — perguntei em um fio de voz, incerta do que ouvi.

Ele me olhou com os olhos mortos. Com a voz quebrada e fraca, ele afirmou o que eu temia ouvir:

— Eu tenho AIDS.


Notas Finais


√ Belo Desastre: https://spiritfanfics.com/historia/belo-desastre-8099879

Leia também, Mistakes Of Love: https://spiritfanfics.com/historia/mistakes-of-love-6329863

Número para entrar em contato comigo: 71 9 83 70 36 02


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