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História Rebel Heart - Take Me Home


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


√ Desculpem-me qualquer erro. Boa leitura!

Capítulo 13 - Take Me Home


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - Take Me Home

A última sessão da semana acontecia em um campo perto da praia La Jolla, onde um dia lindo se formava contrastando sobre a grama verde e aparada. Depois de um dia chuvoso, o céu azul era coberto por nuvens brancas e um sol brilhoso. Estava quente.

— Aqui está parte do seu pagamento — Justin me entregou o envelope branco.

— Obrigada — agradeci, radiante.

— Você merece — ele beijou o meu rosto e sorriu orgulhoso.

Seus olhos ficavam lindos sob o sol, não pude deixar de reparar. Ele estava vestindo uma camiseta branca com um desenho preto, que realçava ainda mais as tatuagens em seus braços. O cabelo tingido de louro já estava voltando a sua cor natural e estava um pouco maior, tocando o início da testa. Justin parecia uma beldade australiana com um sorriso caloroso e um corpo exótico. Ele tinha tudo para ter garotas pousando á sua porta a todo instante, mas estava sem sexo há onze meses. Não conseguia entender. Ao contrário dos homens que eu convivia, Justin não era fácil; ele era preservado e intensamente quente, o que me deixava ainda mais atraída por ele.

— Que foi? — perguntou ele com um sorriso confuso.

— Hã? — fui puxada dos meus pensamentos, distraída

— Você estava me encarando.

— Estava? — juntei as sobrancelhas. — Não percebi. É que você é bonito — acrescentei sem cerimônia. 

Ele sorriu presunçoso.

— Eu sou o sonho de qualquer garota — arqueou a sobrancelha, com uma expressão sedutora.

— Se você é tudo isso o que diz, por que está sem sexo há quase um ano? — retruquei.

Justin ergueu a câmera e tirou uma foto minha desprevenida.

— Ei! — reclamei.

— É só uma opção, ruivinha — ele me ignorou. — Não transo com ninguém há onze meses pelo simples fato de que não conheci ninguém especial e não quero pegar uma doença por aí.

— Não tenho uma DST! — disse eu, frustrada, e logo depois me senti culpada ao lembrar de Easton.

— Eu sei — respondeu, distraído. — Gosta de comida italiana? 

— Hum, gosto.

— Vamos jantar no Biasetti. Lá vende uma comida ótima. Quer dizer, eu nunca comi, mas ouvi dizer que é ótima.

Abri um sorriso.

— Sobre este jantar, você estava mesmo falando sério?

— Você está insinuando que eu não cumpro minhas promessas? Acho isso um pouco ofensivo.

— Eu só não tenho certeza de nada quando se trata de você. Não sei se consigo lidar com sua bipolaridade.

Seus olhos ganharam foco quando ele olhou para mim.

— Você me acha bipolar?

— Uma hora você está me rejeitando, outra, está me beijando — franzi as sobrancelhas. — Isso é um pouco perturbador.

— Eu gosto de você, ruivinha.

— Não entendo você, Justin. Achei que conhecesse os homens, mas você é incrivelmente confuso. Não te entendo.

— Eu também não te entendo. Supostamente você é a garota mais popular da Eastern, que pode ficar com quem quiser e está estranhamente interessada em mim. Não estou tendo a experiência completa que eles prometem aos calouros no folheto — brincou. 

— Isso é inédito. Nunca um garoto se recusou a transar comigo — balancei a cabeça.

— É pedir demais querer ter um um pouco de paz de espírito? 

— É isso que eu faço? Tiro sua paz?

— Não foi isso que eu quis dizer, ruivinha — ele me olhou com uma expressão arrependida. — Eu só não consigo raciocinar direito quando estou com você. Eu acabo me metendo em encrenca, quase sou expulso por quebrar a cara de um imbecil e ainda quase sou preso por isso. É... complicado.

Cruzei os braços como uma barreira na minha frente, tentando manter uma expressão seca para não demonstrar o quanto suas palavras me tocaram. Mas minha expressão de poucos amigos colocou tudo por água abaixo. 

— Você está dizendo que sou uma má influência?

— Não, América. Estou dizendo que você é uma tempestade e eu sou apenas uma garoa. — Mais uma vez, a expressão arrependida no seu rosto.

Pisquei sob a luz forte do dia ensolarado. 

— O mais engraçado é que gosto de tempestades — acrescentou, focando nos meus olhos, enquanto observava as linhas de expressões do meu rosto relaxarem.

— Eu sou cheia de defeitos, não sou?

— Sim — respondeu simplesmente. — Basicamente porque é de verdade.

Um sorriso mais relaxado surgiu no canto dos meus lábios. Era impressionante como ele sabia usar as palavras certas para me trazer paz. Eu era uma tempestade, sim. Mas ele era a calmaria. 

— Ei! — Andrew surgiu por cima do ombro de Justin, fazendo o mesmo se virar para encará-lo enquanto se aproximava em passos rápidos. — Os equipamentos estão montados, podemos começar.

— Certo — respondeu Justin. 

Andrew se inclinou um pouco para o lado para poder me enxergar atrás de Justin. Um enorme sorriso se espalhou por seus lábios finos e seus olhos brilharam de imediato. Reprimi a vontade de rir do olhar assassino que Justin lhe lançou.

— Oi, Meri — cumprimentou ele. — Ainda não tinha te visto.

— Eu cheguei há dez minutos — respondi.

— Você está linda hoje. Na verdade, está linda todos os dias. — Seu sorriso era um tanto embasbacado.

— Vamos, ruivinha — Justin apontou com a cabeça para a sessão, indicando que eu fosse com ele.

— Pode ir na frente, eu já estou indo — provoquei-o, sorrindo para Andrew.

Justin franziu as sobrancelhas como se não tivesse entendido, mas quando caiu a ficha do que eu tinha lhe falado, uma carranca se formou em seu rosto e seu maxilar ficou rígido de raiva. Por um momento, achei que ele fosse voar em cima de Andrew e quebrar o seu pescoço, porém, o mesmo sequer notou por estar concentrado em sorrir para mim. Justin não disse nada. Apenas virou-se e andou em direção á sessão, com o corpo rígido.

Tudo bem, acho que ele não levou na brincadeira tanto quanto eu. Tentei chamá-lo, mas ele já estava longe demais.

— Então... — disse Andrew, chamando minha atenção. — O que acha de tomarmos...

— América.

Justin se aproximava depressa, tão rápido que parecia querer socar alguém.

— Justin, o que...

— Eu esqueci de uma coisa — ele segurou meu rosto e enfiou a língua na minha garganta.

Não tive reação por um segundo. Quando me dei conta, estava retribuindo ao beijo, com minha mão na sua nuca enquanto ele me puxava para mais perto. O mundo tinha parado ao nosso redor e só restou nós ali, perdidos em nossa bolha. Eu poderia beijá-lo pela eternidade, mesmo que durasse apenas um segundo. Tinha me esquecido da sensação de um beijo tão bom. Talvez nunca tivesse o provado realmente, era algo novo. 

Ele se afastou, sedutor, puxando meu lábio inferior com os dentes, deixando Andrew com cara de idiota; um idiota boquiaberto, enquanto nos encarava. Justin tinha uma expressão satisfatória no rosto. 

— Não demore, ruivinha — ele me lançou uma piscadela e sorriu presunçoso para Andrew antes de se retirar.

Ele saiu andando mais relaxado desta vez, me deixando para trás, entorpecida, com os lábios entreabertos com aquele gostinho de quero mais. Olhei para Andrew, piscando freneticamente, tentando me recuperar do baque de alguns instantes, e perguntei da forma mais natural que consegui:

— O que você estava dizendo? 

Ele abriu a boca algumas vezes, tentando me dizer alguma coisa, mas se calou em todas as tentativas. Estava tão chocado quanto eu.

— Eu... — ele balançou a cabeça, tentando formular alguma frase coerente para dizer. — Não era... nada.

— Eu... hum... vou ver se o Justin está precisando de mim — saí andando, tentando me equilibrar sobre o salto não muito alto.

Justin estava fotografando as modelos ao ar livre, como numa bela tarde de domingo, aproveitando um dia quente no campo com amigos e familiares, algo como um piquenique. As modelos eram todas de origem africanas, com peles morenas e cabelos cacheados. Lindas! Eu sempre quis ter cachinhos, mas a genética não colaborou. 

Cutuquei o ombro de Justin e ele se virou para mim, me pegando desprevenida com mais uma foto. Eu não sabia que diabos ele fazia com tantas fotos minhas, e não adiantava reclamar, pois ele continuaria tirando sem minha permissão. 

— Pode parar com isso? — exigi, estressada.

Ele sorriu com ternura e tive vontade de socá-lo.

— Aconteceu alguma coisa, ruivinha? — perguntou com a expressão doce e inocente.

— O que deu em você para me beijar daquele jeito na frente do garoto? — ignonei seu cinismo. 

Ele deu de ombros.

— Se eu não fizesse isso, seria ele. Entre ele e eu, eu escolho eu — arqueou a sobrancelha rapidamente, demonstrando sua indiferença.

Meus lábios se retraíram num sorriso acusador.

— Você está com ciúme?

Ele me olhou por alguns segundos, impassível, ergueu a câmera e tirou mais uma foto inesperada. Virou-se para as modelos e continuou o seu trabalho sem dar uma resposta a minha pergunta.

                               ▪▪▪

Justin: Por que não posso te pegar em casa?

Respondi sua mensagem:

América: Quero evitar explicações ao meu pai.

Justin: Vou adorar ter metade do nosso encontro estragado.

Não pude deixar de notar o deboche em suas palavras. Justin fazia o tipo garoto certinho, que ia buscar a mocinha em casa e cumprimentaria seus pais e depois tiraria uma foto para marcar o momento.

América: Então isso é um encontro?

Justin: Já são seis horas. Não se atrase.

Revirei os olhos e respondi:

América: Estarei lá no horário combinado.

Deixei o celular em cima da cama e fui em busca de um vestido adequado. Eu tinha modelos de diferentes cores e tamanhos, mas nenhum que parecia adequado para estar com Justin. Não queria parecer vulgar e oferecida. Todos pendurados no cabide pareciam me deixar exposta demais. Eu normalmente usava áqueles vestidos para ir á festas universitárias, noites de bebedeira e sexo, não para ir á um encontro. Foi então que a ficha caiu: eu estava indo á um encontro! Quando as coisas começaram a sair do controle? Eu estava quebrando todas as regras que disse que nunca iria quebrar. Eu poderia soletrar os vários motivos para ficar longe dele, mas por alguma razão, ele me fazia transbordar.

Percebi que não havia nada ali que me agradasse, e não iria usar short ou calça, até por que, um vestido seria muito mais fácil de tirar caso acontecesse o que eu vinha desejando há tempos. Decidi ir em busca da única pessoa que poderia me ajudar. Não bati na porta e fui entrando sem nenhuma permissão. Amélia desviou a atenção das unhas do pé e me encarou sem expressão, logo depois, voltou a espalhar o esmalte. Passei direto por sua cama e entrei no closet, em busca de um vestido que pudesse usar. Dei de cara com uma enorme coleção de vestidos pendurados e arrumados em fileiras no cabide, em cores neutras e, algumas vezes, mais escuras. Amélia fazia o tipo boneca de conto de fadas, mas seu bom gosto para roupas era inquestionável. Em meio á tantas roupas e combinação de cores e estampados, me senti perdida. Voltei para o quarto, indecisa, e minha irmã não havia saído da posição que a encontrei enquanto pintava suas unhas.

— Preciso de um vestido — disse eu, finalmente atraindo sua atenção.

— Você tem vários vestidos no seu closet — questionou.

— Preciso de algo que não seja...

— Vulgar? — arqueou a sobrancelha.

— É, isso — custou-me um pouco concordar.

— Por quê? Meus vestidos não servem para esse tipo de festa — encarou-me, curiosa. — O que vai fazer?

— Preciso sair, mas não é para nenhuma festa.

Seus olhos brilharam estranhamente.

— Você vai sair com alguém? — seu tom era cheio de esperança.

— Isso não é da sua conta, Amélia! — respondi, grossa. — Vai me emprestar o vestido ou não? — perguntei, impaciente.

— Grossa — resmungou.

Ela deixou o esmalte em cima da mesa de cabeceira e levantou da cama, abaixando seu short de moletom enquanto seguia para o closet. Acompanhei os seus passos e a observei enquanto revirava os vestidos nos cabides, e parecia procurar algo específico, pois não parava para avaliar nenhum dos modelitos. 

— Eu o comprei na semana passada — dizia ela enquanto vasculhava suas roupas. — Eu o amei assim que pus os olhos, mas não ficou bem em mim. Na verdade, eu gostei na hora, mas depois ficou estranho no meu corpo magro. Como você é cheia de curvas, vai ficar perfeito.

Ela voltou de lá com a peça única na mão. O vestido, leve e delicado, era de um tom vermelho escuro, com cortes na região da cintura e um triângulo um pouco abaixo dos seios. Ele era sustentado por alças finas e uma linha tomando toda a cintura, com alguns acessórios pendurados nos cortes e no decote. Fiquei meio receosa, mas depois de usar o seu banheiro para um banho, o vesti. O mesmo caiu no meu corpo como uma luva, cobrindo toda a minha coxa e parando nos meus joelhos. Ele era simples, ousado, e preservado ao mesmo tempo. Não fazia muito o meu estilo, mas tinha ficado lindo no meu corpo e não pude deixar de sorrir.

— Ficou lindo em você — elogiou a minha irmã. — Pode ficar com ele.

— Obrigada — agradeci enquanto me olhava no espelho pendurado na parede.

— Agora vamos dar um jeito neste cabelo — ela me puxou para sentar de frente para a penteadeira.

— Hum, não precisa — recusei, tentando desviar dos seus braços, mas ela me empurrou para baixo, me deixando exatamente no mesmo lugar.

— Você sempre usa esse cabelo solto — disse ela, puxando o mesmo para trás dos meus ombros. — O que acha de um penteado?

— Se não me fizer parecer o Chapeleiro Maluco, tudo bem — dei de ombros.

— Você está falando com Amélia Greene, querida — ofendeu-se com o comentário debochado. — Trança? — sugeriu.

Dei de ombros mais uma vez, concordando. Amélia começou a dar voltas no meu cabelo, e depois de um tempo, percebi que se tratava de um trança embutida. O penteado foi desenvolvido com muita precisão, e apesar de parecer folgado, estava firme na cabeça. Com a ponta do pente, ela tirou duas mechas finíssimas de cabelo, uma de cada lado, deixando-as caídas sobre as laterais do meu rosto. 

— E então? — perguntou, esperando pela minha aprovação. 

Virei um pouco o rosto, tentando enxergar a parte de trás. Mas, tratando-se de Amélia, não tinha como ter dúvidas. A Barbie cor-de-rosa era boa no que fazia.

— Ficou bom — respondi, satisfeita pelo resultado.

— Vamos á maquiagem então! 

Maquiagem. Era uma coisa que não tinha importância para Justin. Ele sempre demonstrou gostar das coisas mais naturais, simples. Então seria uma tática para atraí-lo. Se eu não usasse tanto, mas algo neutro, quase natural, talvez ele se sentisse mais tentado a me beijar. Puta merda! Aquela tortura estava me matando! Se eu não conseguisse o que queria hoje, entraria em abstinência.

— Use algo neutro — pedi. — Quase natural, se possível.

Amélia parou e me encarou com cara de idiota.

— Oi? — Ela pareceu incerta do que ouviu. — Você é mesmo a América Greene, minha irmã?

Revirei os olhos.

— Vai ficar aí debochando ou vai me ajudar? Eu não posso me atrasar!

— Ai, que grossa, tudo bem — ofendeu-se, enquando pegava os pincéis e as sombras neutras para pôr nos meus olhos. 

Fechei os olhos e ela começou a espalhar a sombra com o pincel. Não sei quanto tempo ela demorou para terminar, mas quase cochilei na cadeira. Senti algo gelado nos meus lábios, cremoso e saboroso. Controlei a vontade louca de comer o brilho labial.

— Prontinho.

Abri os olhos e encarei meu reflexo no espelho. Parecia que eu estava de cara lavada, a não ser pelas bochechas coradinhas e os retoques nas linhas de expressões marcadas pelo estresse dos últimos dias. Meus lábios brilhantes era o que chamava atenção no meu rosto pálido.  

— Está ótimo — limpei a garganta. — Eu não te pedi este favor, mas obrigada mesmo assim — disse eu, me levantando.

— Você não pode simplesmente ser gentil? — reclamou enquanto eu seguia até a porta, ignorando-a. — América? — chamou-me antes que eu pudesse fechar a porta.

Olhei para ela, com metade do corpo para fora.

— Ele é legal?

Um leve sorriso se formou nos meus lábios. Encarei seus olhos acizentados por poucos segundos e fechei a porta sem lhe dar uma resposta. Segui para o meu quarto e fui em busca de algo para calçar: salto alto, preto, com solado vermelho. Arrumei uma bolsa estilo Chanel e peguei o celular, percebendo duas chamadas perdidas de Justin e mais uma centena de mensagens. Sem paciência para lê-las, decidi retornar a ligação e ele atendeu de imediato.

— Oi — fui a primeira a se pronunciar.

— Pensei que tinha desistido do nosso jantar — havia uma pitada de alívio em seu tom.

— Eu estava me arrumando — expliquei. — Aconteceu alguma coisa?

— Como você não quer que eu vá buscá-la em casa, pensei que pudesse vir até a casa do Eggsy para irmos juntos. Achei que, sei lá, seria mais prático para você.

— Sim, eu posso fazer isso.

— Ótimo! Estou te esperando.

— Eu já estou indo. Até mais.

— Vou estar aguardando — a ansiedade na sua voz era visível, e então desliguei.

Guardei o celular na bolsa e fui para a sala depois de passar no quarto de Isaac. Encontrei-o jogado no sofá enquando, no outro, papai dividia o espaço com mamãe e eles assistiam algum filme do Liam Neeson.

— Zac? — chamei não só a sua atenção, como a de todos.

— Oi — ele me olhou dos pés a cabeça.

— Pode me dar uma carona?

— Para onde está indo? — perguntou papai de um jeito protetor.

Não tive tempo de responder, pois Amélia surgiu atrás de mim, dizendo algo que eu não queria que soubessem, o que me fez ficar irritada e lhe lançar um olhar assassino.

— Ela tem um encontro!

— Um encontro? — meus familiares exclamaram em uníssono, abismados.

Troquei o peso do corpo para o outro pé, desconfortável. Lancei mais um olhar assassino para Amélia e disse com a indiferença de sempre:

— Não é um encontro. Vou sair com um amigo como se estivesse saindo com o Eggsy — ignorei os olhares desconfiados, principalmente do meu pai. — Pode me dar uma carona, Zac?

— Claro!

Ele se levantou, preguiçoso, e caminhou até a mesa de centro onde tinha a chave do carro. Não dei mais explicação á ninguém, e quando percebi que papai queria falar algo, saí em disparada até a porta, evitando a conversa. Isaac destravou o Audi quando chegamos do lado de fora e entramos no carro, dando a partida logo em seguida.

— Para onde vamos? — ele quis saber.

— Para a casa do Eg — respondi.

— Ah.

Seguimos metade do caminho em silêncio e eu agradecia internamente por isso. Mandei uma mensagem para Justin dizendo que eu já estava a caminho, portanto, para tirar minha paz, meu irmão resolveu se meter onde não é chamado.

— Com quem vai sair?

— Um amigo — dei-lhe uma resposta curta.

— Eu conheço ele?

Travei o maxilar, claramente irritada pelo interrogatório. 

— Não, não conhece. Eu... Dá pra parar com o interrogatório?

— Desculpa. Só que não é todo dia que vejo você saindo para um encontro — deu de ombros.

— Não é um encontro — resmunguei. — Vamos esclarecer uma coisa: não estou saindo com ninguém. E não, eu não estou namorando ou gostando dele. 

— Mas eu não disse nada — ele se defendeu.

— Mas pensou — retruquei.

Ele sorriu.

— Eu gosto dele — disse ele, quando avistamos a casa de Eggsy se aproximar. — Se ele te tirou de casa para te levar para um lugar legal, ao invés de festas, com certeza é um cara legal.

— Não fala como se estivesse aprovando alguma coisa — disse eu, irritada.

Ele estacionou na calçada e se virou para mim com aquele olhar de irmão protetor que eu conhecia bem. 

— Espero que tenha uma boa noite — desejou.

— Eu também espero — murmurei com duplo sentido.

Isaac se inclinou e beijou o meu rosto. Revirei os olhos e acabei sorrindo. Ele era um bom irmão, eu gostava muito dele.

— Que horas eu venho te buscar? — perguntou enquanto eu abria a porta do carro e me colocava para fora.

Inclinei-me para baixo, segurando a porta.

— Espero que hora nenhuma — sorri e fechei a porta.

Subi na calçada e observei o carro dar partida até virar na esquina. Virei-me para a casa e levei um susto ao ver uma sombra sentada nas escadas da varanda, no escuro, enquanto me observava. A luz da noite iluminou seu rosto e pude ver sua expressão avaliativa.

— Quem era ele? — quis saber.

— Meu irmão — respondi, e, com um sorriso de canto, provoquei: — Não precisa ficar com ciúme.

Ele se levantou e pude ver melhor suas vestimentas. Justin usava calça jeans escura, camisa social branca de botões que marcava levemente suas tatuagens quando o tecido se esticava em sua pele com algum movimento e tênis. Tinha como uma pessoa ficar tão linda e sexy estando tão simples? Ele era... quente. Muito quente. E, porra, eu estava ficando excitada. Precisava afastar esses pensamentos antes que eu o atacasse ali mesmo.

Portanto, Justin não deu importância a minha provocação. Seus lábios se contraíram num sorriso de adoração. 

— Você está... — ele balançou a cabeça, sem palavras. — Linda! Uau!

Soltei um risinho.

— Você não está nada mal também — elogiei. 

Seus olhos me avaliaram com calma.

— Que foi? — perguntei.

— Você não está usando maquiagem! — sua expressão de espanto me fez rir.

— Estou usando, sim, só que neutra — expliquei. — Vocês, homens, não entendem nada de maquiagem. 

— Por isso mesmo nasci homem — murmurou e abriu um sorriso. — Você está diferente, eu gostei. 

Essa era a intenção, baby. Apenas lhe ofereci um sorriso em agradecimento. 

— O Eg está em casa? — perguntei.

— Não. Ele saiu com a Rosie.

Ele segurou minha mão — o que me pegou de surpresa — e me levou até o carro como uma criança aprendendo seus primeiros passos.

— Vamos no carro do Eg? Mas e a sua moto? — questionei. 

— Eu previ que você vinha de vestido, então imaginei que não se sentisse confortável subindo numa moto com esse tipo de roupa — explicou enquanto abria a porta para mim. — Então pedi o carro do meu primo emprestado por esta noite.

— Você pensou em tudo, não é? — sorri enquanto entrava no carro e me acomodava no banco.

Ele deu a volta no veículo, e sentou-se sobre o volante enquanto respondia:

— Sim, ruivinha. Eu pensei em cada detalhe — funcionou o carro. — Nossa noite tem tudo para ser perfeita.

Seguimos viagem ao som de OneRepublic. Ao chegar ao centro da cidade, ao longe, ouvia o som das ondas se quebrando. Aquela parte da cidade era fria e úmida á noite, contrastando com a enorme lua que se formava no céu negro, solitária, sem a compainha de suas — não tão fiéis assim — estrelas. Cantarolei Counting Stars e uma das minhas músicas favoritas da banda, Secrets. 

O restaurante era fino e aconchegante, e apesar do local caloroso em que se localizava, tinha uma verdadeira mobília italiana. Eu sabia que aquele simples jantar ia sair caro, mas Justin disse que eu não devia me preocupar com preços, pelo menos naquela noite. Não queria que ele gastasse todo o dinheiro que conseguiu em uma semana dura de trabalho por dois pratos de espaguete e duas taças de vinho tinto, e na minha cabeça, eu bolava algum argumento para persuadi-lo a dividir a conta no final do nosso jantar. 

— Sair de casa, ruivinha? Mas você não está de boa com o seu pai? — questionou ele, depois de engolir uma quantidade de macarrão.

Suavemente e baixo, Stay do Zedd, com a colaboração da doce voz de Alessia Cara, ecoava pelo ambiente. 

— Eu não posso morar com os meus pais pelo resto da vida, Justin — respondi. — Eu preciso ser independente algum dia.

— Não é só isso — ele tentou ler as expressões do meu rosto. — Por favor, eu quero saber.

— Ah... — comecei, e logo depois suspirei. — Talvez se eu estiver longe, evite tantas brigas e desgosto. Minha vida seria apenas minha e eu lidaria com minhas próprias consequências. Pode ser que eu esteja sendo uma engoísta emputecida, mas eu só não quero criar mais problemas.

— A vida lá fora não é tão fácil quanto parece, ruivinha. Você é jovem, ainda está estudando, indecisa do que quer para a sua vida... não tome decisões precipitadas.

— Não estou dizendo que vou fazer isso exatamente agora. É claro que vou concluir a universidade, arrumar um emprego, me instabilizar e comprar uma casa.

Sua expressão se encheu de alívio. Ele se importava comigo, era óbvio. Só não sabia se ele me via como uma amiga ou como um mero desafio. Talvez ele só me visse como uma garota rebelde que o desejava, nada além disso. Mas quando eu olhava nos seus olhos, sentia que ele podia tocar a minha alma; era como se tudo ficasse transparente diante dele.

— Então você decidiu se vai ou não continuar com o curso de biologia? — perguntou e bebeu um gole do vinho que deixou seus lábios avermelhados e convidativos.

Tentei me controlar o máximo para não pular aquela mesa e me jogar em seu colo. Ele me provocava sem ao menos perceber, e isso me deixava ainda mais embriagada para tê-lo.

— Hum, vou trancar o curso de biologia e os outros que estou inscrita e fazer o que realmente importa — respondi, tentando afastar os pensamentos dos seus lábios nos meus. 

— Então você vai mesmo seguir a carreira de jornalismo? — seus olhos brilharam de entusiasmo.

— E abrir minha própria revista — acrescentei com um sorriso. — E quero você como meu fotógrafo.

Ele riu.

— Estou falando sério.

— Vou amar trabalhar para você — o divertimento ainda brincava no seu tom. 

— Me conte mais sobre voce — pedi, a fim de não deixar o assunto morrer ali.

— O que você quer saber?

— O de sempre. De onde você veio, o que você quer ser quando crescer... coisas do tipo.

— Ruivinha, acho que isso são coisas básicas de mim que você já sabe — continuei o encarando e ele finalmente respondeu: — Vamos lá, então. Meu nome é Justin Drew Bieber, nascido e criado no Canadá, e estudo fotografia.

Abri um sorriso.

— Agora me conte sobre a sua família. 

— Bem, eu só tenho o meu pai, como você já sabe. Eu não lembro muito da minha mãe, mas sei que ela continua sendo especial para mim.

Balancei a cabeça, e quando percebi que o assunto não o incomodava, me atrevi em perguntar:

— Seu pai não teve nenhuma outra mulher depois da sua mãe?

— Alguns relacionamentos banais, mas nenhum deu certo — deu de ombros.

— E isso não incomoda você? Quer dizer, seu pai ter outra mulher?

— Claro que não! O meu pai merece ser feliz, ruivinha. Faz anos que a minha mãe morreu e ele pode sim conhecer outra pessoa. Se for uma mulher que o ame e valorize, ficarei muito feliz em apoiá-lo — respondeu, sincero.

Sorri com sua maturidade.

— E a Mary? — pensativa, meus olhos se voltaram para o teto. — É este o nome dela? Mary?

Justin se remexeu na cadeira, desconfortável pela primeira vez.

— Precisamos mesmo falar sobre isso? 

— Eu lhe contei sobre... você sabe. Eu também quero saber quem te magoou.

Ele me encarou por alguns segundos e o canto da sua boca se retraiu num sorriso.

— Jogo sujo, hein? Tudo bem, vamos lá — com um suspiro, ele continuou: — A Mary, hum, ela foi meu único relacionamento sério. Quer dizer, eu tive outros relacionamentos sérios, mas passei três anos com ela. E então ela entrou para Harvard e me deu um pé na bunda, como o Eggsy disse. É basicamente isso.

— Você a amava?

Ele abriu a boca para responder, creio que para confirmar, mas se calou, receoso.

— Bem, ela foi muito importante para mim, eu gostava um bocado dela, mas... — focou nos meus olhos. — No final das contas, não era ela que o destino me reservou para amar.

Desviei o olhar para o meu prato com um pouco de espaguete e com os ombros um pouco encolhidos, murmurei:

— Sei como é isso.

Como o esperado, Justin não me deixou rachar a conta — caríssima, devo ressaltar — com ele. Fiquei emputecida com isso. Em pleno século vinte e um, os homens achavam que podiam fazer tudo sozinhos. Justin jurou que não se tratava disso e me deixou pagar um sorvete para nós dois enquanto caminhávamos na extensa passarela da praia Ocean Beach. Estava frio, muito frio, e os cortes do vestido não ajudavam em nada, mas eu não queria ir embora, não agora. Caminhávamos devagar, quietos, enquanto as ondas se quebravam com força nas pilastras de ferro que nos mantinha acima do nível do mar e o vento levava meus cabelos, desprendendo alguns fios do penteado.

— Foi bom, o jantar — disse ele, se inclinando para jogar a embalagem de plástico do sorvete no lixo, e fiz o mesmo.

— Foi mesmo — concordei. — Mas você não precisava ser tão orgulhoso. Deveria ter me deixado dividir a conta com você.

— Eu te convidei para sair, ruivinha.

— Não importa.

— Não vamos falar sobre isso, tá? — pediu, levemente irritado.

Dei de ombros.

— Obrigada por esta noite — disse eu. — Comer e conversar foi muito melhor do que muitas festas que já fui — confessei.

— Essa era a intenção — admitiu ele, orgulhoso do seu sucesso. — Fico muito feliz que gostou. 

— É, eu gostei.

Ele olhou para o céu com adoração.

— Olha que linda, ruivinha — apontou para a enorme lua que brilhava acima de nós. — Posso cobri-la com o meu dedo — ergueu o polegar para o céu.

Sorri da sua infantilidade. Ele olhou para mim e, ao ver o meu sorriso, sorriu também.

— Sabe aonde eu queria estar agora? — olhei para ele.

— Hum, Paris?

— Não! Londres.

— Londres? Mesmo?

— Hum-hum. Eu amo aquela cidade. 

— Sim, é uma cidade maravilhosa.

— Você não tem vontade de conhecer? — indaguei, curiosa.

— Claro! Eu gostaria de conhecer cada canto deste mundo — soltou um suspiro.

— Me leva com você? — falei sem pensar, e quando ele me olhou, me dei conta do meu erro e encolhi no lugar.

— Posso te levar a qualquer lugar, ruivinha — ele parou, me fazendo parar também, de frente para ele.

Quando olhei nos seus olhos, não pude me conter, e me joguei em seus braços, com os meus ao redor do seu pescoço. Ele me puxou para mais perto, com seus braços fortes ao meu redor, me aquecendo da brisa fria que a água do mar trazia. Nossos corpos tão colados, sua boca perto da minha, sua respiração quente e refrescante batendo contra o meu rosto... Eu poderia fazer qualquer loucura com ele ali.

— Qualquer lugar? — sussurrei, quase de encontro a sua boca.

— Qualquer lugar. — Confirmou ele, hipnotizado pelos meus lábios escorregadios pelo brilho labial. 

— Então me leve para casa.

Dito isso, ele me beijou, e ali eu soube que tinha minha resposta. Depois de dois meses desejando ele só para mim, finalmente eu teria um momento para chamar de nosso.


Notas Finais




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