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História Rebel Heart - Promises


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


√ Desculpem-me qualquer erro. Boa leitura!

Capítulo 8 - Promises


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - Promises

Fomos jantar — eu e minha família — no Clint's ao sábado á noite. Eu poderia dizer que foi um máximo, que nos divertimos muito, mas estaria mentindo descaradamente. Eles se divertiram, eu, não. Estava de saco cheio de ouvir como meus irmãos iam bem na faculdade e como meus pais sentiam orgulho de ambos. Poucas vezes o assunto foi dirigido á mim e, também, não queria papo. Só queria que aquela noite terminasse logo para eu poder me trancar no meu quarto e ficar no escuro. Estar sozinha era melhor que a rejeição. 

O domingo foi um saco. Fiquei em casa o dia todo. Eggsy convidou Rosie para almoçar em sua casa, então não poderia contar com nenhum dos dois. Eu até pensei em ligar para o Justin — consegui o número dele depois de xeretar o celular de Rosie — mas achei melhor dar-lhe um tempo depois de tudo o que aconteceu. Eu tinha noção do peso que era ter uma América em seu encalço o tempo todo e, caramba, até eu precisava de uma folga de eu mesma ás vezes. Depois do almoço de domingo em família, fiquei trancada o resto do dia no meu quarto, lendo alguns livros e assistindo alguns episódios de Grey's Anatomy na netflix.

Finalmente segunda-feira tinha chegado, trazendo um dia ensolarado e quente pela minha janela. Acordei afogada na minha própria poça de suor. Rastejei-me até o banheiro, necessitada de água gelada. Deixei as roupas pelo chão e mergulhei debaixo do chuveiro. Enquanto a água levava a preguiça do corpo pelo ralo, permito-me pensar um pouco. No passado, no meu presente, no que eu me tornei, na minha vida... Eu conseguia pensar muito bem; raciocinar, refletir... Mas não conseguia alcançar meu próprio coração. Ele estava distante de mim, e se recusava me deixar chegar perto. Talvez, nem eu quisesse. Ouvir o meu coração só me trouxe problema, então prefiro estar do lado escuro do quarto, onde eu não me machuco. 

Vesti um short jeans claro, com rasgos leves em ambas as coxas, e uma blusa branca, lisa, de manga curta. Nos pés, calcei um scarpin verniz branco. Escovei o cabelo e o deixei solto sobre os ombros. Passei maquiagem, com delineador, sombra e lápis, e nos lábios, um batom rosa antigo. Peguei minha mochila dentro do closet e a coloquei sobre o ombro esquerdo. Fui para a sala e tudo estava estranhamente em silêncio, até que ouvi um grito histérico vindo lá de fora. Amélia. Saí correndo e atravessei a porta como um furacão, e dei de cara com o meu pai, Isaac, Amélia e um Mini Cooper vermelho, com o teto branco e duas linhas brancas no capô. 

— Ai, meu Deus, eu amei! Pai, sério, eu amei, obrigada! — Amélia pulava nos braços do nosso pai, o abraçava, e beijava o seu rosto.

Mas o que...? Não! Não podia ser. Ele não deu aquele carro para ela. Ou deu? 

— Que gritaria é essa logo de manhã cedo? — aproximei-me, frustrada.

— Meri, olha só o meu carro novo! — Ela deu pulinhos de alegria.

Olhei para Isaac que olhou para o chão, e depois olhei para o meu pai. 

— Está de brincadeira, não é? — eu não podia acreditar. — Você deu um carro para ela?!

O clima ficou tenso de repente.

— É um presente de aniversário adiantado — ele tentou se explicar.

— Presente de aniversário? — sorri irônica. — Isso não é presente de aniversário! Isso é... um carro! Um carro muito caro, por sinal!

— Er... Meri — tentou Amélia, mas lhe lancei um olhar cortante e a calei. 

— Foi um ano bom para a sua irmã, América — seu tom se tornou mais duro. — Ela fez por merecer. Quando você começar a fazer alguma coisa que não seja dar desgosto a esta família, você terá o seu próprio carro. 

Recuei, mas não saí do lugar. Tudo bem, eu admito, machucou... Meus olhos arderam, mas eu não ia chorar. Não daria este gostinho a ele. Eu não precisava de um carro; Deus me deu pernas saudáveis, e eu poderia andar por quilômetros até meus pés sangrarem. E tudo que eu conseguia sentir era raiva e menosprezo. Eu nunca seria boa o suficiente para ele, para ninguém. 

— Meri — Isaac segurou o meu braço; seu tom era triste e apreensivo. — Vem, eu te dou uma carona.

Ele me puxou e os deixei para trás, chateada. Não era justo! Eu estava precisando de um carro há um tempo, ele sabia disso. Mas papai sempre atendia aos caprichos de Amélia, mesmo que fossem apenas exageros. Afinal, ele a deixava dirigir seu carro sempre que precisava... Que raiva!

— Me solta, Zac! — puxei o braço com força, me afastando dele. — Eu sei o caminho da universidade, não preciso de babá. Tenho pernas e sei andar — acrescentei, amargurada. 

— Ficar desse jeito não resolve nada — disse ele, apreensivo.

— Ele deu um carro para ela, Isaac! Quer que eu fique como? 

— Ele não me deu um carro, e não estou chateado por isso — abriu um sorriso apreensivo, tentando melhorar as coisas.

— Não me venha com essa — chutei o ar. — Você pode pegar o carro dele, e o carro da mamãe é mais seu do que dela. Você o usa diariamente. Não pode reclamar.

— Meri...

— Já estou de saco cheio, Isaac! Na primeira oportunidade, eu me mando para longe de todos vocês — jurei, e então saí andando.

— América... — ele tentou me alcançar, mas apontei o indicador em sua direção como um aviso.

— Todos vocês — repeti, amargurada, e ele não me seguiu quando voltei a andar. 

Coloquei os fones de ouvido enquanto caminhava pela calçada de casas alinhadas dos dois lados; queria me desligar do mundo. Foquei nos meus pés ao som de Dope da Fifth Harmony, como se tivesse encontrado algo de interessante neles. Não queria chorar, pois eu fazia o tipo que derramava lágrimas de raiva, lágrimas de sangue. E não aliviava a dor: só piorava. Peguei um ônibus e me sentei em um dos últimos bancos, em um lugar vago ao lado da janela. Aumentei o volume no máximo ao som de Symphony do Clean Bandit, na intenção de me desligar do mundo enquanto o centro da cidade passava pelos meus olhos. Eu estava cansada da minha família, dos meus sentimentos, de mim mesma... Tentei matar a dor, mas apenas trouxe mais, muito mais. Provavelmente ninguém percebe, mas quando me afasto, é quando mais preciso de companhia. Mas as pessoas só enxergavam a América extrovertida, sem limites e coração. Ninguém conseguia ver a dor que eu sentia camuflada por trás do sorriso. E esta é a minha vida: estranha, bagunçada, complicada, triste, incrível... E, acima de tudo, épica. 

— Ei!

Virei-me sobre os calcanhares, vendo Justin correr até mim com um sorriso rasgando seu rosto, tão grande que podia tocar os olhos. Tirei os fones de ouvido e os deixei pendurados no ombro. Abri um sorriso, o melhor que pude, tentando não estragar sua felicidade aparente. 

— Bom dia, badboy — eu tinha a sombra de um sorriso nos lábios. — Que felicidade é essa? Encontrou uma mala de dinheiro? Divide comigo, estou precisando.

Ele riu; seu sorriso era a coisa mais bonita que eu já tinha visto. Era algo que trazia cor para os dias mais cinzas, e eu admirava um belo sorriso.

— Você nem vai acreditar, Meri — ele respirou fundo, mal podendo conter o entusiasmo.

— Conte-me que eu acredito.

— Eu ganhei a minha própria exposição — e começou a dançar, o tipo de dança da felicidade.

— Uau! Isso é mesmo sério?

— Sim, sim! — seu entusiasmo me fez sorrir. — Não é algo grande, é só uma campanha pequena e eles precisam de um fotógrafo. É um bom começo. 

— Isso é ótimo, Justin. De verdade. Parabéns. — Eu estava feliz por ele. 

Ele parou e me olhou.

— O que foi? — perguntou.

— Hum?

— Você está triste. 

— Triste? Eu? Impossível — soltei um risinho sem muito humor.

— Ei — ele segurou o meu queixo e me fez olhá-lo. Estava preocupado. — Quer conversar? 

— Vou te poupar dessa triste história — sorri, melancólica.

Ele continuou me encarando, e eu sabia que não desistiria. Suspirei.

— Temos um tempo antes da aula começar — disse ele. — Vem comigo.

Ele me levou para a quadra de futebol. Sentamo-nos nas arquibancadas e, por insistência dele, contei a história toda. Senti-me um pouco acanhada de compartilhar algo tão íntimo da minha vida que não fosse com a Rosie ou com o Eggsy, mas ele me passou uma segurança tão grande que, quando percebi, estava desabafando sem nenhum limite. 

— Nossa, Meri... Não sabia que tinha problemas com sua família.

Suspirei.

— Desculpe estar jogando todo esse peso em cima de você.

— Não se desculpe por isso, América — ele sorriu, me confortando. — Todos precisamos desabafar às vezes. E fico feliz que confie em mim o bastante para me contar essas coisas. 

Encolhi-me. 

— Não fique triste por isso. É só um carro.

— É um Mini Cooper — retruquei.

— Não é grande coisa — olhei para ele, tediosa. — Está bem... é grande coisa, sim.

Revirei os olhos.

— Mas ficar arranjando problema não vai melhorar as coisas para você — ele foi calmo, mas sabia que estava me dando um sermão. — Algumas decisões geram consequências.

— Vai ficar me repreendendo também? — bufei, com raiva.

— Não, ruivinha... Ei, eu só quero te ajudar. E sermão faz parte quando se quer o bem de uma pessoa. E, vamos admitir que você é bem inconsequente às vezes — brincou com um sorriso, e eu acabei rindo. 

— É, eu admito. — Concordei. 

— Ás vezes precisamos mudar algumas coisas para agradar a nós mesmos — abraçou-me de lado e deitei no seu ombro. — Não estou pedindo que você deixe de ser quem você é, mas que comece a melhorar em alguns defeitos. 

— Hum.

— Estou falando sério.

— Mas eu não disse nada — levantei a cabeça do seu ombro, rindo fraco. — Eu entendo o que você quer dizer, afinal, ouço isso o tempo todo.

— Então você admite que está errada — arqueou a sobrancelha.

— Eu nunca estou errada, Justin Bieber. Um pouco confusa, mas nunca errada.

— Ah, claro — disse ele, risonho. 

Seu riso desapareceu, e só permaneceu o sorriso transparente enquanto me encarava. 

— Não fique com raiva do seu pai ou da sua irmã — olhou nos meus olhos. — Eles amam você, acredite. Mesmo que chatos as vezes, a família é a melhor coisa que temos. E, acredite: quando os perdemos, faz falta. 

— Você perdeu alguém? 

— Minha mãe — respondeu ele. — Quando eu tinha seis anos... Derrame cerebral. 

— Eu sinto muito — lamentei, sincera. 

— Eu não pude desfrutar muito da presença dela — mordeu o lábio inferior. — Mas ela faz falta, mesmo eu não tendo muitas lembranças dela... Foi difícil para o meu pai superar, mas ele fez isso por mim, e estamos bem hoje.

— Eu imagino. Deve ser ruim não ter ninguém para cuidar do seu ralado no joelho ou fazer chocolate quente quando se está doente.

— É péssimo, na verdade. 

Balancei a cabeça.

— Preciso de um emprego — comentei, de repente.

— Sério? — Ele me olhou. — Você não parece o tipo de pessoa que precisa de um emprego. 

— Não quero ficar dependendo dos meus pais para tudo — dei de ombros. — Talvez, com o meu próprio dinheiro, eu não me sinta tão excluída quando meus irmãos ganharem presentes tão legais. 

Ele se afundou em pensamentos por um momento.

— Que tipo de emprego você está procurando? 

— Qualquer um que me renda algum dinheiro.

— Eu estou precisando de uma assistente para este trabalho... Não paga bem, mas...

Abri um sorriso.

— Você está me oferecendo um emprego? 

— Bem, estou — ele coçou a nuca. 

— Ai, meu Deus! — abracei-o, o pegando de surpresa. — Obrigada, Justin! Eu... eu nem sei como te agradecer!

Ele retribuiu o abraço, rindo. 

— O que eu tenho que fazer? Quando eu começo? — afastei-me, despejando as perguntas. 

— Você só tem que me ajudar no que eu precisar. É bem simples, na verdade. São duas semanas, das duas da tarde até ás seis. 

— Eu posso fazer isso — falei mais para mim do que para ele. 

— Isso é um sim?

— Sim, sim!

Ele riu.

— Começamos hoje, hein? Não se esqueça. 

— Não vou me esquecer. Caramba, eu nem acredito! Muito obrigada, Justin. De verdade.

— Vai ser um prazer conhecê-la melhor, ruivinha — abriu um sorriso. — Pode me encontrar no parque central hoje á tarde? 

— Claro. 

— E depois eu te ajudo a arrumar outro emprego.

— Você faria isso por mim? 

— Claro. — Sorriu. 

Ouvi o sinal ecoando do outro lado da quadra, indicando o início das aulas.

— Hora de ir — suspirei, imaginando ter de enfrentar três aulas de biologia em plena segunda-feira. 

Ajeitei a mochila no ombro e me levantei. 

— Mais uma vez, obrigada — sorri. — Você não tem noção do quanto melhorou o meu dia.

Ele acenou com a cabeça e sorriu. Virei-me para sair andando, mas voltei para a mesma posição quando ele me chamou. 

— Sim?

— Gostaria de comemorar comigo hoje á noite? O Eg e a Rosie também vão estar lá — acrescentou. 

— Claro! Onde vai ser a festa?

— Red Cooper, ao leste da cidade. 

— Sei onde é. Nos vemos mais tarde então.

Virei-me para seguir o meu caminho e, mais uma vez, ele me chamou. Ele riu da minha cara de frustração e se levantou, sacudindo a calça jeans. 

— Eu tenho aula também. Eu te acompanho. 

E seguimos nosso caminho, lado a lado, enquanto conversávamos, entusiasmado, sobre esse novo emprego. Ele seguiu para o outro pavilhão e eu fiquei para trás, tentando espremer meu corpo entre a multidão de alunos que tentavam passar ao mesmo tempo pela porta estreita.

Easton sorriu para mim quando entrou na sala e lhe lancei uma piscadela. O professor Charles logo chegou, nos passando uma série de atividades. Meus dedos começaram a ficar dormentes depois de um tempo teclando no laptop, tentando acompanhar tudo que o velho dizia. E, no final da aula, cheguei á uma conclusão: não nasci para biologia. 

— Então você não vai estar por aqui no próximo semestre... 

— Eu vou me inscrever no curso de jornalismo e publicidade — olhei para Easton enquanto andávamos pelo corredor. — Eu até arrumei um emprego por duas semanas como assistente de fotógrafo. Sei lá, acho que é uma ótima oportunidade para eu me encontrar. Saber o que eu quero fazer de verdade.  

— Isso é ótimo, Meri! Fico muito feliz por você... Mas admito que vou sentir saudades — suas bochechas coraram, o deixando adorável. 

— Mas o que você está dizendo? Vamos continuar sendo amigos e, aliás, sempre vamos nos ver por aqui. Nunca vou me esquecer do que você está fazendo por mim, East. 

— Não estou fazendo nada demais.

— É muito para mim. 

Ele sorriu de canto.

— Não vamos poder estudar nas próximas duas semanas, o que me preocupa, sendo que as provas finais estão batendo na minha porta — suspirei. 

— Bem, eu posso te ajudar nos finais de semana se você não estiver ocupada — deu de ombros.

— Mesmo? East, eu agradeço muito! 

— Não precisa me agradecer. É legal estar com você. 

Sorri.

— É legal estar com você também, East. — Encarei os seus olhos brilhantes e cheios de vida. — Vamos comigo até o refeitório?

— Deixa para a próxima — enfiou as mãos dentro dos bolsos do jeans.

— Até quando?

— Até quando for possível — abriu um sorriso, se desculpando. — Até mais, América.

— Tchau, Easton.

E seguimos caminhos diferentes. Mas para a minha surpresa, encontrei apenas Rosie sobre a mesa no refeitório. Sentei-me à sua frente e joguei a mochila na cadeira ao lado, que era ocupada sempre por Justin.

— Onde está os meninos? — perguntei. 

— Assuntos de garotos, pelo que entendi — revirou os olhos. — Demorou. Aonde estava? 

— Eu estava em aula, ora. E depois fiquei conversando um pouco com o Easton. 

Rosie tinha mudado de sala na semana passada, o que era, no mínimo, desesperador.

— Você está transando com o garoto? 

Soltei um risinho.

— Ele é muito gostoso, mas não. Não estamos transando. Só estudando mesmo.

— Isso é novidade — ela debochou. 

— Eu preciso dele para tirar boas notas no semestre, Rosie. Além disso, somos amigos.

— Isso também é novidade.

— O Easton é um cara legal, sabe? Ele é inteligente, atencioso e gentil, coisa que a maioria dos garotos dessa universidade não são. O que quero dizer é que não sou tratada como um objeto quando estou com ele. 

— Isso é bom. Por que não o traz para comer com a gente? — Ela mastigou um pedaço de legume.

— Ele é um pouco anti-social, acho. 

— Isso é meio óbvio — deu de ombros. — E o Justin?

— O que tem ele?

— Você ainda quer...?

Soltei um risinho.

— Ele vai acabar cedendo alguma hora — caí contra a cadeira, com um sorriso travesso.

— Meri — inclinou-se sobre a mesa e me olhou nos olhos. — Tem mesmo certeza que sua intenção é só transar com o Justin?

Ergui a sobrancelha.

— Qual seria a intenção se não fosse essa? 

— É só que... — fez uma pausa. — Eu nunca a vi investir tanto em um cara quanto agora. Eu só achei que, sei lá, você quisesse mais alguma coisa além de uma transa por uma noite. 

Gargalhei, debochada. Mas do que ela estava falando?

— Rosie, você é hilária — balancei a cabeça e encarei sua expressão séria. — A minha intenção pelo Justin é física e nada mais. — Deixei claro, crua e seca.

— Meri, nem todos os homens são iguais — disse ela. — Você pode voltar a amar mais uma vez. E eu acredito que você vai achar um cara legal que seja gentil e que te compreenda.

Sorri, melancólica.

— Não existe essa história de príncipe encantado, Rosie — respondi, vazia. 

— O amor existe, sim. E ele chega da forma mais inesperada — insistiu.

— Eu acredito no amor, Rosie — baixei o olhar para a madeira clara da mesa. — Só não acredito para mim. 

O assunto foi encerrado ali. 

Voltei para casa no fim das aulas, até então, não tinha visto Eggsy ou Justin. "Assuntos de garotos", bobagem. Até parece que eles tinham algum assunto diferente de bundas e peitos. Os garotos eram todos iguais. Literalmente. Se existia uma rara excessão, eu não conhecia.

Esquentei um pedaço de lasanha congelada no microondas e almocei acompanhado de um copo de refrigerante. Lavei o que sujei, enxuguei e coloquei de volta no armário. Fui para o meu quarto e tomei um banho. Quando saí do banheiro enrolada numa toalha branca, recebi uma mensagem no celular. Era Justin.

Justin: Estou te esperando às duas. :)

América: Estarei lá. :)

Joguei o celular em cima da cama e fui para o closet procurar algo agradável para um dia quente, mas que fosse apresentável para um primeiro dia de trabalho como assistente de fotógrafo. Era engraçado me referir á Justin desse jeito, mas era o que ele era e eu ficava feliz por isso. E ficava mais feliz ainda por ajudá-lo nesse período de duas semanas, e assim, então, poderia ter uma chance mais clara de transar com ele de uma vez e acabar logo com esse assunto. Por fim, decidi usar um short jeans claro, blusa de linho de manga curta cinza, com o nome da minha série preferida estampada na mesma e tênis branco. Deixei o cabelo solto e, claro, passei maquiagem. 

Corri para pegar um ônibus, já que não tinha sobrado dinheiro para um táxi. Papai cortou minha mesada e não sabia quando ia voltar a recebê-la, então era melhor economizar os poucos centavos que eu tinha. A viagem de ônibus até o centro da cidade costumava durar entre quinte á vinte minutos. Pela janela do ônibus, observei mais um dia comum, bonito e ensolarado na Califórnia. Daquele lado da cidade, eu conseguia sentir a brisa do mar tocando o meu rosto, leve e salgada. Eu morava em uma cidade coberta por praias, com sol e calor na maior parte do ano, mas não lembrava da última vez que tinha ido á praia. Pensando bem, eu estava mesmo precisando de um bronzeado. 

Dois minutos para ás duas, encontrei Justin fazendo os últimos preparativos no enorme campo verde e aparado para a sessão de fotos. Telas tinham sido espalhadas por todos os lados, equilibrando a luz do sol, e algumas modelos já estavam em seus postos, esperando o comando para entrar em ação. 

— Muito pontual — ele veio andando na minha direção com uma câmera na mão, com aquele sorriso brilhante que ofuscava a luz do sol. 

— Eu posso ser maluca, mas sou pontual — disse eu, risonha. — E então, podemos começar? O que eu preciso fazer? — não conseguia esconder a ansiedade na minha voz.

— Calma — ele riu. — Primeiro, vem conhecer o pessoal. 

Justin me puxou para conhecer sua equipe. 

— Ruivinha, esses são Andrew, Dylan e Richardy, eles me ajudaram a montar o cenário. Rapazes, essa é a América Greene, minha assistente — ele nos apresentou.

— Olá, meninos — acenei.

— Olá — responderam em uníssono, e percebi olhares diferentes vindo de Andrew, um cara alto, forte e olhos verdes. 

Justin me puxou para uma aglomeração de garotas altas — bem mais altas que eu —, que se preparavam para o ensaio fotográfico. Sarah, Mandy, Amber e Katrina, todas Australianas, louras e pele branca. Seus olhos variavam dos tons mais verdes e dos castanhos mais escuros. Elas tinham um belo sotaque e me trataram com simpatia. 

Era uma campanha pequena para uma revista pequena. Mas a força de vontade de Justin e a determinação de todos transformavam em algo grande. Fiquei ao lado de Justin o tempo todo, atendendo às suas necessidades e observando como as garotas ficam lindas sob o sol quente da Califórnia. Eu até dava algumas dicas das posições que elas deveriam ficar, ou erguer um pouco mais a cabeça. As fotos ficaram ótimas e nos divertimos muito. Algumas vezes, Justin me pegava desprevenida e tirava algumas fotos minha. 

— Tchau, Meri — Dylan me abraçou, seguido por Richardy. — Foi um prazer conhecê-la. 

— Foi um prazer conhecê-los também, meninos. Espero poder vê-los qualquer dia desses — respondi.

E eles se foram. Justin estava distante, despedindo-se das modelos e verificando se todos os equipamentos foram postos no caminhão para serem devolvidos à agência. Eu conseguia sentir sua satisfação pelo trabalho bem-feito e sua determinação para fazer o que gosta. Queria ser tão determinada quanto ele.

— Precisa de ajuda? — Andrew surgiu de repente, com um sorriso largo de dentes perfeitamente brancos. 

— Oh, não — sorri, educada. — Está tudo bem por aqui. Obrigada.

Ele continuou me olhando; aquele olhar da perdição que eu conhecia bem.

— Gostou do dia de hoje? — perguntou ele.

— Foi bem agradável. Gostei muito, na verdade.

Ele sorriu fraco.

— Você e o Justin tem alguma coisa?

Soltei um risinho. Era tão óbvio. Chegaria com um assunto neutro, depois iria direto ao ponto. Andrew era bonito, forte e tinha um sorriso lindo, e, particularmente, parecia uma boa foda, mas naquele momento, eu não tinha pensamentos impuros em mente. Eu só queria me mandar para o Reed Cooper e beber alguns copos de cerveja para comemorar o dia maravilhoso, dançar um pouco e, se tiver sorte, transar com Justin mais tarde. Claro, era um pensamento impuro, mas Justin era uma exceção.

— O Justin é um amigo — respondi. — Por quê? Quer me convidar para sair? — provoquei.

— Bem, eu...

— Andrew — Justin surgiu por trás do mesmo, com uma expressão séria demais. — Os meninos só estão te esperando para ir.

Sorri divertida com a expressão decepcionante de Andrew. 

— Tchau, América — despediu-se ele.

— Tchau, Andrew — acenei. 

Justin cruzou os braços e o seguiu com o olhar até ele sumir entre a porta metálica da van e a mesma desaparecer na esquina da cidade piscante. 

— Parece que você ganhou um admirador — voltou-se para mim com uma expressão mais suave agora.

Soltei um risinho.

— Ele estava tentando me convidar para sair, Justin. Você estragou o momento. 

— Me sinto tão culpado — debochou.

Empurrei seu ombro, rindo. Ele riu junto, e tudo que restou foi seu belo sorriso iluminado pela claridade do luar que se instalava no centro do céu negro infinito e estrelado. Não tinha percebido o tempo passar. 

— Como foi o seu dia? — perguntou ele. 

— Ai, foi maravilhoso — suspirei, feliz. — Com certeza bem melhor do que uma aula de biologia com aquele velho insuportável.

Ele riu.

— Você parece levar jeito para esse tipo de coisa. Acho que vou te ver nas aulas de edição e publicidade no próximo semestre. 

— Parece que sim — sorri fraco.

— Você foi ótima hoje, ruivinha. Fez sucesso, principalmente com os garotos.

— Eu sempre faço — disse eu, convencida. 

Ele sorriu.

— O Eg e a Rosie desmarcaram com a gente — disse ele. — Surgiu um imprevisto.

— Está tudo bem?

— Parece que sim.

Assenti com a cabeça.

— Então, sem comemoração hoje, eu imagino. — Não escondi a decepção em minha voz.

— Eles não puderam ir, mas eu ainda estou livre — sorriu de canto. — Se você ainda quiser ir comigo, o convite está de pé. 

— Ótimo! — o entusiasmo ofuscou a decepção de segundos atrás. — Eu só preciso ir para casa e me trocar.

— Não precisa trocar de roupa, ruivinha. Você está ótima assim.

— Estou usando tênis — disse eu, indiferente.

— E daí? Não vamos ao Oscar... Aliás, parecem muito mais confortáveis que um salto alto — brincou.

— Você tem razão — falei com um sorriso. 

— Podemos ir então?

— Você vai me dar uma carona na sua moto? — olhei para ele, surpresa.

— Contando que você não me ataque no meio do caminho, eu dou, sim — brincou. — Eu a levo em casa depois.

— Muito cavalheirismo da sua parte. 

Quando me sentei na parte carona da moto, com minhas coxas pressionando os quadris de Justin, meus pensamentos não eram os mais puros. Coloquei meus braços ao redor da sua cintura, firmes, tentando guardar a sensação do calor do seu corpo ao meu. Eu conseguia imaginar os tipos de sonhos que teria mais tarde, e dormir nunca foi tão prazeroso.

— Podemos ir pelo caminho mais longo? — pedi quando ele ligou a moto com um rugido potente.

— Por quê? — Ele me olhou por cima do ombro, curioso.

— Porque é o mais perto que vou chegar de tê-lo entre minhas pernas.

Ele abriu um sorriso divertido e arrancou com a moto pela rodovia movimentada. A brisa gelada batia contra o meu rosto e congelava os meus dedos. Busquei calor no tecido do seu corpo. A Califórnia parecia um inferno quando o sol brilhava no céu, mas à noite era tão fria quanto um abismo. Antes de irmos ao Reed Cooper, Justin parou em uma lanchonete e comprou comida para ambos. Não tínhamos comido muito durante o dia, e beber de barriga vazia não era uma boa. Depois, retomamos nosso caminho, cortando a noite no limite da velocidade.

Música alta, corpos dançantes e muita bebida. Era isso que se resumia o Reed Cooper àquela noite. O ar era agradável e a música também. Não era abafado, apesar do número grande de corpos misturados. Com muito sacrifício, encontramos uma mesa vaga. Pedimos uma rodada de cerveja que logo foi servida. 

— Gosta de praia, ruivinha? — perguntou ele depois de saborear um gole da cerveja.

— Sim. — Respondi. 

— Espero que você tenha um biquíni, pois amanhã faremos a sessão na praia — informou ele. 

— Você vai adorar alguns modelos que tenho — dei-lhe uma piscadela e ele riu. 

— O Andrew vai adorar, tenho certeza — provocou ele.

Inclinei-me sobre a mesa e, sedutoramente, disse:

— Mas você é o único que pode tocar. 

Sentei-me ereta novamente, encarando a sombra de um sorriso nos seus lábios convidativos. Mais cerveja foi servida e, no quarto copo, já me sentia elétrica. Na pista de dança tocava Don't Stop the Music da Rihanna, e me sentia cada vez mais tentada a dançar. As solas dos meus tênis batiam contra o chão ao ritmo da música enquanto meu corpo ia e voltava no mesmo embalo. 

— Quer dançar? — convidou Justin, risonho, percebendo minha necessidade de mexer o meu corpo. 

— Quero — aceitei com um sorriso.

Ele se levantou e me puxou pela mão. Fui conduzida até a pista de dança com a bela visão da sua bunda se remexendo na minha frente. Sem timidez, ele me puxou para perto e começamos a dançar com o fervor ardendo no sangue. Sorrimos à toa, enquanto, uma vez ou outra, nosso corpo entrava em contato. Balancei meu cabelo, meu quadril, minha alma. Deixei a batida me possuir e não perdia a oportunidade de olhar nos olhos dele enquanto me remexia na sua frente. Quando a música acabou, logo em seguida, começou a tocar Galway Girl do Ed Sheeran, e caí nos braços de Justin, cansada e sorridente. Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e ele me puxou para mais perto pela cintura. 

— Você tem olhos lindos — elogiei, focada nos mesmos.

Ele sorriu.

— Os seus também são lindos — ele elogiou de volta. 

— Só os olhos? — Arqueei a sobrancelha.

Seu sorriso se estendeu.

— Você é belíssima, América — disse ele olhando nos meus olhos. — Por completo — acrescentou. 

Say You won't Let Go soou nos meus ouvidos e, nossa, eu amava aquela música. Cheguei para mais perto por vontade própria e deitei minha cabeça em seu ombro enquanto sentia seus braços ao meu redor como um sinal de proteção. Ali, em passos lentos, dançamos lentos e silenciosos, absorvendo a letra da música. 

Afastei-me dele o suficiente para olhar nos seus olhos. Eram belíssimos. Seus olhos nos meus me causavam arrepios na espinha; era como se ele pudesse tocar a minha alma, como se eu me tornasse transparente sob aquele olhar. Não sabia se me incomodava, mas no fundo, uma sensação de paz preencheu meu coração. Senti-me estranhamente vulnerável. Ah, merda! 

— Hum... — murmurei. — Vamos beber alguma coisa, estou com sede. 

— Como quiser — concordou ele, sem desviar os olhos do meu, enquanto afastava uma mecha do meu cabelo para trás da orelha.

Fechei meus olhos por alguns segundos, me negando a sentir, seja lá o que eu estava sentindo. Afastei-me involuntariamente e fomos até o bar, e pedi de imediato um copo de cerveja. Minha boca estava estranhamente seca e precisava me distrair dos pensamentos que rondavam minha cabeça. Virei o copo na boca e bebi tudo de uma vez. Justin estava ao meu lado, me observando com um vinco de diversão entre as sobrancelhas. Bati o copo contra o balcão e pedi mais uma rodada. 

— O que foi? — olhei para ele, incomodada com o contato visual permanente. 

— Do que você tem medo? — ele foi direto, focado nos meus olhos.

— Medo? Do que você está falando? — fiz-me de desentendida. 

— Essa barreira que você cria ao seu redor... Eu não entendo — balançou a cabeça. 

— É necessário — senti o vazio tomar os meus olhos. — Preciso ficar do lado seguro, assim não me machuco. 

Ele continuou encarando os meus olhos, tentando decifrar o sentido por trás das minhas palavras. Cortei o contato visual quando mais um copo de cerveja foi posto no balcão, mas bebi devagar desta vez. Fechei os olhos com força, tentando controlar a tontura repentina.

— Acho que já chega por hoje — Justin tentou tirar o copo da minha mão, mas desviei e bebi o líquido de uma vez.

— Acabamos de chegar — contestei. — Vem, vamos dançar.

Puxei-o, sem lhe dar o direito de questionar. Dançamos Last Friday Night, Just Hold On, Only Girl (In the World), Never Let Me Go, e mais uma série de músicas, até nossos corpos estarem esgotados. Apesar de parecer segundos, eu sabia que tínhamos passado muito tempo ali. Foi um dia cheio, cansativo, e a bebida começou a pesar nos meus ombros. Comecei a necessitar por uma cama macia e um cobertor quentinho. Justin não estava tão sóbrio, mas sua situação era ainda melhor que a minha.

Saí daquele bar apoiada em Justin, sem forças para me manter em pé. Uma vez do lado de fora, antes que ele pudesse perguntar se eu estava bem, caí de joelhos no chão e coloquei para fora tudo que tinha comido, principalmente a bebida de um tempo atrás. Tudo estava girando, minha cabeça estava á mil por hora, e eu não conseguia parar de vomitar. Justin se agachou ao meu lado e segurou o meu cabelo para que eu pudesse pelo menos sair limpa daquela situação. 

— Tudo bem aí com você? — seu tom preocupado ecoou pela minha cabeça, e eu mal conseguia enxergar o seu rosto.

— Tudo está girando — murmurei, sem forças.

— É hora de ir para casa, ruivinha — ele segurou meu rosto entre as mãos. — Consegue me dizer onde fica a sua casa?

Vincos de incompreensão surgiram entre minhas sobrancelhas. Apontei para a direita, depois para a esquerda, incerta. 

— Droga — murmurou ele. — Vem, deixe-me te ajudar.

Ele puxou meu corpo para cima, me colocando de pé, e minha cabeça descansou em seu peito quando colocou os braços fortes e tatuados em volta do meu corpo.

— Acha que consegue montar em uma moto? — perguntou ele.

— Eu... consigo — as palavras saíram longas demais e um pouco emboladas. 

Justin não questionou. Arrastou-me até a moto e me colocou no lugar certo, sentando-se logo em seguida entre as minhas pernas, sem soltar minhas mãos. Caso soltasse, eu escorregaria para o outro lado e encontraria o chão com o meu rosto. Prendeu meus braços o mais firme que pôde ao redor da sua cintura e segurou minhas mãos com uma mão, enquanto a outra guiava a moto pela estrada lisa. Era perigoso, mas ele parecia saber o que estava fazendo. Se acabássemos morrendo em um acidente, eu morreria feliz só por ter Justin Bieber entre minhas pernas. 

Não lembro quando chegamos a algum lugar, acho que cochilei em seu ombro durante a viagem, e quando percebi, estava sendo carregada para dentro de uma casa desconhecida. Tudo que eu conseguia enxergar era o mel dos seus olhos brilhando no escuro da madrugada e seus braços me aquecendo do frio. Foquei nas linhas do seu rosto quando, de repente, ele tropeçou no escuro e caímos contra o estofado macio do sofá; eu por cima dele. Ele murmurou um "droga" e, ao me ouvir rir, fez o mesmo. 

O barulho cessou — a não ser pelas nossas respirações próximas — e só restou o silêncio. Estávamos em um lugar apertado, pouco me importava. Acomodei minha cabeça em seu peito que era estranhamente confortável e ouvi o bater do seu coração. Era tão calmo e sereno que me fazia querer dormir todas as noites ao som daquela batida. 

— Para onde você me trouxe? — perguntei com a pouca força que me restava.

— Minha casa — respondeu ele, com a mão afagando delicadamente meu cabelo. 

Suspirei.

— Uma decisão perigosa — sussurrei contra o seu peito.

— Estou disposto a arriscar — respondeu, despreocupado. 

Entreguei-me ao silêncio um momento.

— É a primeira vez — minha voz cortou o silêncio.

— Que o quê? 

— Que durmo com alguém sem transar.

Senti seu sorriso no meu cabelo. 

— Isso é ruim? — sussurrou.

— Acho que vou gostar — sussurrei de volta.

— Talvez possamos repetir. 

— Não me faça promessas que não pode cumprir. 

Cochilei no calor do seu peito, mas antes de ser tomada totalmente pelo sono, ouvi sua voz rouca, baixa e serena atordoar meus ouvidos: — Mas essas são as melhores.


Notas Finais




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