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História Rebel Heart - Omen


Escrita por: MillyFerreira

Notas do Autor


√ Desculpem-me qualquer erro. Boa leitura!

Capítulo 9 - Omen


Fanfic / Fanfiction Rebel Heart - Omen

— Me larga, seu idiota! — Eu tentava me soltar da sua mão forte ao redor do meu braço, me machucando.

Ele me ignorou e continuou me arrastando pelo beco escuro. Eu mal conseguia me equilibrar sobre os próprios pés, tropeçando nos mesmos enquanto tentava acompanhar seu ritmo acelerado. 

— Você está me machucando! — meus olhos se encheram de lágrimas. — Me solta, seu imbecil!

Fui jogada contra a parede com uma força tão bruta que senti meus pulmões estremecerem e o ar parar de circular. Ele me prendeu entre seus braços, os olhos azuis ardendo em raiva e a expressão sombria pesando sobre mim. Seus lábios alcançaram a pele do meu pescoço, me causando repulsa. Tentei afastá-lo, mas ele imobilizou minhas mãos acima da cabeça, me impedindo de escapar. Gritei por socorro, mas minha voz ecoou no espaço vazio, denunciando meu desespero: estávamos sozinhos.

Eu não podia usar as mãos, mas podia usar as pernas. E chutei bem forte entre suas pernas, fazendo-o se afastar urrando de dor, me dando a chance perfeita para escapar. Saí correndo pela escuridão com o coração batendo tão rápido que parecia querer explodir a qualquer momento. Corra. Não pare. Corra. Não pare. Era a única coisa que ecoava na minha mente.

Vi a luz no final do túnel bem na minha frente depois de um tempo correndo. Era apenas um poste aceso ao longe mas eu sentia como se a minha vida dependesse daquela simples luz para ser salva. Olhei por cima do ombro e vi que ele vinha atrás de mim, quase me alcançando, então coloquei mais forças nas pernas e corri mais rápido, até mais rápido do que o próprio Usain Bolt, eu arriscava dizer. Atravessei a pista sem pensar, raciocinar ou até mesmo prestar atenção no que tinha ao meu redor. Foi então que senti um impacto forte contra o meu corpo, seguido por um barulho ensurdecedor rasgando meus ouvidos, uma freada tão brusca que eu poderia lembrar do seu som pelo resto da minha vida. Meu corpo atingiu o chão com tanta força que eu não consegui recuperar nenhum movimento depois disso. Era como se eu estivesse meio morta, meio viva. Minha cabeça pesava, e pela visão turva eu conseguia ver uma poça de sangue se espalhando pelo asfalto frio. 

Silêncio. Não havia mais nada além do batimento fraco do meu coração. Minhas costelas pareciam ter sido quebradas e depois pisoteadas, e minha carne ardia como se estivesse pegando fogo. Dois pés surgiram na minha frente, a sola dos sapatos deixando as digitais no vermelho do meu sangue. Meus olhos pesavam mais do que eu podia suportar quando ele se agachou na minha frente. Os olhos azuis tão familiares me observavam com calma, e sua voz sombria cortou o silêncio da noite como um pedaço de ferro afiado atravessando o meu peito:

— Não pode escapar de mim, América. Eu vou estar nos seus pesadelos até não lhe restar nenhum sonho. 

Meus olhos se abriram tão rápido que mal pude perceber o que tinha á minha volta. Com a respiração pesada e o coração batendo forte, sentei-me no espaço pequeno, mas convidativo e aquecido. Meu celular tocava e vibrava contra o meu traseiro, atordoando meus pensamentos. Demorou um pouco para cair a ficha de que tudo não passou de um pesadelo e que Justin continuava dormindo petrificado ao meu lado, com a expressão calma e a respiração pesada. Ele tinha uma expressão tão serena que parecia estar sonhando coisas boas. Por um momento, me permiti ficar em paz comigo mesma ao observar seu rosto angelical e um leve sorriso preenchendo seus lábios convidativos. 

Mas, para me atordoar novamente, o celular começou a tocar mais uma vez. Resmungando, debrucei-me no sofá, tentando alcançar a porcaria do aparelho, tomando o cuidado para não acordar Justin que uma vez ou outra, se mexia. Minha cabeça latejava intensamente só de ouvir aquele toque universal insuportável. Eu não tinha nenhuma noção de tempo, mas ao ver o nome da minha mãe preenchendo a tela do celular, minha mente acendeu em alerta. 

— Alô? — atendi meio sonolenta. 

— América, onde você está? — seu tom era baixo, mas chateado.

— Eu estou no... que horas são? — levei a mão á cabeça que latejava. 

— São quase três horas da manhã, América. Onde você foi se meter, menina? Eu já te ligo há um tempo, fiquei preocupada!

— Mãe, desculpe, eu... eu dormi.

— Dormiu?

— É uma longa história, eu... eu já estou indo para casa. 

— Espera, onde você está? Não quero que volte para casa sozinha a este horário.

— Eu vou ficar bem.

— América...

Desliguei. Olhei na tela do celular e eram duas e quarenta e cinco da madrugada. Oh, droga! Papai iria arrancar meu fígado! E por mais que eu soubesse que iria passar horas ouvindo o quanto eu era irresponsável, não queria ir embora. Não quando seus braços eram tão convidativos. Seu corpo estava tão quente, sua expressão tão doce e serena, e ainda assim não deixava de ser sexy e gostoso. Observei seus lábios entreabertos e imaginei como seria a sensação dos mesmos na minha pele quente, enquanto suas mãos estavam entre minhas pernas, acalentando-me, me amando... Louca. Era isso que eu estava ficando.

Aproximei-me, cautelosa, desejosa, com minhas mãos em seu peito forte, sentindo o ritmo da sua respiração lenta. Inclinei-me sobre o seu corpo e juntei meus lábios aos seus. Um toque leve e suave, apenas uma pressão entre dois lábios silenciosos, mas que eu ia guardar até o momento de um toque mais profundo. Deslizei meus lábios pelo seu queixo, distribuindo beijinhos leves pela sua pele macia, e segui com a trilha pelo seu maxilar, bochecha, até chegar no seu ouvido, onde deixei uma promessa:

— Você ainda vai ser meu, Justin Bieber. 

Afastei-me, lentamente, guardando cada traço do seu rosto. Ele tinha gosto de cerveja, na verdade, nós dois tínhamos. E ambos tínhamos esse cheiro preso nas roupas. E quem se importa? Ele tinha um cheiro bom até mesmo quando cheirava a álcool. Ou era paranóia minha? Eu estava adiando o momento da minha partida, era isso. Coloquei uma perna para fora do sofá, enquanto tentava me equilibrar sobre seu corpo sem cair em cima do mesmo. Era exatamente o que eu queria, mas me controlei. Com um pouco de dificuldade consegui passar por cima do seu corpo e, como se pressentisse minha ausência, deslizou a mão pelo espaço que eu antes ocupava, buscando o meu corpo. Mas não acordou. Guardei a última imagem do seu rosto antes de recolher minhas coisas e sair.

                                   […]

Dei de cara com Justin quando fechei meu armário.

— Bom dia, ruiva — nem mesmo o sorriso escondia a ressaca da noite anterior. 

— Bom dia, badboy — sorri sem mostrar os dentes. — Como dormiu esta noite? 

Ele soltou um risinho.

— Acho que seria melhor se eu acordasse ao lado de quem eu dormi — arqueou a sobrancelha. — Achei que estava sonhando quando acordei esta manhã e não te encontrei. 

— Eu tive que voltar para casa ontem mesmo — respondi, ajeitando a alça da mochila no ombro. 

— Que horas? — juntou as sobrancelhas.

— Hum, umas três horas da madrugada — dei de ombros, incerta.

— Você voltou para casa sozinha neste horário?! América! — repreendeu-me. — Por que não me acordou? Eu te levava.

— Você dormia feito pedra — soltei um risinho. — Acho que você não acordaria nem que o céu desabasse sobre sua cabeça. 

— Engraçadinha — revirou os olhos. — Eu não estava pior que você, disso eu tenho certeza.

Empurrei seu ombro por brincadeira. 

— Não precisa se desesperar, Bieber. Ainda vamos ter outras oportunidades para eu acordar em seus braços — abri um sorriso malicioso. — De preferência, sem roupas.

Ele balançou a cabeça com um sorriso divertido brincando nos lábios.

— Você não tem jeito, não é, garota? 

— Talvez você possa me dar um trato — dei-lhe uma piscadela. 

Ele sorriu, ainda divertido.

— Tudo pronto para esta tarde? — perguntei. 

— Oh, sim — ele esfregou o rosto com as mãos; parecia cansado para uma tarde de trabalho. — Tudo pronto. Eu pedi o carro do Eg emprestado, então achei que você gostaria de uma carona, sei lá. 

— Eu quero, sim. Para facilitar as coisas, te encontro na casa do Eg antes das duas, certo?

— Então podemos ir juntos daqui — sugeriu ele.

— Eu preciso passar em casa antes. Sabe, preciso pegar o meu biquíni.

Ele riu.

— Ah, claro. 

— Eu não posso me atrasar para a aula — inclinei-me e beijei o seu rosto. — Nos vemos depois.

Saí apressada pelo corredor sem lhe dar chance de se despedir. Cheguei á sala faltando poucos segundos para começar a aula. O professor Charles chegou logo depois, me lançando um olhar de desgosto. Eu tinha uma leve impressão de que ele não ia com a minha cara. Sentei-me na cadeira de sempre e olhei por cima do ombro em busca de Easton. Ele estava encolhido no canto de sempre, e usava um óculos escuro, o que era legalmente proibido na aula do velho. Não demoraria muito para ele reclamar, só bastava perceber.

— Sr. Hyde — Charles chamou sua atenção. — Não é autorizado esse tipo de objeto na minha aula. Ou você tira o óculos ou vou convidá-lo a se retirar da minha aula. 

Toda a atenção foi voltada para Easton. Tentei buscar o seu olhar, mas era impossível saber para que direção ele estava olhando. Sem opção, retirou o óculos escuros, revelando um belo olho roxo. Olhei para ele, estupefata. Uma onda de murmúrios se espalhou pela sala. Seu olhar se encontrou com o meu e ele tentou sorrir para me confortar, mas falhou miseravelmente.

— Acho melhor dar um jeito nisso, rapaz — disse Charles.

— Sim, professor — murmurou Easton.

O velho deu continuidade a aula. Demorou uma eternidade para aquele maldito sinal tocar. Não consegui me concentrar na aula, estava preocupada com Easton. Tentei várias vezes lhe lançar uma bolinha de papel, mas o velho sempre me olhava na hora que ia o fazer. O jeito era esperar até o fim da aula. O sinal tocou e todos saíram apressados da sala como se não aguentasse passar mais um segundo presos naquele quadrado. Easton saiu tão depressa que não consegui alcançá-lo. Arrumei a mochila depressa e corri atrás dele no corredor.

— Easton — chamei-o, mas ele continuou andando. — Easton, por favor, espera — tentei mais uma vez e então ele parou.

Virou-se para mim; usava o óculos escuros novamente. Parei na sua frente, arquejando, enquanto tentava recuperar o fôlego. Ele tinha a cabeça baixa; seus ombros pareciam cansados.

— Easton, o que... — olhei para ele, apreensiva. — O que aconteceu? 

Ele ergueu a cabeça; não via os seus olhos, mas sabia que olhava para mim. 

— Adivinha quem resolveu nos visitar ontem á noite? — disse ele, a voz triste e baixa. 

Ah, não... 

— Ele bateu em você? 

— Eu só tentei impedir que ele machucasse a minha mãe — havia dor na sua voz.

— Easton, meu Deus! Que absurdo! Você tem que denunciá-lo para a polícia — eu estava inconformada.

— Meri, eu não posso fazer isso — suspirou. 

— Por que não? Isso que ele faz com você e com a sua mãe é crime — retruquei.

— É mais complicado do que parece, América —balançou a cabeça. — Acha que eu já não quis fazer isso? Seria tudo mais fácil se ele estivesse atrás das grades... Mas não importa quantos olhos roxos ou ossos quebrados ele deixa para trás, ele ainda continua sendo o meu pai... Pode me chamar de covarde, mas não tenho coragem para fazer isso. 

Segurei sua mão, abalada.

— Ei, não diz isso — queria poder olhar nos seus olhos, mas não seria confortável para ele. — Você não é covarde. E eu entendo a sua situação. Mas você tem que entender que se você se acomodar, essa situação nunca vai melhorar.

— Eu sei, Meri — ele abaixou a cabeça. — Eu sei... 

— Eu posso fazer alguma coisa por você? 

— Não há nada que você possa fazer — suspirou, recolhendo sua mão da minha. — Eu... eu agradeço a preocupação, mas não tenho cabeça para falar deste assunto agora. Espero que entenda.

— Sim, sim, claro — balancei a cabeça, concordando. — Se precisar de qualquer coisa, se precisar conversar...

— Obrigada, América — sorriu fraco, opaco. — Eu tenho que ir agora, tá?

Abracei-o forte. Ele, meio surpreso, retribuiu o abraço meio sem jeito. Despediu-se e foi embora. Fiquei para trás, triste por ele. Papai era duro comigo, brigávamos quase sempre, mas ele nunca me machucaria desse jeito ou de qualquer outro jeito. Ele era chato, pegava no meu pé e me dava sermão a cada dois minutos, mas era esse o seu jeito de me mostrar o caminho certo a seguir. Era um ótimo pai, eu não podia negar. E naquele momento, percebi que eu tinha muito e não dava o devido valor. 

As horas passaram se arrastando naquela terça-feira. Minha cabeça estava longe. Não prestei atenção na conversa no refeitório, nem às aulas de ciência política. Eu só queria que aquele maldito semestre terminasse logo de uma vez. Easton não apareceu para a aula, o que, obviamente, me deixou preocupada. Eu só esperava que ele ficasse bem. 

Em casa, me encontrei de frente para o closet em busca de algo leve para um dia na praia. Optei por um look básico: blusa branca sem mangas com um tecido leve e short jeans. Por baixo, coloquei um biquíni maiô plussize panicat preto e branco. Calcei um par de havaianas e arrumei uma bolsa básica. 

Encontrei Eggsy, Rosie e Justin em frente à casa de fachada marrom e grama aparada. O carro de Eg estava estacionado na calçada, enquanto o dono do mesmo estava sentado na escada da varanda com o braço esquerdo em volta do corpo da namorada. Justin estava encostado no carro, rindo de alguma coisa que o primo dizia. 

— Oi, gente — cumprimentei-os.

— Oi, Meri — o casal me cumprimentou em uníssono. 

— Oi, ruivinha — Justin sorriu.

— Você já almoçou? — perguntou Rosie.

— Não tive tempo — dei de ombros.

— Vamos almoçar antes de irem. Você tem tempo, não é?

Olhei para Justin com cara de cachorro que caiu de mudança. Ele riu.

— Temos um tempo, sim.

Comemorei. 

— Fiz macarronada — informou Rosie enquanto seguíamos para dentro de casa.

Os pais de Eggsy estavam viajando à trabalho, então Rosie estava passando este tempo na casa do namorado. Eu não me surpreenderia em saber que ela servia de cozinheira neste meio-período, pois Eg era um completo desastre com comida. Da última vez que tentou cozinhar algo — o que já fazia algum tempo —, colocou fogo na cozinha e, por sorte, os bombeiros conseguiram controlar o incêndio á tempo. Ninguém ficou ferido e a cozinha foi recuperada pelo seguro. Desde então, seus pais não arriscavam deixá-lo no espaço por muito tempo. 

— Sentem-se. — Disse Rosie. — Eu vou pegar o almoço.

— Não mesmo — questionou Eg. — Você já cozinhou, agora eu coloco a mesa.

— Ok então — ela beijou os seus lábios. 

— Levanta a bunda daí e vem me ajudar, preguiçoso — Eg olhou para o primo.

Justin o seguiu até a cozinha, resmungando.

Sentei-me sobre a mesa junto com Rosie. 

— Como está o trabalho? — perguntou ela.

— O primeiro dia foi ótimo — respondi. — Tenho certeza que vou gostar de hoje e do restante dos dias.

Ela assentiu.

— Eu fico feliz que está ocupando sua cabeça com algo que não seja sexo e bebidas — alfinetou.

Revirei os olhos.

— Até parece que só penso nessas coisas vinte e quatro horas por dia.

— E não é?

— Só um pouquinho.

Rimos juntas.

— Eu sempre achei que você levasse jeito para essas coisas de moda, fotos e informações. Não sei o que você tinha na cabeça para estar fazendo biologia.

— Você também está fazendo — retruquei com uma sobrancelha arqueada.

— Eu gosto, é diferente. 

— Todo mundo tem dúvidas na vida, Rosie. Eu apenas estava indecisa sobre o que fazer da minha, então estava experimentando coisas novas para talvez descobrir uma vocação.

— Você nunca foi boa em biologia, cá entre nós — debochou.

— Ah, tudo bem, eu já entendi, sua chata! — mostrei a língua para ela.

— Você vai fazer as provas finais?

— Sim. Não quero que o esforço do Easton para me ajudar seja em vão.

— Então vocês dois são amiguinhos agora? 

— Qual o problema nisso?

— Nenhum — deu de ombros.

— Esse almoço está demorando — inclinei-me para a cozinha, impaciente. — Eu vou ver o que eles estão fazendo lá dentro.

Levantei-me e caminhei até a cozinha. À medida que ia me aproximando, suas vozes ficavam mais claras e eu podia entender o que estavam conversando.

— Então... — ouvi á medida que me aproximava da cozinha. — Você e a Meri estão andando muito juntos ultimamente.

— Estamos trabalhando juntos agora, somos amigos — respondeu Justin. — Tem algum problema nisso?

Não era o certo a se fazer, mas comecei a ouvir a conversa.

— Não, não tem. Eu só... estou preocupado.

— Com o quê?

— Com vocês dois para ser mais exato — suspirou. — Isso mal começou e já sei que não vai acabar bem.

— Mas que diabos você está falando, Eggsy?

— Eu vou ser direto, Justin — ele fez uma pausa. — Não sei o que você está tentando fazer com a América. Você não a conhece como eu e a Rosie, não sabe o que ela passou, e nem vai ser eu a te contar, mas vocês já são amigos e isso é bom. Mas você não gosta dela desse jeito, Justin. Você vê nela um desafio, e talvez vocês acabem se apaixonando um dia, o que seria ótimo, mas não dê esperanças onde não tem. Não faça ela acreditar que pode achar esse tipo de conforto em você para depois magoá-la. Somos amigos há muito tempo, Rosie a vê como uma irmã, e se você foder com tudo, não posso ficar dividido entre os dois. O que eu quero dizer com isso é que você deveria dar um basta nessa história.

— Você quer que eu me afaste dela, é isso? — seu tom era rouco e sério.

— Não. Claro que não! Eu só quero que você deixe bem claro para ela que suas intenções não passa de amizade.

— Eu não entendo porque vocês a tratam como se ela não pudesse tomar as próprias decisões — retrucou Justin, irritado.

— Não é isso que estamos fazendo, Justin — ele suspirou. — A Meri passou por tanta coisa que você não imagina, e também não posso contar. O que quero dizer é: não a deixe ainda mais machucada.

Não houve respostas da parte de Justin. Afastei-me. Voltei para a sala com algo martelando na minha mente, só não sabia o quê. Eu não entendia por que tanta preocupação; eu não gostava de Justin daquele jeito. Sexo é só um detalhe, uma forma de prazer. Não era como se eu ficasse loucamente apaixonada por ele depois disso. Mas ainda assim, aquela conversa estava pinicando lá no fundo do meu coração, o que era estranho, pois há muito tempo eu havia esquecido que tinha um.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou Justin quando estávamos dividindo o completo silêncio no carro.

Olhei para ele e respondi simplesmente:

— Sim.

Ele desviou o olhar da estrada por alguns segundos e olhou para mim. Voltou a atenção para a frente e disse:

— Você não costuma ser tão calada.

— Está me chamando de tagarela, Justin Bieber? 

Ele sorriu de canto.

— Um pouco, não muito — respondeu, divertido.

— Talvez precisemos de música — inclinei-me para ligar o rádio, onde começou a tocar Semisonic. — Típico do Eggsy — murmurei.

— O quê? Não gosta?

— Gosto, mas... Eu prefiro algo da atualidade — respondi enquanto procurava meu celular dentro da bolsa e, depois, o cabo dentro do painel.

— Tipo o quê? 

— Isso aqui... — conectei o cabo no celular e no rádio, e logo depois começou a reproduzir Up&Up.

— Coldplay. — Ele sorriu. — Você tem bom gosto, ruivinha.

— Existe coisa melhor que Coldplay e OneRepublic? 

— Você não parece gostar desse tipo de música.

— Você se surpreenderia com as coisas que eu gosto.

— Acho que preciso conhecê-la melhor então — olhou-me de canto de olho.

— Decisão horrorosa — aumentei o volume e comecei a cantar com Chris Martin: — We're going to get it, get it together right now. Gonna get it, get it together somehow. Gonna get it, get it together and flower. Oh oh oh oh oh oh...

Baixei o vidro da janela e o vento forte e refrescante bateu em meu rosto e bagunçou meu cabelo. Coloquei os braços na janela e repousei a cabeça sobre os mesmos, observando a cidade passar diante dos meus olhos ao som de Coldplay. Uma mistura de vazio e preenchimento tomava conta de mim ao mesmo tempo. O que eu podia dizer? Era complicado. Seguimos viagem com a letra de Paradise, Hymn for the Weekend, Princess of China, Something Just Like This e outros sucessos do Coldplay.

Todo o cenário estava montado quando chegamos á praia. As modelos estavam vestidas com seus determinados biquínis e trajes de banho. A Black's Beach era uma praia isolada, quase deserta, muito visitada por turistas. É uma praia linda dentro de um cenário totalmente diferente e com areia escura, quase preta. Era necessário descer uma trilha enorme para chegar até lá, mas todo esforço valia a pena. 

Andrew foi o primeiro a me cumprimentar, depositando um beijo no nó dos meus dedos. Sua atitude me fez lembrar Easton, e acabei ficando um tanto melancólica. Queria saber se ele estava bem. Mas ele precisava de um tempo, não queria sufocá-lo.

— Você está linda, América — elogiou ele, galanteador.

— Diz isso porque não me viu produzida — brinquei.

— Eu sou cardíaco — ele riu da própria piada e sorri com divertimento.

— Ei, ruivinha — Justin me chamou.

— Ruivinha? — Andrew se virou para mim.

— É um apelido carinhoso só dele — expliquei. — Não sei de onde surgiu, acho que é por causa da cor do meu cabelo — dei de ombros. 

— Ah.

— Vou ver o que ele quer — deixei um aperto em seu ombro antes de me aproximar de Justin. — O que tenho que fazer? — perguntei a Justin que verificava alguma coisa na câmera.

— Só ficar aqui do meu lado — ergueu o olhar, mas continuou de cabeça baixa. — Não a quero perto do Andrew. Ele não tem as melhores intenções com você.

Abri um sorriso acusador.

— Está com ciúme? 

— Não estou com ciúme — revirou os olhos. — Só estou garantindo sua segurança enquanto esteja comigo.

— Ah, claro — debochei. 

— Vamos logo começar com isso — murmurou. — Meninas, em suas posições, por favor — ele falou mais alto para que as modelos pudessem escutar.

Fiquei ao lado de Justin o tempo todo, e quando ousava me afastar, seu olhar de repreensão me trazia de volta como um imã. Sempre quando meu olhar se cruzava com o de Andrew, ele sorria para mim. Eu soltava risinhos, recebendo um olhar cortante de Justin, e perguntava "que foi?" por pura provocação. O sol estava quente e pinicava na minha pele, mas em recompensação, a brisa que vinha do mar era extremamente refrescante. Era engraçado ver os garotos babando pelos corpos magricelas das modelos. 

O ensaio terminou algumas horas depois. As modelos foram embora, reclamando do sol forte, enquanto Andrew e os outros arrumavam os equipamentos dentro do caminhão, carregando-os pela trilha. Justin e eu estávamos sozinhos.

— Não quer dar um mergulho? — Ele sugeriu.

— Mas é claro! 

Tirei os chinelos e comecei a me despir do jeito mais sensual possível, lançando olhares sedutores em direção á Justin. Ele me observava com divertimento nos lábios, mas algo á mais nos olhos.

— Por que não vem comigo? — convidei-o, sapeca. 

— Eu não sou muito fã de água salgada — deu de ombros. — Sinta-se à vontade. Estou aqui te observando caso aconteça alguma coisa.

— Tenho certeza que vai estar observando muito bem outra coisa — alfinetei. 

— Eu não sou de ferro — sorriu torto. — Uma beleza natural como você deve ser observada e apreciada. 

— Até quando? — olhei nos seus olhos. 

— Até quando eu conseguir resistir — mordeu o lábio inferior. 

— Talvez o segredo seja não resistir — sussurrei perto do seu rosto. 

Beijei o canto da sua boca. Seu corpo ficou tenso na minha frente. Ele fechou os olhos. Afastei-me devagar, captando cada movimento dos seus olhos se abrindo lentamente, revelando as íris castanhas. Virei-me para a praia e senti seu olhar em mim. Caminhei pela areia quente até sentir a água gelada nos meus pés. Uma onda veio em minha direção e mergulhei de cabeça na mesma. A água tampou meus ouvidos. Voltei para a superfície com as gotas d'água escorrendo pelo meu corpo e o cabelo grudado nas costas. Virei-me para a praia e lá estava Justin, me observando sem desviar os olhos. Sorri para ele que acenou. 

— Tem certeza que não quer vir? — gritei por cima do barulho das ondas se quebrando. 

— Estou bem aqui — ele gritou de volta.

Justin usou os chinelos como banco para poder se sentar na areia escura. Dobrou os joelhos e continuou me observando. Dei mais alguns mergulhos e voltei para a margem, sentando-me ao seu lado. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas observando as linhas laranjas surgirem no céu, indicando um belo fim de tarde.

— Toda essa sensação de paz me deixa com um vazio aqui dentro — comentei com os olhos focados na água.

— A paz deveria aliviar o vazio, não? — Ele virou o rosto para me olhar, mas não fiz o mesmo.

Engoli em seco.

— Não consigo senti-la. Tudo que encontro aqui dentro é uma tempestade interminável. 

— É fácil se sentir esperançoso em um dia lindo como este, mas haverá dias sombrios também. Dias em que você se sentirá sozinho, e é nesses dias que precisamos de esperança.

Olhei para ele finalmente.

— Temos que ser maiores do que o que sofremos. — Continuou ele. — O babaca que te decepcionou, ele não merece os seus pensamentos. Então não desperdice tempo vivendo a vida de outro. Faça a sua valer alguma coisa. Esqueça o que passou, foque apenas no futuro, no agora. Seja o que for. Porque mesmo que falhemos, não tem jeito melhor de viver.

Naquele momento, senti uma vontade enorme de chorar. Aquelas palavras, tão bonitas, me tocou lá no fundo. Eu estava descobrindo que ainda restava alguma coisa do antigo eu aqui dentro. E, de certa forma, Justin a trazia de volta à vida, mesmo que fosse discretamente.

— Não consigo sozinha — balancei a cabeça. 

— Você não está sozinha — sua mão grande e macia afagou meu rosto, e tudo o que eu conseguia enxergar era ele e o quanto estávamos perto. Eu podia... — Quero estar com você neste momento difícil.

Fechei os olhos quando sua testa se colou na minha.

— Não posso... — sussurrei.

— O quê, América? — seu hálito refrescante batia no meu rosto. — O que você não pode? 

— Me apaixonar por você — abri os olhos. 

— Mas por quê? 

— Porque se você for embora, não vou ficar tão magoada. 

— Eu não vou a lugar nenhum — prometeu olhando nos meus olhos.

Tirei sua mão do meu rosto, com um peso pairando nos meus ombros.

— Todos vão alguma hora — havia um conflito de sentimentos travando uma batalha dentro de mim. — Vamos embora. 

Ele suspirou e concordou sem argumentos. Sabia que era uma promessa vazia que não podia cumprir; nem ele, nem ninguém. Estou tentando, mas continuo caindo. Eu grito, mas nada vem agora. Estou dando o meu tudo e sei que a paz virá algum dia. Eu nunca quis precisar de alguém. Eu quis jogar duro, considerei que poderia fazer tudo eu mesma, mas mesmo uma Super-Mulher às vezes precisou da alma do Super-Homem.

                                        […]

Easton não apareceu na aula no dia seguinte. Eu não sabia onde ele morava, então não poderia lhe fazer uma visita. O velho não apareceu para dar aula de biologia, e pelo que entendi, estava de licença médica. Usei as aulas vagas para colocar os assuntos em dia. Eu estava na biblioteca com a cara nos livros enquanto os alunos aproveitavam o dia no campus ou até praticando futebol americano. Eu não estava chateada com Justin, mas não queria vê-lo. Não queria companhia naquele momento, nem mesmo dos meus amigos. Eu estava com um pressentimento ruim disso tudo, só não sabia exatamente o que era. Será que perdi a cabeça? Será que estava ficando louca? Não acho que sabia explicar. O que eu podia dizer? É complicado. E eu adorava o jeito como a sua respiração me entorpecia. Aquela simples atração estava atingindo o ponto máximo de limite, e aquilo não saía da minha cabeça. Não era um bom sinal.

— Querida, não pode ficar aqui — a mulher de meia-idade avisou após a batida do último sinal do turno. 

— Eu já estou terminando aqui — disse á ela. — Prometo que já vou sair.

— Ok. Feche a porta quando sair.

— Ok. 

Li as últimas três páginas do capítulo e comecei a arrumar os livros de biologia de volta nas prateleiras. Minha mente estava cansada de tanta informação sobre células e bactérias. Mais uma semana... Era tudo o que eu precisava aguentar para poder mudar de curso.

— Precisa de ajuda? 

Olhei por cima do ombro e vi Chris, capitão do time de futebol, encostado no batente da porta fechada, e um sorriso presunçoso que a maioria dos garotos desse lugar tinha.

— Não precisa, Chris — sorri amarela. — Já estou indo embora.

Ele se aproximou.

— Por que tão cedo? 

— Não é cedo, Christian — olhei para ele com uma sobrancelha arqueada. — O que você quer?

— Uma coisa que só você pode me dar.

Tentei me desviar dos seus braços, mas ele me prendeu entre os mesmos, me deixando encurralada na prateleira.

— Christian, não estou a fim — olhei para ele, séria.

— Qual é, América — seu olhar sombrio e insistente pairou sobre mim. — Todos meus amigos dizem que você é uma delícia, também quero te provar.

O sangue ferveu nas minhas veias. 

— Sai da minha frente agora mesmo, seu imbecil! — ordenei com um tom mais duro. — Nem que o sol e a luz colidissem eu ficaria com você. 

— Está se fazendo de difícil agora? 

— Eu não gosto de nada forçado, Christian. Me solte agora ou eu vou gritar.

— Quanto você quer, hein? Pode me falar, eu pago qualquer preço para você rebolar esse seu traseiro no meu pau.

Depositei um tapa estralado na pele branca do seu rosto. Christian se recuperou mais que depressa e me beijou a força. Balancei a cabeça, tentando impedir a passagem da sua língua na minha boca, enquanto tentava escapar dos seus braços: uma tentativa falha, já que ele prendeu meus pulsos acima da cabeça com mais força que eu podia suportar. Mordi seu lábio inferior com força, fazendo ele se afastar urrando de dor. Acertei uma joelhada entre suas pernas, curvando-o no chão, e aproveitei a brecha para sair correndo. Atravessei a porta feito um furacão e saí em disparada pelo corredor, com o coração batendo na garganta e o sangue pulsando nos ouvidos.

Cheguei á porta principal tropeçando sobre os próprios pés e corri pelo estacionamento, ouvindo uma voz familiar cortar o silêncio do ambiente chamando pelo meu nome. Não parei. Atravessei a rua sem me importar com nada e quando percebi uma freada brusca vindo na minha direção, paralisei. Um ônibus escolar enorme vinha na minha direção sem conseguir frear a tempo. Meu coração parou de bater. Fechei os olhos esperando o momento do impacto quando, de repente, meu corpo foi jogado para o lado e se chocou contra o chão; o peso de outro corpo sobre o meu.

Abri os olhos, em choque, e vi íris castanhas me observando de perto, com uma mistura de medo e preocupação. Tudo girava e senti meu estômago afundar. 

— América, você está bem? — perguntou Justin com os olhos arregalados e o rosto mais branco que o normal. — Por favor, fala comigo.

Abri a boca para responder, mas uma onda de enjôo preencheu o meu estômago e a cabeça pesou uma tonelada, forçando-me a descansar no calor dos seus braços antes de ser tomada pela completa escuridão.


Notas Finais




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