História Reciprocal - Um

– Ei, sua bicha! – SeHun gritou assim que avistou BaekHyun. Ele congelou e parou de andar, mas não se virou. De longe puderam vê-lo segurar a alça da mochila com mais força. Ao sentir que se aproximavam, ele voltou a andar, dessa vez mais rápido.

– Você pode tentar fugir, mas não vai conseguir! – Tao falou em um tom macabro. Como ele disse, logo BaekHyun foi alcançado e YiXing o trouxe para perto com um puxão brusco. Ele só não caiu porque YiXing ainda segurava a gola de sua camisa. O garoto engasgou-se, pois ela apertou seu pescoço.

– E então, viadinho? Já se recuperou da ultima surra? – SeHun perguntou puxando o garoto para cima pela alça da bolsa, olhando seus olhos um pouco inchados devido ao seu ultimo encontro com o grupo. O seu coração acelerou de medo, mas ele não demonstrou. Apenas manteve o rosto sério.

– Quatro contra um? Nossa, a coragem de vocês é admirável. –BaekHyun falou com deboche, o que fez  SeHun sorrir com raiva, jogando-o no chão.

– VÃO ME BATER DE NOVO? – BaekHyun falou em voz alta – VIERAM ME BATER SÓ PORQUE O WUFAN OU O SUHO NÃO ESTÁ AQUI PARA ME DEFENDER? SEUS COVARDES!

Todos os quatro riram, se encarando e depois encarando o garoto sentado no chão.  ChanYeol não sabia porque, mas sempre sentiu desprezo Por BaekHyun. Era como se tudo nele o despertasse ódio. E a forma corajosa com que BaekHyun os enfrentava era uma das coisas que ChanYeol não suportava.

– Não adianta tentar dar uma de valente, bicha. Você cheira a medo. – ChanYeol disse se ajoelhando, ficando na mesma altura que BaekHyun.

ChanYeol também era o que BaekHyun mais odiava entre todos os outros. O motivo? Porque ele era uma farsa. Na frente das pessoas era o ChanYeol legal, brincalhão, falante e amigável, o qual todos do colégio respeitavam. Mas era só algum professor ou monitor sair de perto, que ele se tornava o babaca que realmente era. E quem era estúpido o suficiente para discordar de alguma atitude do Rei do Colégio?

ChanYeol apertou as bochechas de BaekHyun com uma das mãos, e sorriu debochado.

– A verdade é que sem o WuFanzito você é apenas uma garotinha indefesa. – ele continuou fazendo os outros rirem.

– A verdade é que você, nenhum de vocês, têm coragem de chegar perto do WuFan ou do JunMyeon. – BaekHyun respondeu sem abandonar o ar de determinação. ChanYeol riu novamente.

– Chame seus amiguinhos, todos eles. Vamos ver se eles podem contra todos nós. Nós chamamos nossos amigos e você chama os seus, que tal? Ah, me lembrei. Tirando o WuFanzito e o Suhito você não tem amigos. Claro que o MinSeokito não conta, já que ele é tão fracote quanto você! – ChanYeol arrancou mais risadas dos seus amigos. BaekHyun também riu, só que com amargura.

– Não quero me envolver com as pessoas desse colégio. Não me interesso por amizades falsas e interesseiras, que é o único tipo de amizade que vejo por aqui.

– Palavras típicas de um perdedor, que arruma esse tipo de desculpas para não admitir que é uma aberração, e por isso ninguém o quer por perto. – ChanYeol falou contra o rosto de BaekHyun, que mesmo abalado, não se demonstrou atingido. Ele olhou para o maior com nojo.

– Saia da minha frente. – BaekHyun tentou empurrar o maior, que caiu sentado rindo, enquanto o outro se levantava. Tao, SeHun e YiXing se moveram, mas ChanYeol fez sinal para eles não interferirem.

– Deixem ele só para mim. – ChanYeol olhou ameaçador para o menino que o encarava, andando e em seguida virando-se para fugir dali. Mas ChanYeol fora mais rápido ao se levantar e puxar o braço do menor, virando-o para si.

– Achou que deixaria você fugir tão rápido, bicha?

– Pare de me chamar assim. – BaekHyun falou cerrando os dentes.

– Ah, o cachorrinho está rosnando? Mas não é isso que você é? Uma bicha. Uma aberração. – BaekHyun tentou empurrar o outro para longe de si, contendo a vontade de acertá-lo com um soco. Mas mesmo que BaekHyun fosse corajoso e determinado, sabia que não podia com o ChanYeol. Este apenas riu e acertou um soco no rosto do menor, que de novo só não caiu por ter alguém o segurando. Os outros vibraram com a iniciação da briga, que todos ali sabiam quem sairia vencedor. Mas de qualquer forma, BaekHyun tentou se defender, arriscando acertar um chute em ChanYeol, que apenas ria se desvencilhando com facilidade, pois BaekHyun não tinha nenhuma habilidade com brigas, ao contrário dos outros. ChanYeol o acertou com outro soco, mas dessa vez em seu estômago. BaekHyun foi solto e se encolheu, abraçando seu próprio corpo, sentindo o ar faltar.

ChanYeol se afastou com um sorriso vitorioso, observando o outro se contorcer, tentando não demonstrar dor em sua face. ChanYeol o observou por alguns segundos. BaekHyun não era a única, mas era sua vítima preferida. Mas todas as vezes que batia ou infernizava o garoto, independente de sentir prazer naquilo, sentia-se estranho. Não entendia o porquê, mas às vezes sentia vontade de pedir desculpas e ajudá-lo. Principalmente quando via lágrimas brotarem em seus olhos, mesmo que o garoto não permitisse que elas caíssem. Pensava que aquele leve sentimento de culpa seria fruto da quase extinta compaixão que poderia existir dentro de seu coração. Mas como ChanYeol não entendia aquela sensação, sempre a ignorava.

– Vamos, pessoal. Ele já apanhou mais do que uma garotinha pode aguentar. – ChanYeol riu se afastando com os outros. Aquela antiga sensação de remorso o invadiu, e ele massageou o peito tentando entender aquela sensação que dominava o seu coração. Apenas ouvia o garoto atrás dele respirando com dificuldade, tentando juntar o ar em seu corpo dolorido. O garoto observava, ajoelhado, os outros se afastarem. Ele enxugou os vestígios de lágrimas dos seus olhos e levantou-se com dificuldade, amaldiçoando o momento em que desejou passar na biblioteca e acabou entrando naquele corredor vazio. BaekHyun cambaleou para o banheiro mais próximo e se olhou no espelho. Sua bochecha estava roxa e cortada devido ao soco forte que levara. Ele olhou para sua imagem com raiva. Não sabia se sentia raiva do ChanYeol ou dele mesmo, por ser tão fraco e incapaz de se defender sozinho.

Sempre foi assim. Por todo o ensino médio foi perseguido por ChanYeol e seus amigos. Sempre fora assim, desde que descobriram que ele era gay.

Tudo começou no final do primeiro semestre, quando cursavam o primeiro ano. Tao ouviu uma conversa em que BaekHyun revelava para seus amigos que estava gostando de um garoto. E desde aquele dia, BaekHyun não tinha mais sossego. Pelo menos eles não o importunavam na presença de WuFan e JunMyeon. WuFan era um rapaz alto e com uma feição intimidadora. Ele era capaz de silenciar uma pessoa apenas jogando-a seu típico olhar de desaprovação. E o JunMyeon era o representante de sala, por isso nunca o importunavam em sua presença.

BaekHyun apenas molhou o rosto, sentindo o machucado arder. Ele ainda se xingava quando saiu do banheiro e atravessou o corredor. Perto do portão de entrada ele dá de cara com o JunMyeon.

– Ainda por aqui? – o mais velho perguntou.

– Pois é. – BaekHyun falou baixo, desviando o rosto para JunMyeon não ver seu machucado. Este, que não era besta, puxou o rosto do outro para si novamente e analisou o estrago.

– Aqueles porras de novo... – ele falou, porém calmo. – Quer que eu fale com o diretor?

– Não. – BaekHyun respondeu firme na hora. JunMyeon suspirou frustrado, mas, como sempre, respeitou a decisão do amigo. JunMyeon nunca entendeu porque, mas BaekHyun nunca disse nenhuma palavra sobre o Bullying sério que sofria ao diretor, contando apenas com a ajuda nem sempre presente de seus amigos. O garoto sempre dizia que “não daria esse gostinho ao ChanYeol”.

“Mas Bacon, você precisa fazer alguma coisa em relação a isso! Não estaremos sempre aqui para te proteger” WuFan e JunMyeon diziam. “Mas é isso que eles querem. Que eu demonstre fraqueza. Se eu denunciá-los seria como se eu estivesse perdendo a guerra.” E a conversa sempre terminava ali.

JunMyeon acompanhou seu amigo tão indefeso até sua casa, honrando seu apelido. Ao chegar à porta de casa, BaekHyun virou-se ao mais velho.

– Obrigado, Suho. Não só por me trazer até em casa, mas também por sempre se preocupar comigo. – ele falou sincero. JunMyeon sorriu.

– Não precisa agradecer. Só quero o bem dos meus pivetes. – JunMyeon bagunçou os cabelos do mais novo.

Após se despedirem, BaekHyun entrou em casa, por dentro preferindo estar em qualquer lugar, até mesmo na companhia de ChanYeol, menos ali.

– Chegou atrasado. Onde estava? – seu pai perguntou assim que colocou os pés na sala.

– Estava na escola. Tive um pequeno imprevisto. Sabe, o de sempre. Uns garotos me cercaram e me deram uma surra. Homofóbicos, como você – BaekHyun falou frio. Seu pai abaixou o livro que lia e o encarou com raiva.

– Você pode me odiar, garoto. Mas você ainda me deve respeito.

– Te odiar? Não, eu não te odeio. – BaekHyun falou calmo. – Você que me odeia. Porque eu não sou o que você queria que eu fosse. Por você, eu apenas sinto indiferença.

Seu pai apenas o encarava com o típico desprezo no olhar. BaekHyun já estava mais do que acostumado com aquilo. Então apenas encarou de volta, com os olhos inexpressivos.

– Se quiser comer vire-se por conta própria. Não fiz nada pra você – o homem voltou sua atenção ao livro.

– Não quero mais. Essa casa tira todo o meu apetite. – BaekHyun subiu as escadas indo ao seu quarto, onde passava todas as suas tardes buscando refúgio para todos os seus problemas.