ChanYeol acordou bruscamente com o barulho do celular. Ele sentou-se na cama em um pulo, pegando o aparelho na mesinha ao lado da cama e vendo que era uma ligação do SeHun.
– Cara, por que você tá me ligando uma hora dessas? – ChanYeol reclamou no telefone, sonolento.
– Cala a boca que já é meio dia. – SeHun revidou. – Mas enfim, aonde você foi ontem? Não te vi o resto da festa.
– Bem... Tente adivinhar... – ChanYeol riu.
– Ah claro. – SeHun riu também, entendendo. – Nosso típico Yeollie, sempre sumindo das festas com algum rabo de saia.
ChanYeol riu novamente com as palavras do amigo.
– Você só ligou pra saber como eu estava? Que fofo. – ChanYeol debochou.
– Haha, muito engraçado. Só que não.
– Então diga logo.
– Você sabe que minha mãe dá aulas de canto no centro da cidade?
– Sim...
– Pois bem, hoje mais cedo eu fui visitá-la. Coisa que eu nunca faço. Lá só tem viado. Mas eu precisava falar com ela...
– Estou muitíssimo interessado nos detalhes do seu dia, mas pode ir direto ao ponto?
– Nossa, que gentil. Enfim. Quando eu cheguei lá, adivinha quem estava dentro da sala, com os alunos da minha mãe!
– Tao? – brincou ChanYeol.
– Não. Pior. Ou melhor, mais hilário ainda: BaekHyun. – ChanYeol quase derrubou o celular.
– Q-QUEM? BAEKHYUN? – ele gritou no telefone.
– SIM! – o amigo disse rindo. – CARA! CÊ TEM NOÇÃO DO QUANTO ISSO É GAY?
– BAEKHYUN TENDO AULAS DE CANTO? ESSA É A PIADA DO ANO! – ChanYeol não controlava a risada. – ELE TE VIU?
– Claro que não! Eu o vi pelo lado de fora. Sabe aqueles espelhos que se vê tudo que está dentro, mas não dá pra ver o que têm por fora?
– Sei... Cara, o mundo precisa saber disso! – ChanYeol ria.
- Isso não é tudo! Eu perguntei à minha mãe sobre ele, como quem não quer nada, dizendo que o conhecia do colégio. E você não sabe o que ela disse!
– O que, Maria Fofoqueira? – ChanYeol debochou, mas na verdade estava louco para saber.
– “O BaekHyun? Nossa! Ele é um menino de ouro!” – SeHun imitou a voz da sua mãe. – “Nunca tive um aluno tão bom! Ele tem uma voz de anjo! De derreter a alma de qualquer pessoa! Além disso, é muito esforçado! Tem muito amor pela música! Ele até arrumou um emprego de meio período para poder pagar as aulas! Eu realmente gosto do BaekHyun. Menino de ouro!”
– Nossa, sua mãe adora o BaekHyun. – comentou ChanYeol, surpreso com o discurso.
– Porque eu não falei a parte em que ela disse que eu deveria começar a andar com ele na escola e que era incrível que estudássemos juntos. – SeHun disse rindo.
– Qualquer dia desses poderíamos ir lá dar um “oi” para o nosso amiguinho. – ChanYeol sugeriu com um sorriso maléfico.
– Acho uma boa ideia... – SeHun fez o mesmo, embora não pudessem se ver.
E no centro da cidade, no mesmo instante, BaekHyun encerrava sua aula de canto.
– E então, BaekHyun... O que está achando das aulas? – a bondosa professora o chamou para conversar.
– Estou adorando Sra. Oh! – BaekHyun falou com os olhos brilhando.
– Que ótimo! Estou tão honrada em ensinar a um talento bruto! – BaekHyun corou com o elogio.
– Que nada, Sra. Oh. Eu que estou honrado de ter aulas com a senhora.
– Awn, que adorável! – a mulher bagunçou seus cabelos. – BaekHyun, posso lhe perguntar uma coisa?
– Claro, professora!
– Você conhece Oh SeHun? – BaekHyun congelou.
– S-sim, sim. Eu o conheço. – ele disfarçou.
– Ah, que ótimo! Sabe, ele é meu filho. – a mulher falou empolgada. BaekHyun deu um sorriso amarelo.
– S-sério? Nossa, que l-legal! - BaekHyun estava pasmo. Não conseguia entender como aquele demônio em forma de gente podia ser filho de uma mulher tão simpática.
– Sim... Ele esteve aqui mais cedo. Foi ele quando eu dei uma saída. Ele te reconheceu e tudo, perguntou sobre você. Falei muito bem é claro. – BaekHyun queria que um buraco o engolisse naquele momento. SeHun o viu tendo aulas de canto? Sabia muito bem como aquilo iria acabar.
– F-foi mesmo? N-nossa, obrigado! – ele forçou um sorriso.
– Vocês se falam na escola? São da mesma turma? Nossa, seria ótimo se vocês fossem amigos!
– S-sim, somos da mesma turma.
– Que ótimo! E me diga, SeHun é legal com você? Você gosta dele? – ela estava tão empolgada que BaekHyun nem se permitiu pensar na possibilidade de falar a verdade.
– S-sim, SeHun é um cara legal! – BaekHyun coçou a nuca, desconfortável.
– Vocês deveriam ficar mais próximos. Seria ótimo ver o meu SeHunnie andando com um garoto tão amável como você! – a Sra. Oh disse com olhos brilhando. – Você poderia ir jantar lá em casa um dia desses, o que acha?
– B-bem, p-pode ser, eu adoraria. – BaekHyun queria morrer.
– Ótimo! Bem, não vou mais tomar o seu tempo. Vá para casa. Tome cuidado, e me prometa que um dia vai jantar lá em casa.
– P-prometo sim! – BaekHyun a reverenciou e pegou sua mochila, saindo da sala querendo morrer.
BaekHyun sempre ia à casa de JunMyeon depois das aulas de canto, e naquele dia não foi diferente. BaekHyun chegou em frente a grande casa e tocou a campainha. Desesperado.
– Calma, calma! Já cheguei! – BaekHyun ouviu a voz do JunMyeon. E depois a porta destrancando. BaekHyun adentrou no jardim, enquanto JunMyeon aparecia na porta da casa.
– O que aconteceu?
– Seus pais estão? – BaekHyun parou de andar.
– Não, mas MinSeok e WuFan estão. – assim que JunMyeon falou, os dois garotos apareceram atrás dele.
– Ah! Bacon chegou! – MinSeok correu em direção ao amigo e o abraçou, bagunçando seu cabelo. – Bacon, Bacon! Quero comer Bacon!
MinSeok cantarolou. Ele sempre cantarolava aquilo quando queria irritar BaekHyun.
– MinSeok, não estou no clima para brincadeiras. – o garoto o empurrou.
– Eita! Que bicho te mordeu, Bacon? – disse MinSeok rindo da própria piada.
– É sério. – BaekHyun entrou na casa, passando por WuFan e JunMyeon, jogando-se no sofá, com uma expressão arrasada no rosto.
– Baek... O que aconteceu? – JunMyeon perguntou. Os três garotos se aproximaram do amigo, todos com semblantes preocupados.
– O mínimo de orgulho que ainda me sobrava acabou de se esvair. – ele disse para a parede. Os três se entreolharam e sentaram-se ao lado do mais novo, que os contou tudo.
– B-bem... Isso não é tão ruim assim. Qual o problema em ter aulas e canto? – JunMyeon tentou consolar o garoto, olhando para os outros, procurando apoio. Eles concordaram com a cabeça.
– Vocês não vêem? Não vêem como isso é... Gay – os olhos de BaekHyun exalavam desespero. – Eles já me infernizaram por muito menos.
– Ei, você sabe que se eles tentarem qualquer coisa, a gente dá uma lição neles. – WuFan se pronunciou.
– Não podemos contra eles, WuFan.
– Somos quatro e eles também. Mas eu valho por dois, então podemos sim. – WuFan riu.
– O Seokie é um fracote. Eu sou uma mariquinha que não pode nem contra um garoto do primeiro ano. Suho é um anão defensor da paz que acha que tudo poder se resolver na base do diálogo. Só sobra você, e você não pode contra quatro brutamontes. – BaekHyun encarou WuFan sério.
– Já os enfrentamos muitas vezes.
– E nós três saímos quebrados.
– Não vamos resolver nada com briga, caras. – JunMyeon fuzilou WuFan com o olhar. – BaekHyun, fale com o diretor.
– Não. – BaekHyun falou rápido.
– BaekHyun, isso não pode continuar. – JunMyeon falou sério.
– Não vou dar esse gostinho a eles, Suho! Não adianta, eu não vou falar!
– Deixe disso, BaekHyun! Não vê que essa é a solução?
– NÃO, Suho. Essa NÃO é a solução! – BaekHyun levou as mãos até o rosto, esfregando-o, e em seguida as encarando. – dizer ao diretor não vai mudar porcaria nenhuma! ChanYeol é o rei daquele colégio, e mesmo que indiretamente, até o próprio diretor atende às vontades dele!
– Mas você tem que fazer alguma coisa em relação a isso, Baek! O que não pode é continuar! – MinSeok insistiu.
– Só falta um ano. Eu aguento. – BaekHyun respirou – Só um ano para completar o ensino médio. Depois, nunca mais terei que conviver com ChanYeol e os outros.
– Falta muito para o ano acabar. – MinSeok suspirou.
– Para quem aguentou por tanto tempo, não morro por mais um ano. – BaekHyun falou por fim.
O fim de semana passou rápido e logo já era segunda-feira. ChanYeol nunca pensou que o início da semana pudesse ser tão hilário, mas quando viu BaekHyun à sua frente, não pôde conter um sorriso largo.
ChanYeol acelerou o passo até ficar bem próximo ao garoto, silenciosamente, para não ser notado. Os seus amigos seguravam o riso atrás. ChanYeol aproximou-se do ouvido de BaekHyun e sussurrou:
– The hills are alive, with the sound of music… – BaekHyun deu um pulo devido ao susto.
– O que...
– With song they had sung, for a thousand yeeeeeears… - ChanYeol deslizava as mãos pelo ar no ritmo da música.
– Oh no, not I, I will survive! – Tao foi ao encontro de ChanYeol, rebolando.
– Qual é o seu estilo musical? Opera? – ChanYeol levou as mão ao peito, dando um grito de ópera. Todos riram, menos BaekHyun, que o encarava sério.
– Musical? – SeHun se aproximou fazendo alguns passos de dança exagerados.
– Pop? Like a virgin! – YiXing cantou segurando um microfone imaginário, também se aproximando, dançando que nem uma garota. As pessoas ao redor já notavam a brincadeira e riam confusas.
– I bring the sexy Baek! – ChanYeol dançou ao redor de BaekHyun, que apenas o encarava cheio de ódio. Os outros riam de se acabar com a piada. BaekHyun apenas deu as costas ao grupo e continuou a andar.
– Vem cá, Baek! Me ensina uma música! La la la la la, la la la la la! – ChanYeol passou os braços pelo ombro do menor, que apenas revirou os olhos e continuou andando.
– Vá arrumar o que fazer, ChanYeol. – ele falou sem ânimo. ChanYeol fez bico.
– Nossa, que grosso! Eu só pedi pra aprender uma música! – ChanYeol o acompanhava ainda mantendo os braços sobre seus ombros.
– Cala a boca, ChanYeol. – BaekHyun respirou fundo. ChanYeol apertou o abraço, aproximando-se do ouvido do outro.
– Você me daria aulas particulares? Se ficássemos sozinhos, você chuparia o meu pau? – ele sussurrou no ouvido do menor de forma provocativa.
– JÁ MANDEI VOCÊ CALAR ESSA MALDITA BOCA! – BaekHyun deu um empurrão em ChanYeol, que cambaleou rindo.
– Ué, BaekHyun? Eu pensei que você gostasse de uma conda na boca. – ChanYeol falou com um sorriso sarcástico. – Sabe, o aniversário do SeHun está chegando e eu estava procurando uma putinha para animar a festa. Se você estiver interessado ou precisando de uns trocados você podia...
– JÁ MANDEI VOCÊ CALAR A BOCA! – BaekHyun gritou e, para a surpresa de ChanYeol e até do próprio BaekHyun, acertou um soco no rosto do maior.
ChanYeol cambaleou com o corpo curvado e com a mão cobrindo o rosto, onde fora acertado. BaekHyun apenas o encarava paralisado, com uma expressão de pânico no rosto, sem crer no que acabara de fazer. SeHun, Tao e YiXing, que estavam um pouco atrás, também estavam paralisados, olhando pasmos de ChanYeol para BaekHyun.
– O-o que... C-como você ousa? – ChanYeol começou, olhando para o pouco de sangue que estava em seus dedos. – Você tem ideia do quanto está morto?
– Me desculpe! Me desculpe, eu, eu... – BaekHyun tentou desesperadamente se desculpar, mais foi interrompido por um soco mil vezes mais forte do que o seu. Ele caiu no chão sentindo o nariz latejar e o sangue quente escorrer.
– VOCÊ QUER MORRER? HÃ? – ChanYeol deu um chute no menor deitado no chão. Todos ao redor agora olhavam perplexos ChanYeol dar chutes em BaekHyun, que encolhia o corpo a cada toque. Ele tentou se afastar engatinhando para longe, mas o maior o alcançou com facilidade e o puxou pela gola da camisa.
– Ch-ChanYeol... Pare... Por favor. – BaekHyun pediu com a voz fraca, o sangue escorrendo do nariz para a boca, e da boca pingando no chão.
– Já se acovardou, huh? – ChanYeol arqueou uma sobrancelha, a voz uma mistura de raiva e ironia. BaekHyun levou as mãos até a do maior, tentando soltá-las de sua camisa. ChanYeol as empurrou e acertou mais um soco forte, dessa vez na sua costela. Não deixando o garoto encolher o corpo, ChanYeol o puxou de volta e o colocou com o rosto bem próximo ao seu.
– Vê o quanto você é patético? Não sabe nem se defender sozinho. – ChanYeol cuspiu as palavras. BaekHyun tentava o empurrar para longe, mas na verdade as mãos fortes do outro era a única coisa que o mantinha de pé. ChanYeol acertou um soco no seu olho, sem largá-lo.
– O que eu fiz? – BaekHyun falou com dificuldade, olhando para baixo.
– O que você disse? – ChanYeol rosnou, trazendo o garoto para mais perto de si.
– Por que você me odeia tanto? – a voz de BaekHyun saia fraca. E pela primeira vez, ChanYeol viu algo diferente do ódio característico nos olhos de BaekHyun. ChanYeol viu... Dor.
Não apenas a dor física. Mas também dor.
Sofrimento, como se BaekHyun se perguntasse qual o problema consigo, o que havia de errado com ele.
– Eu sou tão desprezível assim? – BaekHyun disse em um murmúrio, o qual ChanYeol só ouviu porque estavam muito próximos. O rosto do maior suavizou, e involuntariamente suas mãos afrouxaram na camisa do outro. Por algum motivo, a dor de BaekHyun o atingiu junto com suas palavras sussurradas. E aquela velha sensação de culpa apoderou-se do peito de ChanYeol. BaekHyun não o olhava nos olhos. Mais uma lágrima derramou de seus olhos e a culpa se agravou ainda mais no peito do maior. Antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, a chegada de mais alguém chamou sua atenção.
– O QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO? – Suho apareceu com raiva na multidão, sendo seguido por WuFan e MinSeok, empurrando as pessoas de sua frente para poder ver o que estava causando tanto alvoroço. Ao verem ChanYeol segurando um BaekHyun ensanguentado e ferido, o desespero tomou conta de seus corpos. – MAS O QUE...
Suho os olhou assustado, e sem dar uma palavra sequer, WuFan correu em direção dos dois, separando-os e dando um empurrão em ChanYeol, que caiu no chão. WuFan avançou em sua direção e Tao e SeHun logo correram e o pararam, segurando-o com dificuldade enquanto JunMyeon e MinSeok correram para Baek.
– Você passou dos limites, Park ChanYeol! – JunMyeon exclamou. – Olha o estado do pobre BaekHyun!
– Você está morto. – WuFan rosnou. ChanYeol apenas se levantou, encarando a todos, sério.
– Vamos para a diretoria. Agora. Seokie, leve o Baek até a enfermaria. Depois o traga para a sala do diretor. Estaremos lá esperando. – JunMyeon ordenou, puxando ChanYeol pelo braço. MinSeok segurou BaekHyun pela cintura e o ajudou a se mover em direção à enfermaria.
– Dessa vez você não escapa. Dessa vez, eu não vou ficar calado. Foda-se o que BaekHyun pensa. – JunMyeon dizia mais para si mesmo do que para ChanYeol, enquanto o puxava furioso pelos corredores da escola. Este estava mudo, mas olhava para o menor com arrogância. Ao chegarem à frente da sala do diretor, JunMyeon parou em frente ao balcão da secretária.
– Preciso falar com o diretor Lee. Agora. É grave.
– E o que é tão grave? – a mulher de cabelos tingidos o olhou, estranhando o modo como Suho havia falado e como ele segurava o braço de ChanYeol, que se mantinha calado.
– Eu tenho uma denúncia a fazer. Uma denúncia que deveria ser feito há muito tempo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.