História (Re)Começo - Primeiro Capítulo:

Cinco anos atrás.

Podia sentir as mãos do rapaz passeando livremente pela pele das minhas costas, mas não estava dando muita importância a isso, minha atenção estava nos seus lábios finos e frios, não sabia a quanto tempo estávamos nisso e o álcool em nossas veias também não ajudava a minha fraca memória. Ele tentava não mostrar que havia bebido, mas o gosto doce combinado à um frescor de menta denunciava as várias doses de Adrenaline que o vi bebendo, não que eu estivesse o "secando" a noite toda, digamos que ele apenas chamou minhas atenção. Nossos lábios foram separados e logo senti sua respiração sobre meu pescoço, ele demorou naquela área, distribuindo chupões e às vezes com leves mordidas, não podia conter alguns gemidos travessos que insistiam em sair entre meus lábios. Mesmo com a mente perdida em delírios, sabia que minhas amigas estavam me procurando, então precisava dar um fim nisso, oh! Os Deuses sabiam melhor do que ninguém que se pudesse, continuaria naquele canto, com aquele estranho.
– Você… – Recebi um “Hum” como resposta. – Eu preciso ir.
Ele voltou aos meus lábios ainda mais voraz, fui forçada a segurar seu rosto, e acho que foi a primeira vez que realmente parei para analisar sua feição, ele era lindo, rosto delicado, lábios finos um tanto avermelhados e uma pele clara, me atrevo a dizer que a mais clara que já vi, mas havia ganhado um leve rubor nas bochechas, provavelmente causado pelo calor do contato dos nossos corpos ou simplesmente pelo alto teor de álcool ingerido. Acordei dos meus devaneios quando sorrindo ele tirou as minhas mãos do seu rosto.

– Já está satisfeita?
– O que?
– Você me olhou durante a festa toda, está satisfeita agora, que teve seu prêmio. – Ele me viu, mas seu tom tinha um pouco de deboche, nada que eu me importasse, até porque não estávamos em melhores condições mentais.
– Não é isso, eu… eu realmente preciso ir.
Ele deixou alguns selares na minha mão e depois nos meus lábios.
– Tudo bem, também preciso ir.
Realmente não queria sair de perto dele, mas antes que pudesse falar alguma coisa, uma das minhas amigas me encontrou.
– Caramba, onde você tava?
Ela segurou no meu braço e começou a me puxar, olhei rapidamente para trás, como tentativa de vê-lo a última vez, mas ele já havia ido.
– Precisamos ir para casa, a Hanie bebeu todas e já está atacando as pessoas.
HanByul ou Hanie como ela gostava de ser chamada, era minha amiga da faculdade, entre nós três, ela era a mais nova e também a mais fraca para bebida, havíamos feito ela nos prometer que não iria passar dos limites, mas pelo jeito não deu muito certo.
– Por que vocês não foram para casa de uma vez?
– Está reclamando? Eu vim te buscar para não voltar sozinha e você está reclamando? Francamente.
Ela soltou o meu braço.
– Não é isso… só estou preocupada com a Hanie
– Tem que estar mesmo.
Anne parou na minha frente e quando olhei do que ela estava falando, vi Hanie em cima de uma mesa, atacando canudinhos nas pessoas, seria hilário se não fosse trágico.
– Hanie! Desce daí! Vem, vamos para casa! 
– Não! deixa aqui, até fiz novos amigos…
Ela apontou para um canto onde havia alguns caras caídos. Depois de várias discussões sem pé nem cabeça, conseguimos levar HanByul para o carro.
– Coloca ela lá trás. 
– Ah! Não! Quero ir na frente!
Anne e eu já estávamos completamente cansadas das birras, então simplesmente deixamos que ela se sentasse onde quisesse. Depois de uma votação, nada justa por sinal, fui escolhida para dirigir, nenhuma de nós estava nas melhores condições para dirigir, mas sem dinheiro para um táxis, essa era a unica opção, me prepararei para dar partida, iria conduzir devagar, tomando o máximo de cuidado. Já estávamos à uns três quarteirões de distância da festa, Anne, que estava no banco traseiro, já havia pegado no sono, também estava cansada, mas era impossível dormir com a Hanie do meu lado totalmente eletrônica, ela cantava, gritava, mexia com as poucas pessoas que estavam na rua, não entendia como Anne estava dormindo tão tranquilamente com todo aquele barulho.

 – Ellen, Ellen, Ellen, Ellen!
– O que é?
–  Nossa que grossa! Gostou da festa? Porque eu gostei.
– Dá para ver.
 – Como você está sem graça!
Nesse momento sem que eu percebesse, ela se soltou do cinto e em segundos estava com os pés em cima do painel do carro.
– Hanie para! Eu tô dirigindo!
– Você tá muito chata!
Tentei tirar suas penas de lá, mas ela me chutou algumas vezes.
– Para!
– Vocês deveriam ter me deixado lá! Estraga prazeres! Já que acabaram com a minha diversão, eu quero chegar em casa logo.
Em apenas dois movimentos rápidos, ela abaixou as penas e pisou no acelerador por cima do meu pé.
– O que você está fazendo?! 
Tentei tirar seu pé do acelerador, mas ela parecia ter ganhado uma força descomunal, o carro estava cada vez mais rápido, passávamos por vários sinais vermelhos, com todas as minhas tentativas de tirá-la de cima de mim, tirei minhas mãos do volante e fomos parar na contramão.
– Hanie! Nós…
Antes de concluir minha frase, entramos em um cruzamento, devolvi minhas mãos ao volante, mas já era tarde, recebemos um impacto muito forte, o carro capotou algumas vezes e antes de desmaiar consegui ver Hanie sendo jogada para fora