Às vezes as coisas são tão simples de serem resolvidas, mas as pessoas parecem gostar de complicar tudo, se eu tivesse simplesmente falado o real motivo da “minha preocupação” não estaria aquele clima estranho no apartamento, mas não tinha como apenas falar tudo que realmente acontecia comigo para Ellen sem a envolver.
Saí mais cedo de casa pelo mero fato de que não consegui dormir, então encher minha mente com as matérias acumuladas da faculdade parecia o melhor a se fazer.
– Bom dia Min Yoongi, por que chegou tão cedo assim? – O professor entrou na sala chamando minha atenção.
– Apenas queria estudar um pouco antes do horário das aulas.
– Faz muito bem. Tem alguma dúvida?
– Não… Bem, na verdade sim, mas não tem a ver com sua matéria.
– Entendo, problemas?
– Claro, quem não tem problemas, não é?
Senti vontade de conversar com meu professor, mas nada mudaria, logo mais alunos chegaram e as aulas começaram. Na hora do intervalo vi Ellen sentada sozinha em uma mesa mais afastada, pensei em me juntar a ela, mas sua amiga foi mais rápida então apenas terminei de comer minha maçã e voltei para a área das salas. Porém antes passei no banheiro, mesmo antes de entrar consegui ouvir uma conversa que acontecia no interior do lugar.
– Então você não falou com ela ainda? – Não sabia do que se tratava e também não conhecia aquela voz.
– Ainda não tive chance – Mesmo que o assunto não fosse do meu interesse, parei por alguns segundos na porta.
– Não entendo porquê insistir nessa garota, teria qualquer outra tão mais fácil – Realmente não era interessante, então entrei normalmente.
– Você não entende nada mesmo… – Assim que passei pelos os dois que conversavam, tive todos os olhares sobre mim, não dei muita importância, porém aqueles fios alaranjados não me eram estranhos, mas antes que pudesse voltar para olhar para seu rosto e resolver minha dúvida, os dois já haviam saído.
No fim das aulas, consegui ver Ellen pela janela da sala, ela andava com certa velocidade, parecia mais estar fugindo de algo do que indo para casa, era até engraçado. Falando em fugir, lá estava eu na sala de música, a frente do velho piano que sempre me ouvia quando precisava compartilhar algo, deveria ir para casa e tentar resolver o que podia ser resolvido, mas não o que precisava ser resolvido.
Sem pressa já estava sentado ao piano, teclando qualquer coisa que vinha a mente, mesmo sendo uma melodia sem nexo, estranhamente me acalmava, me lembrava daquilo que não deveria esquecer, mas o que recentemente não tava a atenção devida e com mais algumas notas, tudo daquela noite voltou, tudo que me preenchia a anos, que me causava problemas para dormir ou até mesmo insônia e como uma música curta, todo sumiu da minha mente no momento que dei fim ao som do piano.
Antes de voltar para casa, parei em qualquer lugar para comer qualquer coisa.
– Apenas isso?
– Sim, obrigado. – A moça do caixa me deu o pacote de lanche junto a nota fiscal, dei uma rápida passada de olho sobre os dados contidos ali, meu nome, número do cartão, hora e por último a data.
– Dia 13… Hoje é dia 13? – Me alarmei ao lembrar do que tinha hoje, meu plano era comer ali mesmo, mas preferi ir para casa. Normal esquecer, esses dias tinham sido incomuns, mas isso não importava, tinha que chegar em casa rápido.
Logo na porta consegui ouvir a voz da minha colega de apartamento e por um instante pensei que ela estava com alguém, entrei no apartamento e deixei minhas chaves sobre a mesa ao lado da porta. Não ouvi mais vozes então apenas passei pela sala e entrei na cozinha, encontrando Ellen lá, sentada e comendo.
– Olá… – A cumprimentei de maneira simples.
– Oi… É, eu fiz um macarrão, não sabia se iria demorar, mas acredito que ainda não tenha esfriado.
– Tudo bem, não vou comer agora de qualquer jeito, obrigado. – Peguei uma garrafa de água e achei melhor ir para o meu quarto. Ellen ainda estava desconfortável com minha presença, mas eu a entendia completamente, meu comportamento no dia anterior não havia sido o mais amigável para uma pessoa que ela iria dividir o apartamento.
Ao entrar no meu quarto, fechei a porta e coloquei minha bolsa sobre a cama, olhei ao redor, tudo parecia estar em seu devido lugar como deveria estar, como ainda estava cedo procurei algo que pudesse me distrair, então abri meu armário e logo dei de cara com uma caixa antiga, ela estava um pouco empoeirada, porém em boas condições, nela continha alguns rolos de filme, minhas câmeras antigas e várias fotos. Tudo aquilo me lembrar de que fazia certo tempo que não praticava um dos meus passatempos que mais gostava, fotografia. Peguei algumas fotos, muitas retratam parte da minha infância, eram fotos realmente antigas e engraçadas, em pouco tempo percebi um sorriso bobo em meu rosto, sorriso que se foi no momento que mexi mais ao fundo daquela caixa, as outras fotos eram tão antigas quanto, mas as lembranças não me permitiam manter aquele sorriso, sem pensar direito, coloquei a caixa de volta no seu local e fechei armário, se soubesse o que tinha lá dentro… Bem, de qualquer jeito não foi uma boa ideia mexer com aquilo, olhei em cima da minha cômoda a procura do meu relógio, mas acabei dando de cara com minha câmera, que estava logo à frente do despertador que procurava.
Já havia passado tempo demais dentro daquele quarto e como já passavam das seis horas, fui para a sala e liguei a televisão, estava passando qualquer programa de começo de noite, me sentei no sofá com minha câmera em mãos, depois de tanto tempo guardada estava com as lentes um pouco manchadas.
Em questão de minutos escutei uma porta ser fechada e Ellen surgiu do corredor, ela passou e foi para a cozinha, enquanto isso peguei mais uma lente e comecei a limpa-la. Ellen estava cozinhando, e pelo barulho e cheiro pude deduzir que era pipoca, na verdade ela pareceu ler minha mente, pois também queria fazer algo para comer.
Em seguida ela apareceu com um recipiente em mãos.
– Yoongi… – Olhei para ela enquanto terminava a última lente. – Se você não se importar, eu gostaria de assistir TV…
– Senta aí então. – Será que ela pensou que eu iria a expulsar da sala?
– Bem, não é esse canal e também gostaria de assistir sozinha, claro, se você não se importar. – Agora entendi.
– Desculpe Ellen, mas eu também tenho o que assistir agora. – Ela pareceu triste com minha resposta, deixou a pipoca sobre a mesa de centro e se sentou ao meu lado, olhei para seu rosto e sem perceber meu olhar desceu para sua camiseta, de primeira apenas vi cores e nomes conhecidos, até que caiu a ficha do que se tratava.
– Ei! Essa camiseta é dos Warriors. – Não pode ser.
– Que? Quero dizer, sim!
– Espera, o que você quer assistir é o Playoffs – Como assim?
– Isso! Mas, se você também vai assistir por que não colocou no canal ainda?
– Eu assisto nesse canal.
– Também passa Playoffs neste canal? – Nem sabe das coisas, aquele canal era bem melhor do que o outro.
– Pelo jeito você não sabe de muita coisa…
– Olha aqui… – Ela se mostrou ofendida, mas antes que pudesse terminar sua frase começou a tocar a música da abertura, sem perceber nós viramos em sincronia para a tela, ela pegou a pipoca e sem pedir permissão já estava comendo o aperitivo. Ellen ficava muito engraçada enquanto torcida, sua companhia acabou animando mais ainda o jogo.
– Como assim Stephen está com a bola? Ele não vai fazer essa sexta, passa essa bola para o Jones! – Era nítido que não daria certo.
– Não julgue um jogador pela sua altura. – Antes dela terminar sua frase, Stephen deu um drible que nunca havia visto e fez uma sexta de dois pontos, assim finalizando o jogo.
– 4,3,2… Warriors! – Como imaginei, Warriors foi campeão daquela temporada, sem pensar muito me levantei comemorando e me agarrei a primeira coisa que vi pela frente, o problema era que essa coisa era Ellen, mas acredito que nem ela tinha dado conta do que aconteceu, até o momento que nossos olhos se cruzaram, ela me olhava e parecia não saber o que fazer, então para não deixa-la envergonhada, apenas sorri e tirei os braços de sua volta.
– Foi um ótimo jogo e é bom saber que tenho alguém para assistir os próximos comigo. – Falei tentando dar um jeito no clima que havia se instalado.
– Sim, também… fico feliz com isso – Ela começou a limpar o sofá, pois haviam algumas pipocas em cima, a olhei por um tempo e de repente passou uma ideia em minha mente.
– Ellen.
– Sim? – Assim que ela olhou para mim, apertei o botão da câmera e tirei sua foto.
– O que… o que estava fazendo?
– Tirando uma foto sua.
– Eu sei, mas por que?
– Gosto de registrar os momentos.
– Poderia ter avisado, não estava preparada e também estou toda desarrumada.
– Essas são as melhores fotos e ficou linda. – Levei a câmera até ela e lhe mostrei a foto, tinha ficado muito bonita.
– Viu só? Você é linda. – Me surpreendi com o que falei, na verdade saiu sem querer.
– O-Obrigada. Melhor eu levar isso… – Ela pegou o recipiente e foi para a cozinha, iria para o meu quarto, mas sem perceber também já estava na cozinha ao lado dela.
– Ellen.
– Chega de fotos…
– Não, não é isso – Ela se virou lentamente.
– O que é?
– É… eu queria te pedir desculpa por ontem. – Meu cérebro não parecia funcionar muito bem, mas sentia que era o certo a se fazer naquele momento.
– Imagina, não foi nada, você apenas estava preocupado, não estava? – Ela olhou nos meus olhos como se esperasse algo, precisei desviar meu olhar e pensar no que realmente iria dizer.
– Sim… eu estava preocupado. – Talvez tenha sido a agitação desse final de tarde, mas minha mente parecia não formular as coisas direito, então apenas fui para o quarto, talvez o que realmente precisava era apenas de uma boa noite de sono.
A manhã daquela terça foi bem simples, como todos os dias na rotina de uma faculdade, as provas estavam próximas, precisava mais do que nunca focar nos conteúdos passados, como de costume deixei meu celular sobre a mesa e comecei algumas anotações, que logo foram interrompidas pelo barulho do vibrar do aparelho. Era apenas uma mensagem, então não dei atenção, mas em pouco tempo depois vieram mais textos seguidos um do outro, o barulho estava chamando atenção, então peguei o telefone e abri as mensagens.
Bom dia
Não me ignore
Certo
Sabe, sua nova colega de apartamento é bem bonitinha
Mas será que ela realmente sabe com quem está morando?
O que vocês querem?
Que bom que apareceu, vamos nos encontrar, hoje!
Nada é realmente bom que não possa ficar ruim em seguida, depois daquelas mensagens não consegui mais prestar atenção na aula, então apenas organizei minhas coisas e enquanto esperava o horário da saída pensava no melhor jeito de voltar para a casa sozinho, pois Ellen e eu havíamos combinado que voltaríamos juntos, mas não podia expor ela desse jeito, o sinal tocou e eu não sabia mais o que fazer. Como combinado fiquei a esperando na saída, várias pessoas passavam e logo o local ficou vazio, exceto por mim e por um garoto que estava do outro lado do portão, conferi meu celular para ver se não tinha mais mensagens, mas não. Assim que guardei o aparelho no bolso vi Anne e Ellen, apenas continuei olhando para as duas, mas minha mente trabalha em algo que fizesse Ellen não voltar comigo, como ela já estava próxima apenas fui em sua direção.
– Ellen – Apenas nesse momento percebi que aquele garoto também estava a esperando, olhei de lado para ele e sem pensar muito lembrei da conversa que ouvi no banheiro, sabia que o conhecia.
– É… Yoongi, desculpe, me esqueci de avisar que iria iniciar um projeto junto a Jimin hoje, então vou para a casa dele agora. – Olhei para aquele cara, algo nele me incomodava, mas ele veio a calhar no momento certo. Apenas respondi Ellen com um rápido aceno e me despedi dos dois.
Fui na frente, mas seguimos em caminhos opostos, peguei meu celular e digitei um texto simples.
Estou indo, nos encontramos no lugar de sempre
Não pensei que voltaria naquele lugar tão cedo, mas essa tinha que ser a última vez, já na entrada fui revistado, reviraram todas as minhas coisas, meus materiais da faculdade foram jogados no chão, precisei ter muita paciência, como sempre.
Passei por aqueles “seguranças” e já estava lá outra vez, a música estava extremamente alta, o cheiro de álcool e cigarro se misturavam com o ar gelado do ar condicionado dificultando a respiração de qualquer um que ficasse muito tempo lá dentro, passei por algumas mesas, onde algumas “damas” mexeram comigo, mas não dei atenção e continuei meu percurso até o bar.
– Ora! E não é que ele veio mesmo – O primeiro a me ver se virou em minha direção.
– Pensei que iria nos deixar esperando – E o outro também se manifestou.
– Andem logo com isso, quero sair o mais rápido possível daqui.
– Certo, já que prefere assim – O mais baixo se levantou e sem que eu pudesse fazer algo, me deu um soco no estômago, fazendo me curvar um pouco, o mais alto aproveitou isso, me pegou e me jogando em seu ombro.
Em poucos passos estávamos do lado de fora, eu fui jogado no banco traseiro de um carro e os dois entraram na parte da frente.
– Mas que droga vocês estão fazendo? – Falei enquanto sentava direito no banco.
– Me desculpe, mas era impossível conversar naquele barulho todo… – Ele acendeu um cigarro. – Agora vamos falar do que interessa.
– Eu não tenho mais nenhum trabalho para vocês, então parem de me procurar.
– Nossa, ele parece estar falando sério. – Zombou o outro.
– Me falem logo o que vocês querem e vamos terminar isso.
– Digamos que algumas pontas ficaram soltas do último trabalhinho que fizemos para você.
– Como assim?
– Estamos sendo observados e você sabe muito bem o que pode acontecer se alguns documentos caírem em mãos erradas.
– Problema de vocês, não fui eu que fez o serviço mal feito.
– Você realmente não está entendendo, *né*? Se algo acontecer com a gente, seu problema será bem pior.
– O que querem que eu faça?
– Precisamos nos mandar daqui e advinha quem vai patrocinar essa viagem.
Eles me levaram para casa, até poderia ter aproveitado a carona se não fosse pelo fato de ter Ellen em mente, ela poderia chegar a qualquer momento ou pior, já poderia estar em casa. Assim que paramos em frente ao prédio olhei para nossa janela, não haviam luzes ligadas, isso era um ótimo sinal, nós subimos e minha teoria estava certa, Ellen não tinha chegado ainda.
– Aqui! Isso é tudo que eu tenho em casa. – Joguei o envelope sobre a cama, um deles pegou, contou as notas e deu o pacote para o outro.
– Isso é suficiente… por enquanto.
– Por enquanto? Vocês não precisam de muito para sumir, apenas vão embora de uma vez por todas. – O mais alto se aproximou da minha cômoda.
– Que câmera legal, é profissional?
– Isso é meu… – Ele pegou minha câmera e tentou liga-la, fui para cima dele tentando tirar minha câmera de suas mãos, mas não consegui chegar até ele pois seu amigo me empurrou, como não consegui me segurar em nada, bati minha cabeça na quina do móvel, acredito que por estar com o corpo quente, não senti muita dor no momento apenas uma leve tontura.
– Bem, acho que já sabe, da próxima vez, melhor ter mais dinheiro. Vamos embora.
Os dois saíram sem me dar chance de falar qualquer coisa.
Me levantei e me sentei na cama, minha cabeça começou a doer. Olhei em volta, eles haviam levado mesmo a minha câmera, não estava acreditando no que havia me envolvido, como deixei chegar a ponto? E pior de tudo era que eles iriam voltar e eu precisava de mais dinheiro, minha mente estava uma bagunça, comecei a vasculhar todos os cantos daquele quarto, algo alí poderia ser vendido.
– Yoongi? – Parei no momento que ouvi meu nome ser chamado, Ellen havia chegado. Passei as mãos no meu rosto, fui até a porta do quarto e abri sem pensar direito.
– Ellen?
– Sim, está tudo… O que foi isso? – Ela parecia assustada, eu não havia entendido sua pergunta até sentir algo quente escorrendo na lateral no meu rosto.
– Nada, apenas bati.
– Como assim bateu? Está sangrando… – Fechei a porta do meu quarto e segui para a cozinha, lá tinha uma caixa com primeiros socorros, meu sangue começou a esfriar e toda dor estava se manifestando. Ellen veio atrás de mim.
– Isso precisa de um curativo!
– Eu sei… – Ela tentou segurar meu braço, como um reflexo ao seu toque, dei um tapa em sua mão. – Eu cuido disso!
Peguei água boricada para fazer a limpeza do ferimento, Ellen ainda estava no corredor, passei por ela e entrei no banheiro.
Aquela foi uma noite longa, mesmo depois do curativo, tive muita dor de cabeça o que resultou no meu atraso, assim entrei na segunda aula. De qualquer jeito não conseguia manter minha atenção nos professores, além da dor, minha mente era ocupada por várias possibilidades de como conseguir um dinheiro rápido, só voltei a vida real quando o sinal do primeiro intervalo tocou. Depois de pensar bem no que poderia fazer, tive uma luz na consciência, mas antes precisaria saber se Ellen iria para casa comigo, o que achava difícil pois ela não falou comigo desde que lhe dei aquele tapa em sua mão, não podia me esquecer me desculpar quando tivesse chance, incrível, já seria meu segundo pedido de “desculpas” em menos de uma semana, entenderia se ela não me desculpasse e não falasse mais comigo, também faria isso se estivesse em seu lugar. Fiz uma rápida ligação para quem, acredito eu, me ajudaria com dinheiro, olhei para o local e percebi que aquele garoto de cabelo laranja não estava por perto, será que havia faltado? Não importava muito, no momento minha conversa seria com Ellen, que não estava muito distante de mim, então me levantei e fui até sua mesa.
– Ellen?
– Oi… Yoongi.
– Não vi seu amigo de trabalho hoje, significa que vai direto para casa, certo? – Era só isso que precisava saber, ela olhou para mim como se essa conversa fosse proibida.
– Não, eu vou para casa dele depois das aulas. – Ótimo. Apenas me afastei da mesa delas e voltei para a minha sala de aula.
Já dentro da sala fiz mais uma ligação e tudo estava certo, nós iríamos nos encontrar no meu apartamento mesmo já que lá ficaríamos sozinhos, no fim da última aula não fiz muita cerimônia e fui o mais rápido possível para casa, minha “visita” iria chegar mais a tarde, mas mesmo assim tinha algumas coisas da faculdade para arrumar.
Não sabia quanto tempo Ellen demoraria para chegar, mas estava torcendo para ela demorar um pouco mais hoje, estava na sala quando o interfone tocou, dei a permissão ao porteiro e em pouco tempo ouvi alguém bater à porta.
– Por que você só me procura quando precisa de dinheiro? – Dei passagem para ele entrar.
– Isso não é verdade Hyung. – Ele parou em minha frente.
– Está até me chamando de Hyung, no que você se envolveu dessa vez?
– Não consigo esconder nada de você, não é SeokJin? – Fomos para a sala e ele se sentou na poltrona.
– SeokJin, agora sim. Você não respondeu minha pergunta.
– Não é nada sério, acredito que essa seja a última vez e vou te pagar o mais rápido possível.
– E esse assunto nada sério que te deu esse curativo? – Apenas confirmei com a cabeça. – Já cansei de te falar para não se envolver com isso, mas você parece não entender.
– E você pode falar alguma coisa?
– Não me desrespeite, ainda sou seu Hyung e o assunto aqui não sou eu.
– Certo, até porque você é o que chamam de “Faça o que digo, mas não faça o que faço”
– Isso mesmo, mas chega dessa conversa, de quanto precisa?
SeokJin Hyung era uma boa pessoa, apenas se envolveu com algumas coisas que não eram muito legais, mas graças a isso que lhe conheci. Numa daquelas festas que rola de tudo, fui para lá tentando relaxar um pouco, mas digamos que a polícia não é muito a favor desses eventos e como SeokJin era o dono do lugar seria o primeiro a ser preso, veja bem, seria, pois por coincidência, acabei ajudando ele a fugir, como favores vem e vão, sempre temos uma cota um com o outro.
– Tem certeza que só precisa disso? – Disse enquanto caminhava até a porta.
– Sim, e como disse, esta é a última vez.
– Gostaria muito de acreditar nisso.
– Então acredite – Segurei a porta lhe dando espaço para sair.
– Certo, até qualquer dia! – O mais velho estendeu a mão para mim, a segurei e nos despedimos. Mais uma vez ele me livrou de uma, também queria acreditar que seria a última vez, mas não era tão simples assim.
A noite já estava caindo e Ellen ainda não tinha chegado, tomei alguns remédios para a dor e fiquei na janela que dava visão para a rua, não deve ter passado nem meia hora e lá estava ela entrando na portaria, sendo assim, sentei no sofá e liguei a televisão em qualquer canal.
Ela entrou sem fazer muito barulho, colocou as chaves sobre a mesa atrás estofado e parecia não querer conversar, mas aquele seria um ótimo momento para fazer aquilo que deixei como nota mental.
– Pensei que não dormiria em casa hoje – Mas minha boca parecia não concordar com meus pensamentos, ela parou ao lado do sofá e por um momento pensei que ficaria sem resposta.
– Estamos com problemas para concluir o projeto, por isso demorei. Mas de qualquer jeito se dormisse fora, você saberia onde me encontrar. – Claro, do jeito que as coisas estavam, talvez em um beco.
– Poderia até saber, mas duvido que ligaria para avisar.
– E por que precisaria avisar?
– Para saber que não tinha acontecido nada com você no caminho, já que ele não a acompanhou … – Não deveria ter dito aquilo.
– Sim, ele estava ocupado com seu irmão mais novo e… espera, como sabe que ele não me acompanhou? – Olhei para ela procurando uma resposta viável.
– Eu não sei, apenas sugeri…
– Entendi… e como está o corte? – Desviei meu olhar, mesmo depois do que fiz, ela ainda se preocupava comigo, eu era uma pessoa horrível.
– Ainda está doendo um pouco, mas já tomei um remédio então a dor deve diminuir. Obrigado por perguntar.
– Está bem… – Ela deve ter se cansado de mim, pois simplesmente foi para o seu quarto, depois de um tempo ouvi o barulho do chuveiro, eu estava tentando prestar atenção no que passava na tela, mas acredito que o remédio que havia tomado tinha algum efeito sobre o sono, claro que os dias mal dormidos também ajudavam, então fui para o meu quarto me deitar.
No meio da noite acordei de repente com alguém gritando, por um momento pensei em estar sonhando, mas ouvi os gritos mais vezes, só assim percebi que vinham do quarto ao lado, Ellen estava gritando.
Me levantei rápido, sai do meu quarto e parei por um tempo na frente da sua porta, não sabia o que esperar, segurei a maçaneta e abri a porta de maneira rápida.
Quando olhei dentro do cômodo, Ellen estava dormindo e ela gritava por algo que acontecia em seu sonho, pela situação deduzi que ela não era sonâmbula, apenas estava em um pesadelo, então me sentei ao seu lado e balancei seus ombros na tentativa de acorda-la.
– Ellen, acorda… – Ela não se mexia, mas continuava gritando.
– Ellen!
– Não!
– Ellen? – Ela levantou o corpo num movimento rápido, até me assustei, sua respiração estava descompensada e seu rosto molhado. – Ellen?
– Yoongi? – Ela olhou para mim quando a chamei.
– O que houve? Estava sonhando?
– Eu… eu não sei, acho que sim, na verdade era… era um pesadelo.
– Dá para perceber, você está chorando.
– Chorando? – Ellen olhou na direção do espelho que tinha no quarto. – Eu não sei porque, mas estava.
– Está bem, eu vou pegar uma água para você. – Na verdade fui para meu quarto e peguei o remédio que havia tomado mais cedo, ele dava sono, então poderia acalma-la, em seguida fui para a cozinha e dilui o medicamento num copo d'água. Esperei a cor da água ficar normal e voltei para a seu quarto.
– Toma, talvez te acalme…
– Obrigada… – Ela bebeu boa parte do líquido – Eu te acordei, né?
– Sim... você gritava, pensei que acontecia algo.
– Me desculpa, também não sei o que deu em mim – Por fim bebeu toda a água e deixou o copo sobre o criado mudo.
– Relaxa, pelo menos não foi nada sério, certo?
– Sim… Nada sério. – Senti que ela não estava sendo sincera, mas precisava lhe dar seu espaço, então comecei a caminhar em direção a porta.
– Bem, vou voltar para…
– Yoongi. – Ela me chamou, me fazendo parar onde estava.
– O que foi?
– É… nada, volta para o seu quarto.
– Fala, pode falar, o que é?
– É… sei que daqui a pouco teremos aula… mas você poderia ficar aqui comigo? Pelo menos até que eu consiga dormir novamente. – Seu pedido me pegou de surpresa, mas tenho certeza que ela não me pediria isso se não fosse realmente sério. Então fechei a porta, me aproximei dela e toquei seu braço para que ela olhasse para mim.
– Claro. – Pensei em me sentar em sua cama, mas acredito que não seria o melhor a se fazer já que ela queria voltar a dormir, por isso puxei uma poltrona que ficava no canto até o centro do quarto e me sentei.
– Obrigada…
– Não tem problema, sabe, quando era mais novo também tinha problemas para dormir graças a pesadelos, mas me ensinaram um macete para melhorar isso. – Precisava ganhar tempo para que o remédio fizesse evento, então comecei qualquer conversa.
– Sério? E o que é?
– Bem, pense na sua música favorita, não precisa cantar, se ajeite na melhor posição na cama, feche os olhos e se concentre na música enquanto ela enche a sua mente.
Ela realmente estava fazendo o que dizia, achei um tanto adorável o jeito que ela se deitou e se ajeitou o mais confortável possível. Ellen fechou os olhos, me mantive em silêncio para não acorda-la novamente e depois de alguns minutos me levantei para lhe observar de perto, o remédio teve seu efeito, não queria desperta-la, mas sem perceber já estava tirando alguns fios soltos que estavam sobre sua testa, porém voltei a realidade quando olhei para o relógio, era quase quatro da manhã, precisava descansar mais um pouco. Coloquei a poltrona no lugar, desliguei a luz do abajur e voltei para o meu quarto, a verdade era que ainda sofria com meus problemas para dormir e muitas vezes só os medicamentos me ajudavam.
Aquela pedido de desculpas não aconteceu, mas parecia não ser mais preciso, nós conseguimos nos entender mesmo sem uma conversa digna e os outros problemas estavam perto de terminar, o final de semana finalmente havia chegado como de costume peguei um livro para tentar viver em outra realidade nem se fosse por alguns minutos, estava na sala com o livro em mãos, mas com poucas palavras percebi que algo não estava certo, estava sem meu óculos, então fui até meu quarto e o peguei, na volta para a sala uma porta aberta do quarto vizinho me chamou atenção.
– Não é possível que nada fique bom! – Falou minha colega de apartamento enquanto jogava um vestido sobre uma montanha de roupas.
– Está tudo bem aí? – Me encostei no batente da porta esperando sua resposta.
– Está sim… só não sei me decidir – Olhei para todos as peças em cima da cama e uma de tom avermelhado me chamou atenção.
– Dá para ver…Pelo jeito será um encontro importante, é aquele menino da sua sala? – Ela se virou para mim surpresa, as vezes ela deixava as coisas tão nítidas.
– Sim, é ele, só vamos à um café, não é nada demais.
– Essa pilha de roupa diz outra coisa. Bem, espero que se divirta… Ah! Usa o vermelho, destaca seu tom de pele.
Voltei para o meu quarto com a sensação de que estava esquecendo algo, mas não consegui pensar muito bem pois ouvi o barulho do meu celular.
Seu prazo está acabando, será que podemos fazer uma visita?
Vamos nos encontrar hoje, já estou com o dinheiro, mas depois disso é adeus.Não quero mais saber de vocês
Acho que você não está numa posição que pode exigir muita coisa, onde vamos nos encontrar?
Não queria ser visto com eles, mas o medo falava mais alto, então marquei no centro da cidade, num lugar mais público, onde não existiriam chances de algo acontecer comigo. Esperei Ellen sair primeiro, assim poderia deixar o apartamento sem precisar inventar qualquer razão. Havia um parque próximo ao local marcado, o que também me acalmava, já que lá era bem movimentado, marquei em um tipo de lanchonete que tinha algumas mesas do lado de fora, me sentei na primeira mesa que vi e fiquei observando as pessoas que passavam por lá.
– Boa tarde – Eles se sentaram à minha frente, apenas fiquei encarando os dois.
– Não seja mal educado.
– Vamos fazer isso logo.
– Ok, o que tem para nós?
– Aqui! – Coloquei o envelope sobre a mesa. Um deles pegou e fez a contagem.
Todos permaneciam em silêncio, havia uma grande quantia alí, aquilo seria mais do que o suficiente.
– Queria saber de onde tira todo esse dinheiro.
– E isso realmente importa? Vocês nunca querem saber da fonte, apenas precisam do produto.
– Está bem… – Eles se levantaram. – Foi bom fazer negócios com você. – Ele estendeu a mão.
– Não posso dizer o mesmo. – Ignorei seu gesto. – Adeus!
– Prefiro um “até logo” – Eles saíram rindo e logo sumiram entre as pessoas. Meu corpo foi tomado por um alívio que nunca havia experimentado, depois de tanto tempo nisso, finalmente poderia dizer que havia colocado um ponto final em um dos meus problemas que deveria ser resolvido, não restavam mais pontas soltas.
Como ainda estava naquela lanchonete pedi um café e segui meu caminho para casa.
O cenário daquela tarde estava muito bonito, era uma pena que não tinha mais minha câmera e isso me lembrou de que não havia revelado aquela foto de Ellen, mas a essa altura minha câmera já deveria estar em qualquer loja de penhores. Haviam muitas pessoas naquele parque, principalmente muitos casais, algo normal para um final de semana, mas algo me chamou atenção, algo não, alguém. Um pouco atrás de uma árvore havia um casal que parecia estar brigando, não sou do tipo de pessoa que se mete nos assuntos alheios, mas assim que eles se afastaram da árvore vi o que tanto chamou minha atenção.
– Ellen?
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