História RECOMEÇO - Parte 2: Milk and Honey.

Passaram-se aproximadamente dois anos que eu e (N) estamos juntos. Eu precisei trocar de terapeuta depois de tanto ela insistir que não estava fazendo bem o seu trabalho. Dividimos o apartamento dela junto com um gato que adotamos e… um pequeno ser humano que cresce dentro dela.

Sim, (N) está grávida.

Eu acho que nunca estive tão apavorado em toda minha vida. Todo dia a grande hora se aproxima e eu fico mais assustado. Ela respira um pouco mais fundo e eu já acho que está nascendo. Pelo amor de Deus, Barnes, ela está de 3 meses.

Em todo esse tempo nós nunca brigamos. Discutimos algumas vezes agora durante a gestação, porque aparentemente eu estou enlouquecendo de vez. (N) diz que sou protetor demais, que estou ultrapassando uma linha e me tornando ‘’sufocante’’. Estou tentando melhorar e admitir que essa mulher é mais forte que eu nos meus melhores dias.

Outro dia eu fiz uma cena porque ela saiu sozinha a noite. Pensando assim eu reconheço que estou me comportando como um psicopata. Coisa que não sou. Pelo menos isso eu não sou. Ela concordou em usar um rastreador em uma gargantilha, me mantendo informado e tranquilo, pois eu sempre sei onde ela está. Isso pode soar meio possessivo, mas ela é minha mulher, carrega meu filho e sim, eu acho que tenho o direito de ser protetor quanto a isso.

A Hydra não tem mais nenhum controle sobre mim. Eu sou eternamente grato a (N) por isso, mas mesmo assim eu sinto que preciso protejê-la ao máximo. Ela não diz, mas sabe que é alvo fácil para eles chegarem até mim.

(N) está fantástica, está ainda mais linda do que costumava ser. Se é que isso é possível. Ela continua trabalhando normalmente e insistiu que vai continuar até não conseguir mais. Quando eu saio para as missões e não posso ficar em volta dela 24 horas por dia, ela vai para a torre dos Vingadores e fica lá, só saindo com dois agentes da SHIELD como acompanhantes.

Quando ela precisou me contar sobre o bebê foi o dia mais estranho da minha vida. Eu ouvi e entendi de primeira. Depois fiquei perguntando por uns dois dias se ela tinha certeza. Não porque eu não queria, mas porque eu estava assustado pra caramba. Ainda estou. Após perceber que meu estado de choque não estava passando ela sugeriu aborto. Eu me senti pessoalmente ofendido, nós discutimos um pouco sobre assuntos políticos, ela me disse que eu estou alguns anos atrasado e no fim nós dois choramos abraçados no chão da sala.

Ela diz que nosso relacionamento é engraçado e eu respondo que ela está junto com o Soldado Invernal e isso não tem nada de engraçado. O humor surge quando eu, problemático como sou, tenho ao meu lado essa pessoa leve e equilibrada chamada (N). Ela é tudo o que eu preciso. Meu eixo. Eu saio para as missões, extravasando raiva e frustração e quando volto para casa estou tranquilo de novo. Eu brinco com ela e digo que estou em estado de hipnose desde o momento que nos conhecemos, porque é como se tudo estivesse bom demais para ser verdade. Até as pequenas discussões são boas.

Depois que eu me livrei do controle mental da Hydra, meus pesadelos diminuíram para quase nada, minha raiva também, meus ataques de pânico quase não existem. No entanto eu tenho sequelas, óbviamente. A guerra faz isso com todos.

Meu novo terapeuta é um funcionário da SHIELD e também cuida de Natasha e Steve. Ele é muito bom mas eu sempre digo que (N) é melhor. Ele não ousa discordar. Ninguém ousa.

Agora eu estou parado na frente de três anéis, tentando escolher qual deles traduz melhor minhas intenções. Não sei se esse é o propósito dos anéis de compromisso, mas quando eu me ajoelhar diante dela quero que seja perfeito.

Não é como se eu tivesse me forçando a casar com ela porque vamos ter um filho, eu realmente quero uma família com ela. Começamos pela ordem errada, pois eu deveria ter pedido sua mão antes, mas talvez minhas ideias sejam ultrapassadas demais. Não dá pra esperar algo muito diferente de um cara que tem 94 anos.

Eu não sei como vai ser, eu só sei que precisa ser memorável.

Ela não gosta de restaurantes caros, de extravagâncias e muito menos eu. Então eu penso em algo mais intimista. Menos o anel. Eu acabei escolhendo um belo, grande e valioso diamante. Ela merece.

Hoje é sexta feira e como em todos os dias da semana eu vou buscá-la no trabalho.

‘’Oi, querido!’’ (N) me abraça forte e beija meu pescoço, como sempre. Ela sempre diz que é o primeiro lugar que alcança, por isso sempre beija ali. ‘’Bruce deve estar nos esperando.’’

‘’Bruce?’’

‘’Sim, Bucky. Hoje vamos descobrir se é menino ou menina, lembra?’’

Merda. Esqueci.

‘’Sim, verdade!’’ Eu deixo uma mão escorregar e acariciar sua barriguinha protuberante. Ela continua usando os vestidos justos, sabendo que eu adoro.

‘’Você esqueceu.’’

‘’Não eu não… É, eu esqueci. Desculpe, (N).’’

Ela ri, beija minha mão esquerda e começamos a andar em direção ao carro.

                                                                   __________________________________________
 

‘’Hum, eu voto que é uma garota.’’ Natasha tinha uma mão no queixo, analisando a barriga de (N).

‘’Não… é um garoto. Olha só o formato da barriga. Minha mãe dizia que pelo formato da barriga é possível dizer se é menino ou menina.’’ Steve ergue uma sobrancelha enquanto se inclina para frente, tentando enxergar melhor a barriga de (N).

‘’E que formato está a barriga dela? Triangular?’’ Sam provocava, dando uma cotuvelada na costela de Steve.

‘’Ela sabe.’’ (N) aponta para Wanda que estava sentada em um banco alto do balcão da cozinha.

A ruiva ri e pisca, encolhendo os ombros.

‘’Eu não vou dizer nada a não ser que me perguntem.’’

‘’Eu sei. Você soube da gravidez antes de mim e mesmo assim fez cara de surpresa quando eu contei.’’ Bucky ria enquanto tinha um braço em volta dos ombros de (N).

Aquilo não era comum, boa parte do time unida na torre dos Vingadores. Geralmente cada um deles tinham seus compromissos em diferentes partes do mundo mas nos últimos dois dias estavam juntos pesquisando a origem de uma nova arma biológica.

Bruce se prontificou em acompanhar toda a gestação, já que Bucky não confiava em nenhum outro médico para tocar em (N). Passando o segundo mês ele começou a ficar mais flexível e racional, temendo estar assustando a psiquiatra.

‘’Ok, parem de sufocar ela.’’ Bucky tenta esconder (N) com o próprio corpo, fazendo todos rirem. ‘’Vem, querida, vou te tirar de perto dessa gente estranha.’’

Rindo, os dois vão para a sala onde Bruce os esperava, os aparelhos já prontos e uma maca arrumada, onde Bucky ajuda a mulher a deitar. Ela se arruma confortável olhando fixo para o monitor como se alguma coisa fosse aparecer a qualquer momento.

‘’Ansiosa?’’ Bruce sorria tranquilo enquanto espalhava o gel pela barriga da psiquiatra.  

‘’Demais.’’

‘’Já tem algum palpite?’’ Ele seguia o papo de médico/paciente, distraindo o casal nervoso.

‘’Prefiro não opinar.’’ (N) responde, suspirando fundo enquanto apertava a mão direita de Bucky.

‘’Eu… sempre achei que é uma menina.’’

Nenhum dos dois esperava ouvir isso de Bucky. Fazendo (N) olhar para ele com olhos de coração.

‘’Você nunca tinha me dito isso.’’ Ela aperta a mão dele com mais força, levanto até os lábios e beijando sua palma.

Bruce leva o aparelho até a barriga dela e posiciona de vários jeitos, o olhar fixo no monitor e suas imagens borradas. O casal parecia não respirar. O único pacífico era Bruce, que ainda buscava a posição certa do bebê. Após alguns minutos remexendo a barriga de (N) ele aponta para o monitor e sorri.

‘’Olhem lá.’’

Os dois olham imediatamente. (N) chorava em silêncio, as lágrimas molhando suas bochechas sem aviso prévio. Bucky parecia ser o único alheio.

‘’Por que diabos só eu não consigo enxergar?’’

‘’Barnes, você tinha razão, é uma menina.’’