Outra Vida
— Estou com medo papai. — Pietro choraminga deitando a cabecinha no braço de Levi que estava ao seu lado.
Levi suspira e passa o braço sobre os ombros da criança lhe abraçando.
— Ele vai ficar bem, Pietro. O médico só foi ver como ele está.
O próprio moreno mal conseguia disfarçar seu nervosismo. Acabou levando o filho até a cantina do hospital porque o pequeno mal havia se alimentado já que eles correram para lá assim que receberam a notícia de que Eren acordara.
— Levi!
Rivaille se vira encontrando Armin que entrava apressado e preocupado.
— O que aconteceu?! — O loiro pergunta ofegante pegando Pietro, que se jogava para si, no colo.
Levi suspira entregando dinheiro para a balconista começando a caminhar para a saída da cantina sendo seguido por Armin que carregava seu filho.
— O doutor estava me passando as informações sobre o estado dele, as possibilidades de sequelas, mas a enfermeira surgiu correndo dizendo que ele estava surtando por alguma coisa e desde então estou aguardando.
— É normal nesse tipo de situação. — Armin comenta — Quando se fica em coma por algum tempo, às vezes acontecem coisas como perda de memória e confusões mentais, mas isso passa depois de um tempo, não há com o que se preocupar.
Levi sente-se agradecido por ter a presença de Armin ali, estava quase surtando sem notícias e as mais diferentes tragédias se passavam por sua cabeça.
— Mikasa pediu pra avisar que pegou congestionamento, mas logo mais estará aqui. — O loiro deposita o pequeno Pietro no chão que caminha até um dos bancos do corredor do hospital sentando-se comportadamente.
— Obrigado.
Armin sorri tranquilizando o mais velho. Ambos olham diretamente para a porta do quarto de Eren, de onde saía o médico responsável por ele.
Doutor Taylor estava com Eren desde que receberam ele no hospital por causa de um acidente grave, era amigo do falecido pai do garoto e ex-colega de trabalho deste, por isso já tinha certa familiaridade com os rapazes.
— Sr. Rivaille, infelizmente tenho notícias um pouco intrigantes.
Seu coração parou por um momento.
— Eren piorou? — Foi Armin quem conseguiu encontrar forças para falar primeiro, dava para ver os olhos azulados marejados.
O médico sorri ternamente.
— Não, Armin, o estado de saúde de Eren está milagrosamente melhorando rápido.
Levi suspira passando a mão pelo rosto e andando de um lado para o outro. Por um momento seu chão caiu e ele sentiu que desabaria ali na frente de todos.
— Então o que houve? — O moreno pergunta seriamente.
O doutor solta o ar e dá uma rápida olhada em suas anotações na prancheta com a ficha de Eren.
— A mente do garoto está confusa...
— Ele perdeu a memória? — Levi já esperava por isso, já estava preparado para uma situação destas e havia planejado fazer o possível para ajudar aquele que ele amava.
— Receio ser um pouco complicado que isso.
— Ele não se lembra nem quem ele é? — Armin arrisca um palpite.
O médico suspira.
— Algo do tipo... Eren parece estar com Síndrome de Korsakoff¹.
— O que quer dizer com isso? Como ele parece estar? Você não tem certeza? — Levi pergunta impaciente, vê Mikasa surgindo com sua visão periférica, a garota abraça o pequeno Pietro que corre em sua direção e sem trocar cumprimento com os garotos observa a conversa ao perceber que era séria.
Claro que Levi sabia do que o médico estava falando. Afinal trabalhava para o FBI e já se deparou com criminosos que sofriam disto.
— Ele narrou sua história de vida, admito ser semelhante à sua verdadeira, mas muitos elementos fantasiosos foram acrescentados. Falou sobre viver em um mundo pós-apocaliptico onde a humanidade ficava presa em muralhas para se proteger de titãs...
— Tipo da mitologia grega? — O loiro pergunta confuso.
— Não, mais como zumbis gigantes que oprimem os humanos.
Levi estava perdido. De onde diabos Eren tirou tal coisa?
— O mais confuso é que ele se lembra de todos vocês, mas cada um tem uma vida e uma relação diferente com ele. No caso da Síndrome de Korsakoff, há raros casos onde a pessoa perde total linha biográfica e acaba criando uma história fictícia inconscientemente para preencher essas lacunas em sua mente. Mas nunca vi um caso onde o paciente se lembre detalhadamente sobre as pessoas com quem convive, características físicas e emocionais, as personalidades, tudo.
Levi fecha os olhos em compreensão sentindo um aperto no peito.
— Eu e ele não estamos juntos nessa história?
O Doutor balança a cabeça em negativa.
— Foi por isso que ele surtou. Aparentemente você é um superior dele que ele admira muito, mas que nunca teve um relacionamento próximo do romântico com ele.
O moreno sente a mão de Mikasa em seu ombro para lhe apoiar.
— Levi — o médico fala cuidadosamente parecendo escolher as palavras — Eu nunca vi uma situação como esta. Eren realmente acredita que esta preso em algum tipo de sonho ou ilusão. Não acho que eu serei de muita ajuda nesse caso e creio que há especialistas qualificados que posso indicar para ele. Talvez uma clínica...
— Está insinuando que devemos colocá-lo em um hospício?! — Levi pergunta rispidamente, já estava no auge se sua raiva com toda aquela situação.
— Acalme-se Rivaille. — O médico fala autoritário — Não estou dizendo para fazer isso, mesmo esta sendo uma opção. Como medico eu devia já tranferi-lo para a área psiquiátrica, mas como amigo deixarei essa decisão em suas mãos.
Pietro observava sem entender a tensão entre os adultos dali. Ele se agarra à perna do pai percebendo que este não estava bem. Levi se abaixa ficando na altura do filho recebendo um abraço e consequentemente uma dose de força extra para si.
— Vamos levar Eren para casa.
~~~∆~~~
Eren coloca as mãos na cabeça bagunçando-os como se o gesto clareasse sua mente.
Onde ele estava? O que estava acontecendo? Como foi parar ali?
Como foi acabar casado com Levi?!?!?
Quem eram aqueles médicos que lhe atendiam? Que lugar era aquele? Que aparelhos estranhos estavam à sua volta?
Sério mesmo? Casado com Levi?
Duas batidas na porta o tiram de suas perguntas internas e ele olha para a porta que abre-se lentamente.
— Eren? — A garota de cabelos negros cortados em Chanel com olhos cinzentos que o enracavam preocupados entra lhe trazendo uma onda de calor e familiaridade.
— Mikasa! — Ele sente os olhos marejarem de emoção, era tão bom vê-la ali, bem, saudável e inteira.
Mikasa sorri e aproxima-se lhe dando um forte abraço. Eren reparou, mas não comentou o quanto estranhou vê-la em roupas escuras sociais e sem seu habitual cachecol vermelho.
— Você nos deu um susto.
— Por favor, me diga que eu não estou sonhando. — Eren sente as primeiras lágrimas escorrerem apertando o abraço na irmã adotiva — Me diga que não estou ficando louco.
Mikasa fica tensa com as palavras dele. Mas relaxa tentando não demonstrar nada para Eren. O médico a mandou para falar com ele porque acreditou ser a pessoa mais qualificada para lhe acalmar e tentar conversar antes de o tirarem dali.
— Eren... — A garota se afasta tentando soar o mais tranquila possível — Precisamos conversar.
O garoto Jaeger geme frustrado se jogando deitado na cama.
— Você acha que eu estou maluco.
— Não, Eren. — Mikasa segura na mão do melhor amigo — Você só está confuso.
— Está me dizendo que foi tudo um sonho? Que toda a dor e sofrimento que passei não passam de invenções da minha cabeça?!
Mikasa sacode a cabeça.
— Você passou por muitas dificuldades, talvez tenha projetado tudo isso em uma história fantasiosa. Você sempre amou ler esses livros de ficção e com a explosão talvez...
— Não foi um sonho! — Eren parecia uma criança, ele enfia a cabeça entre os joelhos começando a chorar — Onde é que eu estou, Mikasa? O que tá acontecendo comigo?
Mikasa abraça o garoto sentindo vontade de chorar com este, mas segura e tenta contornar a situação com ele.
— Dê uma chance à... à esse novo mundo, Eren. Vai perceber que você conquistou uma vida feliz e saudável.
— Eu sou casado com o Heichou. — Ele choraminga.
A garota solta uma risadinha sem conseguir segurar.
— Foi você quem correu atrás dele para ficarem juntos.
— Isso não faz eu me sentir melhor!
Mas no fundo, ele já estava se sentindo melhor.
~~~∆~~~
— É tudo tão estranho. — O garoto de olhos esverdeados encarava os corredores do hospital com uma curiosidade infantil.
Mikasa ri enquanto empurrava a cadeira de rodas de Eren. Depois de conversarem mais um pouco, ele finalmente aceitou que estava na hora de sair dali e encarar o "novo mundo" que o esperava.
Se sentia confortável nas calças de moletom e camiseta cinzenta que trouxeram para ele vestir. Depois de uma série de testes de função motora em seu corpo e uma série de perguntas sobre seu estado de saúde, ele foi liberado pelo médico sorridente que lhe desejara um caloroso boa sorte e um "Espero não te ver aqui de novo".
— Tem algumas pessoas esperando por você, tente não dar um ataque, okay? — A garota adverte tentando prevenir uma possível internação de seu quase irmão.
— Okay... — Eren solta um muxoxo sentindo um breve nervosismo ao pensar que Levi estaria entre essas pessoas e ele não sabe como agir diante dele.
Mas ao virarem no corredor e ver o pequeno grupo que lhe aguardava na recepção, ele sentiu todo o ar fugir de seus pulmões.
— Eren! — Mikasa se assusta quando o garoto levanta-se da cadeira de rodas andando precipitadamente até seus amigos cambaleando.
Seus amigos percebem a voz de Mikasa e se viram preocupados para ver o que acontecia. Eren vê Levi, Hanji, Jean, Sasha, Connie, a criança que pulava em cima de si mais cedo...
E Armin.
O loiro de olhos azulados arregala os olhos quando seu melhor amigo se joga sobre ele o abraçando com força caindo em prantos.
— Armin... — Ele soluçava enquando as lágrima caíam mais e mais — Armin... v-você está...
Levi observava um pouco mais distante enquanto o loiro retribuía o abraço dizendo palavras para acalmar Eren que chorava e balbuciava palavras sem muito sentido. Ele ergue o papel que o médico lhe entregou junto com as receitas médicas de seu marido, eram alguns rascunhos que ele havia feito enquanto conversava com Eren, frases aleatórias sobre esse "mundo" de onde o mais novo dizia vir.
"Melhor amigo morreu para salvar sua vida". Era o que dizia em uma delas.
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