História Recover HIATUS - Nova Era

Que tipo de mundo era esse onde seus amigos não podiam ficar juntos porque aparentemente o trabalho era mais importante?

Okay, é exagero pensar dessa maneira. Mas Eren acabara de encontrar Armin vivo! Saudável e feliz, o loiro foi quem teve que acalmar Jaeger que parecia não querer mais soltar do melhor amigo.

Eram informações demais para digerir. Pelo que pôde notar, aquele lugar era totalmente dominado pela tecnologia. Carros, computadores, celulares, televisões e mais um monte de aparelhos estranhos existiam ali, Pietro foi quem lhe falou. O pequeno parecia animado ao explicar para o maior sobre tudo o que ele não conhecia e Levi lhe disse que era porque ele estava feliz por estar ensinando coisas a um adulto. Claro que ele sabia de muitos desses aparelhos quando descobriram o interior do porão de sua casa em Shingashina, mas havia tanta diferença dos que ele conheceu ou leu sobre que não deixava de ser uma novidade.

Eren estava se esforçando para não pensar no estranho relacionamento que estava tendo com seu superior. Não digeriu essa história de Síndrome de Kasanov ou seja lá o que lhe explicaram que ele tinha, mas teve que aceitar que estava ali agora e até descobrir o que diabos acontecia, tentaria se adaptar à situação.

Exceto pelo fator Levi, que seria mais complicado de lidar.

Teve que se despedir dos amigos quando saíam do hospital. Mikasa disse que nem deveriam estar ali porque estavam no meio do trabalho, mas conseguiram uma rápida liberação especial para poderem vê-lo.

Eren estava tão acostumado a ter sempre seus amigos por perto que sentiu uma grande tristeza por separar-se deles.

E um desespero, claro. Porque teria que seguir caminho com Levi.

Para a casa deles.

Eren ainda não acreditava, quer dizer, eles moravam juntos? Como uma família? Nem mesmo tivera coragem de perguntar qual era sua relação com o Pietro, mas reparou que a criança só chamava o Cabo Rivaille de pai.

E agora ali estavam. Dentro de um carro em um silêncio absoluto já que Pietro adormeceu no banco de trás depois de muito tagarelar.

Era impossível não se cativar pelo pequeno.

— Você está bem?

Levi acaba cortando sua linha de raciocínio. Eren estava nervoso ali sentado ao lado de seu suposto marido, e sua mente em um turbilhão tentava achar uma maneira de passar por essa situação sem faltar com respeito ao outro.

Afinal era Levi ali.

— Só um pouco confuso.

— Deve estar sendo muita informação para processar. Pietro se empolga às vezes, descupe por isso. — Levi estava sendo cuidadoso, pôde notar, e o garoto agradece internamente por isso.

— Ele é uma criança incrível. — Eren comenta olhando rapidamente para trás o pequeno ressoando baixinho em seu sono.

— Ele é. — Levi dá um sorriso terno demostrando o enorme amor que tinha pelo filho, vê-lo daquela maneira fez o estômago de Eren se revirar ainda mais em nervosismo.

— Ele... — O mais novo se perde nas palavras sem saber como formular a pergunta — Eu... o que nós...

Levi solta uma risadinha ao vê-lo perdido no questionamento.

— Você é tão pai dele quanto eu sou.

Eren cora violentamente ao ouvir as palavras mencionadas tão carinhosamente. Ainda era o Levi que conhecia ali, sentia isso, mas estava vendo um outro lado deste que nunca tivera a oportunidade de conhecer antes.

— Ele tem os seus olhos. — Murmura sem perceber que as palavras lhe escaparam — A mãe dele... — Corta a frase ao meio ao pensar que aquele pode ser um assunto delicado.

— Petra. — Levi fala tão baixo que mal dera pra escutar. O mais novo sente um aperto no peito ao se lembrar da garota — Ela morreu quando ele tinha quase um ano. Foi uma época difícil para mim e eu não passaria por isso se não tivesse sido por vocês dois.

Eren fica estático quando sente a mão do mais baixo pegar na sua. O contato não demora muito tempo, afinal Levi estava concentrado em dirigir.

Os olhos cinzentos se voltam umas duas vezes pare Eren antes do mais velho voltar a falar.

— Você parece decepcion...

Levi arregala os olhos ao ver as lágrimas escorrendo pelo rosto do garoto de olhos esverdeados. Rapidamente encosta o carro soltando do cinto e virando para Eren segurando seu rosto.

— Hey... o que foi?

— Droga! — Eren esfrega os olhos limpando as lágrimas inutilmente enquanto mais delas escorriam de seus olhos — Eu só... eu pensei... quer dizer, quando vi Armin... — Um soluço escapa — Tive esperança de que talvez... você sabe, meus pais, Petra e os outros pudessem estar por aqui. — Ele esfrega ainda mais os olhos lutando contra o choro — Droga, eu não devia chorar, mas sinto como se estivesse perdendo eles pela segunda vez.

Levi suspira puxando o maior para junto de si em um abraço. Aquele gesto foi estranho para Eren, muito estranho, mas por alguma razão era bom ali, dentro dos braços do mais velho. Acaba pensando que poderia ficar ali por um bom tempo e se esquecer de tudo o que estava acontecendo.

Se afastou quando percebeu o que se passava por sua cabeça

— Desculpe. — Mais calmo e ruborizado, Eren se posiciona no banco mais uma vez evitando olhar para o outro.

Levi suspira parecendo levemente decepcionado, mas se ajeita também colocando o cinto de segurança dando partida no carro e voltando à estrada.

Quando chegaram no enorme prédio onde moravam, Levi teve que evitar rir das reações infantis de Eren à quase tudo o que via (principalmente quando usaram o elevador), Pietro acordou ao ser retirado do carro e com as baterias recarregadas arrastou o maior por todo o apartamento mostrando tudo o que podia (Eren obviamente fingiu não conhecer as panelas para agradar a criança).

— Okay, furacãozinho, hora de você ir se trocar e brincar um pouco em seu quarto. — Levi pega Pietro no colo que dá uma gargalhada gostosa de ouvir, eles já estavam no quarto principal — Eren precisa descansar.

Eren queria dizer que não estava cansado, mas sentia-se dolorido. Sem falar que talvez se ele dormisse acordaria desse pesadelo insano onde se metera.

Pietro sai correndo pelo corredor do apartamento entrando em uma das portas dali. Levi pega Eren observando atentamente um quadro grande com uma foto dos três juntos pendurado na parede ao lado da cama de casal.

— Eu pareço tão... despreocupado.

Levi dá uma risadinha.

— Vamos trocar seus curativos.

Eren acaba se deixando ser levado pelo menor que senta na cama já com uma caixa branca em mãos, ele posiciona-se à sua frente e exclama quando o cabo leva suas mãos até a barra de sua camiseta, levantando esta.

— O-o que está fazendo?! — Eren estava tão adoravelmente corado que Levi teve que se segurar para não atacá-lo naquela hora.

— Trocando seus curativos. — Levi revira os olhos, por alguma razão lembrou de quando Eren descobriu-se apaixonado por ele e agia como se cada contato entre eles fosse algo mais sexual.

— E-eu posso fazer isso.

O outro ergue uma sobrancelha.

— Deixa de frescura, pirralho. Temos que limpar adequadamente e nós dois sabemos que você não é muito bom com isso.

Eren abre a boca e fecha de novo. Levi tinha razão, mas ele estava falando do Eren que ele conhecia ali, e não do que acordara no hospital.

Por alguma razão esse pensamento lhe deixou triste.

Quando percebeu, já estava sem a camiseta com o menor desenrolando as faixas em seu abdômen. Quando a última volta foi dada. Eren se surpreende ao ver o enorme corte diagonal que iniciava na parte superior de suas costelas esquerdas e descia quase até o umbigo. Não achou grandes coisas, afinal já tivera machucados muito piores, mas era uma novidade pra ele ter um corte profundo costurado, afinal sempre se regenerava e isso explicava as dores que sentia desde que acordou.

Levi desliza os dedos delicadamente pelo ferimento causando um arrepio no mais novo. Eren o encara vendo uma grande tristeza em suas íris nubladas.

— Minha culpa. — As palavras foram ditas baixas e quase embargadas, Levi suspira como se sofresse ao olhar para o machucado — Tudo isso é minha culpa.

— Não! — Eren não sabia o que falar, mas ver o Cabo Rivaille daquele jeito lhe doeu — Quer dizer... eu não sei muito bem o que aconteceu comigo... — Ele coça a aparte de trás do pescoço constrangido ao ter a atenção do outro para si — Mas sei que sou bom em fazer besteira, então acho que você não tem culpa.

Levi encara misteriosamente Eren que sente-se tremer com os olhos cinzentos presos em si de forma tão intensa.

— Quer tomar um banho antes de refazermos os curativos? — Percebendo o desconforto do mais novo, Levi ergue-se passando a mão pelos cabelos — Podemos colocar um filme plástico para não pegar nos pontos.

Eren assente mordendo o lábio inferior agradecendo mentalmente, pelo afastamento do mais velho. Em poucos minutos, Levi aparece com uma toalha entregando para ele e indicando a porta que levava até o banheiro da suíte dizendo que deixou a banheira enchendo.

Era tudo incrivelmente limpo e deslumbrante. Eren entra descalço sentindo o gelado das lajotas do chão olhando tudo em volta com uma leve abertura em sua boca. A banheira grande o suficiente para duas pessoas enchia com vapor subindo e uma camada de espuma se criando acima da água. O cheiro delicioso e perfumado emanava pelo ambiente aquecido e antes mesmo de entrar para o banho, Eren já se sentia relaxado.

Começou a se despir e parou antes que a cueca fosse ao chão lembrando que Levi iria ali para ajudar a cobrir os pontos

— Sabe que não deve ter vergonha na minha frente, não é? — Levi surge na porta depositado sobre a pia um rolo com algum tipo de plástico e uma tesoura — Conheço muito bem tudo o que você tenta esconder.

Se fosse possível, Eren sente como se fosse entrar em combustão espontânea. O que o Cabo queria dizer com aquilo?

Levi suspira ao ver o extremo desconforto do mais novo. Como iria lidar com Eren daquela maneira? Será que qualquer comentário sobre o relacionamento dos dois deixaria o outro naquele nervosismo?

— Vem cá, vamos cobrir esses pontos. — O moreno fala seriamente sentando na privada e puxando Eren de frente para si, deixando este em pé para que alcançasse melhor a cintura dele.

O silêncio era desconfortável. Eren sentia como se, de alguma maneira, havia dito algo que machucou o mais velho (mesmo ele não tendo falado uma palavra sequer). Sentia as mãos habilidosas do Cabo circularem sua cintura passando o filme plástico e quase riu quando sentiu cócegas na região das costelas.

Levi cuidadosamente termina de “embalar” o outro pegando a tesoura e cortando o plástico, encerrando seu trabalho. Ao erguer o olhar, encontra o maior extremamente corado e sem jeito.

— H-Heichou! — O jovem exclama surpreso quando os braços do mais velho circulam sua cintura o abraçando. Levi encosta a cabeça na barriga definida dele, cuidando para não pegar no ferimento.

— Não sou nenhum Heichou. Sou Levi, seu Levi... — Outro suspiro escapa da boca fina do menor — O que eu preciso fazer pra você se lembrar da gente?

A tristeza, a súplica naquelas palavras doeram no peito de Eren. Seus braços estavam estáticos ao lado do tronco sem saber o que fazer, e o constrangimento aumenta quando o mais novo se lembra que vestia apenas roupas íntimas enquanto era abraçado por Levi. O que ele deve responder? Porque se sente tão culpado?

Levi abre os olhos quando sente um toque tímido em sua cabeça, segue até encontrar os olhos verdes inocentes, não era momento para aquilo, mas quando viu Eren morder o lábio inferior só conseguia pensar no quanto queria jogá-lo na cama que dividiam e se derramar dentro dele.

— Paciência. — Levou um tempo, mas finalmente as palavras saíram do mais novo.

— Como?

— Tenha paciência comigo. — Aquilo soou como um pedido — Vou me esforçar para lembrar... da gente.

Levi sorri apavorando Eren que raramente vira tal coisa no Cabo.

— Temos todo o tempo do mundo. Eu vou aguentar.

E no fundo. Ambos sentiram o peso da culpa. Porque nenhum acreditou em suas próprias palavras.