História Red Line (Imagine Kai) - Memórias parte II

-Ela chamava-se Krystal, e hoje faz dois anos que ela se foi.

(...)

Aquela primeira frase fez meu cérebro ligar-se e prestar atenção a cada palavra que Kai dizia. Ele finalmente me contaria sobre a mãe de Yuna, mas porque para minha mente isso parecia errado?

Obviamente pelo simples fato de que cada palavra que ele diria para mim sobre ela o machucaria como mil facadas. Ele não parecia ter superado a morte de Krystal. Eu sei disso pelo simples fato de Yuna não ser uma criança muito boa em guardar segredos. Sim, ela havia me contado milhares de coisas sobre sua mãe e o quanto Kai e Krystal se amavam e que mesmo não demonstrando ela sabia que seu pai não havia superado ainda. A primeira vez que ela falou sobre o assunto eu fiquei chocada com o quanto uma criança de cinco anos pode perceber, mesmo não entendendo bem o que significa, eles entendem. 

-Não precisa me falar sobre Krystal Jongin, sei como a amava não quero que se magoe pois sei que ainda não superou isso, posso esperar até você estar preparado para me contar.

-Mas eu quero falar, eu sinto como se nunca fosse superar isso se não desabafar com alguém e você me parece certa para isso, você é a única pessoa que já senti vontade de falar sobre esse assunto. Por favor me escute.

Apenas confirmei com a cabeça, ele parecia desesperado e pelo simples fato de ele querer falar de um assunto tão delicado comigo mostrava o tamanho de sua confiança em mim.

-Nós apaixonamos na adolescência, fazíamos o típico casal do amor impossível, eu o filho de um dos donos das maiores empresas da Coreia do Sul e ela a gata borralheira do subúrbio que era a filha da empregada. Meus pais surtaram quando mencionei que ela não era rica, para eles eu merecia alguém de família rica, alguém que deixaria meu patrimônio maior com a união. Mas eu não me interessava por essas garotas, elas eram mimadas e não sabiam dar o devido valor ao que tinham. A primeira vez que bati os olhos em Krystal me encantei, ela era aluna nova na escola, era bolsista e mesmo assim as pessoas a respeitavam além do fato de que ela trabalhava em um café no período da tarde para ajudar a mãe com as despesas. Descobri onde ela trabalhava por pura coincidência e ai comecei a ir todo santo dia naquele café para poder a observar enquanto trabalhava. O primeiro encontro que tivemos apenas me mostrou o quanto ela era perfeita para mim eu a queria e não deixaria que nada atrapalhasse nossa relação. Nos encontrávamos escondidos para que meus pais não descobrissem e ela nunca demonstrou interesse na fortuna de meus pais que um dia seria minha o que fazia com que eu me apaixonasse por ela cada vez mais a cada dia que passava. Quando terminamos o ensino médio recebi a notícia de que estava noivo, eu surtei e não olhei para a cara dos meus pais por dias, eu nunca me casaria com alguém que não amasse pelo simples fato de essa pessoa ter dinheiro e só para piorar a situação Krystal descobriu que estava grávida, não que Yuna seja um peso, mas entenda Eunbi, tínhamos apenas 19 anos, não tínhamos ideia de como agir em uma situação como aquela. Então fugimos, exatamente no dia em que eu supostamente me casaria. Nos mudamos para o Japão como um novo casal que estava começando a construir sua família, lá nos casamos e eu trabalhava em dois lugares diferentes para conseguir manter nossa pequena família e para pagar meus estudos.

-Espera um pouco. – Falei cortando sua narrativa, nem em mil anos pensaria que Kai teria uma história assim. – Você disse que fugiram para o Japão quando descobriram da gravidez de Krystal certo?

Ele confirmou com a cabeça.

-Então quer dizer que seus pais não sabem que são avós? –Perguntei curiosa.

-Não, eles nem mesmo sabem que eu voltei para a Coreia.

-Certo, continue, tiro todas as minhas dúvidas depois de você terminar de contar a história. –Falei me acomodando no sofá e vi Kai segurar a risada, não sei porque meu comentário foi engraçado para o mesmo, eu era apenas muito curiosa e não havia nada de mau nisso, não é?

-Ok, vamos logo para a pior parte. – Ele nem havia começado a me contar mas já estava com lágrimas nos olhos, imaginei então que ele me contaria sobre como Krystal havia morrido. – Era o dia da minha formatura, eu havia pedido folga nesse dia para passa-lo com Yuna pois a baba não poderia vir naquele dia e Krystal trabalhava como secretária em um escritório. Acabou que além de eu me arrumar tive de arrumar Yuna e a mesma foi comigo para a minha colação de grau. Krystal me ligou dizendo que se atrasaria um pouco por causa de uma reunião que seu chefe pediu que ela acompanhasse mas falou que chegaria a tempo para me ver pegar o canudo e que esse junto com o dia em que Yuna nasceu e o nosso casamento seriam as melhores lembranças de sua vida. Acontece que ela saiu bem mais tarde do que previu da reunião e então dirigia o mais rápido possível, ela parou no farol vermelho e continuou seu caminho quando o mesmo abriu, só que o que ela não previa era o caro desgovernado que não respeitou a sinalização. Segundo os laudos médicos ela morreu na hora e o maldito bêbado que dirigia o carro que se chocou com o dela nem mesmo teve um misero arranhão. Eu me culpei por tanto tempo, se ela não estivesse tão apresada para chegar na minha colação ela não teria sofrido esse acidente, sem falar que Yuna não teria mais sua mãe por minha culpa. Por isso aquele dia no parque quando ela pediu para te chamar de omma me chocou tanto que eu quase chorei, achei que ela nunca mais saberia como seria receber amor de alguém que se importa com ela e que a quer ver feliz além de mim. Obrigada Eunbi, obrigada mesmo, porque você está colando cada pedacinho quebrado de nossos corações.

Era obvio o fato de que eu já estava em prantos, eu faço o tipo de pessoa emotiva que chora facilmente apesar de quase nunca demonstrar. Abracei Jongin fortemente e depois de algum tempo conversando sobre mais algumas coisas dormimos jogados no sofá.