História Red Smoke: Rupture (Segunda Temporada) - Parte 1: Elena - Pretty Hurts - 03

Elena P.O.V’s On

    Desde muito cedo na minha vida eu participei de concursos de beleza. Minha mãe dizia que eu era muito bonita e me levava aos concursos, onde os jurados provavam que ela estava certa. Depois do fim do Living With Sumbae, com a união do Red Smoke e do Black Widow, nós nos mudamos novamente, dessa vez para um dormitório que abrigasse as oito integrantes. Nesse novo dormitório, eu finalmente coloquei uma grande estante com todos os meus troféus e faixas de concursos de beleza. Ocupavam uma parede inteira do quarto que eu dividia com Ace.

    Mamãe me ensinou que a beleza era tudo e enquanto eu era criança eu fui facilmente ganhando os concursos. Mas conforme eu crescia, eles foram ficando mais rigorosos. Queriam meninas mais altas, mais magras, com olhos maiores, cabelo mais bonitos. Acho que foi nesse ponto que tudo começou.

   Eu aprendi a fazer uma maquiagem mais bonita, a arrumar melhor meu cabelo, mas continuava perdendo. Cresci, fiquei com a altura boa, mas continuava perdendo. Até que um dia, pouco antes de um concurso começar, fui ao banheiro e vi algo que me mudou. Garotas da minha idade, com 12, 13 anos. Elas não estavam conferindo os cabelos, nem arrumando a maquiagem. Estavam debruçadas sobre os vasos sanitários. Levando as mãos às bocas, implorando que os corpos ficassem mais magros. Eu não ganhei aquele concurso. Uma das garotas que encontrei no banheiro ganhou. E foi naquele dia que eu percebi o que precisava fazer.

    O gosto não era bom, mas aos poucos, eu via a diferença sutil. Via minha silhueta se afinando, via as notas aumentando nos concursos. Pouco tempo depois, minhas refeições mudaram também. Comia pouco, para não engordar, isso quando comia. Às vezes eu só trocava as refeições do dia por bolas de algodão molhadas em suco de laranja.

    Mais tarde entrei para a JYP e tinha que comer a comida que os managers mandavam. Eu comia, mas pouco tempo depois ia ao banheiro e jogava tudo fora. Logo, vitaminas passaram a serem coisas vitais para mim. Sem elas, os outros podiam perceber meu hábito.

   Eu não me importo, só quero ficar bonita.

   Mas com o debut do Red Smoke, as coisas ficaram melhor, eu engordei e me odiei por isso. Mas eu não conseguia vomitar sempre. Pode-se dizer que não foi tão ruim, mesmo acima do peso que eu queria, eu ainda era vista como linda. Tendo recebido meu nome artístico em homenagem a uma das mais belas mulheres de todos os tempos, Helena de Tróia.

  Graças ao U-Kwon, as coisas pioraram. Ele fica andando por ai grudado com Shin Hye... eu vou perde-lo. Estou vendo já. Vou perde-lo para ela. Não posso permitir que isso aconteça. Não posso perde-lo. Tenho que ficar mais bonita que ela.

   Por isso agora entro lentamente no banheiro do meu camarim. Não faço isso desde o início do Living With Sumbae. Eu me sentia bem, não precisava disso. Quando Sori saiu, eu emagreci com exercícios e por não estar comendo, não vomitava mais. Mas tempos desesperados pedem medidas desesperadas.

   Me ajoelhei e levantei a tampa. Sentia o chão de azulejos em baixo de meus joelhos. Era frio e lentamente deixava minhas pernas marcadas com seu padrão. Eu usava apenas peças íntimas, não queria sujar nenhum figurino. Levei os dedos à boca, por um instante apenas senti a textura da minha pele e o gosto do esmalte em minhas unhas postiças. Então levei os dedos até a garganta.

    Senti tudo de uma vez. O enjoo e o gosto ruim subindo pela garganta. Senti meus dedos ficarem molhados e então tudo saiu. Quando vomitei, o ar sumiu dos meus pulmões. Tossi, sentindo a garganta áspera. Limpei a boca com as costas da mão. Ainda não estava satisfeita, então repeti o processo. E de novo. E de novo.

    Eu só quero ser linda, só quero ser perfeita. Só quero me olhar no espelho e me sentir bem, só quero ser feliz comigo mesma. Por isso tenho que passar por esse sacrifício. Mais magra é melhor, todos sabem. Minhas lembranças passavam pela minha cabeça como em um filme, minha mãe me ensinando que eu devia me preocupar com minha beleza, que sobreviveria com isso, não com meus estudos. Me dando roupas de marca desde sempre “uma mulher é feita do que veste”, ela me dizia. Me dando os mais caros produtos para que mantivesse minha pele perfeita, mesmo na puberdade.

    Respirei fundo. Tentei me levantar, mas minhas pernas estavam bambas. Apenas depois de alguns minutos me levantei. Haviam marcas em meu rosto, nos lugares em que as lágrimas escorreram. Fui até a pia e escovei os dentes. Lavei o rosto e saí do banheiro. Agora eu precisava me arrumar e ir gravar. Provar para todos que eu sou mais bonita do que ela.