História Redemption - Capítulo 4

- Como? – A cadeira onde eu me posicionava é atirada para o cimento devido à força com que me levanto. – Nem por sombras farei essa porra, Wonho. – Refiro o nome dele com um nojo intenso.

- Pois não, também vais cozinhar. – Wonho é o único a apreciar o momento. Filho da puta. Enterro os dedos no cabelo, numa tentativa de reter esta informação toda. – Eu preciso do Kihyun, e agora temos-te a ti, ele já não é o nosso escravo. – Reviro os olhos, não dou a mínima para isso. – E como agradecimento, o teu quarto vai ser o porão, exactamente como está. - Lembranças da noite mal dormida atingem-me.

- Não. – Não fui eu a falar. Sigo o timbre daquela voz, e reconheço Hyungwon. – Ela dorme no meu quarto, tem espaço. – A minha surpresa sai em forma de abanar compulsivo de positividade. Qualquer coisa, menos dormir no porão. - Põe-se um colchão no chão. – Suspiro de alívio, mas este é abafado com o bufar de Wonho.

- Como queiram. Acabou a reunião. Tenho assuntos mais importantes. – Wonho sai da sala com pressa, abandonando-nos confusos com a sua reacção. Os rapazes levantam-se, e um a um vão aproximando-se de mim. As expressões deles são todas diferentes. Confusão, raiva, consciência pesada, ou sem expressão alguma. No meio deles, uma mão agarra a minha delicadamente. O contacto da pele macia de Hyungwon com a minha tranquiliza-me brevemente, encaro-o.

- Anda, o Kihyun prepara alguma coisa. – O mocinho de cabelo alaranjado, vulgo Kihyun, assente após a afirmação de Hyungwon. Comida. O meu estômago ronca ligeiramente e apercebo-me que não como há muito tempo. Sigo os passos deles até à cozinha. I.M afasta uma cadeira da mesa, e eu sorrio como forma de agradecimento. Sento-me calmamente, enquanto todos os meninos sentam-se à minha volta, exceto Kihyun que começa remexendo nas gavetas e armários.

- Pedimos desculpa pelo Wonho. – I.M pronuncia-se pela primeira vez. Eu compreendo a razão por trás daquela frase. Wonho é um idiota insensível. Assinto com a cabeça baixa. As palavras frias de Wonho quando referia a minha mãe, o trabalho dela e a morte rondam a minha cabeça numa velocidade louca. Suspiro, e mexo ligeiramente nas têmporas.

- Só não o quero ver à minha frente.

Um silêncio confortável surgiu no tempo seguinte, mas é interrompido pelo som de o prato de rámen bater no mármore da mesa. Balbucio um “Obrigado” a Kihyun, enquanto o mesmo arruma um sítio para se sentar.

- Bem, está pronta para viver com sete rapazes? – Após comer um pedaço da comida, encaro a pessoa dona da pergunta, Minhyuk, que sorri inocentemente. Pouso a minha atenção sobre os pauzinhos que balançam na minha mão.

- Quer dizer ser escrava de sete rapazes? – Murmuro com um timbre irónico,  dando ênfase em “escrava”. Olho directamente para os olhos de Minhyuk, que se encolhe ligeiramente. Continuo a comer com vontade, mas a pergunta do garoto loiro navega pela minha mente. Os meus pensamentos são interrompidos novamente por Minhyuk. – Desculpe, estava tentando levar isso para um lado positivo. – Mais uma vez, olho-o, e dou um sorriso de canto. O meu sorriso fá-lo sorrir. Disfarço a minha alegria metendo mais rámen à boca. Ainda puxando os fios de massa para dentro da minha boca, Jooheon levanta-se, olhando para o seu pulso. Nele tinha um relógio.

- Eu tenho que ir, tenho umas coisas para fazer. I.M e Minhyuk, vocês também. – Os chamados por Jooheon apenas assentem, e levantam-se. Minhyuk sorri-me, e dá uma pequena piscadela, enquanto I.M tem a gentileza de pegar na minha mão livre, e beijá-la suavemente. Arregalo os olhos perante o seu ato, enquanto ele apenas ri levemente, juntando-se aos outros dois que já estão fora da cozinha. Charmoso. Kihyun tira-me o prato da frente após vê-lo limpo.

- Yerin. – A sua voz melodiosa ecoa nos meus ouvidos, que voz agradável. – Já que Wonho não tem a capacidade de organizar as coisas para ti.. – O baixinho revira os olhos enquanto pousa o prato na pia. – Eu e o Hyungwon resolvemos. – Sorrio com as suas palavras, já Hyungwon levanta a cabeça da mesa com os olhos semiabertos. Kihyun dá-lhe um peteleco. – Seu idiota, não consegue dormir à noite?

- Mas eu durmo à noite.

- Então não durma agora! – Kihyun levanta ligeiramente a voz num tom mandão. Evito rir. – Vá buscar as roupas da Seohyun. – O nome da pessoa que ele diz é pronunciado rápido demais, como se eu não quisesse saber o nome de todo. Hyungwon levanta-se com moleza, e retira-se da sala. Kihyun me encara. – Quando Wonho pesquisou sobre ti, viu onde estavas a viver agora. Eu sinto muito realmente. – A última frase saiu como um sussurro. Abana a cabeça como que a afastar a misericórdia.

- Não preciso de pena. – Pela primeira vez, não estou na defensiva. Kihyun apenas assente, e parece ignorar a minha fala.

- Eu vou fazer questão de te apagar. – Arregalo os olhos. Que porra é essa? Ele abre um sorriso sincero, e eu adoro o sorriso dele. – Tem calma, não te vou matar. Vou apagar os teus registos. Tu não existes. É para não seres procurada.. – Entendo a lógica, e assinto. – Nem encontrada. – Qual é a destes moços terem um temperamento tão estranho? Aish. – Vou levá-la ao quarto de Hyungwon, agora que o vão dividir, aquele trouxa tem que organizar o roupeiro e essas merdas todas. - Mais uma vez, as palavras dele só me provocam um acenar com a cabeça. – Vamos.

Levanto-me conforme Kihyun, e sigo-o já com o mínimo de confiança de andar pela mansão. Tenho que me habituar mais cedo ou mais tarde. Ignoro a realidade, e fico apreciando mais uma vez as paredes e os ornamentos da casa, até parar atrás de Kihyun em frente a uma porta. Sem hesitação, Kihyun abre a porta e dá-me passagem para entrar. Mais uma vez, a decoração é incrível. As paredes estão pintadas de preto exageradamente carregado, e os móveis criam a distinção a branco. Mas não é esse contraste que me atrai. É o vermelho vivo nas almofadas de enfeite em cima da cama, e o mesmo vermelho vivo perfeitamente posto no abajur e na protecção da lâmpada do teto, no centro do quarto. E quando olho para o chão, está um tapete feito de um tecido fofo, e vermelho vivo. Preto, branco e vermelho. As minhas cores preferidas. Escuridão, luz e sangue. Quando olho para a porta entreaberta, Kihyun já tinha desaparecido. Volto a olhar para o quarto. O lado esquerdo é quase na sua totalidade uma janela, que vai desde o teto até ao chão.  O dia está cinzento, mas ainda se vê a claridade de um possível meio de tarde. As minhas adivinhas são interrompidas por um vulto enorme, Hyungwon. Ele aparece na porta com uma boa quantidade de roupa em mãos. Roupas pretas. Afasto-me para ele pousar as roupas na cama. Ainda quero saber acerca da rapariga daqui. Não quero ter o mesmo destino que ela, morta.

- Pega nas roupas de metade do armário e tira para fora. Dobra-as e mete na gaveta de baixo. – Levanto a cabeça quando Hyungwon fala para mim. Ouço as suas palavras atentamente. – Não está ai a minha roupa interior, relaxa. – Reviro os olhos com a tentativa de piada dele. – Eu vou arrumar a tua cama. – Assinto e caminho para o guarda-roupa enorme. Abro uma das portas, e as roupas de Hyungwon estão uma bagunça. Os rapazes são todos assim? Reviro os olhos, e com uma mão empurro as roupas para o chão. O dono do quarto encara-me surpreso e com as bochechas levemente coradas.

- Já pensou em arrumar isto antes? – Pego num casaco manchado da pilha de roupa formada no chão. Hyungwon encolheu os ombros, e saiu da sala.

- Vou buscar um colchão. – Retira-se.

Começo pegando nas peças uma a uma, apreciando ligeiramente o seu cheiro adocicado. É agradável. Dobro as roupas, enquanto as disponho cuidadosamente na gaveta preta. A minha actividade é interrompida por uma voz, assustadora por sinal.

- Quem raio és tu?