História Redemption - Chapter 2 - Five Minutes.

Charlie levou o cigarro a boca e deu uma longa tragada. 
— Aproveite, é o seu último por praticamente um ano. 
Ela levantou os olhos para a inspetora e deu os ombros. De certa forma, seu plano de tentar se moldar a uma nova personalidade havia falhado nos primeiros cinco minutos que estava ali no colégio.
— Tanto faz.
Era mentira, Charlie morreria por um cigarro. Não saberia como iria ficar sem, ou melhor.... não ficaria. 
Charlie já havia deixado na caixa de papelão com alças que Meg segurava tudo que trouxera e não poderia usar no colégio. Seu celular, notebook, iPad, seu velho MP3, carregadores, fones de ouvido, estilete, soco inglês, maço de cigarro e uma mini garrafa de vodka (que ela nem bebia) haviam sido deixadas já na entrada do colégio e Deus, não havia nem cinco minutos que ela tinha chegado naquela merda.
Ela jogou a bituca no chão e pisou em cima, terminando de apagá-la. Charlie jogou a mochila nos ombros e pegou a alça da sua mala de rodinhas. 
— Aqui estão as instruções — disse Meg, lhe estendendo algumas folhas de papel grampeadas — Posso te acompanhar até seu dormitório.
— Não se preocupe. 
Charlie passou pela mulher, levando sua mala e a sua arrogância também. Estando naquele colégio ela se sentia deslocada por conta da sua falta de controle em relação ao lugar e as pessoas. E se tem uma coisa que Charlie odeia, essa coisa é não ter controle. 
Os corredores eram longos e confusos, Charlie precisou voltar ao início três vezes até entender a lógica dos números dos dormitórios. Aparentemente, os meninos dormiam na ala leste e as meninas no oeste; como se lados e gêneros diferentes fossem capaz de separar os alunos.
O quarto de Charlie era o último do corredor D e ela gostou da privacidade que exalava aquela última porta lá no final do caminho. Ao entrar e fechar a porta, Charlie se admirou com a aparência do cômodo; ela esperava ser um lugar cheio de mofo e umidade simplesmente por ser um colégio interno, mas era bem moderno, apesar de ter apenas uma cama, guarda-roupas, cômoda, criado-mudo, escrivaninha para estudos e um espelho de corpo. 
Charlie jogou a mochila na cama e deixou a mala ao lado da porta enquanto observava as cores da parede e até que curtiu o que via, a parede onde a cabeceira da cama estava encostada era preta e as outras três eram brancas. Com certeza não era nada do que ela esperava. 
Uma batida na porta a despertou e Charlie revirou os olhos, pelo visto não estava tão a salvo assim das pessoas. Talvez se ficasse quietinha, a pessoa desistiria.... mas não, as batidas persistiram e mais fortes. Lentamente — dando tempo para a pessoa desistir — ela caminhou até a porta e a abriu bem devagar, exibindo apenas seu rosto. 
— Olá. 
Era uma garota baixinha e sorridente. Que ótimo, pessoas felizes — pensou ela. 
— Oi.
— Vi na hora que você chegou e sei que esse lugar é uma merda, pensei que talvez precisasse de ajuda com alguma coisa — enquanto a garota metralhava as palavras, ela tentava ver dentro do quarto e Charlie fechou ainda mais a porta, mesmo que a mesma já estivesse apertando seu pescoço contra o batente.
— Eu estou bem, obrigada. 
Charlie começou a fechar a porta mas a garota prosseguiu.
— Eu sou Aléxis, e você?
— Charlie.
— Bem, Charlie, só queria te dizer que costumamos fazer uma festa às sextas e aparentemente você deu sorte chegando bem hoje.
— Ok.
Se aproximando da porta, Aléxis sussurrou.
— Lá tem bebida e cigarro, caso goste. 
A palavra 'cigarro' soou como música nos ouvidos de Charlie e ela cedeu, abrindo um pouco a porta. 
— Talvez eu apareça.
Aléxis abriu um largo sorriso e deu os ombros.
— Você que sabe. 
Charlie estudou a garota por um tempo e concluiu que ela provavelmente era aquele tipo de pessoa que sempre consegue o que quer. E não é no sentido ruim e manipulador da frase, na verdade, ela até parece ser gente boa.
— Passo aqui às oito, até mais, Charlie. 
Ela virou as costas e saiu, deixando Charlie perplexa com a certeza que a garota tinha que ela iria. 
— Tchau.