História Reflexão - Desmoronamento - Capítulo Único

Eu sou amplo como o céu e detalhado como as nuvens. Sou uma mistura de emoções. Às vezes, sem pensar, me embolo no que seriam minhas expectativas e me derramo das nuvens; eu viro chuva.

Caio então no gramado e minhas gotas escorrem até a terra, se infiltrando nela. A umidade mexe em minhas raízes, eu mesmo sou capaz de me fazer crescer depois desse período chuvoso. De vez em quando, como chuva, eu me demoro bastante. Tempo o suficiente para atrasar minha próxima fase, mas nunca cheguei a matá-la, como já me disseram que faria.

Após molhar minhas raízes, eu cresço como flor, outrora semente. Eu sou um jardim inteiro de sensibilidade, sou um quintal cuidado pelo meu próprio coração. Sou o cheiro, sou o gosto, sou a sensação. Esse é meu melhor momento, mais bonito e mais feliz. Eu sorrio, acompanho o sol, deixo tudo mais gracioso simplesmente por ser quem eu sou.

Depois disso costuma chegar a hora em que as coisas ficam ruins, quando o sol para de me abençoar com seus raios calorosos e o anoitecer comparece. Nesse momento, eu sou explosivo. Há em mim sentimentos que crescem como flores e explodem como bombas. Eu faço um grande estrago; no meu jardim, nas minhas flores, no meu coração cuidador e no coração daquele que me ama. Eu derrubo meus cercados e destruo sementes que estão para nascer, sem saber o porquê, mas faço isso sempre. O que mais me aflige é aguentar a demora daquilo que irá me acalmar, que irá reerguer o que eu derrubei e me manter protegido, acariciado. Santo Deus, por que demora tanto? O quanto ainda vou ter que destruir? E, por favor, não me olhe com esses olhos assustados, você é o único sol que me restou agora. Eu juro por toda a minha vida que nunca irei te machucar.