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História Reflexões da Alma - A lágrima solitária de Camus


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!

Segue um capítulo extra, um brinde pelo chuvoso feriado prolongado!

Bjs e boa leitura.

Capítulo 10 - A lágrima solitária de Camus


Uma névoa úmida saía de sua boca a cada vez que expirava, denunciando seus angustiosos pensamentos. As palavras ditas pelo moribundo ecoavam em sua mente. Bluegraad. A terra para a qual levou Hyoga em seu último treinamento. O que haveria de estar acontecendo por lá que não havia percebido naqueles últimos três meses que estivera naquela região do leste da Sibéria?

-----*-----

Retomando o fôlego após a batalha com aquele estranho cosmo negro, Camus desfez a parede de gelo que havia criado para proteger-se, observando-a quebrar-se em milhares de pequenos prismas cristalinos.

Ainda sentia-se impactado pelas palavras que ouvira daquela voz soprosa que parecia ter atordoado seus sentidos por alguns segundos, contudo, o suficiente para atirá-lo contra a parede de pedra do imenso salão gelado.

A voz atraía-o como um ímã atraía os materiais metálicos, clamando que a seguisse. Sua mente analisava tudo ao redor.

Se não fosse eu autocontrole, talvez algo de pior poderia ter acontecido. Se o jovem de Andrômeda estivesse com ele naquele momento, talvez não pudesse proteger o menor. Afinal, por que Athena e Shion o enviaram numa missão como aquela? Seu pupilo Hyoga ou até outro cavaleiro dourado seriam mais úteis. De qualquer forma, a deusa ainda haveria de pensar em uma forma de transmutar o gelo de rio Angara. Somente alguém com cosmo divino poderia realizar tal ato.

Logo que a névoa fria se desfez no ar, pôde vislumbrar o corpo do moribundo senhor que havia servido de veículo à energia maligna que se opôs ao seu golpe mais mortal.

O emocionalmente contido cavaleiro do gelo observava, impactado, o processo de morte do civil que perecera devido ao seu ataque. Sem um cosmo exuberante como o de um cavaleiro ou amazona, ou de um guerreiro que serve a um deus, o cidadão não possuía meio algum de defender-se do ataque do Pó de Diamante.

Com pesar, e a uma sensação estranha de opressão no peito, caminhou até o outro lado daquele salão frio.

Não era comum que se deixasse afetar em qualquer batalha. Inclusive quando ordenou ao pupilo que abandonasse aquela luta para a qual não estava preparado, na casa de Libra, durante a empreitada dos cavaleiros de bronze contra o tempo do apagar das chamas do relógio de fogo do Santuário. Na tentativa de fazer Hyoga esquecer seus sentimentos e focar-se apenas em ser um cavaleiro despertando o sétimo sentido, afundara o barco onde jazia o corpo da mãe do Cisne para uma profundidade na qual este nunca mais poderia encontrar.

Mesmo assim, não conseguira fazer o jovem controlar seus sentimentos e optou por imobilizá-lo eternamente usando seu golpe Esquife de Gelo, que, segundo ele mesmo e o Mestre Ancião, nenhum cavaleiro, mesmo os de ouro, teriam poder de romper.

E agora, estava ele ali, observando os últimos momentos daquele inocente civil.

O som assustador do chocalho da morte inundava seus ouvidos aguçados de cavaleiro. Pela perda do reflexo de tosse e da habilidade de engolir, o homem afogava-se em sua própria saliva e em sua própria secreção pulmonar repleta de sangue. Camus apenas ajoelhou-se ao seu lado, enquanto pedia aos deuses que abreviassem aquele sofrimento, sentindo remorso por ter agredido de forma fatal um homem que apenas servira de instrumento para a manifestação daquele mal que ainda não compreendia qual era.

A respiração rápida, entrecortada por momentos de apnéia, demonstravam a quase inconsciência daquele processo para a vítima, o momento antecedia a morte iminente. Esta logo se fez, pelo último suspiro e a total falta de expressão dos músculos relaxados no rosto daquele que jazia ao chão congelado da batalha recente.

Fitou novamente os olhos do homem e percebeu que estavam diferentes do momento quando o encontrara possesso por aquela energia negativa. Mesmo sem vida, haviam readquirido o tom azulado da íris, demonstrando que estava realmente livre daquilo que o mantinha preso em uma espécie de transe.

Com a mão direita, cerrou as pálpebras que ainda permaneciam abertas, no post mortem.

Estava acabada aquela batalha.

Uma pontada de um estranho sentimento se fez em seu peito. Uma dor de quem ceifara uma vida. Fora o preço a ser pago para poder afastar o mal que havia possuído aquele homem. Um preço muito alto.

Levando o corpo nos ombros, o cavaleiro de cabelos ruivos e olhar marinho caminhou na direção da saída, fitando vez por outra as pessoas caídas pelos corredores, que pareciam acordar de algum pesadelo.

Alguns se perguntavam o porquê de estarem naquele lugar, outras apenas olhavam em volta com fisionomia assustada.

Ninguém parecia entender o que estava acontecendo, nem o cavaleiro que havia libertado os cidadãos do aparente transe.

Apenas caminhava até a saída levando consigo o corpo morto.

O peso que carregava nos ombros não poderia ser comparado ao que sentia no âmago da alma. Matar outros cavaleiros em combate era uma questão resolvida para o aquariano, mas tirar a vida de civis ou vê-los sendo usados daquela forma era algo que ainda precisava digerir.

Talvez não conseguisse nunca tal ato. Seu senso de justiça de não envolver civis em uma batalha para a qual não estavam preparados, gritava tanto quanto seu senso de lealdade à Athena.

Lembrava-se dos entalhes no grande portal daquela construção. ПОСЕТИТЕЛИ НЕ ПРИВЕТСТВУЮТСЯ - ВЕРНУТЬСЯ, ИЛИ ОПЛАТИТЬ С ЖИЗНЬЮ: Visitantes não são bem-vindos. Retornem ou pagarão com nossas vidas. Realmente, uma vida havia servido de pagamento por aquela invasão.

Sua prudência o lembrava das palavras do moribundo. 

Cиний воин...

Cavaleiro azul... Bluegraad...

A missão que deveria terminar ali parecia ter sua origem em outro lugar.

Chegando ao portal destruído, foi surpreendido por uma mulher que corria em sua direção e gritava em desespero.

– Мой муж!

– Seu marido?! Oui... Ele estava possuído por uma energia maligna...

– Что вы сделали?! Что вы сделали?!

– Senhora... O que eu fiz?! Eu o libertei! Mas lamento por sua perda...

Colocou o corpo no solo coberto de neve, aos pés da mulher que chorava copiosamente à sua frente.

Aquela imagem novamente o lembrava do pupilo, quando tentara demover o jovem da idéia de continuar lutando. Afundara o barco onde estava o corpo da mãe de Hyoga, para uma profundidade onde nunca mais poderia vê-lo.

Seria este mesmo o melhor caminho? Naquele momento, observava as lágrimas abundantes da mulher abraçada ao corpo inerte do marido, tanto quanto as lágrimas que Cisne havia vertido quando o mestre exigira que esquecesse de sua mãe.

A famosa característica de ser o cavaleiro dourado mais calmo e calculista pareciam estar sendo postas à prova. O desespero no olhar daquela mulher havia marcado sua alma aparentemente fria.

Olhou atentamente ao redor e apenas percebeu pessoas perdidas, procurando seus parentes ou perguntando onde estavam.

Não seria justo que alguém utilizasse aqueles civis por meio de um poder que estava além das capacidades de resistência deles, era uma interferência injusta, pois não poderiam oferecer resistência.

Fitou o céu buscando as nuvens ausentes, contemplando o celeste azul que escurecia aos poucos. Quanto tempo levara naquela batalha? Parecia um instante derradeiro... Tudo se passara tão rápido... Sentia em seu âmago a verdade das palavras de um sábio cientista – o tempo é relativo...

Cerrou as pálpebras dolorosamente, deixando a brisa gélida esvoaçar seus fios avermelhados como o belo sol poente de sua terra-mãe, a França. Quem sabe aquele névoa branca repleta de cristais de água em suspensão não pudessem lavar sua mente e seu coração doloridos?

A alma quente por detrás daquele frio eterno eclodia em uma silenciosa e solitária lágrima que brotava e escorria-lhe pelo rosto alvo, e se fazia em uma gota cristalina ao tocar a neve aos seus pés.

Uma lágrima solitária de uma alma ardente e condoída pela morte de um inocente.

Tomou uma respiração profunda, observou melhor ao redor e pôde ver o cavaleiro de Andrômeda ajoelhado na beira do Angara, contrariando suas ordens sobre tocar naquele rio repleto de miasmas sombrios de morte.

O cosmo caloroso do jovem derretia a neve ao seu redor e pequenas plantas de um verde brilhante emergiam do solo molhado. Pequeníssimas flores brancas desabrochavam e sua delicadeza se confundia com a beleza dos cristais que o dourado havia criado com o cosmo algumas horas atrás.

Com cuidado, adentrou a bela esfera rósea e sentiu o calor daquele microambiente que, longe de incomodá-lo, acalentava-lhe o espírito, consolando-lhe da dor moral pela morte que havia provocado, mesmo que culposa, uma vez que não tivera intensão de ferir ou matar ninguém.

Sentia-se como se estivesse na região da taiga russa em pleno verão, enquanto tocava o tapete verde repleto de flores de bunchberries brancas, pequeninas, formando um acolchoado e belo manto.

Aproximando-se do cavaleiro de Andrômeda, notou que o gelo inundado pelo amável cosmo estava brilhante e translúcido como deveria ser.

Que habilidade era aquela desconhecida pelo culto cavaleiro dourado?

Seria por causa dela que Athena enviara o pequeno junto consigo naquela missão?

Shun estava de olhos fechados, tão imerso em meditação, emanando seu cosmo numinoso por entre os cristais de gelo do rio Angara, que não percebera o que havia acontecido às pessoas, tampouco percebia a presença do outro ao seu lado.

Apenas concentrava sua energia amorosa imaginando que pudesse auxiliar de alguma forma, uma vez que o experiente cavaleiro de Aquário o ordenara que se afastasse. Concentrava sua energia imaginando os lindos cristais que vira o companheiro de missão plasmando com cosmo, um lindo e puro cristal de gelo.

O dourado observava, surpreso, o fenômeno que se descortinava bem aos seus olhos. Aquela aragem fria, com sua neblina branca, rente à superfície lisa congelada, transmitia-lhe a sensação de que realmente havia feito o que estava ao seu alcance.

Seu coração se apaziguava aos poucos, à medida que visualizava o cosmo róseo e cálido a imantar cada vez mais longe e de forma cada vez mais profunda o afluente aos seus pés. Mesmo sem compreender aquele fenômeno, postou-se ao lado do cavaleiro de bronze, que elevava seu cosmo a um nível diferente do que ele já tinha visto ou conhecia.

A experiência como hospedeiro de Hades parecia ter modificado realmente as habilidades do rapaz e o que escutara na época do Equinócio de outono, quando retornara a vida por meio do precioso auxilio daquele franzino jovem, parecia ser verdade.

Uma nova característica havia se manifestado no cosmo de Andrômeda, e ali, naquele momento, podia vislumbrar de perto a amorosidade que o menor transmitia por meio de seu puro e bondoso coração.

As pessoas próximas ainda estavam tão atordoadas e inseguras, que caminhavam em busca de suas residências, se afastando sem notar o belo fenômeno que acontecia à beira do rio tão próximo delas.

O ambiente ao redor foi se tornando casa vez mais deserto, até que restaram apenas os dois cavaleiros envoltos na energia rósea e calorosa do concentrado cavaleiro de Andrômeda.

Algo de maligno havia dominado a vontade e a consciência dos moradores daquela região e aquele que morrera pelas mãos Camus parecia ter sussurrado no estertor de sua morte, a resposta para os questionamentos do cavaleiro dourado. O local de origem daquele mal que ceifara uma vida, deixando a esposa em viuvez desesperada. Teriam que adiar o retorno ao Santuário a fim de se dirigirem ao provável local da origem real daquela tragédia. Bluegraad. A terra dos Cavaleiros Azuis.

(Continua...)


Notas Finais


Vamos participar das traquinagens de Afrodite no próximo capítulo.
Obrigada a todos que nos acompanham até aqui e que estão curtindo ler esta fic.
Bjs! ;-)

Link das flores bunchberries:
http://comps.canstockphoto.com.br/can-stock-photo_csp16511564

PS: Link para as fics que serviram de escopo para esta:
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--1a-temporada-5785039
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--2a-temporada-6074433
Obrigada pelo carinho! Como sempre digo, aceito opiniões e sugestões!
Beijos!!!


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