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História Reflexões da Alma - Ao calor da lareira


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!
agradeço o carinho de todos vcs com esta fic!
São reflexões sobre os acontecimentos, relações, dores mal curadas
assuntos sobre os quais às vezes preferimos, às vezes, não falar ou pensar,
mas que ficam guardados em lugares obscuros do coração...
Então, vamos ao capítulo!
Um abraço carinhoso e afetuoso!
Bjs!

Capítulo 14 - Ao calor da lareira


Vislumbrando o firmamento que começava a salpicar-se de estrelas, permitiram-se sentir a brisa que soprava mais fria do mar, os fazendo imaginar como estaria o quinteto na região para a qual haviam ido cumprir sua missão. Oficial ou extra-oficialmente, lá estavam cinco representantes de Athena, utilizando os raios luminosos de suas vidas em prol da justiça e da paz. Confiaria neles, assim como a deusa confiava. Com certeza, a deusa enxergava neles algo que ele mesmo, como Mestre do Santuário, não conseguia ver naquele momento e que apenas havia vivenciado no passado. O poder de uma verdadeira amizade.

-----*-----

O céu siberiano igualmente demonstrava os pequenos brilhantes celestes, assim como no Santuário. Pequeníssimos cristais tão belos como os cristais de um belo lustre na abóbada celeste. O gélido vento em nada lembrava a brisa fresca da Grécia. Estavam agradecidos pela presença de Kiki a ajudar-lhes com o prático transporte para um local mais aquecido que os dez graus negativos experimentados à beira do rio Angara.

Ao ser transportado para uma sala aconchegante, com uma grande lareira já acesa, Afrodite não pôde deixar de reparar no ambiente ao seu redor. Uma decoração simples e rústica, porém, longe de ser uma simples cabana como Camus havia dito.

A casa era toda construída de madeira, com tábuas dispostas horizontalmente no primeiro pavimento e de forma transversa no segundo. As espessas janelas impediam que ambiente externo inóspito se reproduzisse no interior.

Em meio àquele tapete branco, quem observasse de cima em nenhuma hipótese perceberia haver ali uma construção, a não ser pela recente marca na neve, provavelmente resultado das ações de Hyoga, que havia saído para tomar algumas providências básicas, como verificar o gerador que ficava um pouco afastado da casa. Tinha o costume de limpar um pouco a neve que cobria o caminho que dava até a morada. Era um lugar perfeito para quem desejasse se isolar do mundo.

Os abetos repletos e pesados de neve e as montanhas levemente escarpadas protegiam o local das fortes correntes de ar gélido que por ali tentavam formar-se em redemoinho sem sucesso. Nem os flocos acumulados nos galhos ressequidos pelo inverno desapegavam de sua segurança junto à fina madeira.

O telhado coberto por uma espessa camada branca fazia a tal cabana ser confundida com o próprio solo. Algumas poucas árvores no estilo de pinheiros altos, em um dos lados, mantinham seus ganhos vergados para baixo, pesados pelas as camadas de flocos acumuladas, fazendo-se depreender a quem se aproximasse que podia se tratar de um ambiente abandonado pelo tempo.

O pisciano foi rápido em perceber que aquela casa era muito antiga, inclusive o grande tapete de pele de animal que forrava o chão parecia ser realmente de uma época em que a caça era algo comum e corriqueiro. Os rudimentares móveis do lugar e uma espécie de sofá feito de madeira coberta de pele completavam a decoração do ambiente.

Logo pôde perceber o amigo dourado sentado no tapete em frente ao fogo crepitante que se confundia com o avermelhado intenso dos cabelos do ruivo, enquanto este ainda segurava o jovem cavaleiro de bronze quase na mesma posição que estava à beira do rio Angara.

Antes que Kiki se manifestasse em qualquer palavra, pediu silêncio a ele como havia feito em Irkutsk, à beira do rio. Sentia que aquela era uma situação de intensa transformação nos sentimentos tão contidos de Camus, e precisaria transmitir muita calma para que o amigo conseguisse entender o que havia acontecido diante de si.

Aproximou-se a tocou as madeixas ruivas com carinho, depois o queixo do amigo, de forma a fazer o olhar azul-marinho encontrar o seu azul celeste.

– Afrodite, non sei o que pensar... – Dizia, desviando o olhar e voltando a fitar o jovem que dormia calmamente em seus braços.

– Vocês dois tiveram um dia muito difícil... Tente não racionalizar os seus sentimentos... Não agora. Shun precisa de uma boa noite de descanso e logo estará bem melhor. E você também precisa descansar, meu amigo.

– Non sei o que fazer...

– Aquele corredor dá para os quartos?

– Oui...

– Então, o que você acha de eu levar o Shun e deitá-lo em um deles para que repouse mais tranquilo e confortável?

Aquela situação estava sendo inusitada para os cinco. Hyoga nunca havia visto o mestre daquela maneira, como se estivesse fragilizado emocionalmente. Sempre fora tão controlado e racional. Até a forma com que ele falou com Shun deixou o Cisne intrigado. Chamar o menor de petit, dessa forma tão carinhosa, era surpreendente.

Contudo, o pisciano, que havia treinado o jovem Andrômeda, já havia visto aquele efeito emocional provocado pelo caloroso cosmo do virginiano quando este auxiliou Kanon na prisão, modificando e transmutando a raiva do geminiano, que voltou ao estado pacífico após a emanação do cosmo róseo.

Camus parecia estar sentindo algo parecido com o que sentira o geminiano dourado, principalmente por estar impactado com habilidade que julgava não ser possível existir em alguém que não possuísse um cosmo divino.

Delicadamente, de forma a tentar não acordar o menor, Afrodite suspendeu seu pupilo dos braços do ruivo, que mantinha-se sentado em frente ao fogo. O aquariano parecia hipnotizado por seus próprios pensamentos, e fitava as pequenas labaredas crepitando sem mover-se.

Ainda em um canto da enorme sala, o pequeno ariano permanecia parado observando o jovem aquariano que entrava pela porta pesada da sala, limpando as botas de neve, enquanto esperava o que diria Afrodite, quando este se aproximou e dirigiu-se aos dois.

– Podem me acompanhar até o quarto? Hyoga, me mostre para qual deles devo levar o Shun, você conhece muito bem essa casa, não é?

O cavaleiro de cisne apenas concordou com a cabeça, enquanto Kiki olhava tudo com muita surpresa.

– Quando vamos procurar as plantas que você precisa, Dite?

– Amanhã, meu pequeno, amanhã. Por hoje, descansaremos, tudo bem? Você fica com o Hyoga e com o Shun?

– Não quero ficar com esse aí, não! – Dizia o ruivinho apontando para o Cisne, que não se incomodou com o comentário, apenas olhava seu anjo encolhido nos braços do mestre de Peixes.

– Ora, Kiki, vamos fazer uma trégua... Shun e Camus precisam de nós... – Afirmava Afrodite, apaziguar a situação. Sentia que Camus precisaria dele para equilibrar-se de forma a completar a missão com êxito, e colocar seu kerub em segurança era o primeiro passo.

– Tenho uma ideia, Afrodite. – o aquariano mais novo chamou-o. – Vou ligar o gerador à diesil para termos luz elétrica e buscar algumas toras de lenha que sempre temos de reserva. Precisamos descongelar a água do encanamento da casa para prepararmos o jantar. Vá com o Kiki que eu resolvo essas coisas. O quarto costuma ser a primeira porta no corredor, à sua esquerda. Os cobertores estão no armário.

Enquanto Hyoga se prontificou a resolver as pendências mais práticas e necessárias, Afrodite se dirigiu ao local indicado, segurando seu kerub, sendo seguido de perto pelo ruivinho, que continuava desconfiado. O pequeno lemuriano gostava muito de Seiya, Shiryu e Shun, contudo Hyoga e Ikki sempre foram mais distantes e nunca havia se afeiçoado muito a eles, apesar de admirar seus poderes como cavaleiros de Athena.

Chegando no quarto, que começava a ser aquecido pelo calor oriundo da grande lareira da sala, Afrodite acomodou seu pupilo na cama, que logo encolheu-se abraçando as próprias pernas. Pediu a Kiki que ficasse ao lado dele, enquanto buscava, no armário, algumas cobertas para esquentar os dois.

– Meu pequeno, você pode ficar aqui e cuidar do Shun?

– Claro!

– Se ele acordar, me chame, está bem? E se você sentir sono, pode continuar aqui ao lado dele e dormir um pouco, vai te fazer bem.

– Pode deixar!

– Um último pedido... Tente não implicar tanto com Hyoga... Ele está aqui para nos ajudar...

– Vou tentar, mas não garanto nada!

Fazendo um carinho nos cabelos castanhos do jovem virginiano e nos de cor de fogo da criança, Afrodite se despediu, encostando um pouco a pesada porta de madeira, deixando um espaço aberto para que pudesse manter o ambiente aquecido e o mais tranquilo possível conquanto que ainda pudesse observar o que acontecia dentro do quarto, queria ter a certeza de que ambos ficariam bem.

No caminho de volta à sala, encontrou Hyoga caminhando em sua direção e chamou-o de lado para organizarem-se. Com Camus daquele jeito, quase em estado de choque, e Kiki junto com Shun no quarto, os dois precisariam resolver entre eles assuntos mais urgentes.

– Tem alguma coisa aqui para se cozinhar? Precisamos preparar algum alimento nutritivo e quente para eles. O que eu trouxe é para uma emergência...

– Tem sim, Afrodite. Sempre deixamos umas carnes secas com sal, temperos, e outros alimentos desidratados. Meu mestre e eu estivemos aqui por quase três meses, a casa ainda está abastecida.

– Como você conhece esta cabana, acho melhor você preparar o jantar hoje, se não se incomodar.

– Mas eu queria conversar com meu mestre e...

– Hyoga, deixe de tanta teimosia... Você não percebeu como ele está impactado com tudo que aconteceu? Demonstrar fragilidade na frente dos nossos discípulos é horrível! Principalmente para o controlado do Camus. Deixe eu conversar com ele primeiro... Estou te pedindo como um amigo, de cavaleiro para cavaleiro... Preste atenção: se você for lá na sala agora, capaz de seu mestre te colocar novamente em um esquife de gelo!

– É... Você o conhece mesmo...  

– Quando você nasceu, seu mestre e eu já treinávamos juntos há tempos!

– Bom, cozinhei muito aqui nestes últimos meses, Camus e eu nos revezávamos no preparo das refeições.

– Então, melhor que você se encarregue disso, por agora. Vamos ser práticos. Ou você tem uma proposta melhor, Cisne?

– Já entendi, tá bom? Vou precisar dessalgar um pedaço de carne... Daqui a umas duas horas estará tudo pronto.

– Que bom. Talvez Shun já esteja acordado...

– Não ia deixar ele dormir a noite inteira? É melhor ele descansar e...

– Você é mesmo uma miniatura do seu mestre! Esqueceu que os dois estiveram em missão o dia inteiro?! Duvido que tenham se alimentado! Precisamos cuidar do nosso corpo, não só da nossa mente e do nosso cosmo! E vamos parar com essas discussões tolas! Nossos amigos precisam de nós.

Com esta premissa, Afrodite logo colocou um ponto final naquela pequena conversa que começava a se tornar desagradável e se dirigiu até a sala, onde fogo ainda se refletia nos cabelos ruivos do amigo dourado, que continuava sentado no tapete, com as pernas cruzadas.

O aquariano dourado parecia mesmo hipnotizado pelas labaredas crepitantes, pois ainda vestia seu sobretudo preto e continuava sentado da mesma maneira de quando chegou. Apesar de ainda impactado, desejava explicar ao amigo o que poderiam enfrentar.

Em silêncio, o pisciano aproximou-se e sentou-se ao seu lado, fitando a lenha que crispava aos olhos azuis dos dois cavaleiros da elite de Athena. Sabia que o amigo sentia necessidade de lhe esclarecer alguns porquês, mas não imagina que Hyoga estaria envolvido naquela trama cada vez mais intrincada.

– Sabe, Dite, enquanto enfrentava o cosmo maligno naquela fábrica, uma estranha voz se manifestou quando atingi mortalmente aquele civil...

– Como assim uma voz, Camus?

– Era como um mantra maléfico... Me chamava... Me atraía...

– Não compreendo...

– Me lembro muito bem o que me disse e non foi pela voz daquele cidadão... Se comunicava com meu cosmo, Dite! Pedia que eu fosse até sua origem, como se me conhecesse...

– O que escutou, exatamente?

– A voz soprosa se expressava em minha mente... Me chamava de cavaleiro de gelo, dizia que era como nos velhos tempos... Me chamava de mago do gelo. Me atraía como um ímã!

– Sempre fostes tão racional, Camyu... Em sua opinião, o que isto significa?

– Ah, mon ami... Hyoga me contou, neste tempo que passamos em treinamento aqui, que após a batalha das doze casas, retornou até a Sibéria e encontrou um grupo de Guerreiros Azuis de Bluegraad. Contudo, eu mesmo, nunca tive contato com eles...

–  O que será que está acontecendo por lá? Pelo que sei, a batalha encerrou-se há algum tempo...

– Na época, queriam que Hyoga se juntasse a eles, para que pudessem dominar todo o hemisfério sul, mas ele se negou, mantendo-se fiel à Athena. Acabou lutando contra eles.

– Eu não sabia que ele havia enfrentado sozinho os lendários guerreiros da mitologia nórdica...

– O líder deles, Alexer, matou o próprio pai em sua sede de poder, o que, de certa forma ocasionou a morte da moça Natássia, irmã dele.

– Zeus, que tragédia... Ei! Este não é também o nome da falecida mãe do Hyoga?

– Oui. Por isso, ele nunca fala do assunto. Foi muito difícil para ele tudo que aconteceu em Bluegraad...

– Estou me lembrando de algo que li sobre estes guerreiros. Se não me falha a memória, são descendentes dos cavaleiros de Athena enviados ao pólo Norte para proteger a ânfora onde o espírito de Poseidon havia sido selado e sobreviveram misticamente ao frio intenso daquela região. Mas se Hyoga os venceu em batalha, o que poderia estar acontecendo agora, especialmente depois da Guerra Santa?

– O que sei é que Hyoga deixou vivo o líder deles, o tal Alexer, como punição pela morte da irmã...

– Será então que... Não poderia ser, Camyu... Se ele ficou sozinho mesmo, não seria capaz de desenvolver tamanho cosmo... Se bem que o ódio é uma grande força motriz, sendo superado apenas pelo amor...

– É o que precisaremos investigar, mon ami... Talvez aí encontremos algumas respostas...

Camus volveu novamente o olhar meditativo à lareira, continuando aquelas conjecturas em sua mente. Já possuía sua desconfiança e começava a traçar uma estratégia para a resolução, o mais rápido possível, daquele conflito.

Afrodite logo entendeu a necessidade de silêncio do amigo, e continuou ao seu lado, a fitar a lenha avermelhar-se pelo fogo que a consumia.

Ao calor da lareira brilhante, o pisciano meditava em como fora guiado a chegar no momento certo...

Realmente, Camus e Shun precisariam de toda ajuda de que poderiam dispor...

Ao calor da lareira, suspirava...

Por pouco, seu kerub não se esvaiu na energia que transmutara o Angara...

Ao calor, agradecia à Athena por ter dito aquelas palavras, confiando que teriam bom senso e seguiriam a intuição...

Sentia o quando o amigo estava tendo dificuldades em digerir as informações que recebera e os acontecimentos dos quais fora protagonista naquela tarde fria em Irkutsk. Agora, sentia, em seu âmago, a certeza de que seguir sua intuição fora o melhor que fizera, independente da punição que poderia advir de se ausentar do Santuário sem a anuência de Shion. Sua certeza por saber que poderia auxiliar seu amigo e seu kerub era como aquele fogo que queimava na lareira, iluminando sua mente e aquecendo seu coração naquela noite fria da Sibéria russa. Como uma calmaria antes de uma iminente tempestade.

(Continua...)


Notas Finais


Uma boa conversa esclarece muitas coisas...
A questão é começar...

Um beijo a todos que chegaram até aqui!
Obrigada!


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