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História Reflexões da Alma - Culpa e nobres equívocos


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!
Prometi que postaria na sexta, mas como acabei de revisar, estou postando hoje.
Acho que poderemos entender um pouco com algumas memórias podem fazer mal.

O passado não pode ser alterado.
O amanhã é uma incógnita.
O hoje é o bem mais precioso que temos, recebido como dádiva dos céus, por isso de denomina 'presente'.

Desejo a todos um Natal de luz e paz, e que novas esperanças possam inundar os corações desejosos de inspiração para que nosso 2017 constitua parte da mudança para o bem que virá.

Obrigada a todos que acompanham estas linhas escritas com tanto carinho.
Obrigada às pessoas que favoritam e comentam, suas palavras são um grande estímulo.

Beijos e boa leitura.

Capítulo 17 - Culpa e nobres equívocos


O cavaleiro de Aquário caminhava à frente, destemido, protegendo os demais com seu belo cosmo azul brilhante, formando uma barreira protetora que parecia ser capaz de conter o vento gélido siberiano e camufla-los do cosmo que os esperava. Contudo, pequenas idéias e memórias surgiam na mente de cada um, como pensamentos invasores, sem que percebessem. O mal os espreitava a cada passo que davam, e, por este mal, seriam testados. Um a um.

-----*-----

Elegante em seu sobretudo negro, o dourado de Aquário logo de colocou em caminhada rápida à frente. Com seu cosmo, conseguia formar uma espécie de barreira que impedia que a neve atrapalhasse o prosseguir dos outros três.

A beleza ímpar da proteção da energia emanada por Camus podia ser vislumbrada e sentida pelos outros três cavaleiros, estranhamente poderosa e, ao mesmo tempo, um tanto ansiosa. Seria desejar algo extraordinário que o francês, que ainda completaria a maioridade de vinte e um anos dali a dois meses e poucos dias, não estivesse impactado com o que vivenciara no dia anterior.

Se o pupilo do dourado de Aquário ainda sofria pela proximidade do local onde jazia o corpo de sua mãe, o mestre parecia repensar seus métodos, afinal, não haveria de ter ganhado aquela nova oportunidade de vida apenas para treinar o oitavo sentido do jovem Hyoga. Haveria de existir um propósito mais profundo na atitude de Athena em trazer das estrelas seus amados cavaleiros dourados.

Com raios luminosos de um azul indescritível, protegia a comitiva como se fosse um escudo enquanto extensões de seu cosmo frio impediam que o vento gélido retardasse a caminhada, principalmente daquele que ainda considerava o menos preparado para aquela missão. Os fios rubros esvoaçam ante a brisa que se formava no interior daquela formação de energia do aquariano, deixando os outros três admirados com sua imponência e segurança frente ao desconhecido destino.

Contudo, por mais que tivesse experimentado em si mesmo a bondade e o cálido cosmo do jovem virginiano... Por mais que tivesse presenciado o que seu poder, mesclado ao de um deus, havia realizado em prol da purificação do congelado rio Angara... Ainda sentia dúvidas a respeito do menor.  Os pensamentos gritavam em sua mente.

– Será que o Shun é capaz de controlar suas habilidades quando enfrentar a verdadeira batalha? Será que a transmutação do gelo na beira do rio não foi um mero golpe de sorte? Afinal, Athena enviou reforços... Se nossa deusa confiasse plenamente em Shun, por que enviara meu pupilo e meu amigo Afrodite, junto com o discípulo de Mu? Como os três chegaram no momento exato do fim da transmutação das águas, se não fossem por ordens de Athena?

As indagações povoavam sua mente tão prática e racional. Parecia conversar consigo mesmo ou com algo invisível aos seus olhos. Imaginava ser sua própria consciência.

– Será esta missão um teste para o menino de cosmo tão imprevisível?

As emoções que experimentara, quando estava dentro da esfera rósea e calma que Shun havia criado, pareciam dar lugar a um sentimento mais racional, questionador, principalmente depois do que conversara com o dourado de Peixes na noite anterior, em frente à acolhedora lareira.

Como a ponta de um iceberg emergindo das frias águas do mar ártico, imagens e memórias emergiam de sua alma, como se algo ou alguém o forçasse a se lembrar, o forçasse a sentir, sem que ele mesmo percebesse tal intervenção externa.

Em seu intelecto, as recordações de quando aprendera sobre o fenômeno meteorológico que dava nome ao golpe considerado uma herança entre os cavaleiros do gelo fazia-se presente.

Nas regiões polares, cristais de gelo muito finos, conhecidos igualmente como prismas de gelo, cintilavam ao refletir a luz do Sol. Em situações de frio extremo, a temperatura era tão baixa que a umidade do ar congelava e caía em direção ao solo. Devido a luz que se refletia nesses minúsculos cristais de gelo, tinha-se a impressão de que eram como um finíssimo pó de pedra preciosa, com um pó de diamante, com o qual o céu presenteava a terra gélida dos pólos.

Uma herança do mestre Krest, um antigo cavaleiro de Aquário com mais de quinhentos anos de idade que fora responsável pelo treinamento de Dégel.

Uma técnica tão bela quanto mortal, pois o fenômeno com o mesmo nome representava o frio e a morte dos seres vivos, causando, aos povos moradores dos pólos, uma mistura de terror e orgulho.

Como pude usar uma técnica tão sagrada aos cavaleiros de gelo contra meu próprio pupilo?

O pretexto de educá-lo parecia-lhe, no momento, tão inútil quanto a culpa que brotava em seu peito. Um sentimento tão antigo quanto seu próprio treinamento para sagrar-se cavaleiro de Aquário. Há pouquíssimo tempo, havia conversado com Hyoga sobre o mesmo assunto, e ele próprio estava deixando-se levar... Por sua culpa, Hyoga mantinha-se preso ao remorso por deixar a mãe?

Como posso perder-me em memórias? Estou perdendo minha razão... Não!

Logo a imagem da batalha contra seu discípulo transmutava-se na imagem de seu amigo Shaka de Virgem, que se oferecera em holocausto no Jardim das Árvores Salas Gêmeas.

Um bom lugar para se morrer sem manchar o solo sagrado da sexta casa.

Padecera sob a Exclamação de Athena erigida por pelo trio de ouro. Juntamente com Saga e Shura, vira o amigo sublimar-se em estrelas de cosmo luminoso após escrever seu testamento em orientação à deusa sobre o Arayashiki.

Não era surpreendente que Shaka de Virgem fosse o primeiro Cavaleiro de Ouro da era atual que despertar o oitavo sentido e que, no limiar da morte, avisasse à Athena que ela mesma deveria se sacrificar e utilizar oitavo sentido o para derrotar Hades em seu próprio domínio.

Ainda lembrava-se de um diálogo que tivera com o dourado de Virgem sobre o Arayashiki, ainda antes dos meninos que eram símbolo da justiça e da esperança irrompessem pelas doze casas a tentar salvar a menina Saori.

O virginiano dourado explicara que este seria o 8° subconsciente, a Mente Transcendental. Em sânscrito, Alaya-vijnana. De acordo com o Budismo e o Hinduísmo, a formulação do conhecimento e a percepção do mundo exterior seriam processadas através dos cincos sentidos e da mente, que constituem o Rokkon - 六根.

Na doutrina budista ensina-se a existência ainda do Nana-Shiki (Nana significando sétimo, Shiki significando saber), Hás-shiki (Ha significando oitavo) ou Arayashiki e Kushiki (Nono saber). Ensina-se que desses nove saberes ou sentidos, o oitavo e o nono, são independentes da existência ou da extinção do corpo, ao contrário do sétimo saber e das seis raízes que se extinguem junto com a extinção corpo físico. 

O Oitavo Saber ou Arayashiki, funcionaria como um depósito das ações, pensamentos e desejos, bons ou maus. Sendo esse Arayashiki inextinguível, as memórias das vidas anteriores continuariam armazenadas, demonstrando a imortalidade da alma e o ciclo de reencarnações que possibilita a evolução espiritual do ser humano.

Mesmo com acesso a todo este conhecimento, Camus insistia em pensar que não meditara na melhor atitude, na melhor forma de resolver o conflito que havia ceifado a vida daquele inocente civil naquela maldita fábrica, que havia agido por impulso e não por defesa da própria vida. Dúvidas sobre seus atos e a sensação de morte parecia perseguir sua alma aparentemente fria e controlada, causando-lhe angústias que esforçava-se em não demonstrar aos companheiros de caminhada.

Contudo, não conseguia conter as dolorosas perguntas que se faziam em sua mente, como se sua consciência o cobrasse por cada ato, por cada atitude que causara um fim trágico e inesperado.

Por minha culpa, a viúva ainda chora o marido morto... Quantas mortes causei? Quantos inocentes ainda morrerão por minhas mãos? Por que essas lembranças tão antigas estão emergindo? Onde está meu auto-controle?!

Concentrava-se em seu cosmo, era o que podia fazer.

Concentrava-se na missão, era o necessário a fazer.

Controle-se. Liberte-se disso. Está no passado. Ninguém é culpado dos fatos que aconteceram. Ninguém!

Dizia Camus para si mesmo, na tentativa de domar sua mente. Algo fazia que as imagens retornassem cada vez mais fortes, cada vez mais intensas.

Concentrava-se, mas era em vão. Os olhos da viúva com o marido morto nos braços pareciam surgir a sua frente cada vez que tentava não pensar em seu passado.

Não demonstrava o que sentia. Aquela era uma batalha que travava dentro de sua mente, nada poderia dizer. Precisava manter-se firme, afinal, Athena o enviara confiando que cumpriria a missão com êxito. Desejava ser digno da confiança da deusa, e não percebia a externa manipulação sutil de suas reminiscências.

Atrás de si, igualmente, o cavaleiro de Cisne mantinha silêncio, apesar de sua mente estar em efervescência. Pensava em seu querido anjo... Aquele pequeno e frágil cavaleiro que agigantou-se para salvar Seiya da espada de Hades e oferecer-se em ritual para cumprir o pedido da deusa... Aquele mesmo anjo o havia ajudado a libertar-se daquelas dores que tanto o torturavam, desfazendo a tristeza de seu coração... Aquele que havia acalmado sua alma, contudo, ele mesmo pedira que deixasse uma daquelas amarguras que o mortificavam.

Como posso deixa-la ir?

Permitir-se libertar, parecia, para Hyoga, esquecer a relevância daquela que ofertara a vida em sacrifício para salvar o próprio filho.

Como não mais sofrer por este sacrifício? Será que deixar de sofrer significa não honrar sua memória?

Para o contido Cisne, a resposta era um simples ecoar de um sim em sua mente. Imaginava que sofrer e condoer-se eternamente seria a melhor forma de manter a memória da amorosa mãezinha viva em si. Não conseguia vislumbrar outro caminho. E todas as tentativas de auxílio seriam infrutíferas se ele mesmo não desejasse, do mais profundo de sua alma, libertar-se das tristes lembranças e aguardar, com resignação e fé, o momento do reencontro.

O virginiano caminhava entre o amigo aquariano e o mestre pisciano, que protegia a retaguarda. Afrodite sabia que algo estava por acontecer. Podia sentir a energia do cosmo que Camus enfrentou a arrepiar cada um dos pequenos pêlos de seu belo corpo. Um calafrio que lhe percorria a nuca, como uma sensação de mal presságio. Como se caminhassem rumo ao infortúnio certo.

Por mais que o dourado de Aquário criasse aquela proteção azulada, tão reluzente, o mal parecia pairar no ar, flutuando como os flocos pálidos que caíam naquela manhã.

Sentia uma sensação semelhante àquela que sentira quando enfrentara seu querubim caído das estrelas na batalha mortal na casa de Peixes. Como os outros, conversava consigo mesmo, mentalmente.

Desde que Athena me presenteou com esta nova oportunidade de caminhar entre os seres viventes do planeta, tenho empreendido grande esforço para me redimir pelo que fiz à este menino aqui à minha frente... Ele tentava salvar a deusa enquanto eu creditava ao poder do mais forte a missão de dominar os fracos... Quanto engano eu cometi...

Seus olhos de um azul celeste tão límpido já estavam repletos de lágrimas, prestes a despencar por seu belíssimo rosto. Tentava não piscar os olhos, esforçando-se para conter o pranto e os pensamentos intrusos que se infiltravam entre os seus.

Tentei auxiliar a empreitada de Shion em despertar a armadura de Athena, sob o risco de ser considerado traidor... Tentei me redimir... Tentei me livrar dela... Maldita culpa!

As frases parasitas surgiam em sua mente como se fossem originadas de sua própria alma.

Foi por isso... Foi por causa da minha culpa que cuidei dele, depois que revivi...

Os gritos vindos do Templo, ouvidos logo após reviver por meio do sacrifício de Andrômeda, pareciam ecoar em seus ouvidos como se estivessem acontecendo novamente naquele momento.

Por que este assunto em minha mente agora? Por que este sentimento estranho?

O pisciano fitava o jovem de cabelos cor de linho à sua frente e sorvia profundamente o aroma floral que deles emanava, quando assustou-se com a súbita imagem daquela rosa branca sangrenta que golpeara o coração do menor.

Por que novamente esta triste lembrança de um momento infeliz? Talvez não deveria ter me envolvido tanto com esse menino... Sempre fui tão independente e agora estou gastando meu precioso tempo me preocupando com este... com este...

Por mais que se esforçasse, parecia não encontrar a palavra certa para empregar. Balançou a cabeça, de forma rápida, em negativa e esmerou-se em buscar seus verdadeiros sentimentos.

Tocou com cuidado as sedosas madeixas castanhas que suavemente bailavam à protegida brisa do cosmo de Camus, lembrando-se do carinho que nelas fizera na noite anterior, quando o menor acordara e buscara refúgio e segurança em seu abraço.

Não! Este é o meu querubim caído das estrelas! Este é o meu kerub! Malditas lembranças! Por Athena, por que agora?!

Alheio às divagações dos companheiros de missão, Shun orava à sua boreal constelação guardiã que os guiasse em segurança. Orava em agradecimento à deusa, por enviar os amigos tão amados para auxiliarem na tarefa que precisavam empreender.

Orava, como se suas vidas dependessem daquelas preces singelas dirigidas à Athena e à Almak, estrela de maior magnitude e beleza de seu signo guardião.

Sabia que, da mesma forma que a constelação de Peixes estava ao lado da de Andrômeda na imensidão do espaço extraterreno, Afrodite estaria ao seu lado, e o protegeria de qualquer mal, como mestre zeloso por seu pupilo.

Com certeza, o pisciano cuidaria do discípulo que tanto amava, o seu kerub, e o protegeria com sua vida, se necessário fosse.

As escarpas rochosas repletas da mais pura e branca neve erigiam-se do solo de forma intimidadora. Quem observasse os cavaleiros ao longe apenas enxergaria pequeníssimos pontos protegidos por uma aura azul brilhante em meio àquele deserto congelado.

Como espinhos afiados, os taludes de pedra ameaçavam a vida de qualquer peregrino. Nenhuma forma de flora ou fauna locais pareciam resistir, o inóspito local refreava a toda vida e toda intenção de prosseguir na tarefa de exterminar aquele cosmo maligno.

Caminharam em marcha firme e silenciosa até avistarem um foco onde se podia perceber uma quantidade imensa de energia que era sugada para o solo, levantando uma neblina gélida como se estivem em frente a uma cachoeira caudalosa. 

A energia maléfica fazia com que as pessoas enfrentassem seus maiores medos, como forma de libertação, no desejo de purificar a terra e refreava toda intenção de eliminá-la.  Havia deixado os habitantes da cidade russa de Irkutsk atordoados e impactados por terem suas energias sugadas e utilizadas para algo além do que poderiam simples civis compreender. Uma ameaça além do poder cósmico comum. Um mal capaz reviver as mais íntimas lembranças. Capaz de fazer emergir as sombras e as dores morais mais atrozes que um ser humano pudesse vivenciar.

(Continua...)


Notas Finais


Essa cosmo-energia das trevas continua mexendo com as emoções dos meus amores...
Postarei o próximo capítulo na 4ªfeira, pela organização aqui...

Obrigada a todos que nos acompanham até aqui e que estão curtindo ler esta fic.
Bjs! ;-)

PS: Link para as fics que serviram de escopo para esta:
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--1a-temporada-5785039
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--2a-temporada-6074433
Obrigada pelo carinho! Como sempre digo, aceito opiniões e sugestões!
Beijos!!!


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