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História Reflexões da Alma - Reflexões do Cisne


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!

Não vou me despedir por hoje, pois ainda teremos um epílogo...
Sou meio avessa a despedidas... Sempre choro...
E, como nos primeiros capítulos, retornando ao narrador inicial dessa fanfic, Hyoga.

Boa leitura e boas reflexões.
Bjs! :-)

Capítulo 33 - Reflexões do Cisne


Fanfic / Fanfiction Reflexões da Alma - Reflexões do Cisne

No interior da casa, os cavaleiros e o pequeno Kiki fizeram um semicírculo próximos de Mu, e desapareceram no ar, deixando a morada dos cavaleiros de gelo tomada por um imenso silêncio, para enfrentarem a anarquia que parecia ter tomado a casa de Áries. Teriam de enfrentar toda a elite dourada, um certo irmão ciumento, e, ainda, Athena e o Grande Mestre, que por aquele momento, já se encontravam nas escadarias próximas à primeira casa.

-----*-----

O local, que por tantos séculos testemunhara os treinamentos dos cavaleiros de gelo...

Aquele  lugar que meu mestre tanto amava...

Agora, voltaria à sua paz quase soterrado por metros da mais pura neve.

Tão pura quanto aquele que nos ensinou como lidar com nossas emoções e que desenterrou os esqueletos de dor sepultados no mais profundo de nossa alma e limpou-nos da amargura a tantos anos reprimida.

Estranhamente, como poucas vezes eu havia visto, meu mestre Camus sorria. Era algo com que os dourados, certamente, não estavam acostumados. Tenho certeza que aquele amigo dele, o Milo, adoraria ver. Mas isso há de ficar entre eles.

Segurei a mão de meu mestre, enquanto a Afrodite carregava meu anjo em seus braços. Pensei até em sentir uma ponta de ciúmes, contudo, depois dos últimos acontecimentos, não teria porque reclamar.

Se não fosse por aquele dourado, ainda estaria me condoendo de preocupação no Santuário e não teria me libertado na direção da felicidade.

Realmente, quando ele nos encontrou conversando debaixo daquela árvore, no dia seguinte ao Solstício de Inverno, eu nunca poderia imaginar o que estaria por vir. Ainda fiquei ensimesmado com aquelas rosas amarelas e todo carinho que Peixes oferecia ao meu anjo, mas depois dos últimos acontecimentos. 

Shun agiu mesmo como um anjo na vida de nós quatro. Quando Afrodite nos disse que ele teria uma missão muito importante diante dessa nova era que se aproximava, que estávamos nos estertores da era das guerras, e que alguns conflitos se espalhavam pelo mundo, que Saori contava com ele, cheguei a não acreditar...

Principalmente quando falou que a função de meu anjo nestas missões seria focada na nova habilidade do cosmo dele...

Nunca poderia passar sequer pela minha mente que a pacificação não seria apenas de uma região atingida por algum ser maligno, mas que se ampliaria aos nossos próprios conflitos internos como pessoas e como cavaleiros...

Com certeza, Afrodite já planejava vir junto, ele não dá ponto sem nó... Quando brincou dizendo que talvez fosse junto, estava avisando que com certeza viria junto. Vou guardar esse detalhe na memória. Sempre acreditar nas ameaças de peixe dourado.

Com todas as coisas que aconteceram, só quero ver como está Ikki no Santuário...

Quando o mestre do Shun chegar com ele assim, febril, nos braços, ele vai ter um ataque de fúria...

Apesar dos meus devaneios, precisávamos retornar.

Segundos após desaparecermos da morada de meus ancestrais cavaleiros do gelo, localizada na região leste da Sibéria, próxima à Bluegraad, reaparecemos na primeira casa do Santuário.

Uma situação interessante...

Afrodite com Shun no colo, todo encolhido, abraçado ao pescoço do mestre, enquanto Mu apoiava a mão direita no ombro do cavaleiro de Peixes.

Com a mão esquerda, Mu tocava o ombro de meu mestre Camus, que segurava a mim com uma das mãos e Kiki com a outra.

Nós seis chegamos em meio a um grupo de cavaleiros dourados discutindo, bem no momento em que Shaka se preparava para começar a bloquear os sentidos de alguns.

Aquilo seria mesmo engraçado de se ver, mas uma voz enérgica e dolorida fez todos silenciarem, ao gritar pelo nome do jovem cavaleiro que trazia em si tanta esperança para o futuro de paz.

– Shun! – Chamava Fênix, no momento que vira o pisciano com o menor nos braços. – O que houve com ele? O que vocês fizeram?

– Calma, Ikki, ele está apenas dormindo. Está cansado, somente isso... – Tentei esclarecer, ajudando o mestre de Shun, mesmo sabendo que ele não precisava de meu auxílio.

Se Ikki quisesse brigar com alguém, que brigasse comigo porque, se não fosse por Afrodite, meu anjo teria morrido. Então, preciso admitir que, agora, tenho uma dívida de gratidão com esse tal peixe dourado. Mas Fênix continuava nervoso, e eu até preciso dar razão a ele...

Se eu estivesse em seu lugar, talvez faria a mesma coisa...

– Não te perguntei nada, pato! 

– Chega dessa discussão, Fênix. Basta o que enfrentamos hoje. Precisamos de paz. – Respondeu meu mestre, surpreendendo a todos.

– Até você, cubo de gelo! – O jovem leonino não se aguentava de ansiedade, e aproximou-se rapidamente de Afrodite. Desta vez, não foi repreendido pelo Aiolia por sua postura deselegante e desrespeitosa com os dourados. Nem mesmo Peixes fez se irritou com ele.

Acho que todos pareciam compreender o quando estava preocupado com o irmão mais novo e relevaram, de certa forma, aquela maneira jocosa com a qual ele se expressava. Com carinho, acariciava os cabelos cor de linho que pendiam em suaves ondulações pelos ombros do pisciano, que ainda segurava, em silêncio, seu amado pupilo.

Ao toque do irmão, Shun acordava e o fitava com seu olhar esmeraldino, que tanto aquece meu coração quando o vejo, exausto mas repleto de alegria pela sensação da missão cumprida.

As bochechas coradas e quentes denunciavam o seu estado febril. Algo até esperado depois de enfrentar o frio siberiano. 

Principalmente depois de me salvar a alma e de quase perecer sob aquela nevasca para me libertar de minha culpa que me afundava até regiões mais profundas que o túmulo congelado do corpo de minha mãe, ameaçando afogar-me de vez em angústia e tristeza... 

Ficamos em silêncio enquanto ouvíamos perguntas, oriundas de todos os lados, dos dourados e amigos desejosos em saber o que acontecera nos últimos dias.

Não era possível falar nada diante de tamanha confusão.

Antes que começassem as discussões sobre conjecturas a respeito da missão, fomos interrompidos pelo amplo e amoroso cosmo de Saori, que nos envolvia em emanações de amor e bondade.

Como agradeci aos deuses sua chegada no momento certo!

Já estava começando a me impacientar com tudo aquilo.

Nem parecia o mesmo Santuário que eu havia deixado para trás há dois dias atrás, seguindo Afrodite e Kiki...

Envolta por um brilho ímpar, Saori pediu a Shion que nos transportasse a todos até uma das arenas, em forma circular como um pequeno coliseu, que haviam no Santuário, de onde poderia ser vista e ouvida sem problemas.

Todos ansiavam por explicações e inquietavam-se, até que Dhoko precisou intervir.

– Sei que estão ansiosos, mas vamos nos sentar. Tenho certeza que nossa deusa há de nos auxiliar a entender a pequena confusão que se instalou no Santuário desde ontem.

Neste momento, os dourados sentaram-se próximos, até Aldebaran, que estava fora em missão nas Américas, ali estava. Deve ter chegado enquanto estávamos ausentes.

Os dourados de Leão e Capricórnio ainda reclamavam por causa de toda aquela confusão, um provavelmente por causa do enfurecido Fênix e outro por perceber a bagunça instalada em menos de dois dias no organizado Santuário. Shura tinha esse jeito de deixar tudo certinho, e era até engraçado vê-lo aborrecido.

Seiya estava com uma fisionomia estranha... Parecia chateado com alguma coisa... Olhava de soslaio para Aiolos e Seika, que sentaram bem próximos... Será que o mestre de Sagitário e a irmã do meu amigo estão... Ah, isso é problema deles, melhor nem pensar a respeito, agora. 

O mais interessante era o mestre ancião Dhoko que não parava de rir ao ver que Shiryu tentando, em vão, explicar o que estava acontecendo ao nosso amigo Seiya, que parecia não entender o porquê daquela reunião. Será mesmo que ele não percebeu o que aconteceu nestes dias? Será que estava tão preocupado com a tal relação entre sua irmã e seu mestre? Não... Ele não poderia ser tão cabeça de vento assim... Ou poderia?

O que começou a me incomodar mesmo foi Milo olhando fixamente para meu mestre. Parecia intrigado com sua expressão tranquila...

Se eu não tivesse presenciado o que Shun foi capaz de fazer, acho também ficaria incomodado com a diferença que se percebia na fisionomia de Camus. Ele sempre parecia sisudo e preocupado com algo que nunca consegui entender o que era. Até aquele momento.

Contudo, o que mais me surpreendeu e deixou Milo fervendo de raiva foi quando meu mestre passou o braço por cima dos meus ombros de forma a me trazer para perto dele, com um carinho paternal que nunca havia sentido.

Aquela missão parecia ter mudado os sentimentos do meu encouraçado mestre.

Tenho certeza absoluta que o escorpião desejava ardentemente saber o que havia realmente acontecido, mas, por causa daquela reunião de Athena e Shion, precisaria guardar suas milhares de perguntas para mais tarde. Parecia estar com vontade de distribuir agulhas escarlates para ter Camus com a atenção exclusivamente para si. 

O cavaleiro de Câncer também não conseguia ficar parado no mesmo lugar. Aquele suspense todo o irritava ao extremo e a vontade de enviar todos ao Yomotsu parecia incontrolável.

O outro mestre do meu anjo, o dourado de Virgem, sentava-se ao lado de Mu e daquele chatinho do Kiki, ambos não conseguiam deixar de transparecer um sorriso orgulhoso.

Ainda consegui escutar a conversa deles, quando Mu puxou o assunto, contente e satisfeito.

– Meu caro amigo Shaka, acho que seu pupilo conseguiu cumprir a missão que Athena e Shion designaram.

– Creio que algo deveras grave aconteceu além de uma missão diplomática à cidade Irkutsk, na Oblast russa. Não foi apenas o lago Baikal que se beneficiou das energias de transmutação de Andrômeda. Parece-me que essa missão de Camus e Shun mobilizou-nos a todos de maneira que somente Athena parece ter consciência.

– Então, supõe que nossa deusa imaginava o que aconteceria? – Perguntava o ariano, demonstrando surpresa no olhar.

– Tenho plena convicção.

– Interessante... Reparando melhor, parece-me que estás sorrindo... É isso mesmo, meu amigo?

– É possível que todos tenhamos nos surpreendido com o jovem Andrômeda.

O pequeno lemuriano fitava, impressionado, o sorriso que o Shaka exibia. Nunca ninguém havia visto aquela fisionomia na face do poderoso cavaleiro dourado de Virgem e o mestre de Áries, percebendo a forma com que Kiki olhava para o outro dourado, mexeu-lhe os cabelos espetados e falou-lhe ao ouvido, repreendendo-lhe de um jeito que deixaria muitos com inveja, tamanho carinho colocado nas palavras.

– Não é educado encarar as pessoas dessa forma, meu pequeno...

– Mas ele nunca sorri! Isso é incrível! –  Dizia o pequeno, em um jeito tão natural que fez os mais velhos sorrirem abertamente, como se desanuviassem a alma das reflexões que faziam em suas mentes já esquecidas da sinceridade inerente daquela idade.

No outro lado da pequena arquibancada, Ikki, que havia praticamente tomado Shun de Afrodite, colocava o irmão sentado ao seu lado. Contudo, apesar da cara emburrada de raiva, não pôde evitar que o mestre de Peixes sentasse próximo a eles.

O singelo sorriso de Shun, ainda febril, foi como um calmante e sua atitude foi de uní-los, como não poderia deixar de ser... Apoiava a cabeça no irmão enquanto segurava as mãos de Afrodite, que achava engraçado como o menino parecia o único capaz de domar Fênix, transformando-o em um gatinho manso.

Ao perceber que todos pareciam acomodar-se, Saori sorriu. Naquele momento, eu tinha a certeza de ver a estátua de Athena sobrepondo-se à sua sombra no solo ressecado da arena. Parecia perceber que sua intenção ao enviar Camus e Shun para aquela missão havia resultado em mais do que a resolução de um conflito, mas havia afetado todos os cavaleiros do Santuário, em maior ou menor grau.

Todos haviam se unido de alguma maneira, inclusive Shion, que parecia mais simpático, olhando ao redor com a fisionomia tranquila, como se o passado e o presente de sua vida estivessem ali representados.

O cosmo radiante de Saori demonstrava algo inexplicável, que ela tentou transmitir enquanto explanava as ideias de sua mente divina. A maioria dos cavaleiros parecia inquieta, aguardando o que Athena diria.

As cores do entardecer iluminavam aquela pequena construção em formato de coliseu com belos alaranjados que refletiam em seus longos cabelos de um tom castanho claro tão suave quanto as próprias luzes do sol que adormecia no horizonte.

Do lado do dourado de Câncer, Milo não se aguentava quieto e quase foi enviado com uma passagem somente de ida para o Yomotsu. A conversa deles podia ser escutada de longe. Contudo, eu não podia deixar de rir dos ciúmes dele com relação a meu mestre e a mim.

– Fica calmo, scorpione!

– Você acha que eu consigo ficar aqui, enquanto Camus está lá cheio de chamego com Hyoga?

– É o pupilo dele!

– E precisa ficar assim, abraçando?

– Quando Athena terminar, si parla di lui.

– Eu não vou ficar atrás dele. Se quiser conversar, ele que venha até mim! Nunca vi Camus desse jeito! Até com o Kiki ele está simpático! Tem até um sorriso no rosto!

– Só porque suo sorriso non è di per voi, não precisa ficar assim, così nervosa!

– Ora, vamos ver quem vai sorrir depois...

Enquanto eles discutiam, Marin e Shaina achegaram-se, sem sentar-se e mantiveram de pé na entrada da arena. Antes que Milo terminasse a frase, Shion chamou a atenção de todos, pedindo atenção para a Saori, que se portava calma e resplandecente diante de todos, enquanto uma brisa fresca invadia o local, esvoaçando levemente suas madeixas claras. Realmente, o cosmo de deusa se manifestava belamente em sua aura divina. Falava de maneira tranquila, acalmando os mais agitados.

– Meus queridos cavaleiros e amazonas, e querida Seika, é com muita alegria que me dirijo a vocês nesta tarde de inverno. Presumo que os cavaleiros dourados já estejam ambientados e melhor adaptados à nova vida que ofereci em gratidão ao que fizeram por mim e para defender este mundo por meio do exercício da justiça. Sei que muitos ainda estão encontrando seus objetivos ou reencontrando seus ideais. Precisávamos de um ponto de união e creio que conseguimos. Por mais que não entendamos o caminho que trilhamos, nossos sentimentos e ações nos trouxeram até aqui. Cada um por sua própria estrada... Todos chegaram até aqui, todos se uniram, inclusive aqueles que menos imaginávamos que poderiam se aproximar.

– Afinal, Shion e você sabiam ou não que Afrodite e sua carriola haviam partido atrás de Camus e Shun? – Interrompia o inquieto escorpiano, tornando real o que muitos desejavam perguntar.

– Meu caro Milo... rodeiam-nos as palavras, em todas as fases da luta e em todos os ângulos do caminho. Frases respeitáveis que se referem aos nossos deveres, seja como deuses seja como cavaleiros e amazonas. O verbo amigo trazido por corações dedicados nos animam e nos consolam. Contudo... discursos vazios, os nossos ouvidos acabam por lançar ao vento... E o que é realmente saber? Do que podemos realmente ter certeza neste mundo? – Perguntava fitando o olhar de cada um presente no recinto. Todos silenciaram ao questionamento da deusa. O som suave que a brisa do entardecer se espalhava como o cosmo divino da dileta filha de Zeus. Ante a quietude dos presentes, continuou sua explanação.

– É importante que lembremos que o saber verdadeiro não se faz sem um pouco de sofrimento, da mesma maneira que podamos e guiamos com metal uma pequena muda que virá a se transformar em um belo bonsai. A dor nos impulsiona para a aprender e despertar habilidades adormecidas em nosso ser. E tenho certeza que, agora, podem perceber e compreender o que digo.

Não pude deixar de notar Aiolia desviando o olhar para o esquentado discípulo, que tinha a cabeça do irmão apoiada em seu ombro. Sua mente parecia questionar suas atitudes, afinal quanta dor Shun e Ikki não haviam sentido desde Athena venceu Hades nos Elíseos... Será que estaria realizando um bom trabalho como mestre daquele leonino feroz que rivalizava tanto ele?

Percebendo a inquietude do leonino, Aldebaran segurou o ombro de Aiolia com firmeza, e lhe falou de forma que todos ouvimos, como a responder as dúvidas de um dos dourados mais jovens entre a elite.

– Você está fazendo um ótimo trabalho. O simples fato de Ikki ficar no Santuário enquanto Shun saía em missão já demonstra que estes últimos meses de treinamento tiveram um bom resultado, meu rapaz.

Todos nós olhamos para Aiolia e calamos até nossos pensamentos. Somente a brisa do entardecer podia ser ouvida.

Quebrando o silêncio instaurado, Saori suspirou profundamente, parecia ainda meditar na pergunta do cavaleiro de uma das constelações mais questionadoras entre as doze solares.

– Respondendo mais diretamente sua pergunta, Milo, apenas confiei que seguiriam suas intuições e que, por si só, o caos se abrandaria como consequência natural da vida. Nada há que dure para sempre, exceto uma coisa. – Interrompeu a fala e fitou o céu alaranjado que salpicava-se de pequenos brilhantes, demonstrando que logo a noite chegaria. – Somente podemos ter a certeza de que uma coisa dura para sempre. O amor. Somente este belo e puro sentimento é capaz de durar e transpor todas as épocas, todas as dúvidas, todas as dimensões.

Meu mestre, então, fitou o olhar curioso de Milo, que estava sendo contigo pelo firme braço do canceriano. Não somente os dois fitavam-se intrigados. Afrodite também olhava para Shaka, que mantinha as pálpebras cerradas e um sorriso suave, característico de quem parecia escutar algo do qual já tinha conhecimento. A nossa deusa, na pessoa de Saori, continua seu discurso que tranquilizava nossa alma.

– Esse amor nasce como água pura da fonte divina, centelha que reside em cada um de vocês desde a criação da humanidade. Muitas vezes nos mantemos despercebidos e acabamos por não lhe assinalar o aviso, o cântico, a lição e a beleza. O amor é o laço que nos une a todos. Indica o nosso roteiro de evolução e aperfeiçoamento. Os horizontes divinos da vida se descerram até nós com o objetivo de ensinam-nos a levantar os olhos para o mais alto e para o mais além e perceber que este amor deve permear nossos pensamentos e atitudes. Esqueçam as palavras que os incitam à inutilidade aproveitem quantas mostram as obrigações justas e ensinam a engrandecer a existência. Não olvidem as frases que os acordam para a luz e para o bem. Elas podem penetrar vosso coração através de um amigo, de uma carta, de uma página ou de um livro. Do amor fraterno, do amor filial, do amor paternal... Simplesmente, do amor. Peço para que guardem com vocês as palavras e os sentimentos vividos nestes últimos dias porque são as atitudes santificadoras da existência de cada dia, e, sobretudo, o nosso seguro apoio mental nas horas difíceis das grandes renovações. Começando em um indivíduo, termi­na por envolver todas as criaturas. O mal ainda surgirá em outras partes do planeta até que realmente se chegue à era de paz tão almejada, até que finalmente cheguemos à nova era tão esperada.

– Com licença, Athena. – Solicitava a palavra o dourado de Virgem.

– Sim, Shaka. Pode falar. – Dizia Saori.

– É fundamental que meditemos sobre os últimos acontecimentos, contudo. Sinto as energias da Terra em ebulição no momento em que conversamos. Sabemos que os laboratórios científicos ainda não detectaram nenhuma modificação, mas sinto um abalo importante nas placas de acomodação do globo.

– Esse era o próximo assunto, Shaka... Também senti essa alteração e creio que não é algo totalmente natural. A luz e as sombras estão em grande conflito. Precisaremos mediar estes embates para que não se espalhem ou se desenvolvam. Creio que teremos algumas semanas para nos prepararmos para esta missão e tenho certeza que aqueles que convocarei aceitarão com muita responsabilidade esta incumbência. Amanhã, poderemos todos conversar melhor a respeito. Por hoje, peço que permitam que Camus, Afrodite, Hyoga e Shun, e nosso pequeno-grande Kiki, descansem das tarefas que cumpriram com pleno sucesso.

– Athena. – Completava Shion ao término das palavras da deusa. – Precisamos urgente dos relatórios da missão, afinal os cavaleiros de Peixes e de Cisne seguiram até a Sibéria sem nossa anuência...

– Eles receberam nosso apoio e cumplicidade, mestre Shion... De todos nós. – Afirmava com paciência o dourado de Áries, levantando-se e ficando de pé em seu lugar, como a representar os olhares de todos os presentes. – Inclusive, autorizei meu pupilo, Kiki de Appendix, a leva-los até onde estavam Camus e Shun.

Um silêncio instaurou-se imediatamente. Ainda era difícil para o Mestre do Santuário, para aquele que representava a continuidade do passado no presente, e que nos auxiliaria com sua experiência, no futuro vindouro, compreender tal ato por parte dos cavaleiros dourados daquela era. De forma a tentar amenizar a situação, o mestre ancião Dhoko logo pronunciou-se e ficamos a observar e escutar o que diziam os dois mais experientes cavaleiros do Santuário.

– Meu amigo Shion... Lembra-se de nossos treinamentos para nos sagrarmos cavaleiros? Você, Suikyo, e eu? Lembra de quando brigamos porque eu queria sair do Santuário para ir atrás de um cosmo suspeito e você me impediu de sair, porque não tínhamos permissão do Grande Mestre? Se me lembro bem, no final de nossa conversa, além de não solicitar a  tal permissão, você ainda foi comigo...

– Quando você deixou o Santuário sem autorização e eu te segui? – Interrompia Shion. – Essa atitude se deu por um bem maior, meu amigo Dhoko. Nós quase conseguimos impedir o surgimento de Hades e da Guerra Santa...

– Conte a eles... Merecem saber de você o que houve...

Tomando uma respiração profunda, Shion continuou.

– Um rapaz nos impediu de dar fim à Guerra Santa antes de mesma começar... Fomos impedidos pelo cavaleiro de Pégasus daquela época, Temna... Eu teria decapitado do jovem Alone, o receptáculo anterior de Hades, se não fosse pelo amigo dele...

– Também foi quando descobrimos que nosso amigo Suikyo se tornara um dos Juízes de Hades, o Espectro de Garuda. Por isso seu receio com o jovem Shun, não é?

Ao escutar o nome de meu amigo, me soltei do abraço do meu mestre e fiquei de pé em meu lugar. Fênix também levantou-se com fisionomia de poucos amigos, deixando o irmão aos cuidados do pisciano, que ouvia a tudo em silêncio, esperando o desfecho daquela conversa.

Como tantas confusões poderiam ter acontecido em tão pouco tempo?

Parecia que havia sido no dia anterior que Afrodite nos encontrava debaixo daquela árvore, e insistira para que Shun se alimentasse direito, lhe oferecendo aquela porção de morangos que eu havia levado para nós. Tantas mudanças de sentimento causavam-nos uma sensação de distorção do espaço-tempo enquanto observávamos a conversa na arena como quem observava a cena de um filme. Afrodite abraçou Shun apertado a si naquele momento.

Ikki parecia confiar nele, tanto que levantara impetuosamente, deixando o irmão febril aos cuidados do mestre de Peixes.

– Você não vai encostar no meu irmão, Shion! – Gritava Ikki, se preparando a defender o menor.

– Por favor, tenhamos calma... – Saori tomava para si a palavra novamente, emanando seu caloroso cosmo de forma a tranquilizar os ânimos que começavam a se exaltar. – Todos estamos nos adaptando a esta nova fase do Santuário. Tenho certeza que Dhoko auxiliará Shion e ambos esclarecerão qualquer dúvida sobre os fatos do passado, que resultaram no presente que estamos vivenciando hoje.

Fênix voltava a sentar-se ao lado do irmão, tomado pela paz que a deusa transmitia, assim como o dourado de Áries e os dois cavaleiros da Guerra Santa anterior. Sabíamos que Shion tinha dificuldades em lidar com a saudade de seus antigos companheiros e que este sentimento lhe apertava o coração e lhe trazia algumas dificuldades de convivência com os atuais cavaleiros.

Contudo, precisava confiar nas palavras da deusa e no apoio do amigo Dhoko para se aproximar dos jovens que vergavam as armaduras douradas e as armaduras de bronze atualmente. Aquele incidente dos cavaleiros se unirem para nos acobertar mostrara a ele a necessidade de se permitir novos sentimentos e novas amizades.

Percebendo que todos pareciam mais calmos, a deusa continuou.

– O amor fraternal que compartilham como cavaleiros e amazonas ameniza as dores do caminho e suavizam os corações marcados pelas batalhas. O amor é como uma oração que fenece as tristezas e asperezas da jornada. O entardecer adormece os ninhos, nos trazendo o luar que ilumina nossos caminhos. Gostaria que todos se acalmassem, ficando em paz. Posso confiar em todos? 

O silêncio das vozes e a calma dos cosmos eram a resposta que ela esperava.

Dito isto, Saori retirou-se do local junto com Shion, deixando-nos à vontade para conversamos melhor naquele início de noite. O céu começava a pontilhar-se de pequenos brilhantes, como a coroar o final daquela missão que havia sido muito mais que diplomacia.

– Se Athena te convocar novamente, vou junto. – Afirmava Ikki, puxando o jovem irmão pelos ombros para próximo de si.

– Pensa que deixarei meu pupilo em risco, Fênix? – Crispava o pisciano, que segurava a mão quente de Shun entre as suas.

– E vocês pensam que dessa vez vão me deixar pra trás? Também quero um pouco de diversão! – Falava Milo, em alto tom, chamando para si a atenção dos outros cavaleiros, que também riam com a reação intempestiva do escorpiano.

Meu anjo sorria diante daquela situação, suspirando profundamente. Posso dizer que tenho certeza do que ele pensava naquele momento.

Sabia que seu sorriso doce expressava-se em agradecimento aos deuses ao perceber todos ali reunidos. Se novamente precisasse elevar seu cosmo em batalha, estando ao lado daqueles que amava, unidos em prol da justiça e da paz, sei que ele não terá dúvidas ou receios. Lutaria. Lutaria mais uma vez por Athena e pela Terra. Lutaria ao lado de seus irmãos e de seus amigos. Os maiores bens que poderíamos pensar conquistar neste mundo. O amor fraterno e sinceras amizades eternamente regadas por nossa fé no futuro de paz.

(Próximo: epílogo)


Notas Finais


A figura de capa: http://1.bp.blogspot.com/-flOLvff5K8w/Uyy0lfr7EmI/AAAAAAAACBc/YgxFYHmQOG4/s1600/426074_493546510707536_1128531495_n.jpg

Muito obrigada pelo carinho dos comentários, vcs são uns amores. De verdade!

E obrigada também pelo apoio com a nova fanfic 'Fragmentos de cosmo'
https://spiritfanfics.com/historia/fragmentos-de-cosmo-8285942

Quando penso no que vou escrever, sempre lembro das carinhosas palavras de apoio e me sinto muito feliz.
Obrigada tb aos que favoritam e aos que leem em suas bibliotecas. Muito obrigada.

Estamos chegando mesmo ao fim... Tantas reflexões nestes capítulos... Tantos sentimentos derramados nestas linhas...
Vou sentir saudades...

Na próxima semana, teremos o epílogo. Assim, vou me despedindo aos poucos...
Bjs!


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