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História Reflexões da Alma - A memória da água


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!
Vamos viajar com Camus e Shun para Sibéria?

Estou postando mais cedo, pois precisarei estudar no fds
para uma prova do mestrado, que será na segunda-feira.

Então, vamos ao capítulo.
Bjs!

Capítulo 7 - A memória da água


Mesmo com essa agitação de alguns cosmos no Santuário, a maioria aproveitava aquele dia de inverno como se fosse um outro qualquer em suas vidas. Dali a um mês e alguns dias, aquele ano de tantas batalhas e guerras, que ceifaram a vida de tantos cavaleiros, findaria, fazendo com que ficassem no passado aquelas memórias. Contudo, algumas lembranças ficariam. Precisavam ficar para manter acessa na memória a chama de algumas lições.

-----*-----

Enquanto Cisne tentava acalmar-se em seu quarto no alojamento dos cavaleiros de bronze, no Santuário, o dourado de Aquário e Andrômeda buscavam meios de abrigar-se em um local da periferia da capital de Oblast, uma das divisões da Federação Russa.

Shion havia transportado os dois para um lugar ermo e deserto, de forma a não serem avistados quando chegaram próximos a manancial de gelo que cortava a terra como uma afiada espada.

O rio Angara, que banhava a gélida região, encontrava-se congelado por completo, devido ao rigoroso inverno que se iniciava para o hemisfério norte do planeta. Contudo, o que impressionava o dourado era cor fosca da camada de gelo que cobria por completo afluente.

Ao que parecia à primeira impressão, de acordo com o informado por Athena e Shion, alguns líderes da região estariam causando estragos aos principais cursos d’água que se depositavam no Baikal, fazendo sua superfície espelhada transmutar-se para um tom de cor estranho, preocupando a todos que estudavam o clima e os depósitos de água doce russos.

Apesar de não estarem trajando suas armaduras, Camus pouco se incomodava com o frio de quase dez graus negativos, usando um longo sobretudo preto sobre suas roupas clássicas, que consistiam apenas em uma camisa de tecido verde-escuro, uma calça de um azul quase preto e uma bota de cano alto, acolchoada, com praticamente metade da calça para dentro do calçado. Essa roupa bastava para que se sentisse confortável, enquanto Shun se esmerava em manter-se aquecido embaixo de um grosso sobretudo marrom, de pele com capuz, que o protegia do vento cortante, contrastando com sua calça clara e blusa verde-água.

O menor ainda tremia, mesmo com aqueles tecidos lhe cobrindo, não estava acostumado com uma temperatura como aquelas, e julgou que aquela roupa seria suficiente. 

– Allez, Shun! Non acredito que ainda esteja com frio!

– Se-senhor Camus...

– Non vou ficar esperando por você! Consegue sentir ces cosmos hostiles?

– S-sim...

– Les civils non deveriam ter ces cosmos... Aussi, retornei há pouco tempo de Bluegraad e non percebi nada de estranho.

– Mas Bluegraad não fica à leste, na Sibéria? Estamos longe de lá...

– Vamos procurar resolver logo o que viemos fazer.

O dourado de Aquário caminhava resoluto e apressado, porém a prudência fazia com que não deixasse o outro longe de si. Sempre fora muito prático, reconhecendo a força e o cosmo como fatores decisivos em uma guerra. Mas Shun não possuía a força que pensava ser necessária naquela missão, tampouco um cosmo de domínio do ar frio. Poderia ser um risco para a missão, em vez de ajudar, pensava o dourado.

O virginiano, que se esforçava por acompanhá-lo, podia não possuir exuberante força física; contudo, havia demonstrado seu magnífico cosmo tanto durante as batalhas quanto após o recente treinamento com os dourados de Peixes e Virgem.

Mesmo com estas informações em sua mente, Camus não se conformava em ter de levar o mais jovem, que parecia não resistir às condições climáticas que o local impunha, principalmente em uma missão diplomática como aquela. O que Athena e Shion pensavam quando decidiram enviar Shun?

O aquariano apenas caminhava, enquanto meditava nos motivos de estar naquele lugar com o jovem Andrômeda, quando este começou a utilizar seu cosmo para se aquecer e, então suas pernas lhe respondiam com maior agilidade, ficando mais próximo do aquariano.

– Você non deve usar seu cosmo assim, finir rapidement fatigué quando nous devons agir. [1]

– Poderíamos ter trazido nossas armaduras...

– Elas non são necessárias em uma missão como a nossa. Além disso, nous camouflons notre présence plus efficace ainsi. [2]

O dourado, tão alto e elegante, apreciava o clima gélido, e quem os observasse, pensaria se tratar de um pai acompanhado de seu filho, por causa das vestimentas e da diferença de altura entre eles.

Porém, aquele que Camus considerava verdadeiramente como um filho se encontrava no Santuário. Pensava ser Hyoga o mais indicado para aquela missão junto dele, não aquele menino tão franzino que nunca tinha enfrentado aquele clima hostil. Aquilo parecia mais um teste de paciência que uma missão diplomática.

Era esperado que a cidade de Irkutsk, capital de Oblast, estivesse pulsante mesmo em um dia frio como aquele, com pessoas dentro dos estabelecimentos comerciais ou andando rápido pelas ruas. A capital se destacava por sua importância geo-econômica, com importantes indústrias de madeira, de alumínio e de outros minerais na região. Contudo, ao contrário do que se imaginava, as portas dos comércios estavam fechadas e as poucas pessoas que caminhavam pelas ruas pareciam não se importar com aqueles dois estrangeiros de vestidos de sobretudos longos. Nem viravam os rostos para observá-los.

Sem se deterem ao estranho comportamento dos moradores, os cavaleiros caminharam até afastarem-se novamente do centro urbano e avistarem uma das indústrias que se localizava às margens do rio Angara.

Uma imponente construção de grossas paredes, de dois pavimentos, se estendia ao longe.

Ao se aproximarem, Camus surpreendeu-se. Sentimento raro de se perceber.

O gelo do afluente, que deveria ser límpido e translúcido, estava grosseiramente opaco, parecia maculado por impurezas que advinham de uma construção próxima, assim como os cosmos hostis que havia sentido quando chegaram na região.

Na margem coberta de neve, ajoelhou-se e tocou a água congelada com a palma da mão. Emanando seu cosmo, desprendeu um pequeno pedaço de gelo e, meticulosamente, o analisava enquanto o fazia desfazer-se em fino pó flutuando no ar sobre sua mão direita.

Shun observava a certa distância, de forma curiosa, não se atreveria a interferir.

O dourado conseguia, em um simples movimento, quebrar o gelo em pedaços cada vez menores, de forma a verificar os próprios minúsculos cristais. Era tão belo como o aquariano conseguia analisar as variações da estrutura física dos pequenos pedaços de gelo com se houvesse criado um microscópio sem lentes com seu cosmo.

Após alguns minutos detendo sua atenção ao rio, chamou pelo cavaleiro de bronze, solicitando que se aproximasse para explicar o que havia percebido.  

– Viens ici, Shun. Non se preocupe, a margem ainda é segura. Adverto-o que não toque na água congelada do rio.

– Senhor Camus, descobriu o que está causando essa cor fosca do gelo? É poluição da fábrica?

– Non... Non é poluição. Pelo menos non como rotineiramente falamos. São miasmas de cosmos de ódio...

– E esse tipo de energia pode causar essa alteração na água?

– Sempre soubemos que a água é capaz de carrear as energias nela depositadas, sejam positivas ou negativas. Essas energias sont capazes de modificar la forma et la cor des cristais de gelo. A água possui uma espécie de memória e seus cristais se modificam conforme as energias nela armazenadas.

– Se me permite perguntar, como conseguiu perceber isso?

– Consigo perceber olhando para os cristais... Veja você mesmo como são diferentes...

Com um movimento de mãos e uma pequena quantidade de cosmo, o dourado ampliou um dos cristais de gelo do Angara em sua mão direita, demonstrando seu formato diferente e assimétrico, de cor que lembrava o marrom claro. Na mão esquerda, criava um cristal por meio do cosmo.

Era impossível não perceber a diferença entre eles. Um era desorganizado e amorfo, enquanto o outro era repleto de fractais perfeitos e de um azul brilhante, quase prateado.

O jovem cavaleiro observava com espanto o que dourado lhe mostrava e arriscou um palpite, com base no que aprendera com seus mestres de Peixes e de Virgem.

– O cristal que senhor fez com o seu cosmo está brilhante e belo. Então, cristal do rio está disforme por estar absorvendo estas energias hostis...

– Oui, é o que concluo. Se acabarmos com a origem dos cosmos, quando a água descongelar e fluir, pode ser que o problema se resolva.

– Esse rio desaguará no lago Baikal, não é? O senhor acha que as águas repletas destes miasmas de ódio se espalharão, trazendo mal aos que dela se utilizarem... O que podemos fazer a respeito?

– Com relação a isso, non podemos fazer nada. Só podemos agir acabando com a origem destas energias e esperar que a natureza, com passar do tempo, consiga limpar as águas, uma vez que retiremos a fonte maléfica que a polui.

– Se os cristais absorvem o cosmo negativo, será que não absorveriam e se transformariam se fossem inundadas por um cosmo positivo?

– O lago Baikal é o maior e mais profundo lago do mundo e este rio é um de seus principais afluentes. Somente Athena poderia modificar desta forma tamanha quantidade de água. Nous, cavaleiros, não temos o poder de transmutação de energias. Non somos dotados dos dons que somente deuses possuem.

Dito isto, Camus levantou-se e chamou a atenção do outro para a construção localizada a uma certa distância.

– Consegue sentir?

– Sim, os cosmos hostis parecem vir daquele prédio.

– Vamos até lá. Allez, quero resolver isso antes que escureça. Temos somente mais algumas horas. No inverno, quase non tem sol e escurece rápido. – Falou rígido, sotaque francês carregado nas palavras. Levantantou-se e pôs-se a caminhar na direção dos tais cosmos hostis.

Antes de levantar-se, Shun emanou suavemente seu cosmo róseo e caloroso, e pequenas gramíneas surgiam por entre a neve branca da margem, enquanto ele se imaginava tocando a beirada do rio. Antes que encostasse no turvo gelo do Angara, ouviu novamente a voz de Camus.

– Allez, Shun! Allez!

– Estou indo...

– Eu já disse! Non use seu cosmo daqui para frente, ou, quem quer que sejam, perceberão nossa presença! – Dizia o mais velho, já a alguns metros à frente, de costas para o mais novo, sem perceber o pequenino espaço verde criado pelo virginiano.

Shun sempre fora muito respeitoso com os cavaleiros de ouro e, naquela missão, não agiria de forma diferente mesmo que custasse seguir o aparentemente frio mestre de Hyoga.

Para o dourado, caminhar naquela neve sob o vento frio russo, era algo até de alguma forma, reconfortante. Lembrava-lhe de tempos antigos em que treinara seu discípulo para tolerar o gélido ar da Sibéria. Porém, aquele que o acompanhava na missão demonstrava dificuldade em vencer o vento que se esmerava a empurrá-los na direção contrária à que desejavam seguir.

O menor se esforçava tentando acompanhar mas o ar frio parecia se esgueirar por entre as frestas do casaco e alcançar sua pele alva, fazendo-o tremer as pernas, que não respondiam na velocidade que desejava. Camus ainda estava incomodado, tentava entender os propósitos de Athena em mandar aquele menino, em vez de Hyoga ou outro cavaleiro dourado.

Caminhavam sem direcionar nenhuma palavra um ao outro. Camus à frente enquanto Shun o seguia, tomando cuidado de colocar seus pés exatamente nas pegadas deixadas pelo aquariano, de forma a ter certeza de que onde pisava era seguro e que não colocaria a missão em risco devido à sua falta de experiência em ambientes como aquele.

Pensava no que diria ao seu irmão e ao seu melhor amigo quando retornasse. Nem havia se despedido deles. Fora em missão a pedido de Athena e Shion, que também solicitaram que não falasse com ninguém além do mestre de Peixes. Sua mente viajava de volta ao Santuário.

Como Hyoga conseguia mergulhar tantas vezes para ver o corpo de sua falecida mãe naquelas águas congeladas? Agora, de posse do oitavo sentido, talvez Cisne conseguisse ir mais profundo, até os níveis abissais para onde Camus enviara o navio onde o corpo de sua mãe jazia. Mas o quanto isso faria bem à sua alma? Ela não havia oferecido a própria vida para que o filho sobrevivesse ao naufrágio? Será que ela não gostaria que o filho fosse feliz ao invés de erguer um altar à dor da perda dentro de si, cultuando esta dor sem tréguas?

Apesar de seus olhos estarem focados no sobretudo negro do cavaleiro que caminhava à sua frente, a mente de Shun vagava longe como a imensidão branca que o rodeava. Se estivesse acostumado a caminhar naquele tipo de terreno, talvez Camus não precisasse atrasar o passo para que pudesse segui-lo, ou talvez se Athena tivesse escolhido alguém mais adaptado ao lugar.

Enfim, não adiantava mais pensar sobre o que poderia ter sido feito, mas pensar no que poderia fazer daquele ponto em diante. Era melhor focar seus pensamentos no momento atual, o que havia acontecido já não podia ser mudado. A única opção era seguir em frente.

Estava tentando encontrar, em suas memórias, alguma lembrança que pudesse ajuda-lo a contribuir melhor com o sucesso da empreitada, mas, assim como o dourado, apenas conseguia sentir os cosmos hostis e mais nada lhe vinha à mente. O frio parecia congelar até o âmago de sua alma. Não conseguia imaginar o quão difícil deveria ser treinar ou viver em um ambiente tão inóspito.

O santo de aquário igualmente aproveitava o silêncio da caminhada para suas conjecturas pessoais. Para eliminar focos de cosmos hostis, pensava que não precisava de ajuda, ainda mais de um cavaleiro de bronze que não tinha poderes de manipular o ar frio, habilidade exigida para uma missão como aquela. Concluíra que, após resolver a questão naquela cidade, completaria a missão e logo voltaria ao Santuário, tendo levado consigo um cavaleiro que apenas servira de um atraso desnecessário.Era o que imaginava o pragmático mago do gelo, durante sua caminhada.

Ao se aproximarem da construção de onde sentiam a origem dos cosmos negativos, percebeu que o problema poderia ser um pouco mais complexo do que havia pensado, pois aquele lugar parecia centralizar a energia negativa como o corpo de um polvo a lançar seus tentáculos em diversas direções.

Pelo que podia perceber, Shion os havia transportado para o epicentro do problema e o cavaleiro de bronze que o seguia se transformaria em alvo fácil, se Camus não fosse hábil em resolver a questão. Só não pensava em uma solução para o rio Angara e o lago Baikal inundados por energias negativas, nem pensava nesta parte da missão.

Mal sabia que, caminhando atrás dele, estava aquele capaz de realizar o tal feito exclusivo dos deuses. Transmutar as energias e caminhar livremente entre a luz e a sombra.

              De onde é que vem esses olhos tão tristes?
              Vem da campina onde o sol se deita
              Do regalo de terra que teu dorso ajeita
              E dorme serena, no sereno e sonha
              
              De onde é que salta essa voz tão risonha?
              Da chuva que teima, mas o céu rejeita
              Do mato, do medo, da perda tristonha
             Mas, que o sol resgata, arde e deleita

             Há uma estrada de pedra que passa na fazenda
             É teu destino, é tua senda onde nascem tuas canções
             As tempestades do tempo que marcam tua história,
             Fogo que queima na memória e acende os corações

             Sim, dos teus pés na terra nascem flores
             A tua voz macia aplaca as dores
             E espalha cores vivas pelo ar...


             [1] Você não deve usar seu cosmo assim, terminará rapidamente cansado quando precisarmos agir.
             [2] Além disso, podemos camuflar a nossa presença de forma mais eficiente assim.

 

(Continua...)


Notas Finais


Os estudos sobre a "Memória da Água" foram realizados pelo fotógrafo japonês Massaru Emotto.
É muito interessante.

No próximo, saberemos os planos secretos de Afrodite.

Obrigada a todos que nos acompanham até aqui e que estão curtindo ler esta fic.
Bjs! ;-)

PS: Link para as fics que serviram de escopo para esta:
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--1a-temporada-5785039
https://spiritfanfics.com/historia/no-limite-da-espera--2a-temporada-6074433
Obrigada pelo carinho! Como sempre digo, aceito opiniões e sugestões!
Beijos!!!


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