1. Spirit Fanfics >
  2. Reflexões da Alma >
  3. As últimas palavras

História Reflexões da Alma - As últimas palavras


Escrita por: Dasf-chan

Notas do Autor


Olá!
Postando antecipado!
Finalmente, vamos ver Shun e Camus em ação,
esse é primeira parte da luta próxima ao rio Angara.

Bjs e boa leitura.

Capítulo 9 - As últimas palavras


Também não julgava que estava sendo precipitado. Já havia dado instruções ao cavaleiro de Cisne e, agora, teria a ajuda do pequeno lemuriano. Tudo acontecia conforme havia planejado. O que poderia estar errado em seus planos? Agora, era terminar de se preparar e esperar os dois convidados que chegariam, em sua casa, ao entardecer; o melhor momento para colocar seus planos em ação.

-----*-----

Os dias do inverno siberiano, caracterizados pela pouca quantidade luz solar, poderiam comprometer qualquer missão naquele local da Rússia, mas aquele não parecia ser o caso.

Contudo, em vez de líderes comunitários comuns, o que Camus conseguia perceber enquanto se aproximava daquela construção imponente, alvo de sua busca, eram pessoas de olhar opaco e sem brilho, como os cristais de gelo do rio Angara. Algo de muito estranho parecia acontecer com os funcionários que trabalhavam naquelas redondezas.

Os cavaleiros de Aquário e Andrômeda caminhavam em direção à entrada principal da tal fábrica, quando puderam enxergar um grande portal de madeira adornada com entalhes de escritos antigos e com batentes de pedra escura.

Se não tivessem certeza de que estavam na frente de uma construção em Irkutsk, poderiam imaginar os portões do inverno a dizerem:

ОПΟΙΟΣ МПАІΝΕΙ ΕΔΩ ΝΑ ΠΡΑΤΑ ΚΑΘΕ ΕΛΠΙΔΑ

Aqueles que aqui entrarem, devem perder todas as esperanças.

O jovem virginiano fitava os escritos daquela porta gigante sem compreender o que significavam, pois, diferentemente do portal do inferno, estavam escritas em russo; mas sentia que, quem quer que estivesse naquele lugar, não desejava a aproximação de desconhecidos.

Podia sentir em seu puro coração o cosmo negativo que emanava dos materiais inanimados e das pessoas que caminhavam sem rumo, como uma aura enegrecida, que era sugada para o interior da construção. As energias se condensavam e depois espalhavam-se novamente como tentáculos em diversas direções.

Imaginava se Athena e Shion sabiam realmente do que se tratava a questão, uma vez que foram informados que a missão era para a resolução de uma caso essencialmente diplomático. Se aqueles cosmos hostis estavam sendo sentidos pela deusa na Grécia, com certeza era de uma forma tão sutil, que não pareciam ter sido levados em consideração. Contudo, a visão que podiam ter da entrada da construção era realmente digna do uma das prisões do submundo.

As palavras entalhadas estavam escritas em língua russa, sangue escorrendo de cada letra como se houvessem sido maculadas com um propósito maligno, a sensação de morte pairava no ar, como uma ameaça aos dois cavaleiros. 

ПОСЕТИТЕЛИ НЕ ПРИВЕТСТВУЮТСЯ - ВЕРНУТЬСЯ, ИЛИ ОПЛАТИТЬ С ЖИЗНЬЮ

Visitantes não são bem-vindos - Vá embora ou pague com a vida.

Antes que o menor pudesse dizer alguma de suas impressões, o dourado tocou a porta com uma das mãos, congelando-a quase instantaneamente.

– Senhor Camus, creio que não nos querem aqui...

– Exactement.

– O senhor sentiu?

– Sim. Está óbvio devido àqueles entalhes.

– Então...

– Oui, está escrito que visitantes ne sont bem-vindos e que devemos retornar, ou pagaremos com nossas vidas. Volte para a beirada do Angara, onde estávamos há pouco. Fique afastado, Shun. Aqui é muito perigoso.

– Eu vim para ajudar...

– Ajudará ficando longe. Não vejo como você pode ajudar, nessa luta em particular.

Com a ordem tão imponente, o menor se afastou e andou em direção à beira do rio congelado.

As pessoas que caminhavam à sua volta pareciam não perceber sua presença, seus olhares estavam vidrados em um nada e em lugar nenhum, pareciam ter perdido a chama da vida, assim como os que caminhavam na Colina do Yomotsu.

Da mesma forma que no mundo dos mortos, aquele lugar onde estavam na Sibéria era, igualmente, frio e estranho, e a pouca luz o tornava ainda mais sinistro.

Podia sentir o cosmo ofensivo que advinha daqueles humanos praticamente zumbificados.

Lembrava-se do que Shiryu lhe contara certa vez sobre sua experiência na luta com o cavaleiro dourado de Câncer. De quando o amigo lhe explicara sobre a chama amarelada e o cheiro de enxofre que podiam ser percebidos na Colina da Fonte Amarela. Dizia-se que, na China antiga, havia a lenda sobre a entrada para o Mundo dos Mortos, justamente uma fonte que irradiava luz amarela.

Aquela lembrança o entristecia, imaginava que, depois de terminada a Guerra Santa, nunca mais veria uma cena como aquela. Pessoas de alma aquebrantada, como se pudesse ouvir o mudo grito de socorro de cada uma delas.

Ajoelhou-se na neve macia e olhou para trás, conseguindo ainda ver o portal de madeira se desfazendo em milhões de pequenos pedaços à ordem do cosmo do dourado, que adentrou a construção sem menção de ser impedido por quem fosse.

Com certeza, a diplomacia havia ficado bem longe dali, quem sabe na décima primeira casa do Santuário, pois naquele lugar gelado e aparentemente sem vida, apenas cosmos ameaçadores podiam ser sentidos.

Quando perdeu de vista o dourado, fitou o gelo sem brilho e o tocou pela primeira vez. Era como tocar o corpo de um ser morto. O rio que devia ser repleto de vida pungente parecia apenas um bloco de gelo como um outro qualquer, totalmente diferente da superfície bela inundada de energias benéficas que deveria ser.

Até a névoa que corria ligeira sobre a superfície lisa, que deveria se assemelhar a um frio vapor d’água branco como nuvens, estava com uma cor indefinida, que lembrava o marrom.

Por um momento, lembrou-se do seu treinamento com o mestre de Virgem, no jardim das Árvores Salas Gêmeas, quando utilizou seu cosmo para fazer brotar as pequenas plantas do jardim e trazer novas folhas revigoradas às duas árvores.

Talvez pudesse fazer o mesmo. Com certeza não conseguiria revitalizar o rio todo, mas pelo menos uma parte.

Pela lógica que Camus o explicara, os cristais de água eram capazes de transmutar-se conforme as energias que nele eram aplicadas. Se fossem do mal, os cristais ficariam disformes. Se fossem do bem, seriam regenerados.

Deixando a tristeza e o pesar de lado, ignorando as ordens de Camus, tocou o gelo fosco com a palma da mão direita, a mesma que exibia a cicatriz do corte da espada de Hades. Fechou as pálpebras, concentrando-se como o mestre de Peixes o havia ensinado, focando o pensamento no bem, nas boas lembranças e em Athena. A deusa, com certeza, o enviara por alguma razão e precisava sentir-se digno de sua confiança.

O cosmo róseo espalhava-se como um fogo ardente, impedindo que o vento e a névoa frios adentrassem na esfera de energia, entre as rajadas mornas e as correntes luminosas que se formavam e se espalhavam em todas as direções, inclusive pelo bloco de gelo sem força vital no qual o Angara se transformara.

Enquanto isso, dentro do prédio com altas chaminés, o dourado avançava resoluto, afastando e jogando contra as paredes qualquer um que se aproximasse dele, sem fazer muito esforço. Sentia que a cada passo se aproximava cada vez mais do núcleo que sugava a energia das pessoas daquela região e formava em tentáculos de cosmo negro. 

Subiu a escadaria que dava ao segundo pavimento, seguia a energia negra que se condensava no ar como a correnteza de um rio, a guiá-lo até o local onde encontraria o foco daquele mal. Caminhou por mais alguns minutos e encontrou um grande salão repleto de uma espécie de fumaça negra, dentro da qual conseguia ouvir ecos de gritos de angústia e dor. Uma sensação horrível, que o fez elevar o cosmo e congelar as partículas suspensas, de forma que caíssem no chão de pedra, possibilitando que conseguisse enxergar um homem de meia idade, sentado sozinho em uma cadeira.

Os braços do homem pendiam e possuía os cabelos branco-acinzentados, os olhos opacos vidrados no teto, e a boca aberta, como a sugar as energias amorfas que advinham de todos os lados. De seus dedos, a energia negra condensava-se e se espalhava como tentáculos, uma visão digna das lendas que escutara sobre uma das batalhas de Dégel, na França, no século dezoito.

Antes que pudesse se aproximar, uma voz opressiva se fez ouvir em sua mente. Olhou para os lados, mas não conseguia ver a origem.

– Um cavaleiro do gelo... Me será muito útil... Como nos velhos tempos...

– Cale-se. Non lhe conheço. Vim cumprir a missão para a qual Athena me designou.

– Talvez seu pupilo lembre-se...

–  Silence! Pó de Diamante!

O dourado abriu os braços para os lados e lançou o ar gelado de forma a congelar o ambiente, desejava dar fim de forma prática e rápida àquela missão.

Uma forte ventania se formou no imenso salão, e arremessou o homem à frente contra a parede, envolvendo-o em uma fina camada de gelo.

Em um momento, a voz cessou e Camus andou na direção daquele que havia caído com seu golpe, enquanto as rajadas geladas ainda se faziam presentes.

Aproximou-se e pôde ver os cabelos do homem retornarem a um loiro escuro, que parecia ser o seu natural, e seu semblante asserenar-se, enquanto murmurava.

– cпасибо...

– Non me agradeça. Diga-me o que aconteceu aqui.

O homem já não conseguia responder, inundado que estava em uma tosse repleta se sangue.

Entre os estertores da morte próxima, apenas repetia como se estivesse em alucinação.

– Воин...

– Vamos! Non morra sem me contar. – Afirmava o dourado ajoelhado ao chão, enquanto segurava aquele corpo ensanguentado quase sem vida.

– Cиний воин... BlueGraad... – Com estas últimas palavras, sua respiração parecia cessar, em um suspiro que deixou expelir uma pequena esfera negra e brilhante, que pairou à frente do vívido olhar marinho de Camus.

De dentro do orbe, um som estranho, semelhante a uma voz, podia ser ouvido.

Um cavaleiro do gelo... Como nos velhos tempos...

Camus parecia enfeitiçado por aquela voz soprosa e fluida, sendo surpreendido por uma rajada de cosmo, que o fez largar o corpo do moribundo e que o lançou longe.

Teria sido atingido em cheio se não fossem os rápidos reflexos que utilizara para defender-se, criando uma parede de gelo transparente à sua frente, do chão ao teto.

Levemente abaixado, apoiando as mãos em seus joelhos, respirou fundo e balançou a cabeça como a buscar localizar-se e tentar fazer com que a voz saísse de sua mente. Aquilo parecia algo como feitiçaria a invadir-lhe a mente sã.

Mago de gelo... Venha até mim...

A esfera negra transpassou a parede de gelo transparente feita por Camus como se nada existisse entre eles dois, e sem causar nenhum dano à formação de defesa criada pelo dourado.

Sem aviso, outra forte energia se desprendeu da esfera e lançou o cavaleiro contra a parede, enquanto este tentava se defender com rajadas de cristais de gelo, que ultrapassavam a energia negra que não era afetada nem minimamente pelos golpes.

– Execução Aurora! – Bradou antes de a esfera aproximar-se mais de si.

O cavaleiro posicionou os braços na forma da ânfora de Aquário e, ao abaixar suas mãos, disparou uma poderosa rajada de ar frio, em 273 graus centígrados negativos. Desde golpe mortal seria impossível desviar.

Então, a esfera se desfez, e um rastro de cosmo-energia pôde ser visto atravessando ar frio repleto de prismas de gelo, rompendo o teto congelado, fazendo com que pedaços de pedra fossem arremessados para cima e para fora do alcance da visão daquele que fitava o corpo morto daquele cidadão russo.

Camus levantou-se lentamente, respirando fundo e acalmando seu coração, que naquele momento havia acelerado tanto quanto as partículas do ar haviam congelado fugidias atravessando o grande buraco formado no teto.

Uma névoa úmida saía de sua boca a cada vez que expirava, denunciando seus angustiosos pensamentos.

As palavras ditas pelo moribundo ecoavam em sua mente. Bluegraad. A terra para a qual levou Hyoga em seu último treinamento. O que haveria de estar acontecendo por lá que não havia percebido naqueles últimos três meses que estivera naquela região do leste da Sibéria?

(Continua...)


Notas Finais


Continuaremos na Sibéria no próximo capítulo.
Obrigada a todos que nos acompanham até aqui e que estão curtindo ler esta fic.
Bjs! ;-)


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...