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História Reflexos de uma Injustiça - Gestos


Escrita por: Mumble

Capítulo 16 - Gestos


Fanfic / Fanfiction Reflexos de uma Injustiça - Gestos

OI PAPAI EU NÃO QUERIA QUE VOCÊ LESSE ESSE MEU RECADO, mas puxa vida não teve jeito eu tive de ir, cuida das minhas bonecas, por favor!

Eu não poderia ficar para você me mandar pro lugar que você disse que meus avós me mandariam, eu tenho que ir atrás da minha mamãe.

— Céus, não, não… isso não, não agora! — choraminguei atordoada totalmente desesperada não terminando de ler sua cartinha a apertando contra meu coração já disparado.

Eu tenho de ir atrás da minha mamãe…

— Niklaus… cadê a MINHA FILHA? — perguntei tempestuosamente ao passo que me desloquei até ele agarrando sua camisa amassando-a e sacudindo-o ao mesmo tempo com uma de minhas mãos, a que não estava segurando a carta sobre meu já destroçado coração. — Por favor não me diga que ela fugiu ou está perdida, por favor… não!

Seus olhos se encheram d'água perante minha reação. Eu o fitava vigorosamente.

— Caroline no caminho eu te explico, pegue qualquer documento seu e venha comigo… AGORA! — ordenou e eu não fui contra, sabia que era algo com minha filha, assim sendo no instante seguinte saí em disparada até meu quarto tirando no percurso a camiseta rasgada que Stefan havia destruído procurando e encontrando, no bolso de meu jeans dobrado sobre a cadeira, meu RG enfiando-o no bolso da calça junto da cartinha de minha menina ao qual estava e rapidamente enfiei por cima de minha cabeça a primeira camiseta que encontrei pelo caminho.

Estava no modo automático novamente, totalmente hiperativa enquanto enfiava em meu bolso também algum dinheiro, caso eu precisasse.

— Use essa aqui também Carol — propôs Bonnie entrando em meu quarto abruptamente me entregando uma blusa de gola alta que tratei também de colocar no instante seguinte. — Vai ajudar esconder as marcas de dedos em seu pescoço.

Assenti sem proferir nada caminhando velozmente para sala novamente.

— Niklaus se adiantou para pegar o carro que deixou estacionado no começo da rua, desça que ele te encontra no caminho… me mantenha informada, por favor, aqui… — acrescentou me passando um pedaço de papel. — Esse é o número daqui de casa, quando puder ligue.

Assenti novamente retribuindo rapidamente seu abraço e correndo escadaria abaixo.

No instante em que coloquei meus pés na rua um carro cantou pneu por sobre o asfalto parando frente a entrada do edifício com a porta do carona aberta a pouca distância de mim.

— Niklaus o que aconteceu com Arabella? — perguntei assim que entrei em seu carro sem hesitar batendo a porta a travando.

— Coloque o sinto! — ordenou não tirando os olhos da estrada ao passo que acelerava destemido.

— Onde estamos indo Niklaus? — exigi sua resposta exaltada por sua falta de diálogo.— Diga que nossa filha não está perdida e que ela está bem, diga! — supliquei não mais aguentando seu insuportável mistério.

— Não, minha filha não está bem, mas ficará, e sim eu sei onde ela está… estamos indo para o hospital central. — respondeu rispidamente me pegando desprevenida. Seu tom de voz era furioso.

Sua resposta de nada me acalmou, muito pelo contrário, me perturbou ainda mais.

Hos-pi-tal? — gaguejei cada sílaba. — O que foi que houve? — titubeei entre as lágrimas sentindo meu estômago revirar de maneira incômoda.

Ele suspirou com força mantendo seus olhos na estrada.

— Ela caiu Caroline! — respondeu perceptivelmente lutando para controlar sua raiva e ao que parecia, raiva de si mesmo.

— Como assim ela caiu? Caiu da onde Niklaus? — rebati desesperada com a mão em me peito como se meu coração fosse despedaçar e eu precisasse segurar seus caquinhos.

Meu coração crepitava freneticamente em meu peito.

— Discutimos, eu a tranquei, Arabella tentou descer pela sacada de seu quarto e acabou caindo. — respondeu ele, a voz dura e controlada. — Tempo depois me dei conta do que havia acontecido chamei o resgate e a levaram… fraturou uma perna e está anêmica devido ao corte em sua cabeça e necessita de uma transfusão urgente e meu sangue não é compatível, sabe sua tipagem?

— Meu sangue é o O negativo — disse convicta lembrando das vezes que, estando do presídio, na ala da enfermaria fazia doações a cada 4 meses para ajudar no estoque para quem necessitasse, afinal eram bem poucas as detentas com essa mesma tipagem.

— Perfeito! — ele hesitou por um momento e um tom peculiar, inveja talvez, entrou em sua voz. — Claro que tinha de ser você.

Com sua declaração ficou claro que definitivamente se eu não tivesse a mesma tipagem sanguínea e não pudesse ajudar nossa pequena ele não viria ao meu encontro.

Logo retirei a cartinha de meu bolso e retomei a leitura de onde havia parado:

Você não me entende e não entende porque você tem a vovó do seu lado. Mas eu não tenho a mamãe perto de mim... então vou fugir de casa para ir atrás dela e sinto que vou conseguir encontrá-la loguinho.

Não fique preocupado, estou levando meu cofrinho com minhas economias, roupas e minha escova e pasta de dente, vou ficar bem.

Desculpa sair do castigo, quando eu voltar com a mamãe você pode me colocar de castigo pra vida toda se quiser, pois tendo ela juntinho de mim eu não me importo com nadinha.

Te amo! Fica com papai do céu, logo dou notícias.

Sua filha complicada.

Ao concluí-la, por mais que sua atitude fosse insana e ingênua, suas palavras me emocionaram, entretanto trouxe também outro sentimento que crescia latente e sabia que Niklaus também o sentia, estava estampado em seu rosto, mesmo que ele não admitisse, afinal foram nossas impulsos que nos levou para esta lamentável situação. Ambos éramos culpados.

O desespero e o medo me dominaram a ponto de me fazer suar frio.

Respirei fundo, todavia sabia que não conseguiria evitar. A imagem de Arabella em meu colo sem vida se fazia presente em minha mente me atordoando – como no pesadelo que tive esta manhã – e como consequência não deixou que meu estômago parasse de se revirar.

Reprimi a náusea cerrando meus lábios fortemente.

— Niklaus encosta o carro eu acho que eu vou...! — supliquei em um fio de voz não me sentido bem colocando logo em seguida minha mão por sobre minha boca tentando reprimir o inevitável.

Seis anos comendo do mesmo tempero acostumada a comida ruim do presídio que tive de reaprender a comer, ainda estava me habituando e aquele carro em movimento não estava ajudando.

— O quê? Ah, não! — discordou contrariado. — Caroline agora não é hora para esse seu chilique… Carol, droga! — resmungou ao estacionar notando que não me conteria.

Foi impossível evitar, assim que ele estacionou, sem cerimônias saí de seu carro correndo para a lata de lixo mais próxima me curvando e me livrando, por fim, daquela embrulho em meu estômago. No processo tentava afastar meu cabelo, que por mais que eu segura-se o vento fazia questão que se solta-se. Logo mãos o apanharam alinhando cada fio não permitindo que se desprendessem de seus dedos, então pude terminar de me aliviar.

Acabei me sentando na grama esperando o mal estar passar, Niklaus não estava mais ao meu lado, porém assim que fiz menção de limpar minha boca com a manga da blusa a qual estava suas mãos me detiveram.

— Não! Use isso aqui… tome — disse Niklaus me oferecendo primeiramente uma caixa de lenço, depois uma garrafa de água e, por fim, tirando de seu bolso uma caixinha com tabletes de chiclete que eu não recusei.

Usei cada item me sentindo melhor ao fim.

— Obrigada! — choraminguei agradecida e envergonhada pegando outro lenço de papel a esfregando por sobre as pálpebras.

— Tudo bem agora? Melhor? — perguntou ele me analisando atentamente e impacientemente ainda sentada na grama daquela pequena praça.

Por um momento eu desejei que tudo fosse apenas diferente.

Mas não era.

— Não, não está nada bem… eu estou no meu limite Niklaus — confessei não mais suportando trazendo meus joelhos até meu peito desabafando, talvez para a pessoa errada, contudo não me importei, eu só necessitava verbalizar e não mais reprimir. — Eu Sinto como se tivesse percorrido uma maratona. Sabe, eu acreditei que as coisas seriam mais fáceis quando saísse daquele lugar, mas mal eu sabia que minha verdadeira prisão seria estando aqui fora. Eu… eu, estou farta, cansada. Me sinto nocauteada. Primeiro você com essas suas acusações absurdas, crente que sou culpada… a descoberta da perda da minha melhor amiga, minha mãe que nem sei onde está, minha filha que não posso ver, a sociedade contra mim, meu pai e sua indiferença, Stefan tentando me matar e agora a Arabella em um hospital por minha culpa… não dá, só não — terminei me entregando a minha desesperança.

Nunca estivera mais vulnerável em toda a minha vida.

Esta era a sensação que carregava em meu peito naquele momento, mas um gesto, mesmo eu sabendo, sentindo que não era de um todo verdadeiro fez com que minha aflição diminuísse deixando a lógica regressar. Um abraço era tudo o que eu mais precisava naquele momento e este, me pegando totalmente desprevenida, fora dado por Niklaus Mikaelson.

[…]

Retomamos nosso percurso em total silêncio, por sorte meu estômago se comportou desta vez, muito embora minha aflição não.

Assim que adentramos no hospital segui Niklaus sentindo outro embrulho em meu estômago, mas este não poderia ser comparado ao anterior, mas sim a premissa de que algo bom viria.

Ansiedade.

Sentia como se houvesse mariposas dentro de mim. Um incontentamento. Um formigamento e sabia que isto se devia ao fato de estar, a cada passo deixado para trás, bem mais perto de minha filha.

Hesitei por um momento, mesmo não tendo motivo algum para tal ato, afinal sou inocente, mas mantive cautela ao me aproximar do homem a minha frente ao finalmente chegarmos na ala de visitação onde provavelmente Arabella estava.

O irmão me repudiava. O namorado me queria morta. O que haveria de esperar de um pai?

Com essa incerteza rondando minha mente me aproximei cautelosamente de Niklaus no momento que encontrou o pai.

Olhando-o furtivamente ele ainda era o mesmo, muito embora alguns fios brancos ronda-se sua cabeleira e ele estivesse com seu porte físico mais esbelto, mas era inegável que ainda era charmoso e bonito, tal como o filho. Não fitei seus olhos, vontade eu tive, contudo, eu respeitava demais aquele homem a minha frente, de certa forma muito distante, ele lembrava o pai que tive em minha infância e ter a chance de ver rancor em seus olhos, ou até mesmo ressentimento seria demais pra mim.

Não trocamos uma palavra sequer, usei sua tática, sendo apenas indiferente.

Era uma situação embaraçosa e ademais, minha preocupação não me deixou dar muita importância para aquilo, já que, minha súbita vontade era ir atrás de Arabella, mesmo sem saber onde a mesma estaria dentro daquela ala.

— Pai — chamou-o Niklaus em tom apreensivo. — o Dr. Collins deu notícias?

Tive de encará-lo, foi impossível reprimir isto quando Arabella estava em jogo e para meu azar ele retribuiu, contudo, sua expressão era impassível.

Cruzei meus braços por sobre minhas costelas tentando conter minha ansiedade quando Mikael desviou seus olhos dos meus voltando a encarar o filho logo lhe respondendo:

— Não meu filho, ainda não, a situação é crítica, mas... — pausou rapidamente advertindo. — Veja ele está vindo… — no mesmo instante Niklaus e eu olhamos para trás e vimos um médico passar pela porta estilo vai vem caminhando até nosso encontro.

Instintivamente nós três, simultaneamente, encurtamos nossa distância com a do médico o cercando.

— Doutor, onde está minha filha, como ela está? — fui a primeira a falar totalmente alarmada me entrepondo entre as palavras de Niklaus e seu pai.

— A senhora é a mãe da menina? — indagou o profissional.

— Sim doutor é ela mesma e tem a mesma tipagem, já podem realizar a transfusão — completou Niklaus apressadamente.

— Maravilha! — disse o médico com ares de alívio deixando aparentar que realmente se importava com seu trabalho. — Venha senhora, me acompanhe, trouxe algum documento?

Assenti no mesmo instante lhe passando meu RG deixando Niklaus e Mikael para trás seguindo o doutor.

Reprimi a súbita vontade de pedir para que ele me deixasse vê-la compreendendo que teria primeiro de fazer a doação.

O certo seria que eu fosse até o banco de sangue filiado ao hospital, porém como a situação é alarmante a coleta seria realizada na própria instituição.

Após realizar toda a burocracia que já conhecia de fazer minha ficha, fazer o teste de dosagem de hemoglobina, verificar pressão arterial, pulso, temperatura e peso, passamos para a segunda fase e esta consistiu em responder ao doutor uma série de perguntas – em uma entrevista – referente a minha saúde. Fui levada até a sala onde seria realizada a coleta, mas antes mesmo de fazer a doação em si foram retirados alguns tubinhos para realização dos exames sorológicos.

Tentei relaxar o máximo que pude enquanto sentia a agulha me perfurando, visando a veia não fugir como sempre acontecia toda vez que doava no presídio resultando em mais furos em meus braços, mas desta vez a sorte estava ao nosso lado, já que na primeira tentativa obtivemos sucesso e logo pude ver meu sangue percorrer seu caminho preenchendo, aos poucos, a bolsa de sangue.

— Prontinho senhora — anunciou a enfermeira uns 20 minutos depois quando notou que o aparelho não mais fazia a sucção, visto que, a bolsa estava completa retirando os aparatos de meu braço pressionando um algodão revestindo com uma fita adesiva ao fim. — É capaz que se sinta um pouco mareada e tonta, foi uma quantidade generosa, mas só não fazer exercícios ou esforço físico intenso e consumir bastante líquido que ficará tudo bem.

Concordei somente assentindo me levantando daquela poltrona reclinada. Uma enfermeira me ajudou segurando-me pelo braço me levando de volta até a sala de espera me deixando sentada em uma das cadeiras enfileiradas.

— Vou pedir que tragam algo para você comer, está acompanhada? — questionou, mas fiquei em silêncio não sabendo ao certo o que responder.

Perante o meu súbito silêncio a mesma somente concluiu:

— Fique sentadinha aqui! — pediu voltando pelo mesmo trajeto que havíamos percorrido.

Como se eu fosse sair andando por aí nesse estado.

Joguei meu corpo para trás recostando minha cabeça na parede maciça quando senti tudo a minha volta rodopiar.

A ânsia tinha voltado, mas como não tinha nada em meu estômago só tive de esperar que a mesma passasse. Não sei ao certo quanto tempo fiquei ali esperando aquele mal estar cessar, mas um toque por sobre minhas mãos, por cima de minhas pernas na altura da coxa me forçando a segurar algo me sobressaltou e ao abrir os olhos a surpresa foi maior ainda.

— Aqui… beba e coma isso, vai se sentir melhor! — advertiu ele deixando um copo plástico revestido com uma tampa com algum líquido e quando se certificou que estava firme o bastante em minhas mãos me repassou também um saquinho com algum quitute para que eu pudesse beliscar.

Fiquei chocada e comovida perante a perplexidade dos fatos.

Eu queria poder agradecer e dizer algo mais, entretanto um nó na garganta me impediu de verbalizar algo. Por um tempo indeterminado ficamos nos olhando. Não via raiva em seu olhar somente especulação; Mikael estudava meu olhar como se buscasse nele algum vestígio que me incriminasse, quiça remorso, ou algum sentimento de culpa.

— Deixa que eu te ajudo com isso… você já é atrapalhada no seu normal imagina agora — zombou, por fim, cortando a nossa conexão de olhares para redirecioná-lo ao copo firme em minhas mãos destampando-o soltando um risinho caloroso. — Lembro da primeira vez que meu filho te levou lá em casa.

Minhas bochechas coraram no mesmo instante.

Foi um jantar desastroso regado a muitas gafes, pois estava nervosa. Aquela foi a primeira vez que conheci os pais de um namorado meu já que até então só havia dado uns beijinhos em um garoto aqui, outro ali, nada sério.

— Por falar nele, onde está? — perguntei notando que estávamos só nós dois naquele espaço.

— Foi falar com o médico para saber quais serão os próximos passos.

Suspirei orando comigo mesma.

— Ainda terá um tempinho até a transfusão, antes eles vão precisar dos resultados dos testes sorológicos para saber se está tudo bem com meu sangue antes de injetarem nela — expliquei sabendo o processo voltando a me recostar me sentindo fraca. — Será que eu posso vê-la antes disso?

Mesmo naquela situação não conseguia reprimir meu desejo mais ardente.

— Creio que não Carol — disse indeciso. — Bem… ao menos não permitiram minha entrada e nem a de Niklaus mais. A menina está fraquinha e sedada de todos os modos.

Assenti com o coração em frangalhos levando o copo a boca novamente não conseguindo articular alguma fala. Tomei todo o suco de laranja de uma vez só, não queria ter de ficar encarando-o entre uma golada ou outra, a realidade é que não sabia o que lhe dizer e o silêncio era esmagador, então deixaria que o mesmo tomasse a iniciativa.

— Aqui está querida! — disse a enfermeira regressando com outro copo de suco nas mãos acompanhado de uma fruta e umas bolachas dentro de saquinhos plásticos e transparentes repassando tudo para as mãos de Mikael. — Vai se sentir melhor e lembre-se de tomar muito líquido.

Concordei somente fazendo um gesto com minha cabeça.

Voltamos a ficar a sós novamente.

— Aqui, tome mais! — ofertou Mikael tirando novamente a tampa do suco e desta vez peguei o copo sem sua ajuda e voltei a ingerir, mas desta vez o sabor foi de uva.

— Carol — chamou-me tirando os dois copos vazios e o pacotinho de minhas mãos colocando-os no assento vago ao meu lado tomando minhas mãos entre as suas ajoelhando-se no chão frente a mim. — Olhe para mim, por favor!

Fiz o que Mikael pediu fitando-o. Vi seus olhos enquanto de repente seu impasse interno era substituído por uma determinação ardente.

— Talvez essa não seja a hora mais oportuna para falarmos disso, talvez tenha demorado muito para criar coragem para fazê-la… Crol, eu tive de passar por tantas fases para poder estar aqui diante de você agora dizendo isto que estou dizendo. Lidar com perdas não é fácil para ninguém, ainda mais quando trata-se de alguém de quem amamos, você sabe do que estou falando, afinal, esteve este tempo todo longe de minha neta, não é? — Não era bem uma pergunta, mas de todos os modos assenti voltando a sustentar seu olhar. — Todos nós Mikaelsons's tivemos momentos de raiva, que cresceu tornando-se ódio, rancor, mágoa… mas o tempo é engraçado, ele cuida de tudo isso sabe, no meu caso, é claro. Vi minha família se destruir aos poucos Caroline, minha mulher se afundar em depressões que vão e vem com o tempo e o filho que me restou obstinado a não confiar em mais ninguém, encontrando em Arabella a única esperança para seguir adiante, entende?

Voltei a assentir a este ponto não contendo minhas lágrimas, bem como Mikael.

— A perda de Rebekah e o vazio de sua ausência foi devastador, ainda é, mas já aceitei essa realidade permitindo que aqueles sentimentos ruins se fossem porque se eu me permitisse ser tragado pelo ódio, pelo rancor e sede de justiça nós todos nos destruiríamos nesse mar de dor. Sou o patriarca deles e tive de seguir outro rumo, nadar contra a correnteza e é por isso que eu quero que seja sincera comigo, eu já a perdoei de todos os modos, mas ao te ver hoje, ao lembrar de você junto do meu filho; aquela menina tão boa, descente, atrapalhada, inocente. Reascendeu em mim a dúvida.

Solucei não mais me contendo.

— Abra seu coração e me diga a verdade, por favor… Carol, foi você quem aliciou a Rebekah a usar drogas? — perguntou, por fim, num fio de voz.

Não tive problemas em lhe responder:

— Por mais haja provas e mais provas que me incriminem Mikael. Não, eu não aliciei sua filha e jamais… nunca usei droga alguma em toda a minha vida! — lhe assegurei sendo franca e transmitindo isso também através de meu olhar.

Mikael sorriu sem relutância pegando uma última lágrima minha antes que a mesma alcança-se minhas bochechas.

— Eu acredito em você Carol! — afirmou, por fim, me comovendo fazendo com que me sentisse mais leve.

Ouvir aquelas palavras não amenizava o sofrimento que tive de passar ao longo do tempo em que estive presa, nenhuma palavra abrasaria isto na verdade, afinal não passam de palavras e elas agora de nada me serviam e nem mudaria o que tive de passar, no entanto, foi bom poder escutá-las.

— Tem algum palpite de quem possa estar por trás disso tudo?

Me calei sabendo que para essa sua pergunta ainda não havia resposta.

Ainda.

[…]

Pouco tempo depois Niklaus regressou a sala de espera informando ao pai o procedimento que eu já havia esclarecido. Por sorte neste hospital há um laboratório específico para obtenção desses resultados o que nos pouparia tempo, visto que, não recorreriam a laboratórios externos para análise de meu sangue e o Dr. Collins também solicitou urgência o que tornaria tudo mais rápido, na medida do possível.

Não permitiram nossa entrada.

Mikael acabou voltando para casa a fim de ver sua mulher nos deixando a sós tempo depois.

A espera era angustiante.

— Caroline… você está me deixando em estado de nervos andando pra lá e para cá, pode se conter, por favor? — repreendeu Niklaus quebrando o silêncio que se fez presente desde a partida de se pai.

Era difícil me manter parada.

— Estão demorando muito! — reclamei em alto e bom som quando minha ansiedade chegou a seu limite voltando a me sentar na fileira de cadeiras. — O médico estipulou o prazo de 4 horas e já se passaram 6 e nada.

Minutos depois uma enfermeira irrompeu a sala de espera chamando os responsáveis de Arabella. Em um átimo Niklaus e eu nos apresentamos frente a ela.

— São os pais da paciente Arabella Mikaelson? — questionou nos olhando rapidamente voltando em seguida a analisar o prontuário em suas mãos preso a uma prancheta.

— Sou pai dela!

— Sou a mãe!

— O doutor subiu para uma cirurgia na UTI neonatal e pediu para que informasse a vocês que o laboratório já emitiu os resultados dos exames sorológicos e não detectamos empecilhos, a transfusão já está sendo realizada — informou-nos.

— Graças a Deus! — expôs Klaus pela primeira vez sorrindo sem escárnio.

Levei minha mão por sobre o meu peito silenciosamente louvando aos céus também agradecida no instante que recebi a notícia sentindo meu coração se aquecer aliviado. Não pude deixar de notar que Klaus relaxou ao me lado.

— Posso vê-la enfermeira, por favor? — supliquei extasiada não me contendo.

O sorriso no lábio de Niklaus sumiu perante meu pedido me lançando um olhar mortificante que eu prontamente ignorei, afinal nem ele e nem ninguém tiraria meu direito de ver minha menina.

— Também desejo vê-la! — informou Niklaus determinado.

— Esperem que a transfusão termine e venho buscá-los para que possam vê-la, está bem?

Assentimos e a enfermeira então chamou pelos pais de outro paciente para trazer-lhes notícias.

Ambos estávamos aliviados.

— Vou ligar pra Bonnie, fiquei de dar notícias… Já volto! — assegurei jubilosa comunicando-o.

Niklaus deu de ombros me ignorando, contudo não me importei, afinal seu mal humor não me afetaria.

Acabei por usar o telefone da recepção próximo a portaria, contudo, Bonnie não me atendeu nas três tentativas e eu acabei por desistir deixando para tentar retornar mais tarde.

No percurso de volta acabei passando no banheiro retirando com cautela o curativo adesivado posto em meu braço o descartando em seguida no lixo próximo ao lavatório; no local onde a agulha havia penetrado havia um arroxeado, mas sabia que em dois dias, no máximo, aquela manchinha desaparecia.

Ajeitei a gola da blusa puxando-a mais para cima não deixando que aparecesse as marcas dos dedos de Stefan e, por fim, acabei também lavando o rosto secado-o em seguida com folhas de papel fazendo com que assim ficasse mais apresentável para Arabella.

Expectativa tornou a sobrepujar minha preocupação toldando cada poro.

Tornei a regressar a sala de espera, notando, assim que irrompi na mesma que novamente tornou a se aglomerar. Não demorei a localizar Niklaus e o pai, que voltara, mas havia mais alguém junto deles também.

A princípio não a reconheci.

Ela estava mudada.

Era notório, para todos que a vissem que ela não era uma pessoa feliz e não foram seus traços e expressões frias ou seus lábios em posição amarga que a denominavam como sendo uma pessoa “triste”. Não. Seus olhos também refletiam isso, não havia luz neles; fitá-los para eles era como visualizar um poço fundo quase oco.

Me aproximei com cautela tendo em mente que eu não deveria temê-la.

— O que essa mulher faz aqui? — perguntou Esther com certo tom de ultraje e surpresa em sua voz quando minha presença fora notada.

Niklaus e Mikael trocaram olhares apreensivos.

Ela agora me encarava de cima a baixo permitindo que seu olhar demonstra-se sua repugnância a minha presença ali.

Meus olhos tornaram a se encher de lágrimas. Era tão injusto ter de lidar com esses reflexos. Porém não me permitir chorar, não na frente de nenhum deles ao menos.

Um gesto, no entanto, fez com que tudo muda-se abruptamente.

Aconteceu em segundos, todavia assimilei cada passo. Esther se aproximou determinada ficando diante de mim com a mesma expressão fria, previ seu ato é claro; vi uma de suas mãos se levantarem e vir de encontro ao meu rosto, entretanto não agi impedindo-a, pois mantive meus olhos presos ao vazio dos seus.

PLAFT!

O sonoro e dolorido tapa ecoou estridentemente fazendo com que, alguns se assustassem e outros falassem baixinho, de forma inaudível.

Voltei meu rosto para a posição anterior tornando a encará-la descrente ainda de sua atitude.

— Eu compreendo muito bem que este seja um ato de desespero de uma mãe depositando nesse gesto a insatisfação e inconformismo pela perda de um filho, no seu caso de Rebekah — disse em tom sério e ressentido. — Mas da próxima vez que você me agredir eu…

— O que é que você vai fazer Caroline? — perguntou desafiadoramente não permitindo que eu terminasse o que tinha de lhe dizer.

Seu olhar ultrapassava o ódio. E com o mesmo tom hostil prosseguiu:

— Vamos me responda, você já demonstrou ser uma pessoa baixa e perversa. O que fará sua criminosa? O que fará sua vagabunda? O que fará sua drogadinha? O que fará sua assassina? — gritava me ofendendo histericamente.

PLAFT!

Esther votou a levantar a mão pra mim, porém dessa vez no outro lado de minha face quando seus ânimos novamente se exaltaram.

Semicerrei meus olhos deixando que dessa vez o acumulo de lágrimas descesse pelo meu dolorido rosto sentindo o formigamento causado pela sua palma nele.

Novamente, como antes feito tornei a desafiá-la sentindo a adrenalina se apoderar de meus sentidos.

— Eu vou fazer isto! — respondi, por fim, estapeando ambos os lados de seu rosto deixando tão vermelho como sabia que o meu estava pegando-a desprevenida.

— Não! — se entrepôs Mikael quando Esther tornou a querer avançar em minha direção segurando seus braços colocando-a atrás de si impedindo-a que ela voltasse a levantar a mão pra mim.

— Isso já é demais! — recriminou Klaus furioso, vindo em minha direção tomando meus braços em suas mãos.

— Cuidado com o que fizer meu filho — advertiu Mikael temendo que Klaus fosse mais além do que manda os bons costumes.

Desejei ardentemente também estapeá-lo. A adrenalina ainda corria por minhas veias.

— Me solta… — vociferei fazendo com que meus braços se libertassem de suas mãos bruscamente sabendo que, com toda certeza, havia ganhado outras marcas em meu corpo. — Eu só me defendi com a mesma petulância que sua mãe ousou bater em mim e que fique bem claro que eu não vou permitir que isso ocorra novamente!

Os ânimos estavam alterados para todos, mas foi bom deixar claro meu ponto de vista.

— Tirem essa assassina daqui! — gritou Esther não se importando com os olhares dos presentes me ridicularizando frente a eles.

— Caroline, acho que já deu por hoje, melhor que você vá… agora! — demandou Klaus.

Foi a mina vez de sorrir como se o mesmo tivesse contado uma piada.

— Menos Niklaus, bem menos… você já não sabe o que é melhor pra mim a muito tempo! — cuspi irônica. — Daqui eu não sairei… eu sou a mãe de Arabella, ela saiu de dentro de mim, não há quem me faça arredar o pé daqui e quem não se sentir bem com minha presença… paciência!

— Ah, eu vou… — disse a mãe de Niklaus totalmente descomposta deixando novamente sua insensatez aflorar.

— Já chega Esther! Pelo amor de Deus, estamos em um hospital e se continuarmos assim daqui a pouco todos seremos convidados a nos retirar. Chega de vexame! — advertiu Mikael sensato tomando a rédea da situação visando não causar outro burburinho. — Klaus meu filho leve sua mãe para tomar um ar, um café ou a qualquer lugar que a faça se acalmar, do jeito que ela está não pode continuar aqui!

Niklaus, a contragosto, resolveu atender o pedido do pai.

— Vamos mamãe, vem… eu te ajudo! — disse Niklaus lhe dando o braço.

— Eu vou… mas isso não acaba aqui Caroline, saiba que não descansarei até que você pague pela morte da minha Rbekah! — ameaçou chorando me fitando odiosamente.

Assenti encarando-a de volta com os olhos apertados.

— Do mesmo modo que não descansarei até te trazer a verdade Esther… e neste dia, todos, todos vocês se arrependerão amargamente por todas as injustiças, por todas as lágrimas e humilhações que me fizeram passar, inclusive esta. TODAS! — gritei quando me deram as costas sem permitir que eu concluísse.

Desabei no primeiro assento vago que encontrei, minha vontade era chorar, mas acabei me segurando decidida a não deixar que nenhum deles me vissem chorar nunca mais.

Desejei, naquele instante ter Liz ao meu lado, pois mamãe sempre soube me tranquilizar nos meus momentos de desesperança.

Algo que não havia pensado de pronto se fez presente, quase pude ouvir o estalo em minha mente.

— Mikael… você sabe me dizer onde minha mãe está e o que de fato aconteceu com ela? — perguntei em um rompante voltando a ficar de pé sabendo que ele haveria de ter a essa resposta.

Mikael assentiu sentou-se e fez com que eu fizesse o mesmo.

O fitei esperando por sua resposta.

— Caroline, a Rebekah partiu pouco tempo depois da minha neta nascer então nossas suspeitas se iniciaram, a culpa recaiu sobre você… — pausou notando que a conversa estava indo para outro rumo, respirou fundo e prosseguiu. — Niklaus deixou de ir te ver no presídio e só quem ia era sua mãe, mas pelo que noto você estava alheia a tudo isso, certo?

Assenti incapaz de proferir algo.

— Antes mesmo de você designar que seria Elizabeth quem ficaria com guarda de Arabella quando chegasse o momento de vocês se separarem meu filho já estava ajeitando a papelada para que ele ficasse com ela. — explicou. — Carol, sua mãe queria cumprir seu desejo e criar a menina, mas Klaus sendo o pai também! Bem como já pode imaginar ambos acabaram frente ao juiz dias depois, já que o processo estava adiantado, e sua mãe teve de entregar a neta dela ao pai.

— Niklaus teve coragem de fazer isso? — perguntei indignada imaginando o desespero de minha mãe.

— Ele é o pai Carol, estava no direito dele, ademais não impediria sua mãe de ver a neta, jamais! Ele só quis criar a menina, LIz compreendia isso, Klaus convidou ela para morar conosco, mas ela se recusava a deixar a casa dela, sabe, todos nós nos apegamos ao nascimento da menina que trouxe um pouco de alegria aos nossos corações destroçados.

Sorri sabendo como devem ter se sentido, afinal Arabella foi meu raio de luz diante daquela escuridão ao qual estive.

— Mas perder você e depois não ter a presença constante da menina foi demais para ela, no mesmo dia que o juiz deu a sentença ela entregou Arabella aos braços de Niklaus e na volta pra casa, teve um AVC e foi levada as pressas para o hospital e de lá só saiu meses depois para ser transferida para uma casa de repouso onde a mantemos até hoje. Lhe oferecemos o melhor tratamento, mas sua mãe não anda, não fala, mas é bem cuidada, garantimos isso!

— Obrigada Mikael, — agradeci quebrando minha promessa de não mais chorar na frente de um Mikaelson. — Então foi por isso ninguém na vizinhança soube me dizer o que aconteceu com ela! — choraminguei por fim, interrompendo-o descobrindo o mistério por trás do sumiço de minha mãe.

— Como não conhecíamos ninguém creio eu que sim — comunicou. — Niklaus voltou até a casa de vocês somente para buscar alguns documentos de Arabella e alguns pertences de sua mãe e depois disso a única pessoa que entrou lá foi uma diarista que contratamos para cobrir os sofás, desligar o gás, fechar o registro e trancar tudo.

— E em qual casa de repouso ela está agora? — perguntei desejando ter uma pista para assim poder, assim que pudesse, visitá-la.

— Santa Clara, fica aqui em Seattle mesmo, só que próximo a costa — informou-me.

Guardei o nome feliz por saber de seu paradeiro e que, de uma forma ou de outra, ela estava sendo bem cuidada.

— Obrigada novamente por isso Mikael — agradeci de coração. — Saiba que assim que me restabelecer eu pagarei cada centavo por esse gesto para com a minha mãe.

— De jeito nenhum Caroline, não vai precisar de nada disso! — respondeu como se eu o tivesse ofendido.

Por hora concordei deixando isto para depois.

— Os pais de Arabella Mikaelson? — voltou a chamar a enfermeira e novamente Mikael e eu a ladeamos apreensivos.

— E então… como foi tudo? — indaguei querendo saber seu estado.

— A transfusão já terminou e correu muito bem… a paciente foi bem valente e já está bem melhor. A transferimos para um quarto, pois precisará ficar de repouso por no mínimo 48 horas — disse ela numa voz suspeita, porém tranquilizadora. — Só para termos certeza que o organismo não apresentará nenhuma reação.

Imediatamente fiquei mais alerta, mas acreditei fielmente que daria tudo certo como deu até aqui.

— Podemos vê-la enfermeira? — perguntou Mikael quando pensei em fazer o mesmo pedido.

— Podem sim... — anunciou ela e meu coração perdeu uma batida. — Mas um de cada vez, me acompanhem, por favor!

Mikael e a enfermeira conversavam o trajeto até o quarto onde finalmente poderia estar com Arabella, contudo, estava alheia ao que diziam.

— É este — informou ela assim que paramos frente a um corredor repleto de quartos. — Só peço que entrem um de cada vez, mas podem ficar o tempo que acharem necessário, logo o médico virá para averiguá-la, qualquer coisa só chamar há uma campainha no quarto ligada a enfermaria.

— Obrigada! — agradecemos Mikael e eu.

Estava extasiada a ponto de tremer de emoção.

— Carol… acalme-se! — pediu Mikael notando meu evidente estado de nervos.

Só uma porta nos separava. Apenas uma porta.

— Apenas uma porta — sussurrei semicerrando os olhos levando minhas mãos trêmulas a maçaneta girando-a.

Mãos quentes me detiveram antes que eu pudesse abri-la.

— Posso entrar primeiro? — propôs Mikael inseguro. — Prometo que serei breve, só quero prepará-la antes.

Fiquei em um impasse.

Minha vontade súbita foi negar esse pedido, afinal o meu anseio mais intenso estava a uma porta de se tornar realidade. Foram tantos anos imaginando a cegas tantos detalhes seus; imaginando como seriam seus cabelos. A cor dos olhos, se havia mudado ou se permanecera iguais aos meus. O timbre de sua voz que mesmo que eu tenha escutado por alguns instantes enquanto a via no jardim não foi o suficiente. Saber de seus medos. As fábulas que mais a agradavam...

Eu já havia esperado tanto. E por esperar tanto obriguei meu coração inquieto aguentar mais alguns minutinhos deixando a razão sobrepujar.

— Tudo bem… mas, te suplico, não demore!

— Prometo que não! — garantiu-me.

Mikael então entrou me deixando só.

Pensava em tantas coisas e, ao mesmo tempo, em nada, tudo simultaneamente do mesmo modo estavam meus sentimentos… uma montanha-russa de emoções, sendo que, havia momentos me sentia extasiada, feliz e determinada e segundos depois batia aquele frio na barriga e a insegurança vinha acompanhada também pelo medo.

Qual seria a reação de minha filha ao me ver de perto? Será que ela compreenderia os motivos que me fizeram estar ausente? Como contaria a ela sobre a prisão… sobretudo, será que ela me perdoaria?

Eram tantos questionamentos que rondavam por minha mente, mas determinada resolvi não ensaiar nada e deixar com que tudo fluísse naturalmente.

Cedo demais, ou talvez tarde, não sei ao certo a porta do quarto tornou-se a se abrir e Mikael voltou a estar ao meu lado.

— Pode entrar Bella — propôs ele calorosamente soltando a maçaneta da porta em convite para que eu a pegasse. — Ela não sabe que você entrará, disse que seria uma surpresa, mas pedi para que não se agitasse tanto… sei que não vai cumprir, afinal é só uma criança, mas se atente a isso e cuide dela!

Assenti sorrindo incapaz de proferir algo.

— Vou atrás de meu filho e minha esposa… boa sorte e bom reencontro para ambas.

E eu estava só.

Respirei fundo e sem mais delongas entrei.

— Posso abrir vovô? — perguntou uma menininha com um curativo por sobre sua testa e com os olhos cobertos pelas mãos sentada na cama. Uma de suas pernas estava por fora da manta envolta por uma tala de gesso.

Era uma cena cômica, mas ainda era demais para mim vê-la tão indefesa naquela cama de hospital.

Caminhei lentamente até seu encontro ainda entorpecida; minhas pernas estavam moles e aquela quentura em minha barriga voltou bem como as mariposas. Agradeci por não tropeçar no percurso.

Sentei-me na beirada da cama que parecia muito grande para Arabella.

— Você pode abrir eles agora Arabella! — sussurrei não querendo assustá-la reprimindo um soluço.

Seu rosto era mais parecido com o do pai, foi a primeira coisa que notei ao fitá-la, mas seus olhos eram como olhar para os meus bem como seus cabelos.

— Tão… linda! — tornei a sussurrar em completo júbilo não tirando meus olhos dos dela.

Seu olhar inocente transmitia tantas emoções. Estavam assustados, arregalados fitando-me de volta é claro, dado a surpresa, mas também pude sentir que o mesmo carregava desejo, necessidade, sobretudo amor.

Mamãe… — murmurou em um fio de voz me reconhecendo. — Minha mamãe?

Concordei sorrindo alegremente. Escutá-la me chamando de mamãe arrebatou minha alma e tornou a me renovar completamente.

— Você é real? — conjecturou incoerentemente e suas mãozinhas, um pouco hesitantes, se ergueram indo até meu rosto como para se certificar.

Beijei cada palma maravilhada.

— Minha filha, minha, minha bebê.. sim, eu sou real e isso é real! — repetia ao passo que segui sua atitude e também passei a afagar sua carinha de anjo banhada em lágrimas não perdendo nenhuma reação sua ao me tocar. — Ei, não chora meu amorzinho!

Ambas fazíamos carinho uma na outra.

— Mas é de a-le-gri-a mamãe! — assegurou-me aquela pequenina soluçando não tirando seus olhinhos curiosos de meu rosto brincando agora com uma mecha de meu cabelo esparvalhado. — E você também está chorando, se você parar eu paro!

Sorri entre as lágrimas com sua declaração.

— É de alegria também filha, de muita, mas muita alegria! — afirmei beijando seu rostinho ainda inclinada em sua direção de frente pra a mesma fungando em seu cabelo sentindo seu cheiro gostoso.

Arabella fez o mesmo.

— Você tem cheirinho de mamãe — confessou ela tornando a inspirar profundamente fazendo o mesmo gesto que o meu, mas me aproximei pra não causa-lhe esforço.

E assim como quando fazia quando Arabella era uma bebê voltei a pegá-la entre meus braços passando-a para meu colo com cautela, por conta da perna, a abraçando e sendo finalmente correspondida.

Uma mulher nunca realmente vai entender o que é o amor incondicional até o momento que segurar um pedaço pequeno que é feito dela mesma.

— Eu senti tanto a sua falta! — confessou ela choramingando me apertando contra si.

A abracei mais fortemente sentindo, sabendo que ela sentira minha falta tanto quanto eu dela.

— Eu sei minha querubim, também senti muito, mas muito a sua falta. — admiti apertando meus lábios em sua testa.

— Você estava onde mamãe?

Suspirei pesadamente desejando que Arabella jamais soubesse onde estive.

— Sobrevivendo até este momento para que pudesse viver finalmente ao seu ado filha. — respondi, de certo modo, sendo bem franca.

— Estava presa, não é? — perguntou inocentemente.

Avaliei sua expressão por um momento apenas confirmando fazendo gesto com a cabeça.

— Seu pai quem te contou?

— Não! O papai não falou muito de você pra mim — contou baixando seu olhar tristonha e notei um leve rubor. — Eu ouvi o vovô conversando na casa dele com a vovó e soube, mas não entendo muito bem… é como um passarinho em uma gaiola, não é?

Não tive certeza se meu rosto traía meu choque, Arabella era esperta.

— Sim… — afirmei.

— Eu não entendo muito bem mamãe e sei que isso deve ser coisa de adultos que são todinhos complicados. — queixou-se fazendo uma careta cômica em uma tentativa de imitar o pai, com certeza. — Sei disso, pois papai é pra lá de complicado, você é complicada e eu puxei vocês dois, pois papai diz que sou complicada também… e somos uma família de complicados!

Sorri seguindo sua lógica que não estava tão obstante da realidade com exceção da menção do termo “família”.

— Talvez um dia eu entenda.

— Um dia filha! — reafirmei brincando com uma mecha de seu cabelo acobreado.

— Não me deixa mais não mamãe! — suplicou Arabella inesperadamente me pegando desprevenida.

Acariciei minha mão sobre seu rosto e convicta respondi:

— Nunca mais Arabella… eu prometo! — completei com fervor.

Tínhamos muito a esclarecer ainda, mas havia tempo. O que necessitávamos agora era estar nos braços uma da outra… recuperando o tempo perdido.


Notas Finais


Eu sei, grandinho, mas este não teve como não ser e não queria adiar mais... surpresas a caminho.
Se puderem deixe um comentário com o parecer de vocês =^.~=
Até o próximo!


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