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História Reflexos de uma Injustiça - Dúvidas


Escrita por: Mumble

Notas do Autor


Primeiramente perdão pela demora na atualização.
Consegui um emprego e o último mês foi corrido, mas estou me policiando referente a isto e tentarei reajustar meus horários para retornar a postagem semanal, peço paciência.
Grata pelos comentários deixados no capítulo anterior.
Boa leitura!

Capítulo 17 - Dúvidas


Fanfic / Fanfiction Reflexos de uma Injustiça - Dúvidas

Capítulo 17

SUAS SOBRANCELHAS AINDA ESTAVAM UNIDAS PELA RAIVA e os olhos estavam negros em traços fundos.

— Você tem certeza que não quer que eu a leve mãe? — perguntei quando avistamos o táxi que havíamos chamado estacionando frente a saída do hospital.

Esther sorriu amistosamente como indicando que estava tudo bem.

— Tenho filho! — disse convicta ao passo que descíamos a rampa em direção ao veículo. — Não se preocupe com sua mãe, além do quê, seu lugar é aqui perto de sua filha e de olhos bem abertos nessa mulher!

Assenti ajudando-a, no instante seguinte, abrindo a porta traseira do táxi para que Esther pudesse adentrar o veículo.

— Diga a seu pai que o espero para jantar e me ligue quando ela não mais estiver aí para que eu possa ver minha neta.

— Tudo bem! — aceitei seu pedido nivelando meu rosto por entre a janela aberta do táxi lhe dando um beijo estalado na maçã de seu rosto ainda vermelho e com vestígios dos dedos de Caroline. — Até mais mãe.

As instruções foram dadas ao taxista e então Esther se foi.

— Niklaus? — ouvi a voz de minha mãe inquieta chamando-me. — Niklaus, você está aí?

Revirei meus olhos contendo um sorriso audível.

Aqui mamãe! — informei-a franzindo o cenho, afinal já era tarde.

Pude ouvir o ruído de seus passos pelo piso amadeirado de linóleo.

Está escuro... aqui, a onde, filho?

Na sala! — respondi divertindo-me com minha mãe vagando pela casa escura a minha procura.

Segundos depois pude ver a sombra de Esther ir até o interruptor mais próximo clareando o ambiente e por instinto semicerrei meus olhos para que o mesmo se acostuma-se com a claridade.

O que faz aqui sozinho no escuro querido? — perguntou Esther se deslocando e se postando ao meu lado no grande sofá de nossa sala.

Gostava do escuro e de estar só para pensar.

Pensando mamãe…

Em Carol, suponho? — questionou indecisa.

Na verdade em tantas coisas ao mesmo tempo… pensando em Carol, nela lá presa com nossa filha que está por vir, em Rebekah e suas saídas noturnas e agora as drogas, enfim são tantos problemas, não consegui dormir! — confessei sendo sincero.

Esther carinhosamente me fez deitar a cabeça em seu colo e passou a afagar meus cabelos desgrenhados como quando era um garotinho.

Vai dar tudo certo filho, logo será o julgamento e nossa Carol e ela será posta em liberdade e estará aqui conosco, verá!

Concordei desejando que essa maré de azar fosse embora de nossas vidas.

Sua irmã já chegou? — perguntou preocupada olhando para o relógio.

Ainda não! — neguei também preocupado. — Quando acordei fui até o quarto da Bekah e ela não estava lá então decidi esperá-la também aqui embaixo.

Pela expressão que Esther fez transpareceu que a mesma também não gostou de saber disto.

Um suspiro prolongado se seguiu.

Essa garota ainda vai me deixar com os cabelos mais brancos dos que eu já possuo.

Assenti minimamente sabendo que o melhor para minha irmã seria uma terapia em uma clínica de reabilitação. Passo este que Mikael e Esther não estavam certos se dariam.

Mãe, eu já disse o que é preciso fazer! — persisti.

Minha mãe olhou-me como se fosse me dar uma bronca, mas logo em seguida desistiu afinal ela sabia que eu tinha razão.

Eu sei disso filho, mas interná-la ainda mais contra sua vontade? Você viu como ela reagiu quando sugerimos? Talvez devamos seguir outro caminho! — concluiu diminuindo seu tom de voz.

Mãe já tentamos conversar, aconselhar... vai por mim, vocês precisam fazer isso, antes que Rebekah se perda de vez!

Esther abaixou a cabeça, como para se perder em seus próprios pensamentos.

Tenho medo da revolta dela contra nós filhos — desabafou com a voz tristonha e cabisbaixa.

Mãe Rebekah vai dizer que nos odeia, vai fazer birra, mas isso é para o bem dela, se ela não consegue enxergar o que é melhor para ela nós temos de obrigá-la a isso, isso é exatamente ser uma família, se ela continuar levando a vida que leva temo que se perda de vez.

Esther sabia que estava errada, mas até certo ponto eu entendia suas atitudes em relação a Rebekah. Estava em negação, não queria acreditar que sua filha abruptamente tornou-se uma viciada em drogas, já não bastasse o caso de Carol, agora mais essa.

Vai vê-la no próximo domingo? — perguntou desviando o rumo da conversa.

Esther sabia que eu estava certo, essa nova Rebekah tem o gênio difícil e não gostava de ser contrariada, se mamãe impusesse limites Rebekah certamente a magoaria.

Vou sim… e Liz irá também!

Ficamos assim eu deitado com a cabeça no colo de Esther enquanto a mesma prosseguia com seus afagos em meu couro cabeludo me presenteando com um de seus irresistíveis cafunés.

Após um tempo indeterminável ouvimos barulhos do lado de fora da casa, o que indicara que minha irmã já havia chegado, ficamos esperando que a mesma adentra-se, mas inesperadamente quem entrou e com Rebekah nos braços fora Stefan.

Pronto meu amor, estamos em sua casa — sussurrava Stefan com a voz ofegante demonstrando estar fatigado assim que irrompeu a sala acariciando o rosto de sua amada.

Ficamos perturbados com a cena. Rebekah estava visivelmente drogada e pelo cheiro também alcoolizada perdida em seu estupor.

O que houve com minha filha? — indagou Esther totalmente perplexa em tom de ultraje.

Não era muito difícil supor o que foi que houve.

Sinto muito por isso Esther, mas quando cheguei aquele bar ela já estava assim! — informou-nos colocando Rebekah totalmente adormecida no sofá.

Stefan o que aconteceu com essa doidinha? — foi a minha vez de me pronunciar diante da situação, embora já pelo cheiro podia deduzir.

Ai cara, sua irmã parece que bebe!

Arregalei meus olhos como se estivesse surpreso.

Só parece?— ironizei.

Você entendeu! — rebateu e logo prosseguiu. — Rebekah foi para o barzinho do Joe e acabou me ligando querendo companhia e quando cheguei lá ela passou a beber mais do que devia, tipo ficou doidona, sério mesmo ela bebeu como se o álcool fosse acabar, tentei dissuadi-la a não, mas você sabe como é teimosa. Juro que tentei impedir! Mas não consegui e depois, não sei como, escapou de meus olhos e eu a encontrei em uma praça próxima… e bem, o resto vocês já podem supor.

Eu nada disse somente lancei um olhar de esguelha para Esther, como confirmando o que havia lhe dito poucos instantes antes de Stefan chegar.

Filha, filha acorda! — pedia Esther acreditando que Rebekah despertaria dando uns tapinhas em seu rosto.

Mãe esquece minha não tão adorável irmã tão cedo não vai acordar — admiti olhando para sua direção como sugerindo o que acabara de falar.

Ela resmungava com a voz arrastada em seu sono, mas sabia que não acordaria.

Me ajudem a levá-la para o quarto dela! — pediu Esther desistindo de tentar acordá-la.

Olhei para Rebekah esparramada no sofá desejando que aquele pesadelo tivesse logo fim.

Stefan passou uma de suas mãos na dobra de seus joelhos enquanto com a outra apoiava firmemente suas costas a erguendo, aninhada a seu peito, caminhando rumo a escadaria e em seu encalce nossa mãe ajeitava o vestido descomposto de Rebekah.

Caminhamos em silêncio até chegar no andar de cima.

Por sorte seu pai não está aqui para presenciar sua irmã nesse estado, sabe como ele fica abalado em vê-la assim!

Pelo contrário mãe ele deveria vê-la e tomar uma atitude o quanto antes! — afirmei enquanto prosseguia pelo amplo corredor.

Seu rosto com olheiras profundas era indecifrável.

Eu só não vou te repreender, pois sei que está certo Niklaus! — confessou direcionando uma de suas mãos na maçaneta da porta a abrindo dando espaço para que Stefan passasse. — Coloque-a na cama dela, sim?

Claro! — obedeceu Stefan adentrando depositando Rebekah o mais breve possível em sua cama lhe roubando um beijo antes de se prostrar novamente a meu lado.

— Carol...sinto sua falta, volte Carol! — queixou-se Rebekah murmurando em seu sono.

Está tudo bem Rebekah, eu estou aqui! — rebateu Stefan lhe afagando os cabelos e Rebekah nada mais disse.

Assim que Stefan a deixou Esther caminhou até a cama retirando seus sapatos e seus acessórios colocando-os por sobre a penteadeira e a cobriu com uma manta.

Vamos deixá-la descansar — pediu em um convite para nos retirarmos.

Esther a fitou intensamente por incontáveis minutos parada diante da porta de seu quarto e quando por fim a fechou voltou seu olhar pra mim, então convicta disse:

Niklaus… assim que seu pai voltar de viagem de negócios vamos retomar essa nossa conversa sobre internar sua irmã!

Somente assenti sabendo que era o melhor para Rebekah.

A lembrança era distante, contudo me pareceu que acabara de ocorrer.

Hoje não sei discernir se ter insistido na internação de minha irmã fora o melhor para a mesma, pois depois de quase dois meses de abstinência, assim que conseguiu fugir fez o uso de uma quantidade tão grande de drogas que ocasionou a overdose seguida de uma parada cardíaca que resultou em sua morte.

Minhas intenções em buscar tratamento para ela foram as melhores, a de todos nós, porém o sentimento de culpa não me deixava, afinal, se ela não tivesse passado tanto tempo sem sua maldita droga ela não teria consumido o tanto que consumiu e talvez estivesse aqui conosco.

Esses “se” é meu tormento, mesmo agora não valendo de nada.

[…]

— Filho estava a sua procura! — disse Mikael apreensivo vindo ao meu encontro assim que retornei a sala de visitação. — Onde está sua mãe?

Olhei em volta procurando-a.

— Voltou pra casa de táxi, disse que te espera pra jantarem, ela não queria um segundo reencontro explosivo com Carol — disse deixando que a reprovação tingisse minha voz. — Ela está com Arabella, não está?

— Chamando-a pelo apelido novamente filho? — conjecturou reprimindo um sorriso provocador.

E então notei que naquele dia já havia voltado a chamá-la assim mais vezes do que deveria.

— Mikael… pode se ater somente ao que te pergunto sem suas gracinhas, por favor? — devolvi com um tom involuntário de petulância.

Novamente seus lábios se retorceram reprimindo um sorriso que prontamente ignorei.

— Sim Niklaus, estão, por fim, juntas.

Fechei os olhos e inspirei lentamente pelo nariz, ciente de que estava trincando os dentes.

Mikael esperou.

— E a transfusão, como foi? — questionei tentando não imaginar Caroline e Arabella juntas, pois seria o mesmo que entregar o troféu de ganhador para o pior participante.

— Ocorreu tudo bem sim, sua filha já está bem e foi transferida para um quarto — respondeu meu pai voltando a se sentar em uma das fileiras de cadeiras e eu o acompanhei. — Aliás ela só precisará de mais 48 horas por aqui, já que querem se certificar que não está mais anêmica e também para ficarem de olho se não terá nenhuma reação.

Assenti voltando a relaxar minimamente sentindo o cansaço me abater.

— Ligou para Lexi para avisar que Arabella está aqui? — perguntou Mikael quebrando nosso silêncio.

— Esqueci de te avisar pai, Lexi pediu demissão, ela não é mais a preceptora de minha filha, desde a tarde da queda de Arabella, então não creio que saiba o que aconteceu.

Por essa Mikael não esperava, de modo que me olhou pasmo.

— E por que ela fez isso? — rebateu em tom de censura e ao fitá-lo vi também que seu olhar carregava critica.

Meu pai se esquecia facilmente que o monstro não era eu nessa equação.

— Segundo ela porque não queria ver Arabella sofrendo com minha relutância em não permitir que Bella visse essa mulher.

— A mãe dela, você quis dizer filho… a mãe! — corrigiu.

Dei de ombros.

— Que seja pai! E o irônico de tudo isso é que olha só em que situação tudo isso nos levou — disse rindo sem humor refletindo sobre tudo o que ocorrera e em como meus esforços foram em vão.

Mikael sorriu abertamente.

— Deus escreve certo por linhas tortas meu filho, se você não permitiu que Bella reencontrasse a mãe por amor à sua filha percebe que foi pela dor?

Suas palavras me fizeram estremecer até a alma, compreendo, por fim, que iria ser sempre assim. Se não cedesse de modo fácil viria do modo complexo.

E o modo complexo trazia dor.

— E como serão as coisas agora? Vai arrumar outra babá?

Não havia pensado em nada disso ainda.

— É o mais sensato, até porque tenho a construtora também! — concluí.

— Bom… — Ele parou, e depois as palavras saíram num jato. — Por que você não deixa a menina com a mãe dela?

— Não! — depreciei sua sugestão mais por força do hábito.

— E o que pretende… proibir que ambas se vejam e que mais incidentes como este se repitam?Por Deus sua vilha não é que nem um gato, ela não tem sete vidas!

O fitei atônito.

— Não pai, Caroline poderá ver Bella… mas não será quando ela quiser, haverá regras que estabelecerei ainda e as mesmas terão de ser seguidas! — adverti friamente.

Mikael se curvou sobre a cadeira, sua expressão me pareceu insondável.

— Pelo menos já é um começo! — admitiu e senti certo tom pejorativo.

— Mas sabe Niklaus — chamou-me minutos depois interrompendo meus pensamentos retomando o assunto “Lexi”. — eu agiria da mesma forma… não haveria de querer ver minha neta chorando, sofrendo por um direito que ela tem enquanto você nega por que acha conveniente para si.

Meus olhos se estreitaram e um súbito desejo tomou conta de mim.

— Queria ser como você pai… saber perdoar, sobretudo esquecer — confessei com ardor. — Deve ser mais fácil seguir, mas as coisas não são assim, não para mim, infelizmente!

Mikael suspirou.

— A natureza humana é muito complexa meu filho. Muitas vezes por receio de enfrentar uma situação, que já fez com que o controle escapasse de nossas mãos, preferimos reagir ao contrário da lógica impondo barreiras com medo de enfrentar a realidade.

— Papai você e essas suas frases feitas! — ponderei.

Eu havia compreendido o que mesmo havia me dito, todavia não conseguia imaginar um mundo onde Caroline fosse inocente; não com todas as provas e indícios.

Mikael ergueu os olhos para o teto e depois tornou a perguntar:

— Já se permitiu dar a Carol o benefício da dúvida Niklaus?

Algumas lembranças muito desagradáveis começaram a retornar. Eu estremeci e pestanejei.

— Já papai… mas então me lembro de Rebekah e de todas as vezes que chamou por Caroline antes de morrer, o jeito que a amava, que a admirava. Como parecia necessitar dela, como se Caroline fosse a única que lhe desse paz, paz esta trazida pelas drogas, claro! E tem as provas que a incriminam e a tornam culpada. Pai eu encontrei droga nas coisas dela!

Mikael assentiu.

— Filho, de todos os modos eu acredito nela! — confirmou o que já suspeitava e a intensidade de sua declaração me fez desviar de seu olhar. — Hoje fitei o fundo de seus olhos e pedi a verdade, mesmo já a tendo perdoado e ela se intitulou inocente… E eu vou ajudá-la a encontrar a verdade e provar sua inocência, não sei como, mas a ajudarei!

Assenti não indo contra, afinal cada qual lida da maneira que lhe convém.

Para mim as coisas estavam esclarecidas.

— Stefan voltou! — anunciei deixando Mikael a par de seu regresso mudando de assunto.

Mikael me olhou surpreso, afinal fazia tempo em que não tínhamos tido notícias dele.

— Falou com ele? Como está? Faz tempo que não dá as caras!

E era verdade. Stefan saiu da cidade depois da morte de Rebekah. Ele a amava mas Rebekah não o amava como o mesmo merecia.

— Não pude falar com ele… as circunstâncias não deixaram, mas sei que ele me procurará, então, teremos tempo!

Mikael concordou e logo acrescentou:

— Filho já que minha neta está bem vou te mostrar para onde a transferiram e depois vou pra casa lidar com sua mãe… mas amanhã eu dou uma passada por aqui!

Tivemos de dar a volta e ir para a ala dos leitos de internação por outro caminho, já que o percurso que Mikael e Caroline fizeram é restringida a médicos e funcionários. Assim que meu pai mostrou qual era o quarto se despediu e partiu.

— Mas essa gelatina não está gostosa… ela está sem sabor mamãe! — pude ouvir a voz de Bella se queixando de sua sobremesa ao destravar a porta, porém não entrando.

Mesmo não querendo Caroline em nossas vidas foi inegável que me emocionei ao ouvir minha princesinha chamando-a de “mamãe”.

Decidi escutar o que diziam:

— Mas você vai comer tudinho senhorita, a enfermeira me disse que você foi muito valente e não sentiu medo na hora que colocaram meu sangue em você, não foi assim? — perguntou Caroline tentando encorajá-la.

— Foi o seu sangue mamãe? — retrucou surpresa e eu pude, mesmo sem ver, imaginar sua expressão.

— Foi sim! — disse Caroline provavelmente lhe dando um beijo estalo, visto que, ouvi o ruído.

— Mamãe, mas era muito sangue, você não vai ficar dodói sem ele? — perguntou ingenuamente.

Sorri comigo mesmo.

— Não meu amor, a mamãe está bem e se fosse preciso eu daria cada gota, tudinho se significasse que você estivesse bem, mas… deixa de me enrolar e abre a boca, vamos, é a última colherada e a gelatina acaba.

Arabella era mestre em distrações, pelo visto encontrou alguém tão teimosa quanto a mesma.

— Tá eu como, mas não quero nunca mais ficar em um hospital, pois a comida é ruim! — sentenciou manhosa.

— Que assim seja meu amorzinho! Agora vamos, a última e acaba, olha o avião…

— Mamãe e o papai? — perguntou Arabella no momento em que entraria no quarto, porém me detive.

Pude escutar o ruído de passos no quarto e depois algo sendo depositado por sobre algo maciço, uma mesinha talvez e soube que se tratava da bandeja com o almoço de Bella.

— Seu pai está com seu avô filha, logo ele vem te ver! — anunciou Caroline calmamente.

— Mais ele nem passou para me dar um beijinho… aposto que está chateado comigo! — disse Arabella infeliz.

— Não meu amor, seu pai não está chateado com você, muito pelo contrário, ele esteve ao seu lado a noite toda, mas você estava sedada que é o mesmo que dormindo e não viu. — explicou. — Estávamos todos assustados Arabella, filha nunca mais faça uma loucura dessas…

— Mas eu queria ir atrás de você mamãe! — objetou.

O remorso voltou a me assolar.

— Eu sei minha filha, mas já pensou se conseguisse ir para a segunda etapa desse seu plano e fosse parar nas ruas e se perdesse? — disse e um arrepio frio transpassou por minha espinha. — Do mal a pior, ainda bem que está aqui do que perdida longe da gente então prometa, prometa que jamais tornará fazer algo assim, por favor!

— Prometo mamãe! — assegurou-lhe. — Juro juradinho que não desço mais pela sacada e também não tenho mais motivos… porque tudo o que eu queria eu tenho bem aqui do meu ladinho.

Não sei o que se passou no quarto, pois ambas ficaram em silêncio por alguns minutos.

— Papai sabe que você está aqui? — voltou a perguntar Arabella abruptamente.

— Claro que ele sabe! — respondeu Carol em um átimo.

— Sabe, o papai e a Lexi, minha babá, não queriam deixar que eu te visse, por que mamãe?

Fiquei apreensivo com a resposta que Caroline daria então esperei.

— Bem filha… — começou ela indecisa tentando encontrar uma forma de explicar a nossa filha. — É que, é que seu pai, na verdade queria… , te fazer uma surpresa...

— Uma surpresa mamãe? — rebateu Arabella também surpresa também me deixando no mesmo estado.

— É sim meu anjinho sei que logo será seu aniversário, faltam menos de 3 meses e esse seria o presente do seu pai pra você — titubeou me dando um álibi para justificar meu comportamento, mas é claro que Arabella não percebeu. — Mas aí eu não aguentei esperar e fui te ver antes!

Sua resposta me tranquilizou e fez sentindo para uma garota de 6 anos.

— Mamãe então foi por isso que aquela moça que estava com você também te segurava quando você tentou ir até mim?

Caroline protelou por alguns instantes e eu tentei compreender do que falavam sem sucesso.

— Exatamente, mas essa moça se chama Bonnie e é amiga da mamãe! — confirmou Caroline satisfeita pela sua explicação.

— Atrapalho? — perguntei decidindo me fazer presente irrompendo pelo quarto.

Arabella estava quase como sempre costumava ser se não fossem um curativo que revestia parte de sua testa e uma polegada de seu couro cabeludo, algumas olheiras ao redor de seus olhinhos e a perna engessada.

— Papai — disse ela com entusiasmo abrindo um longo sorriso me deixando ver como estava alegre por me ver.

Caroline deixou a cadeira ao lado da cama deixando que eu me aproximasse caminhando vagarosamente até a cômoda fingindo ajeitar algumas coisas lá me dando espaço.

— Oi minha princesinha — saudei voltando minha atenção para meu bem mais precioso lhe dando um abraço forte e um beijo em suas quentes bochechas antes de ocupar o lugar de Caroline.

Era bom sentir sua pele quentinha sobre a minha, sobretudo, ver cor em suas bochechas e rosto e não aquela figura lívida como quando a encontrei no jardim.

— Como se sente filha?

— Muito bem papai! — respondeu com excitação na voz. — E agora mais feliz ainda por ter a mamãe comigo.

Engoli em seco.

— Vou deixar vocês a sós para ficarem mais à vontade... — anunciou Caroline se aproximando de nós dois pegando entre as suas uma das mãozinhas de Arabella sentando-se na beirada da cama a beijando logo sem seguida. — Já volto minha linda!

— Não vai não! — pediu Arabella queixosa agarrando a mão de sua mãe impedindo-a de se afastar. — Mamãe fica aqui com a gente.

Caroline não soube o que fazer olhou de Arabella para mim totalmente perdida. Claramente era percebível que estava em um impasse; indecisa entre deixar a filha ou não.

— A mamãe não vai embora docinho — explicou brincando com os dedinhos de Bella me lançando um olhar sério como para reafirmar seu argumento. — Só vou até a lanchonete comer algo, pois já é quase noite e eu nem almocei ainda. Vou comer algo rapidinho e volto pra você e enquanto isso você conversa com seu pai, que tal?

Arabella olhou-a mais um pouco, sondando-a e então voltou a questionar:

— Você promete que vai voltar? — perguntou incerta e em seus olhinhos podia ver medo.

O apelo que Arabella tinha para com a mãe me deixava inquieto.

— Eu prometo Arabella. Prometo que nada e nem ninguém — declarou me olhando furtivamente de modo que nossa filha não percebesse. — Vai me impedir de voltar e estar a seu lado.

— Nunca mais mamãe? — rebateu.

— Nunca mais benzinho… bem, mas agora eu vou lá, pois quanto antes eu for mais rápido eu volto!

Então Arabella a soltou permitindo que Caroline se fosse.

— Ela vai voltar filha! — eu disse, tentando esconder minha irritação notando que Arabella não tirava os olhos da porta por onde Caroline saiu.

Perante minhas palavras Arabella deixou de olhar em direção a porta voltando seus olhinhos para os meus e depois abaixando seu olhar receosa e então percebi que não era só o medo de Caroline não regressar que ela enfrentava.

— Não estou chateado com você filha! — disse sabendo o motivo pela mesma evitar meu olhar.

— Jura que não? — perguntou me encarando surpresa.

Sorri acariciando sua bochecha subindo minha mão contornando delicadamente com os dedos suas olheiras profundas.

— Não estou Arabella! — informei-a continuando com minha carícia agora pela ponta de seu narizinho indo em direção de seu curativo, mas desisti quando Arabella estremeceu minimamente.

Arabella suspirou de alívio sorrindo mais abertamente.

— Sabe filha o papai as vezes faz e diz coisas levados por sentimentos tristes minha pequenina — iniciei arrependido. — Como naquela noite, mas já tive uma dose das consequências de meus atos e prometo que pensarei mais em você do que em mim próprio e também prometo que não vou permitir que estes sentimentos tristes e feios te afete mais.

Minha filha me avaliava atentamente.

— Será que você conseguiria me perdoar? — supliquei.

— Papai eu não entendo e, aliás, a mamãe já me explicou o porque de você e Lexi agirem daquela forma… me falou da surpresa, poxa quem sente muito em estragar sou eu, vem aqui — pediu abrindo seus bracinhos querendo um abraço.

E demos fim a este assunto nos abraçando.

Arabella passou a me contar todos os detalhes de seu reencontro com a mãe totalmente entusiasmada. Fazia tempo que não a via tão feliz e havia também certo brilho em seu olhar. Brilho este que, por mais que doesse em mim, não mais deixaria que se perdesse em seus olhos.

[…]

— E… Arabella? — perguntou Caroline hesitante quando adentrou no quarto não a encontrando.

— A levaram para colherem sangue para um novo hemograma! — lhe informei.

Caroline assentiu e depois se virou fazendo menção de sair do quarto.

— Espere — pedi a contragosto. — Precisamos conversar!

Caroline se virou retrocedendo uns passos cruzando seus braços me encarando atônita.

— Eu sei — disse ela confiante como se já supusesse que abordaríamos o assunto.

Sentei-me na beirada da maca onde antes Arabella ocupava e fiz um gesto com as mãos para que Caroline ocupasse assento na cadeira de frente a mim e rendida ela aceitou.

— Bem, já quero deixar claro desde já que você já pode desconsiderar a ideia de que nossa filha vá morar com você!

Iniciei e pela sua expressão aparentava que sua respiração fora arrancada da mesma, contudo não foi contra minha imposição deixando-me prosseguir:

— Arabella tem residência fixa Caroline, vai para a escola e tem toda uma rotina já pré estabelecida — expliquei. — Tirá-la disso não seria aconselhável. Seu cotidiano já está todo moldado de modo que ela não vá mudá-lo com sua presença.

— Mas eu sou a mãe dela e

— E é uma ex presidiária — acrescentei calando-a. — Absorva e encare os fatos Caroline, como disse quando esteve na construtora, nenhum juiz tirará Arabella de seu ambiente estável e seguro porque abruptamente você reapareceu, ainda mais com seu status, essa probabilidade é nula!

Caroline virou seu corpo na cadeira me dando as costas por alguns instantes escondendo os olhos e quando acreditou que fosse seguro voltou a me encarar e naquele momento parte de mim ansiou que ela não tivesse feito o que nos fez.

— Niklaus. — pronunciou meu nome frigidamente. — Não se esqueça do papel que eu represento na vida dela… agora mais do que nunca!

Olhei-a com raiva e Caroline libertou-se da força de meu olhar.

— E só por esta razão que estamos aqui agora conversando e que tolero te olhar e estar em sua presença! — disse rispidamente. — Eu sei exatamente qual é a sua posição na vida dela Caroline e por não querer que nossa filha sofra perante um juiz ou crie expectativas que serão frustradas de poder viver contigo passando pelo estresse de um processo litigioso, que se analisarmos bem não seria disputante tendo em vista que a guarda unilateral já me pertence e eu não abro mão. Mesmo você sendo a mãe e ter a questão do que é o melhor para a menor sabemos que seu status não facilitará as coisas, ademais não quero que o esforço que tanto tive de não deixar que nossa filha soubesse de seu passado sujo viesse a tona e a afetasse… enfim, não quero nada disso para Arabella então por essas e outras razões eu te farei uma proposta.

Caroline esperou.

— Você e eu vivemos na mesma cidade, pelo que vi a onde mora agora não é tão distante… Proponho que em vez de procurarmos a justiça para solucionarmos esta questão eu permita conceder a você, claro entre as brechas da rotina de Arabella, algum espaço e tentarmos uma guarda compartilhada… — concluí exaurido.

Caroline me olhou surpresa não esperando pelo desfecho dessa nossa conversação.

— Você me dá sua palavra de que realmente será assim? Que vamos compartilhar a guarda de nossa filha e que não mais persistirá em nos manter afastadas?

Suspirei.

— Assim será! — garanti sentindo o amargor em minhas palavras em concordar e voltar atrás. — Não vou impedir a felicidade de minha filha, não mais!

Nós nos olhamos cuidadosamente por um momento e depois, enquanto seu queixo trincado e seus lábios torcidos aos poucos relaxavam, sua expressão tornou-se serena.

— Pode ficar com Arabella mais um pouco? — pedi receoso de lhe dever qualquer favor sentindo as palavras arderem em minha garganta, mas não poderia adiar mais.

Procuraria por Lexi e pediria pessoalmente para que voltasse para seu emprego.

— O tempo que for necessário!

Assenti me pondo de pé caminhando silenciosamente até a porta deixando Caroline para trás.

— Niklaus… espere! — pediu Caroline e ao me virar a mesma já estava ao meu lado frente a porta e eu me vi entre o abismo entre o que era certo, moral, ético e o que eu queria ao fitar seus olhos.

— Obrigada! — agradeceu estendendo hesitantemente sua mão direita em um gesto de comprimimento.

Olhava de sua mão para seu rosto perdido em pensamentos, alguns segundos se passaram e a mão prosseguia na mesma posição… senti quando a mesma retrairia seu gesto, porém antes que fizesse isso minha palma alcançou a sua balançando-a brevemente em um aperto de mãos; seu toque fez com que os pelos de meus braços se eriçassem e trouxe à tona mais lembranças.

Lembranças que eu queria esquecer.

— Não me agradeça... — pedi na quietude de seu gesto sentindo meu rosto enrijecer e minha voz ficar ríspida. — Eu não fiz por você!

Soltei sua mão e saí do quarto logo em seguida.

[…]

Já era noite quando o trânsito e a garoa fina, por fim, me deixaram conseguir chegar a casa de Lexi, como de praxe tive deixar o carro estacionado no início da rua e seguir a pé; por ser final de semana e haver um teatro e pubs próximos dali dificilmente havia vagas, contudo minha caminhada cessou no momento em que avistei sua casa estando alguns metros, afastado ainda.

Eles discutiam, era notório isso e com efervescência, contudo não fora a discussão que me chamou a atenção, mas sim as pessoas envolvidas na mesma.

Dei alguns passos hesitantes me aproximando mais visando ter certeza que eram eles sem ser notado ficando atrás de uma árvore e a constatação foi instantânea e me pegou de surpresa, afinal não encontrei sentido e jamais imaginei que três das quatro pessoas presentes se conheciam.

A discussão prosseguia. Matt, namorado de Lexi, pelo que notei não estava envolvido, somente observava e sabia que ele interveria caso as coisas saíssem dos eixos entre os outros três, desejei poder ouvir o que falavam, porém a distância me impedia e por mais que falassem algo não era o suficiente para captar o rumo da conversação acalorada, ademais, uma vozinha no fundo de minha mente me dizia para não me aproximar e me mantivesse oculto.

Já se permitiu dar a Carol o benefício da dúvida Niklaus?

Em um rompante a voz de Mikael com seu questionamento voltou a inundar minha mente deixando-me inquieto e, de certo, em um impasse.

Minutos depois farto de tentar encontrar lógica naquela discussão dei meia volta regressando ao meu carro decidido a ir atrás da única pessoa que poderia me dar as respostas que necessitava.

Ah, Caroline — disse baixinho, só para mim mesmo. — Você vai me explicar direitinho qual é a relação entre Lexi, Stefan e sua amiga Bonnie!

Liguei o carro e rapidamente dei a volta com o mesmo acelerando o motor indo de volta para o hospital.


Notas Finais


Até a próxima!


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