1. Spirit Fanfics >
  2. Reflexos de uma Injustiça >
  3. Pavilhão D

História Reflexos de uma Injustiça - Pavilhão D


Escrita por: Mumble

Capítulo 3 - Pavilhão D


Fanfic / Fanfiction Reflexos de uma Injustiça - Pavilhão D

 

Capítulo 3

Seis meses depois

OUTRO CUTUCÃO, TENTEI ME CONTROLAR antes que se irritassem e se juntassem e viessem me surrar novamente.

Era impossível para mim me calar quando o que eu mais desejava era gritar.

A dor era desesperadora.

Porra, você vai ficar quieta ou vai querer que eu vá até aí calar a sua boca novamente novata? — advertiu uma das minhas companheiras de cela quando outro soluço escapou de meus lábios.

Eu a ignorei não me importando com as consequências e nem com a possível selvageria.

— Você vai apanhar novata! — ameaçou uma outra detenta que ainda não sabia o nome, mas que estava irritada pelo tom de sua voz por não conseguir dormir por conta do barulho.

Quase caí do beliche quando um cutucão mais forte foi dado com o pé da ocupante da cama de baixo. Lucy.

Lucy Bennett, uma reeducanda presa por tráfico que com apenas algumas horas já soube que gostava de bancar a manda chuva do pedaço, boa parte das presidiárias, pelo que notei nessa primeira noite no pavilhão a temia, mas estranhamente eu não tinha medo dela, entretanto o fato de não ter medo não significaria que não apanharia. Lucy tem o mesmo porte físico que o meu, mas a minha inexperiência em ser selvagem me deixava ser uma fracote e, ademais, algo que aprendi é que quando se tem um grupo na cadeia todas são bem unidas, se apanha de uma... apanha de todas.

Há um ditado que diz que em terra de cego quem tem um olho é rei, na prisão, só as fortes sobrevivem, e eu estava longe de ser uma selvagem, mas o tempo transforma, porém acreditava que nem mesmo assim, afinal é de minha natureza não ser agressiva, mas isso na teoria, na prática as coisas podem ser diferentes, muito embora eu não quisesse levar comigo nada desse lugar ao qual julgava ser o verdadeiro inferno, pois fora daqueles muros tinha um anjinho a minha espera.

Sabia que não iria ser fácil. Estava perdida.

Voltei a fungar o sapatinho de minha menina; o único pertence dela que me restou.

Não foi algo repentino, é claro, haviam estipulado uma data e eu estava ciente.

A princípio estava decidida em entregar minha pequena a Klaus, afinal ele é o pai, porém senti que ele estava tão estranho comigo ultimamente. No começo, quando fui transferida para este presídio ele me visitava constantemente, ou melhor, toda semana, pois as visitas eram semanais, atendia meus telefonemas do presídio, mas depois que a nossa filha nasceu podia contar nos dedos as vezes que o vi, sendo que, nas poucas vezes em que foi me ver me olhava de forma diferente. Eu o flagrava observando-me e sempre que perguntava o que havia de errado nenhuma resposta concreta surgia e foi então que notei que estava distante... frio. E depois, repentinamente ele não apareceu mais e o número foi trocado por outro. Eu bem que tentei arrancar respostas de minha mãe, afinal também notei que ninguém da família de Klaus vinha me visitar, nem mesmo Rebekah, minha melhor amiga. Liz desviava o assunto, como se não quisesse se aborrecer.

E então eu constatei que na nossa relação eu o amava mais. Klaus não me esperaria.

Ele não acreditavam em minha inocência. Após a condenação a desconfiança pairava entre todos, pude sentir isto.

Sete anos é muito tempo.

Arabella ficou com a avó.

Foi em uma quarta feira, Liz foi ao presídio e eu tive de entregá-la. A princípio a passei para o colo de minha mãe como ocorria todas as vezes que ela vinha nos ver, algo natural, mas quando ela me deu as costas e eu vi minha bebê esperneando olhando para mim levantando seus bracinhos miúdos e fazendo movimentos com as mãozinhas me querendo, me chamando... eu tentei correr para pegá-la de volta já sentindo o vazio de sua ausência, mas me impediram e ela, Arabella se foi.

Nada me preparou para a dor de não ter minha filha em meus braços, nada.

Toda vez que lembrava os horários que ela mamava, ou quando a trocava ou dava banho... sentia tanta falta. Tirarem uma filha de uma mãe, minha filha, isto sim considerei um crime. O pior momento, o mais devasto era quando recordava de quando me deitava para dormir e não tinha mais o calor de seu corpinho miúdo junto ao meu, o ressonar de sua respiração branda, seus grunhidos desconexos.

Outro soluço e este foi a gota d’água para Lucy que enfurecida levantou-se me arrancando da cama pelos cabelos me arremessando contra as grades da cela gritando para que me calasse enquanto as outras riam achando graça de sua discrepância.

— Bem vinda ao pavilhão D novata! — zombou uma outra detenta, Trudie, esta sendo bem mais velha que eu enquanto as outras prosseguiam se divertindo.

Atordoada pela selvageria recolhi os sapatinhos de minha filha que havia caído antes que as selvagens resolvessem destruí-los e quedei-me ali, encostada as grades daquele inferno.

— Se eu ouvir mais um pio sequer eu te afogo na privada cheia de merda lorinha! — ameaçou Lucy voltando a se deitar.

Poucas horas após terem arrancado Arabella de meus braços eu deixei a ala que estava, que era a qual as mães reeducandas ficavam e fui encaminhada para o pavilhão D.

Se eu imaginava que a ala a qual estava era ruim, esta era péssima, ali não havia cores, só um cinza insistente. Literalmente me sentia no inferno que mesmo não conhecendo estava convicta que não deveria ser diferente disto, e o que me torturava era saber que dali tão cedo eu não sairia.

[…]

Horas dali, em algum lugar do Canadá.

— Chega de escândalo, santo Cristo, por favor, olha teu estado… está tarde, o padre Cristóvão não recebe ninguém tão tarde assim, vá embora e volte amanhã de dia, sim? — tentou dissuadir a beata.

Mas não haveria trato, pois decididamente eu só sairia dali depois de conversar com o padre.

— Eu já disse sua carola metida, já disse… só vou embora depois de falar com o padre!

— Mas ele não vai te receber, entenda isso e…

— E é obrigação de todo sacerdote receber seja quem for, ande, sem mais delongas carola, vá chamar seu senhor que eu quero me confessar! — exigi novamente se largando em um dos muitos bancos daquela igreja.

— Vou ver o que posso fazer! — ralhou indignada e sem opções a beata seguiu resignada até a sacristia para chamar o padre.

Logo o padre veio ao meu encontro, porém estava sozinho desta vez e assim que se aproximou de mim se pronunciou:

— Boa noite, em que posso lhe servir? — questionou o padre serenamente.

— Padre… vim desabafar contigo, o senhor é a única pessoa ao qual eu posso contar sobre o que fiz sem medo de que essa minha verdade venha à tona, estou enlouquecendo padre, preciso contar a alguém e ninguém melhor do que o senhor em segredo de confissão.

— Claro jovem… venha, me acompanhe até o confessionário!

Assim que estávamos postos em nossos lugares o padre deu início ao rito:

— Ave Maria puríssima… — iniciou o sacerdote.

— Sem pecado concebida. Abençoe-me padre porque pequei e continuarei pecando!

— Quais foram teus pecados jovem?

— Amar padre… amar incondicionalmente.

— Fale mais abertamente jovem, sem receio, o que disser não sairá jamais daqui.

— Padre amei alguém que de forma errônea e doentia amou outra pessoa. Presenciei o desespero de ter de ver esse alguém sofrer em silêncio por saber que o amor que ao qual sentiu era proibido. Eu amei padre, mas tive de ver o amor que tanto quis ter ser dado de mão beijada a essa outra pessoa. E menti, enganei. — Pausou minimamente. — Fiz coisas as quais não me arrependo. A vingança é tão boa padre... fiz com que essa outra pessoa pagasse um pouco por cada lágrima que esse alguém que amo derramou silenciosamente e padre, enquanto eu viver não permitirei sua felicidade, custe o que custar, pois ela não terá seu final feliz, assim como eu jamais terei.


Notas Finais


Música para o capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=fNjgfTfQjCQ

Repararam que o (a) culpado (a) foi se confessar ao padre? Pois é, logo tudo será explicado, mas até lá torço para que gostem do desenrolar dos acontecimentos na história.
O próximo saíra na terça, mas posso me adiantar. Até mais!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...