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História Reinado - A palavra "perfeição"


Escrita por: KittykatMiau

Notas do Autor


"Se você treme de indignação perante uma injustiça no mundo, então somos companheiros!"

Capítulo 24 - A palavra "perfeição"


Fanfic / Fanfiction Reinado - A palavra "perfeição"

Mey:

 

Que agonizante tortura. Minhas preces jamais seriam atendidas ao Deus que dizem ter amor sublime por todas as coisas. Ora, se me amas por que me obrigas a sofrer? Oh Deus em que minha mãe e meu pai me falaram tanto, por que insistes em me deixar a chorar? Por que irá me deixar ser trocada como um mero objeto de troca para quem não amo? É tão injusto,mas vivemos em um tempo em que as mulheres não tem voz. Não são ouvidas e nem respeitadas. Somos meros objetos a mercê da bondade ou fúria dos homens. Até quando não teremos vida própria? Mesmo eu, a princesa da Escócia, não tenho o direito de traçar o meu próprio destino.

Serena: “-Mey, está me ouvindo?” –mamãe estava realmente me tirando a pouquíssima paciência que eu já tinha e eu não aguentava mais discutir com os meus pais sobre o fato de que eu não queria me casar. Como vou me casar com um completo estranho? Isso é revoltante!

Mey: “-Estou,mamãe.” –disse mexendo nos meus longos fios castanhos,formando um cacho.

Serena: “-Eu e sua avó já estamos cuidando de selecionar os candidatos. Creio que ficará muito satisfeita. Encontrará o amor entre um deles, com certeza.” –é sério isso? A minha mãe acha que estamos em um conto de fadas onde tudo sai as mil maravilhas? Me recuso a acreditar que o amor da minha vida entrará por aquela porta dentre tantos outros homens.

Mey: “-Espero mesmo. Do contrário viverei uma vida agonizante.”

Hian: “-Não seja dramática, Mey. Se eu e sua mãe conseguimos encontrar o amor nessa competição,então você também encontrará.” –quando se tratava desse assunto o papai quase não falava. Acho que ele acha um assunto delicado demais e deixa nas costas da mamãe. Isso é estranho porque quem estava no meu lugar na última competição era ele e não a mamãe.

Serena: “-Me escute minha filha. Eu e seu pai passamos por coisas horríveis na competição,coisas que eu prometo que não deixarei acontecer com você. Eu... –minha mãe abaixou a cabeça  e por um momento pensei que ela estava se segurando para não chorar-eu quero que você seja a princesa esperta e determinada que eu sei que você é, isso poupará o seu coração de qualquer sofrimento profundo. Mas não se esqueça de ser gentil e bondosa.”

Todos os acontecimentos do meu passado me vem a cabeça. Eu era tão jovem mais tirei tantas vidas apenas por não conseguir controlar os meus malditos “dons”. “Dons” não, deveria se chamar é maldição. Tudo o que eu consigo fazer é espalhar o medo por isso prefiro deixar as pessoas longe de mim e agora a minha mãe quer que eu fique cercada por homens desconhecidos? E se eu perder o controle e matá-los? Durante todos esses anos  meu primo Dennis foi o único em quem confiei. Nos tornamos irmãos. Eu me senti confiante para contá-lo sobre as coisas impossíveis que posso fazer e ele me protege de todas as formas possíveis. Talvez eu seja a única mulher por quem ele se importa,além de sua mãe, já que ele corteja todas as donzelas que cruzam o seu caminho. Até eu conseguir controlar os meus dons eu realmente passei por uma fase difícil. Eu fiquei isolada de tudo e todos e fui testada por diversos guardas que no fim morreram até eu conseguir me controlar. A mais profunda tristeza inundou o meu ser durante anos e por muitas vezes pensei que a morte seria a solução para mim já que tudo o que eu causava era a destruição mas eu nunca tive coragem de ir adiante com minhas tentativas de suicídio. A solidão e a tristeza foram minhas aliadas e minhas únicas amigas durante anos, já que minha mãe não permitia nem que o Dennis fosse me visitar. O papai nunca soube do que sou capaz então a mamãe deu uma desculpa de que eu estava com uma doença contagiosa e precisava ficar isolada.

O real motivo de eu não querer me casar é que eu não quero mais matar ninguém. Minha liberdade foi tirada de mim a muito tempo atrás quando eu tive a minha primeira vítima,então isso já nem me importa tanto assim. Mas se eu me casar em algum momento poderei sentir sentimentos ruins e acabar matando meu marido.

Mey: “- Sei o que estás querendo dizer. Não se preocupe mamãe, controle é algo que fui obrigada a ter desde que me entendo por gente. Se isso for tudo peço licença para me retirar.“ –já estava farta daquele assunto. Meu pai assentiu e eu sai por aquela porta indo em direção ao jardim do palácio,mas antes de fechar as portas pude ouvir a minha mãe dar ordens a uma serva, ela dizia “avise a rainha Lanna de que solicito uma reunião com ela”. Pensei no que ela poderia querer com a minha avó mas a minha curiosidade não estava muito elevada no momento.

Eu fui ao local onde meu tio Ronny praticava arco e flechas, a muito tempo atrás ele me ensinou arco e flechas mas depois desse aprendizado me interessei em praticar arremesso de facas. Atirei umas três vezes com o arco e flecha e o guardei,em seguida uma serva chamada Saara me entregou os facões e eu comecei a arremessá-los acertando todos os meus alvos.

Saara: “-Vossa majestade tem uma ótima pontaria,meus parabéns.” –ela disse com o sorriso mais simpático do mundo e isso fez eu sentir uma afinidade por ela. A mulher parecia ter a idade de minha mãe.

Mey: “-Obrigada. Mas é um pouco constrangedor,não acha? Por ser princesa todos dizem que eu deveria ser mais ‘delicada e indefesa’.”

Saara: “-Tenho certeza de que a rainha não é uma dessas pessoas que lhe dizem isso.” –uhn? Ela estava falando da minha mãe?

Mey: “-Não, não é. Como sabe disso?”

Saara: “-Eu era uma das damas de companhia da rainha,fazem 4 anos de que me retirei de meu cargo. Eu me casei e o abandonei. Agora apenas trabalho no castelo.”

Mey: “-É...não sobrou nenhuma dama de companhia para a mamãe. Vocês deixaram ela sozinha.Mas sei que ela ficou muito feliz por terem traçado seus destinos e encontrado a felicidade.”

Saara: “-Oh você me lembra tanto ela em sua juventude.” –a mulher esboçava o maior sorriso do mundo e isso me fez rir junto a ela.

Mey: “-Obrigada. Bem, espero que isso seja um elogio haha.”

Saara: “-Claro que é. A sua mãe foi a melhor coisa que já pisou nesse palácio. Se hoje a paz e a alegria existem é por conta dela.” –minha mãe nunca me contou de fato sobre o seu passado,ela me contava o básico. Ela me contou sobre o meu avô que morreu em um ataque ao castelo,me contou que houveram revoltas,me contou que coisas muito ruins aconteceram durante a sua competição mas nunca me contou quais coisas eram essas. Talvez ela não me contasse porque quisesse me proteger de seu sofrimento passado,mas isso me despertava uma insana curiosidade.

Mey: “-Ela nunca quis me contar em detalhes sobre as coisas do passado. Foram dias tão ruins assim?”

Saara: “-Esse palácio já viu muita escuridão,alteza. Sua mãe foi uma enorme vítima de circunstâncias cruéis e eu a acho a mulher mais forte que conheço por viver tais situações e conseguir cessá-las.”

Mey: “-Me conte quais situações foram essas. Você era a dama de companhia dela então deve saber.”

Saara: “-Não tenho permissão para isso mas sei que um dia a sua mãe se abrirá com você e te contará tudo o que ela quer te proteger.” –hm.Todos sempre misteriosos como sempre.Odeio isso. É como se eles pensassem que sou fraca demais para saber das coisas.

 

Mey: “-Hm.”

 

Saara: “-Majestade,vou guardar seu arco e flecha. Peço licença para me retirar.”

 

Mey: “-Claro,licença concedida.”

 

Tornei minha atenção ao alvo em minha frente lançando as facas e acertando lindamente o meu alvo. Ao menos praticando minha firme pontaria eu conseguia livrar um pouco a minha mente dos problemas que me cercavam,como o fato de que logo o palácio estaria cercado de vários homens e mulheres para eu e meu primo decidirmos com quem iremos nos casar. Que vida injusta, sei que nós dois queremos apenas a nossa liberdade mas isso é algo que quem é da realeza não pode ter. Senti duas mãos repousarem docemente sobre cada lado de meu ombro. Aquele toque quente e amigável eu reconheceria em qualquer lugar,mesmo não vendo o rosto da pessoa que me tocava.

 

Dennis: “-Está determinada demais em seu alvo,pequena Mey. Devo adivinhar que teve uma conversa com seus pais?” –eu automaticamente sorrio. Dennis sempre me chamou de ‘pequena Mey’ e eu adorava isso,achava super meigo.

 

Mey: “-Está tão na cara assim que a princesa não pode ter nada o que quer?”

 

Dennis: “-Pare de reclamar. Olhe a sua volta! Você tem tudo o que uma pessoa gostaria de ter. Está reclamando de boca cheia, pequena Mey.”

 

Mey: “-Podemos ter todos os bens matérias cobiçados,meu caro primo, mas o mais precioso bem que qualquer ser humano deveria ter nos carece... nossa liberdade.”

 

Dennis: “-Logo estaremos amarrados a alguém,só de pensar nisso me dá ânsia de vômito. Imagine eu casado! Nem dá para imaginar. Vou deixar muitas donzelas tristes.” –que convencido! Não sei se rio ou se fico brava quando ele diz essas coisas.

 

Mey: “-Ora primo,não se deixe levar pela ilusão.”

 

Dennis: “-Não é ilusão, é a mais pura verdade! No dia do meu casamento haverá um número incontável de donzelas chorando. Será um dia fúnebre no castelo.” –tive que rir dessa vez.

 

Mey: “-Me diga...quando se casar acha que conseguirá se controlar e ser fiel a sua esposa ou acha que continuará procurando outras moças?” –ele ficou me olhando sério durante um tempo e depois caiu na risada. Arg esse idiota!

 

Dennis: “-Hahahahaha fiel? Ah pequena Mey, você está muito engraçada hoje. Assim que as donzelas chegarem ao castelo eu avisarei que se forem casar comigo terão que aceitar meus pulos fora de casa, caso contrário já podem se retirar do concurso.”

 

Mey: “-Que cruel,você não muda mesmo. Se não fosse meu primo eu o abominaria.”

 

Dennis: “-Não seja má em dizer uma coisa dessas!” –ele me disse fazendo uma carinha de cachorrinho triste.

 

Mey: “-Estou falando sério. Para mim não há nada pior do que traição. Eu abomino isso. Eu vejo como as esposas dos nobres deste castelo vivem tristes e chorando pelos cantos,sabendo que seus esposas se deitam com outras donzelas mais jovens e atraentes do que elas. Nenhuma mulher deveria passar por isso,mas parece que nós mulheres passamos por muitas outras injustiças além dessa. Está tudo errado! As pessoas se casam por um falso sentimento ou talvez por algo que nem exista apenas por bens materiais e passam a vida com um falso sorriso no rosto,tentando dar a impressão de terem uma vida perfeita,a vida que sempre almejaram. Mas é tudo falso. Nada é real. As pessoas não são reais. ”

 

Vivemos em um mundo de mentiras, falsos sentimentos, atitudes forçadas, hipocrisia, maldade e muita conversa. Reparo tudo à minha volta com muita atenção, e o que eu vejo? Sorrisos fingidos, amores traídos, gente pisando em gente, inveja, um olhando o defeito do outro sem mesmo olhar o próprio umbigo. O que me consola (raras vezes) é me deparar com pessoas de verdade, que olham nos olhos, são transparentes, honestas, e que como todo ser humano erra, porém, reconhece e procura não errar novamente. Pessoas que são aquilo que mostram ser. Estas pessoas de caráter admirável e sentimentos puros não se deixam levar pela onda de falsa devoção.

Para mim as únicas pessoas de caráter admirável que conheci até hoje são os meus pais. Apesar de não concordarmos com algumas coisas eles são as melhores pessoas que eu poderia ter em minha vida e eu os admiro muito mesmo. Eles são tudo para mim. Não sei se um dia conhecerei alguém admirável como eles. Sou tirada de meus pensamentos quando o Dennis pega em minha mão e me arrasta para dentro da floresta que havia atrás do castelo. Confesso que tinha um pouco de medo daquele lugar, a minha mãe sempre me dizia para não entrar na floresta porque nunca se sabia o que poderia encontrar lá mas o Dennis é aventureiro,destemido e eu me sinto segura com ele...por isso sempre me deixei ir para onde ele me chamava. Corríamos de mãos dadas,eufóricos e sorrindo para dentro da floresta. Não muito tempo depois chegamos a um lago... nós dois já nadamos muito em nossa infância ali. Esse lago é algo que eu divido apenas com ele, é como se fosse algo nosso. Sem nem pensar duas vezes ele me pego no colo e cai no lago comigo em seus braços.

 

Isso era tão nostálgico. Mesmo que eu tivesse engolido um pouco de água na hora de cair, logo estávamos nadando como quando éramos crianças e isso era ótimo. Livre de preocupações,livre de ordens,livre de deveres,livre de servas andando atrás de mim,e livre de fardos. Éramos apenas como duas pequenas e inocentes crianças se divertindo na água sem nem se preocupar em chegar molhada em casa e receber uma enorme bronca.

 

(...)

~~~~

O céu estava claro e o sol havia aparecido mais uma vez. Parecia um dia alegre,pois assim que acordei espiei pela janela e vi as pessoas felizes acabando de organizar o local para os mais novos convidados. Eu fiz a minha refeição diária com minhas família, incluindo meus tios e meu primo, e logo três servas entraram em meus aposentos para me arrumar. Minha avó as ordenou para que eu ficasse ‘perfeita’. Ela cisma em dizer essa palavra, embora todos saibamos que ela simplesmente não existe. Nada e nem ninguém é perfeito, disso posso ter certeza. É até loucura pensar em algo como perfeição,mas já aprendi desde pequena a aguentar os delírios de minha adorada avó. Ela e minha mãe entraram no quarto assim que fiquei pronta e começaram um discurso motivacional para mim e bla bla bla. Elas duas podiam ser bem chatas quando queriam, por sorte o meu pai me tirou do quarto e me salvou.

 

Hian: “-Já está quase na hora. As rainhas poderiam ir na frente,por favor? Quero um tempo com minha filha.” –a mamãe e a vovó concordaram e eu o abracei desejando poder tê-lo ao meu lado para sempre.

 

Mey: “-Obrigada por me salvar delas duas,papai.”

 

Hian: “-Acredite em mim,eu sei que quando a sua mãe e a sua avó se juntam não tem pra ninguém! Creio que você deve estar muito nervosa agora,eu sei porque eu estava no seu lugar no último concurso que ocorreu. Por sorte, você poderá se distrair rindo do seu primo e ajudando-o a arrumar uma noiva. –tive que dar um sorriso,o meu pai é um amor- de qualquer forma,já está na hora do concurso começar e eu quero ser a pessoa que estará ao seu lado quando você chegar naquele jardim e todos estiverem te esperando. Iremos e ficaremos de braços dados então quero que quando se sentir nervosa aperte o meu braço ok? Sei que não ajuda muito mas quero fazer o possível para você saber que estou do seu lado aconteça o que acontecer.”

Eu acenei com a cabeça e o abracei depois de depositar um beijo em sua bochecha e sussurrar um ‘eu te amo’ para ele. Se um dia eu for me casar, quero que seja com alguém como o meu pai. Minha mãe realmente é uma mulher de sorte e com um homem desses duvido que ela já sentiu incerteza ou insegurança na relação dos dois. Aposto que ela se apaixonou assim que o viu e lutou muito com as outras candidatas para tê-lo ao seu lado. Pego no braço do meu belo pai e ele me conduz até o jardim. De principio ando com a cabeça levantada,como uma princesa deve andar mas em si eu não estava olhando para nada. Eu estava apenas rezando para não acabar tropeçando devido ao meu nervosismo e medo. Nos juntamos a frente de todos os candidatas junto com o resto da família real e enquanto o meu pai começa um adorável discurso eu crio coragem e olho cada pessoa que estava ali, devo admitir eram cavaleiros e damas adoráveis. Meu primo ficará louco com tanta mulher assim perto dele e tentando conquistá-lo, mas em si a beleza não importa para mim. Além disso eu já disse que não acredito em perfeiç... Sim,mal acabo de pensar naquela bendita palavra em que não acredito quando meus olhos se cruzam com um par de olhos azuis da cor do oceano e do céu ensolarado da tarde. Mal pude conter a minha respiração quando o olhei de cima a baixo. Apertei forte o braço do meu pai tentando achar algum ponto de sanidade e para tentar me segurar já que eu estava me sentindo tão fraca com o olhar do loiro com quem trocava olhares que pensei por um momento que fosse cair no chão. Papai, obrigada por ser meu apoio. Depois de ver esse homem loiro, acho que a partir de hoje acredito na palavra ‘perfeição’. Coloquei a mão esquerda que não segurava o braço do meu pai no coração e fechei os olhos tentando acalmar a minha respiração e as batidas do meu coração,enquanto o homem ‘perfeito’ ainda me olhava.

 

~~~~ continua~~~~~



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