Jimmy desceu do camelo e ordenou o mordomo a esperá-lo voltar. Aquilo era bom, dar ordens!
Andou em direção a velha cabana que lhe deu uma nova vida.
A Ampulheta de cristal contou que ele descobriria todas as respostas que desejasse ali; então, lá estava Jimmy.
Apesar de decidido, Jimmy estava com uma pontinha de medo, e isso era revelado nas suas mãos trêmulas e nos passos pesados e receosos.
Quando se aproximou da tenda de circo assustadora, Jimmy ficou em dúvida.
Como bateria em um pedaço de pano? E não havia campainha. Talvez devesse bater palmas.
Suprindo esse diálogo interno, o curandeiro tão odiado pelo pequeno príncipe saiu da tenda, como se soubesse que Jimmy estava ali.
— Está parado aí por quê? Entre e se acomode de uma vez, alteza. — O “alteza” foi pronunciado com sarcasmo, irritando Jimmy.
Ele entrou e sentou em uma cadeira bamba que havia ali, mantendo a postura ereta.
— Nasceu para ser Sultão. Veja só! — K. Duco exclamou, para ninguém em especial. — Que coroa é essa?
Ele se sentou e cruzou as pernas no ar, deixando Jimmy fascinado. Era como se houvesse uma cadeira invisível.
— É de brinquedo. Uso para treinar quando for usar a verdadeira. — Ele tocou a coroa de plástico em sua cabeça.
— Mas é claro.
K. Duco parecia ter entrado em um devaneio, os olhos ficando distantes.
— O quê? — A voz do outro o despertou, fazendo K. Duco dar de ombros e perguntar o motivo de Jimmy estar ali.
— Eu descubli uma passagem secreta no meu palácio. E lá tinha uma espécie de ampulheta e bola de cristal, dois-em-um. Chamo-a de bolalheta. Andei em uma bicicleta e a bolalheta me disse para vir aqui. Disse que o senhor me daria respostas.
K. Duco arqueou uma sobrancelha.
— Ui.
Jimmy se irritou com o sarcasmo e desinteresse daquele feioso e alterou o tom de voz:
— Então me responda!
K. Duco ergueu o dedo indicador para Jimmy. E riu.
— Buá, buá. Esqueceu sua chupeta em casa? Você sequer me fez a pergunta, como responderei?
— Ah... Ops. Bem, me responda o que é aquela bolalheta.
— O nome certo é Ampulheta de cristal, ou Khalidah. Faz séculos que ela existe. Foi criada por uma feiticeira cruel que pensou em misturar o tempo e premonição para os vilões. Por isso ela criou uma ampulheta feita de cristal que podia visualizar o passado e futuro. Para a ampulheta funcionar, ela aprisionou o próprio espírito lá dentro.
“A Ampulheta funcionava tendo o esforço e o mal como combustível. Quanto mais é usada, mais aquela escassa areia branca aumenta de quantidade e fica mais forte, colorida. Você deve ter pedalado muito e pensado mal de alguém para conseguir reviver a Ampulheta. Seu irmão, por exemplo.”
Era verdade. Jimmy lembrou-se de ter ocorrido um breve pensamento sobre como o irmão que estava vindo causava tanto desgaste para sua mãe. Porém foi um pensamento breve! Não podia ter tanta intensidade assim.
Dispensou os pensamentos para continuar ouvindo K. Duco.
— Ela espalhou maldade e quase trouxe a vitória para o mal. Porém um Sultão, seu antepassado roubou a ampulheta e a escondeu; ninguém conseguiu achar, por séculos. Até você encontrar. Fim da história, ponto final! — K. Duco olhou para Jimmy, que ponderava. — Alguma dúvida?
— E daí? O que eu faço?
— O que você quer fazer?
Jimmy bufou. Não gostava daqueles enigmas. Não seria mais fácil simplesmente responder?
Diante do silêncio, K. Duco deu de ombros e entregou a Jimmy o líquido que lhe trouxera saúde.
— Está na hora de tomar de novo, antes que a primeira dose perca o efeito e você volte a ser aquela coisa que parecia mais uma árvore; não fazia nada, apenas existia.
Jimmy pegou o frasco e tomou, se deliciando com a sensação de se regenerar.
— Meu pai não quer que eu venha aqui o tempo todo para tomar essa poção. Ele diz que é ruim.
— E o que você acha?
Jimmy parou de acariciar a borda do frasco e levantou a cabeça, firme.
— Que eu devia continuar tomando.
— Então continue tomando, ué.
— Mas... — Jimmy queria retrucar, porém, deixou para lá. Já reconhecia as respostas vagas do curandeiro. Apenas suspirou e entregou o frasco vazio.
Jogando o frasco em um canto qualquer, K. Duco fez um movimento como se fosse conferir um relógio e sorriu, indicando a saída da tenda com a cabeça.
— Está na hora de ir. Até a próxima sessão!
Jimmy suspirou e levantou, dando-se por vencido. Sabia que não adiantaria nada insistir com aquele louco.
Porém, seu cérebro estalou com uma idéia, que fez-o virar para K. Duco.
— Me ensine magia?
O curandeiro não respondeu, apenas continuou apontando para a saída.
Quando abriu o lenço da tenda, Jimmy foi pego de surpresa. Na sua frente estava uma gigantesca serpente da raça Naja sibilante.
O garoto não tinha muita experiência com animais letais, e por isso, recuou até cair.
K. Duco riu da expressão assustada de Jimmy e sua mão ficou laranja. Sim!
Ele direcionou o brilho da mão para a serpente, que ficou paralisada e caiu dura. Aos poucos, as escamas estampadas sumiram, dando espaço a um tom de ouro.
K. Duco segurou a cobra e só então Jimmy entendeu.
Ele tinha feito a serpente virar um cajado.
Engoliu em seco, sem saber como agir; até que K. Duco quebrasse o gelo.
— Não irei ensinar. — Ele disse, e entregou o cajado para Jimmy. — Pratique sozinho e me mostre o que aprendeu na próxima vez que vier.
O mordomo gritou o nome de Jimmy; estava na hora de partir.
Desajeitadamente, o pequeno segurou o cajado, que era grande demais para sua baixa estatura e saiu correndo, sem ao menos se despedir, feliz com o presente.
De volta ao palácio, Jimmy trancou-se no quarto e respirou fundo, analisando o cajado em sua mão.
Lembrando se das palavras e gestos de K. Duco, ele encheu a cabeça com pensamentos revoltantes, da pena que sentiam quando ele era estragado e fez os olhos da serpente no cajado brilharem.
Apontou para o macaco de pelúcia na própria cama, e o brinquedo pegou fogo.
— Interessante. — Jimmy apenas sorriu.
Continua...
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