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História Relativity - Larry - IV - Transcedence


Escrita por: alouisiocobra

Notas do Autor


Capítulo fresquinho!
Logo a história deslancha, é sério.
Enjoy!

Capítulo 4 - IV - Transcedence


Lembrar daquele dia e ver Harry deitado na cama, com aquelas roupas e tatuagens, desperta algo dentro de mim.

Não devia ser assim. Harry podia ser alguém melhor, com mais vida, mais animado… Feliz. Nunca imaginei que Harry se tornaria o que se tornou. Sempre foi tão otimista, entusiasmado e dócil. Agora não passa de alguém problemático, vazio e sem ambição. Com raiva do mundo.

Harry sempre foi muito ligado a Anne. Eles eram inseparáveis, mas agora Harry mal olha para ela. Sei que ele não a culpa, mas não devia tratá-la com indiferença quando ela sofre tanto quanto ele. No fundo, tenho pena de Harry, do garoto de cabelos cacheados que foi meu melhor amigo, e agora não passa de um estranho.

Ouço um barulho de porta e chaves no andar de baixo, e instintivamente olho para Harry.

Phill chegou. - Ele murmura, visivelmente cansado para se mexer. - Meu padrasto. - Completa.

Fico surpreso, mas um surpreso bom. Fico feliz que tia Anne tenha seguido em frente e casado com Phill, espero que ele a faça tão feliz quanto Robyn fez. Tento procurar alguma emoção no rosto de Harry, até raiva, mas só acho indiferença. Automaticamente entendo que Harry não gosta de Phill e que, provavelmente, culpa Anne por ter seguido em frente.

Vai ficar aí? - Nego, suspirando, e me sento ao lado de Harry na cama.

Me dou conta de que fiz uma porção de coisas com a minha pasta. Tiro-a do ombro e coloco-a no colo. Pego a câmera e quando a viro, vejo que está aberta. Procuro desesperadamente na bolsa pela peça que falta, mas não a acho. Como eu perdi a peça?

Acho que Harry nota meu desespero porque se senta ao meu lado e tira a câmera da minha mão. Seu cenho está franzido, concentrado, examinando a câmera.

Phill tem algumas peças e ferramentas na garagem. Só temos que esperar ele sair de novo. - Assinto, pegando a câmera de volta e guardando-a. - Vai ficar para o jantar?

Harry se senta na cama novamente, as costas encostadas na cabeceira, e as pernas grandes jogadas. Olho para seu sapato sujo em cima da coberta embolada, mas não falo nada.

Anne pediu. - Dou de ombros.

Finjo que é por causa de Anne, e que não posso recusar o pedido dela, mas minha consciência me alerta que é Harry. É por causa dele que não quero ir embora. Mesmo que não tenhamos conversado muito, e que mal consigamos nos olhar nos olhos, não quero me afastar. Da última vez que me afastei de Harry, fiquei anos sem vê-lo, e o resultado não foi nada bom. Tenho medo de me afastar e, por culpa do destino, ficar mais anos sem vê-lo. Agora que notei como sinto sua falta e como gosto da sua companhia, não quero abrir mão. Não posso abrir mão.

Visualizo a foto que fora tirada antes do mundo de Harry desabar. Acho que, se me forçar o bastante, consigo voltar atrás.

Não estou certo de que consigo, mas quero e preciso tentar. Não por mim, mas por Harry, por sua vida, por sua família. Sei que ele precisa disso, e não me importo se isso interferir no meu futuro também.

Seguro a foto com as duas mãos e me forço a olhá-la fixamente. Minha visão embaça e treme, a foto parece se aproximar e se afastar do meu rosto, e tudo fica em preto e branco e colorido em questão de segundos. Minha visão fica desfocada e tenho que fechar os olhos fortemente. Sinto uma pressão enorme, que parece esmagar todos os meus membros. Minha cabeça está pesada, pendendo para os lados, e sinto uma força sobrenatural sobre ela, quase a esmagando. Cai de joelhos no chão, de olhos fechados. E tudo fica escuro.

-x-

Xis! - Robyn grita por cima da câmera.

A foto é batida e o flash me deixa momentaneamente cego. Pisco várias vezes e, quando consigo manter os olhos abertos, vejo Harry.

Harry é menos do que eu aqui, tem muitos cachos, olhos verdes brilhantes e vividos e um sorriso maravilhoso no rosto.

Odeio tirar fotos. - Ele me empurra de brincadeira e ri.

Estou parado olhando para ele, admirando-o. Olho ao redor e vejo Anne preparando panquecas logo ao nosso lado enquanto cantarola uma música da época. Robyn está sacudindo a foto no ar, sorrindo.

Voltei no tempo. Vou mudar o passado. Vou mudar drasticamente o passado, e preciso fazer isso. Para o bem de Harry e da sua família.

Mundo chamando Louis! - Harry brinca, cutucando minhas costelas. Está com seus dentes brancos perfeitamente alinhados em um sorriso brincalhão. - Vamos comer. Mamãe está chamando.

Me sinto catatônico e fora de órbita, mas assinto, piscando mais do que o necessário, e caminho até a mesa.

A toalha xadreza manchada de tinta está sob o tampo da mesa de madeira na sala de jantar. Lembro quando eu e Harry a sujamos e Anne colocou Harry de castigo.

Anne nos serve sorridente, falando sobre o trabalho novo na lanchonete para Robyn. Ele sorri, assentindo, apaixonado por Anne.

Ei! Tudo bem? - Harry pergunta baixinho, me olhando com seus grandes olhos verdes inquisidores.
Sim. - Assinto, e estranho meu tom de voz de criança.

Engulo seco e começo a comer. É estranho voltar para cá quando se tem corpo de criança e mente de adulto. É estranho voltar quando eu sei o que vai acontecer depois.

Anne e Robyn conversam animadamente e quando fazem perguntas para mim sobre minha família ou a escola, Harry, como o bom amigo que é, responde por mim.

Logo tomamos nosso café da manhã e Anne sai para trabalhar. Invento uma desculpa sobre o tempo, mas Anne não cai e sai mesmo assim.

Robyn fica na sala assistindo um jogo de futebol do seu time.

Louis. - Harry chama.

Caminho até a cozinha, ainda encantado com a casa, e ajudo Harry a lavar a louça.

Anne ligou, vou buscá-la no trabalho. - Robyn comenta com a cabeça inclinada para que possamos vê-lo do arco da sala.

Harry comemora ao meu lado, falando sobre como deveríamos ir ao parque quando ela chegasse.

Automaticamente, saio correndo para a sala e vejo Robyn procurando embaixo de uma pilha de livros numa mesa atrás do sofá.

Ei, Louis, viu a chave do carro? - Robyn pergunta. Nego rapidamente.

Robyn se vira, procurando na estante, e aproveito a chance para ir até o sofá procurar a chave. Está embaixo de uma das almofadas creme horríveis do sofá, a pego e corro até a porta da varanda, e toco a chave bem longe, lá fora.     

Depois de fingir que procuro a chave pela casa junto de Robyn, ele desiste.

Vou buscá-la a pé. Volto em alguns minutos, meninos. - Ele fala e veste a flanela azul.

-x-

Abro os olhos, zonzo, a cabeça e os ouvidos zumbindo. A claridade me cega instantaneamente e tenho que piscar algumas vezes para enxergar direito. Estou na frente da casa de Harry. Estou em choque, boquiaberto.

Não acredito que consegui. Fiz mesmo isso. Voltei no tempo através de uma foto. Voltei muitos anos. Me parece perigoso fazer uma coisa dessas, voltar tanto no tempo e mudar a história de uma família. Salvar uma pessoa da morte. Fico arrepiado. Mal posso esperar para entrar e encontrar meu Harry.

A casa está linda, pintada de amarelo claro, a janela foi trocada e o vaso foi substituído por plantas verdes e bonitas.

Caminho até a casa, observando tudo atentamente. O carro de Robyn está estacionado na garagem e um carro novo está estacionado na frente do seu, bonito,  mas tem um amassado enorme na frente.

Bato na porta, puxando todo ar que consigo, e ouço passos do outro lado. A porta se abre, e quase caio de joelhos quando vejo Robyn. Um Robyn levemente grisalho está sério, com olheiras fundas e levemente roxas, agora tem uma barba leve e mal cuidada.

Robyn? - Tenho que perguntar para ter certeza. Voltei tempo demais e agora Robyn está aqui, na minha frente.

Meu coração se enche de afeto e saudade e alívio. Consigo respirar tão fundo que me sinto livre, livre da culpa que eu mesmo me impus. Robyn está vivo, me olhando.

Inicialmente ele fica confuso, então surpreso e sorridente.

Louis? - Ele sorri ainda mais, dando espaço para que eu entre. - Você cresceu!
Você está… - Não consigo completar, de repente parece demais. Parece loucura e insanidade.

Quero dizer que senti sua falta, que Harry e Anne sentiram sua falta, que ele é o pilar dessa família. Mas não consigo dizer nada, estou sem palavras, mas tenho tanto para falar.

Velho? Eu sei, os anos só fizeram bem a Anne. - Ele sorri, com rugas nos cantas do olhos.

Tento sorrir, mas tenho certeza de que parece mais uma careta, então desisto. Ele está bem para a idade, apesar das rugas e dos fios brancos. Continua o mesmo Robyn de anos atrás, de antes do acidente.

Robyn? - Anne surge na sala, apressada, segurando uma caixa pequena e branca.

Percebo que está procurando por algo, e, quando desiste, me vê. Seus cabelos estão mais longos, ainda escuros. Ela veste uma camisa social branca e larga com uma calça jeans e sapatilhas igualmente brancas. Está bem, mas vejo em seus olhos surpresos que está cansada. Os dois parecem cansados.

Louis? - Ela esboça um sorriso delicado. - Você disse que só vinha no verão.

Tenho que parar para pensar antes de responder. Nessa realidade eu mantenho contato com Harry? Parece que fiz a coisa certa aqui.

Eu… Quis fazer uma surpresa. - Tento sorrir novamente, e Anne sorri ainda mais.
Isso é ótimo. Harry vai amar te ver. - Ela larga a caixa branca e, imediatamente, me puxa pelo braço.

Subimos as escadas rapidamente, com Robyn no nosso encalço. Anne está subitamente animada e ansiosa, tagarelando sobre como Harry fala de mim e da minha vinda no verão. Aparentemente mando muitas cartas e e-mails para Harry, e ele parece gostar.

Só percebo que estou ansioso quando Anne larga minha mão. Está suando, estou suando de ansiedade e nervosismo. Mal posso esperar para ver meu Harry. Imagino a porta se abrindo e meu Harry sentando na cama, mais adulto, com cabelos cacheados, um sorriso e olhos dóceis, lendo um livro na cama.

Anne bate na porta e avisa que vamos entrar, gira a maçaneta e então a empurra devagar. A primeira coisa que vejo é o chão, limpo e brilhoso.

O quarto está diferente, mais claro e arejado, e, com certeza, mais limpo. Há móveis novos por todo quarto. A escrivaninha tem tampo de vidro e pés de madeira branca. Há um armário e uma cômoda ocupando as outras paredes. Uma pequena estante estão ao lado da escrivaninha, embaixo da janela, repleta de livros. Há fotos atrás da cama, muitas delas, e reconheço papéis e mais papéis de cartas no criado-mudo branco ao lado da cama.

Nada na vida me preparou para o que vejo agora, bem na minha frente, me olhando e sorrindo.

Harry está deitado, coberto apesar do calor, e sorri com uma mascara de inação no rosto. Percebo que também está cansado, respirando preguiçosamente, com grandes olheiras roxas e verdes abaixo dos olhos. Seu cabelo está curto e bagunçado e não vejo nenhuma roupa preta ou tatuagem.

Você veio. - Ele murmura, bem baixinho, e tosse em seguida.

Anne massageia as minhas costas, sorrindo para Harry, encantada.

Não sinto meu corpo. Não sinto nada. Estou amortecido. Não tenho certeza do que deveria sentir numa situação dessas.

Meu Harry está doente, deitado e frágil na cama. De uma forma bem sarcástica e mal humorada, ele parece mais sem vida agora do que quando não tinha Robyn.

Engulo seco, com as mãos suadas e os olhos ardendo. Só percebo que estou chorando quando sinto uma lágrima salgada chegando aos meus lábios. A limpo devagar, com os olhos fixos em Harry.

Quero gritar, quero me ajoelhar no chão e chorar até desidratar. Mas tudo que faço é ficar parado, observando-o.

Anne murmura algo que não compreendo, e vejo Harry assentindo, olhando para trás de mim. A porta se fecha e agora estou sozinho com Harry. Meu Harry. Tinha tanto para falar, tanto para contar. Mas agora, aqui, amortecido, não sei bem como falar. Não sei nem o que falar.

Seus olhos verdes e opacos me encaram, com um sorriso fraco nos lábios brancos e ressecados.

Vai ficar aí? - Sua voz sai mais roupa, mas ainda assim muito baixa e fraca. A semelhança da frase me deixa sem ar, e cogito rapidamente a hipótese de sair correndo daqui e não parar mais.
Estou… Absorvendo. - De repente falar é difícil, e tenho que me esforçar para falar.

Tenho medo de me mexer e de falar.

Tudo bem. - Ele sorri, os olhos brilhando quando ele se meche e um raio de sol ilumina seu rosto. Ele se senta na cama com dificuldade, alinhando os travesseiros nas costas. Suspira e respira fundo, mas é pouco ar. - É bastante para se absorver.

Pisco e pisco, mas ele está realmente ali, deitado e me observando.

Você… O que aconteceu? - Sinto que tenho que perguntar. Preciso perguntar.

O que deu errado agora. O que deu errado aqui?

Robyn está vivo e bem, mas Harry está deitado e fragilizado em uma cama, doente.

Harry se remexe novamente e olha para os lados.

Você sabe, sofri um acidente no meu aniversário de dezoito anos, quando ganhei o carro. - Ele murmura, a voz rouca e a garganta irritada, e ele tosse. - Tive uma lesão na medula espinhal e agora estou aqui. - Ele sorri, sarcástico.

Harry mudou. Aqui ele também mudou. Ele sorri e é dócil, mas também é sarcástico.

Ele olha para a janela e fica em silêncio por alguns segundos.

Como você está? - Me ouço falar e me repreendo mentalmente.
Vou ficar nessa cama para sempre, Louis. Como você acha que me sinto? - Meu peito se aperta e dói.

Lágrimas caem dos meus olhos, não consigo controlá-las, mal as sinto caindo e escorrendo.

Desculpa. - Ele murmura e puxa o ar, mas acaba tossindo mais. - Estou bem.

Sei que é isso que as pessoas esperam que ele diga, mas não é como ele se sente. Ele ainda está olhando para a janela.

O sol banha seu rosto pálido, fazendo seus olhos verdes e seus cabelos castanhos brilharem. Meu peito se contrai mais, com uma sensação que não conheço, mas é forte e dolorosa.

Quero dizer que sinto muto, que sinto por tudo, que sinto pelas duas realidades. Mas nada sai. Harry que está numa cama com dificuldade para respirar e eu que não consigo falar nada.

Pega aquela caixa. - Harry pede, apontando com o dedo para cômoda. Está tão debilitado que mal consegue levantar a mão.

É uma caixa marrom, parece velha, mas noto que é sua estampa. A pego e levo até o colo de Harry.

Senta aqui.

Sento ao lado de Harry, ele se arrasta para o lado, me dando espaço na cama de solteiro. Daqui, sinto o cheiro de melão dos seus cabelos.

Abro a caixa devagar. Fotos. Mais fotos nossas juntos e cartas, muitas cartas minhas para Harry

Pego uma na mão e leio, estou com pressa para saber o que escrevo para ele.

"Estou ansioso para ver o filme novo, mas prometo que vou comprá-lo quando sair do cinema para que possamos ver juntos.

O verão estão chegando, está ansioso?"

É breve e brincalhona. A data é da semana passada.

Pego mais uma.

"A faculdade é bem puxada. Os professores são rabugentos e breves, mas gosto do curso. Gosto de poder continuar aqui, perto de casa. Mas me sinto mal por estar longe de você.

Saudades."

Pego mais uma e mais uma, e quando me dou conta já li quase todas as cartas e transformei a cama de Harry em ninho de papéis de carta.

Harry está quieto e calmo, me observando atentamente, o cenho franzido e os lábios pressionados.

Quero dizer tanta coisa. Sinto tanta coisa agora.

As fotos. - Ele aponta com a cabeça.

Junto-as em uma pilha e começo a ver.

Eu e Harry sentados nos trilhos do trem, rindo. Eu e Harry montando uma árvore de Natal na minha casa. Eu e Harry deitados na grama, na praça central de W&E. Harry e eu na cozinha daqui, um ao lado do outro, sorridentes.

Minhas lágrimas molham as fotos, e está tudo uma bagunça, fotos e cartas jogadas sob a cama, molhadas. Sou uma mistura de confusão, tristeza, culpa e nostalgia.

Desculpa. - Murmuro para Harry, mas não tenho certeza de que ele pode me ouvir. - Sinto muito.

Estou soluçando, tremendo da cabeça aos pés. Passo a mão pelos cabelos e pelo rosto, e sei que estou uma bagunça. Minha bagunça externa combina com a minha bagunça interna.

Pego nossa última foto juntos e a seguro entre meus dedos trêmulos e molhados. Está quase ensopada de lágrimas quando fecho os olhos.

Silêncio. Zumbido. Pressão. Dor. Escuridão. E tudo que ouço são meus soluços e minhas promessas.

-x-

Phill tem algumas peças e ferramentas na garagem. Só temos que esperar ele sair de novo. - Assinto, pegando a câmera de volta e guardando-a. - Vai ficar para o jantar?

Olho para Harry, sentado na cama, descontraído. Vejo seu cabelo, seus olhos, sua pele, suas roupas e suas tatuagens. Sou tomado pelo alívio. Respiro bem fundo e tenho que fechar e abrir os olhos para ter certeza.

Anne pediu. - Repito, meus olhos sendo atraídos para Harry.
Tudo bem.

Sento-me de volta na cama e fico em silêncio. Estou assustado, com coisas demais para processar em um espaço tão curto de tempo.

Voltei no tempo e salvei Harry mais vezes do que posso contar, e me sinto mal por ele não saber.

Quero contar que voltei no tempo e salvei seu pai. Quero contar que o salvei da morte lenta e tortuosa numa cama. E quero contar que abri mão da vida do seu pai para salvar a sua, porque sou, simplesmente, egoísta demais para não ter Harry do meu lado.

Quero contar como me senti ao seu lado na cama, chorando e lendo nossas cartas, vendo nossas fotos. Quero contar como me senti vendo seu rosto de perto, o cenho franzido e os lábios pressionados, e como amei o cheiro de melão dos seus cabelos. Mas em meio a tantos pensamentos e a tantas palavras, não digo nada.

Fico calado e sentindo medo, sempre em dúvida, como sempre faço.

-x-

Anne chega em casa logo depois das 17:00. O sol já se foi e agora o tempo está nublado. O tempo aqui em Windsor & Eton é confuso.

Harry passou a última hora deitado ouvido música na caixa de som portátil. Não conheço nenhuma das bandas que toca e não reclamo da gritaria que deveria ser música.

Phill, a quem eu não conheci ainda, saiu a pouco tempo. Harry contou que ele é controlador ao extremo com ele e Anne, e, inclusive, ainda insiste em deixar Harry de castigo. Damos algumas risadas breves e falamos um pouco sobre nossas famílias, mas nada mais íntimo que isso. Não digo tudo aquilo que quero, mas sinto que Harry também não. Então estamos quites.

Jantar! 

Não sei quanto tempo se passou desde que Anne chegou, mas, ao que parece, foi tempo o suficiente para que ela fizesse o jantar. Noto que o quarto está cheirando a molho vermelho e, instintivamente, meu estômago ronca. Não como nada desde o almoço, e, para falar a verdade, nem consegui pensar em comida desde lá.

Harry pula da cama e desliga o som.

Vamos. - Maneia com a cabela.

Saímos do quarto em silêncio e descemos as escadas. Quando chegamos a sala de jantar Anne não está cantarolando como costumava fazer, nem tem um sorriso animado no rosto.

Espero que gostem. - Noto que ela olha para seu filho, esperando sua aprovação.

Na mesa há três pratos com massa e molho vermelho em cima. O cheiro está ótimo e mal posso esperar para comer. Estou faminto.

Harry puxa a cadeira para trás, o barulho de madeira com madeira faz um barulho alto, e deixa tudo mais desconfortável. Tomo cuidado para levantar a cadeira do chão quando a puxo e sento-me ao lado de Harry. Sorrio para Anne, que retribui, e começamos a comer.

Estamos em silêncio, de forma que os únicos barulhos que ouço são das nossas respirações, talheres e mastigações. Anne está a nossa frente, sempre observando Harry, que come de cabeça baixa, ou olhando para os lados. Parece perdido em pensamentos e vejo no olhar de Anne que isso a deixa ansiosa e nervosa.

Gostaram? - Ela nos avalia, sorrindo nervosamente quando limpamos os pratos. - Querem mais?

Ela olha para seu filho, esperando uma resposta, mas tudo que Harry faz é levantar da mesa do mesmo jeito grosseiro com que sentou, e vai até a sala.

Estava ótimo. - Sorrio, e espero que isso a conforte pelo menos um pouco.
Obrigado, Louis.

Nos levantamos da mesa e estou caminhando até a cozinha, levando nossos pratos e talhares até a pia.

Ah, deixa que eu lavo. - Anne se põe entre mim e a pia rapidamente.
Eu lavo. - Insisto. - Quem cozinha não lava. É uma regra, você sabe. - Arqueio a sobrancelha e sorrio.

Anne levava essa regra ao pé da letra no passado, por isso a louça sempre sobrava para Harry e eu.

Já que você insiste. - Ela sorri e sai da cozinha.

Não sei se foi por Anne, consciência, tédio ou pelos velhos tempos, mas Harry entra na cozinha e, em silêncio, pega um pano de prato limpo no balcão e começa a secar a louça.

Estamos em silêncio e noto uma certa resistência vinda de Harry, mas estou feliz, reprimindo um sorriso, quando penso que, apesar de Harry ser quem ele é hoje, não o mudaria em nada.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
O próximo capítulo é mais... distinto.
O que acharam do Harry?
Nos próximos capítulos ele se abrirá mais (sem malícia).


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