1. Spirit Fanfics >
  2. Relativity - Larry >
  3. VI - Through the blizzard

História Relativity - Larry - VI - Through the blizzard


Escrita por: alouisiocobra

Notas do Autor


Hey, guys! Demorou, mas saiu!
Escrevi ouvindo Syd Matters - Obstacles.
Enjoy!

Capítulo 6 - VI - Through the blizzard


Acordo, ouvindo o barulho forte da chuva. Abro olhos.

Onde eu estou? O

Acordo, ouvindo o barulho forte da chuva. Abro olhos.

Onde eu estou? O que está acontecendo?

Estou deitado no chão de pijama, e está chovendo muito. É uma tempestade com vento e trovões.

Me levanto do chão vagarosamente, mal acredito que isso possa estar acontecendo. Estou com os pés descalços na areia molhada e cada trovão faz meu corpo se encolher mais.

Estou aterrorizado, com medo e frio. Não sei onde estou e o que está acontecendo, e o que mais me assusta é que isso anda acontecendo muito comigo ultimamente. Ando com medo de tudo e de todos, com medo de mim mesmo, porque já não me conheço mais.

Um trovão ilumina o céu e a noite, o que me dá alguns segundos para ver onde estou. Areia e árvores estão por todo o canto. Sei que estou em Windsor & Eton, mas não sei o local. Não vejo a vizinhança da casa de Harry por aqui, e não faço ideia se vim andando como um sonambulo ou alguma coisa do tipo.

Me abraço com força, me arrepiando com o frio, e dou alguns passos tímidos através da escuridão. Não sei para onde estou indo, tudo que sinto abaixo dos meus pés é areia molhada e poças d'água.

Estou caminhando através das árvores, através da escuridão, raspando meus braços nas árvores e meus pés na areia e galhos.

Sinto rochas abaixo dos meus pés, estou subindo para algum legar, um lugar mais claro e alto. De longe, avisto um farol, no topo de onde estou subindo, clareando tudo à minha volta.

Estou com medo. Muito medo. Mas, por algum motivo, continuo andando. Continuo seguindo em frente, porque minhas pernas têm vida própria, não consigo pará-las. Minha mente me alerta que é perigoso, que estou enlouquecendo, mas sigo sempre em frente.

Logo estou em frente ao farol. Caminhando cautelosamente até a beira das rochas, noto que estou no topo de uma montanha.

Minha mente clareia assim como a luz do farol clareia a tempestade e a floresta. Tenho uma epifania.

Lembro claramente de Harry e eu aqui. No alto da montanha de W&E, perto do farol. Vínhamos aqui para conversar, gritar e brincar.

Esse era o lugar favorito de Harry no mundo. Era a válvula de escape dele quando as coisas ficavam ruins.

Mesmo sabendo onde estou, não entendo o porquê. Estou no local favorito do meu Harry, mas não sei se estou dormindo ou se estou acordado.

Vejo, ao longe, através da escuridão que o mar se tornou abaixo da montanha, um tornado. Está cada vez mais perto, dançando sob a água. O vento está muito forte, me arrastando para trás mesmo quando estou tentando dar passos para frente.

Meu peito arde e meu corpo está pesado, estou lutando contra o vento, tentando não ser levado junto. Quero gritar, me ajoelhar e fechar olhos. Quero fingir que isso não está acontecendo.

Um tornado está indo para a cidade, passando por mim. Quando me dou conta, já estou chorando e soluçando e gritando.

O tornado destruirá minha cidade, destruirá todas as casas e lojas. Destruirá a lanchonete onde Anne trabalha, onde ela provavelmente está agora. Destruirá a casa de Harry, onde sei que Harry está dormindo. E não posso fazer nada. Não posso impedir. E me sinto um nada, e o vazio nunca foi tão doloroso.

Tapa o ouvido com as mãos, para não ouvir o barulho do vento e da chuva, e fecho os olhos porque não quero assistir a destruição do meu lar de camarote. Estou pedindo para alguém, alguém que more lá em cima, que possa me ouvir e realizar algum tipo de milagre que os cristãos acreditam para que isso acabe. Mal oro, e não sei ao certo para quem o faço, mas preciso de um sinal agora.

Estou hiperventilando. Respirando e expirando rápido demais, mas não parece o suficiente. Meus pulmões doem e ardem, e minha garganta está seca, trancada. Me sento na cama, em pânico, colocando a mão sob o peito, que bate rápido demais.

Foi um sonho? Foi um pesadelo? Não sei. Sinceramente não sei. Estou enlouquecendo, não sei distinguir o que é real e o que é sonho.

Harry desperta ao meu lado, se sentando na cama vagarosamente, passando sua grande mão pelo rosto, sonolento.

Lou? - Sua voz é dez vezes mais rouca e grave que o usual.

Ele está preocupado, me observando com seus olhos verdes sonolentos, mas, mesmo assim, ainda incisivos.

Abro a boca, mas não consigo falar nada. Minha garganta está seca e dolorida. Fecho a boca, porque, mesmo que conseguisse falar, não tenho o que falar. Não sei o que falar.

Sua mão toca meu braço, e ele me puxa com delicadeza até o seu peito.

Só sei que há lágrimas nos meus olhos quando Harry as limpa com a mão vaga.

Teve um pesadelo?

Assinto, olhando em seus olhos lindamente verdes. Meu peito se acalma devagar, e consigo respirar normalmente.

Estar nos braços de Harry é tranquilizador. Me sinto seguro, bem. O pesadelo desaparece aos poucos da minha mente e o intervalo de piscadas dos meus olhos vão ficando cada vez mais lentos, até que adormeço.

Acordo com o colchão se movendo em baixo de mim. Abro os olhos devagar, piscando até me acostumar com a luz acesa.

A primeira coisa que vejo é Harry, está de costas para mim, só de cueca. Está parado de frente para a janela aberta, e parece absorto em pensamentos.

Não há sol hoje, e sinto falta do calor do sol na minha pele, e do contraste na pele de Harry.

Que horas são?

Harry se vira lentamente, um sorriso torto se abre em seu rosto e me pego pensando que nunca vi coisa mais sexy na vida.

Seus cabelos estão bagunçados em cima, e ele tem olhos verdes vividos e brilhantes.

Meio-dia. Você dormiu bastante.

Não me lembro da última vez em que acordei tão tarde. Até nas férias do colégio eu acordava ás 08:00 para ajudar minha mãe com as gêmeas. Um alarme soa na minha cabeça, me alertando com letras vermelhas e garrafais que perdi aula.

Perdi a aula. Droga.

Estou me levantando com pressa, alarmado.

Ei, calma. Você já perdeu a aula mesmo.

Paro. Harry tem razão. Já perdi a aula mesmo, não tenho o que fazer. É inútil.

Me sento de volta na cama, a tempo de ver Harry sorrindo abertamente.

Está com fome?

Assinto, lembrando que estou com fome. Para ser mais específico, com fome da comida de Anne.

Deve ter sobrado alguma coisa da janta. Vou esquentar.

Harry caminha lentamente pelo quarto, como que para me provocar, rebolando, e veste uma calça jeans amassada no chão.

Quando estou a sós no quarto, consigo parar para pensar. Não me sinto tão leve e calmo há muito tempo, desde quando fui embora daqui.

Me levanto, me espreguiçando, e caminho até o banheiro. Pelo espelho, vejo as pequenas manchas roxas abaixo dos meus olhos. Estou um pouco melhor, mas ainda assim, aparentemente cansado. Abro a torneira e lavo primeiro as mãos, pego um pouco de água com as mãos e lavo o rosto.

Perdi aula. Me sinto muito culpado. Nunca perdi um dia de aula, nem na escola pública de Doncaster, e agora matei um dia de aula na faculdade de W&E. Afasto esse pensamento para o fundo da minha mente quando sinto o cheiro de molho vermelho novamente. Respiro bem fundo, e sorrio. Amo a comida de Anne. Amo estar aqui novamente, como nos velhos tempos, almoçando e jantando a comida maravilhosa de Anne na companhia de Harry.

Penteio os cabelos com os dedos, não funciona muito, mas resolve o emaranhado de fios. Tiro as roupas de Harry e coloco as minhas. Dobro-as e coloco-as em cima da cômoda.

Desço rapidamente, de repente ansioso para o dia ao lado de Harry.

Harry está servindo os nossos pratos na mesa de jantar. Levanta o olhar para mim, e sorri quase minimamente, mas já é o suficiente para fazer meu estômago revirar.

Sento-me á mesa, e enrolo a massa com o garfo.

Você tem que passar no campus?

Não fizemos nenhum plano para hoje, nem pensei nisso ainda.

Sim. Quero tomar um banho e trocar de roupa.

Harry assente, chupando o macarrão. Desvio o olhar para o meu prato, porque sei que minhas bochechas estão da cor do molho.

Te largo na faculdade e te pego depois. Tenho algumas coisas para resolver.

Não pergunto nada, porque não sei que tipo de relações temos agora. Somos amigos, melhores amigos. Me lembro.

Depois podemos passar no trem. - Sugiro, timidamente.

Tenho ótimas lembranças de Harry e eu nos trilhos do trem, conversando e jogando pedrinhas. Harry simplesmente assente, e caímos em silêncio.

Entramos na picape de Harry, que range quando subimos, e fechamos as portas ao mesmo tempo. Seus dedos esguios tateiam o rádio, que sintoniza numa rádio indie. Não reconheço a música. Na verdade, meu conhecimento por música é limitado, tudo que conheço é rock antigo.

Estamos em silêncio desde o almoço. Fico preocupado com Harry e as suas "coisas para resolver".

Pela janela suja, vejo as casas da ruas de W&E. São coloridas e simples, mas muito bonitas e aconchegantes, como a de Harry. Amo essas ruas pequenas e pacatas. Lá fora não há sol, só nuvens claras e uma leve brisa. Apesar de sentir falta do sol, gosto do vento que bate no meu rosto conforme o carro anda.

Olho para Harry, que está dirigindo com uma mão, seu cotovelo está apoiado na janela e sua mão vaga está sob a boca, descansando. Está sérios, os olhos focados na estrada pouco movimentada, e as sobrancelhas unidas. Tamborila os dedos esguios na direção vez ou outra no ritmo de alguma música.

Resolvo ignorar o silêncio incomodo e a mudança de humor de Harry. Recosto minha cabeça na janela e fico admirando as ruas já conhecidas.

Desço da picape assim que Harry para. A picape arranca rapidamente, e bufo.

Porque Harry tem que ser tão intenso? Ele é tão cheio de emoções e sentimentos confusos. Não entendo suas mudanças de humor, parece que sempre estou pisando sob ovos. Se eu me mover rápido demais Harry pode explodir. Me sinto assim.

Caminho, segurando minha bolsa com a câmera quebrada. Ainda não resolvi o problema da câmera, e preciso lembrar Harry disso depois.

O campus ainda é o mesmo, com as mesmas pessoas. Vejo Viki sentada na escada com suas amigas, suas discípulas. Reviro os olhos, e passo reto por elas, ignorando suas risadinhas e piadinhas sobre eu estar repetindo roupa.

Vou até a porta da sala do Prof. Joseph e vejo os horários da semana que vem. Anoto-os rapidamente no aplicativo de agenda do celular, e guardo-o de volta no bolso.

Vejo muitos panfletos de festas e clubes, são sempre os mesmos, e sempre os ignoro. Não reconheço ninguém no caminho até o campus, por isso não me sinto tão mal pela minha aparência cansada. Vou até o dormitório dos garotos, cumprimento alguns ao longo do caminho, e consigo não gaguejar ou ficar vermelho.

Suspiro quando fecho a porta do meu quarto. É como estar em casa novamente. Amo a casa de Harry, mas aqui, nesse quarto, me sinto dentro da minha própria bolha.

Largo a bolsa na cama e caminho até a cômodo, demoro para encontrar algo descente. Não tenho roupas de marca, sei disso, mas não quero usar suéter novamente. Escolho uma camisa sem mangas, parecida com a que Harry usará ontem, uma calça jeans preta e meu vans.

Tomo um banho quente, escaladante, bem rápido, mas é o suficiente para me relaxar e me fazer parar de pensar sobre Harry. Visto minhas peças limpas.

Na frente do espelho, me sinto diferente. Não pareço tão patético assim, sem suéter, pareço mais descolado, mais normal. E gosto disso. Gosto da sensação. Procuro em uma das gavetas uma touca vermelha, sei que a tenho, mas não a uso há dois anos. Coloco-a estrategicamente sob o cabelo, e tomo cuidado para deixar minha franja aparente.

Não levo minha bolsa, pois minha câmera está estragada, e não vou precisar dela por ora. Fora do meu quarto, bato de cara com Taylor. Está com um moletom marrom colado, calça jeans e tênis de marca. Está simples, mas ainda assim parece um modelo ou jogador de futebol da seleção alemã.

Apesar do cabelo impecável, está com manchas escuras abaixo dos olhos, sinalizando que ele não dormiu. Fico instintivamente preocupado. Nunca vi Taylor assim, sempre foi animado e positivo. Nem nas festas após jogo, depois de uma grande ressaca, nunca o vi nesse estado.

Apesar de não ser meu amigo e de não termos intimidade, fico parado. Não sei o que dizer para confortá-lo, porque não sei pelo o que ele está passando.

Taylor? Tudo bem? - Tenho que perguntar, apreensivo.

Taylor demora alguns segundos para digerir, e abre um sorriso bem fraco, nem chego a ver seus dentes brancos perfeitamente alinhados.

Ah. Tudo bem, cara. - Ele bate no meu ombro, como normalmente os garotos se cumprimentam.

Sei que não está tudo bem, mas não tento nada.

Você quer o pen drive? Esqueci de devolver ontem, cara. Foi mal. - Ele fala lentamente, com a mão ainda sob meu ombro. Quando nota, a tira rapidamente, e noto que ele fica desconfortável com a situação.
Claro. - Minto. Nem lembrava do pen drive, mas, por algum motivo, finjo que estou ali para isso.

Taylor se vira e entra em seu quarto, faz um movimento rápido com a mão para que eu entre. O acompanho, entrando em seu pequeno quarto organizado, com diversos posteres de carros luxuosos e bandeiras de times de futebol.

Seu colega de quarto não está, como sempre, e me pergunto se alguma vez o vi. Olho ao redor, mas meus olhos focam na lixeira pequena ao lado da escrivaninha, como um ima. Um teste de gravidez.

Primeiro penso que não faz sentido, que provavelmente estou vendo coisas, mas então lembro que Steph, sua namorada líder de torcida, praticamente mora aqui. Não sei como ela dribla o diretor, mas está sempre aqui.

Arregalo os olhos quando compreendo o que está acontecendo. Se estou na linha certa de pensamento, então Steph descobriu que está grávida, e isso, sim, é um bom motivo para as olheiras de Taylor.

Aqui está. - Taylor interrompe minha linha de raciocínio, entregando-me o pen drive vermelho.
Gostou do filme?
Steph estava aqui, então… - Ele coça o queixo, olhando para os lados. - Você sabe, não vimos o filme direito.

Rapidamente entendo, assentindo mais do que o necessário. Isso é constrangedor.

Abano, mal olhando para Taylor, e saio do seu quarto.

Fora do dormitório dos garotos, sigo andando pelo campus. Não tenho muito mais o que fazer por aqui. Lembro-me rapidamente de não faltar aula amanhã, não quero perder a frequência nas aulas ou perder trabalhos importantes.

Ando distraidamente, admirando a bela paisagem verde que banha a W&E College, quando ouço uma voz conhecida. Demoro para entender sobre o que se trata a conversa, e quem são os autores dela.

Francine, a aluna de Belas Artes, está discutindo com sua voz baixa e dócil. E, ao fundo, ouço uma voz ainda mais alta e potente, masculina. Escondendo-me atrás do muro da faculdade, perto do estacionamento dos alunos, vejo de relance Francine discutindo, apontando o dedo para um dos seguranças.

Você está muito encrencada, mocinha!
Você não pode me acusar de algo que não fiz!
Todos sabemos do que você é capaz! - O segurança de roupas azuis e bigode grosso, está andando em sua direção, ameaçadoramente.

Me retiro de trás dos muros rapidamente, e só quando estou cara a cara com o segurança raivoso, que noto o que estou fazendo. Estou ficando cada vez mais impulsivo, sem sequer noto, tomo decisões. Perdi o medo das consequências que podem vir porque posso voltar no tempo, então não preciso ter medo.

Não fale com ela assim!
Saia daqui agora, seu moleque!
Ela é uma aluna, você não pode tratá-la desse jeito!
Você não sabe de nada sobre essa garota! Não se meta onde não foi chamado!

O segurança está avançando na minha direção, ameaçadoramente, assim como fez com Francine antes. Francine toca meu ombro, chorando e soluçando.

Vamos embora.

Ela pede tão docilmente, mesmo que entre lágrimas, que abro minhas mãos, antes fechadas em punhos, e assinto.

Deixamos o segurança para trás, com sua raiva incontida, e caminhamos pelo campus.

Francine está chorando, passando a mão pelos próprios braços, como que para se confortar.

Tenho pena de Francine. Limpa e sincera pena. Francine foi criada na igreja, por isso é tão dócil e disciplinada. No ano passado foi filmada no quarto com um garoto - um dos jogadores do time de futebol da faculdade - e seu vídeo foi posto na internet. Houveram boatos de que sua família a deserdou depois do vídeo, mas, até então, são só boatos.

Ele te fez alguma coisa? - Pergunto, preocupado.

Francine nega rapidamente, secando as lágrimas.

Não. E-ele só achou que eu havia estragado as bicicletas. - Sinto que ela está divagando, mentindo, mas ignoro.
Ele é um babaca.
Obrigada por me defender. - Ela sorri, ainda mais dócil.
Você é como uma amiga para mim. - Sorrio, tentando ser o mais simpático que consigo. Seus olhos se enchem de lágrimas.
A maioria das pessoas aqui riem de mim. É raro quando alguém se preocupa em parar de olhar para o seu próprio umbigo para olhar para o do próximo. - Algo em suas palavras me faz pensar e sentir algo. Não compreendo, completamente, mas sinto carinho, afeição e amizade por essa garota pálida e frágil.

Na verdade, Francine me lembra alguém. Alguém frágil e pálido, que nunca pensou que seria capaz de realizar coisas extraordinários. Francine me lembra o Louis, o antigo Louis, antes de do poder, antes de Harry.

que está acontecendo?

Estou deitado no chão de pijama, e está chovendo muito. É uma tempestade com vento e trovões.

Me levanto do chão vagarosamente, mal acredito que isso possa estar acontecendo. Estou com os pés descalços na areia molhada e cada trovão faz meu corpo se encolher mais.

Estou aterrorizado, com medo e frio. Não sei onde estou e o que está acontecendo, e o que mais me assusta é que isso anda acontecendo muito comigo ultimamente. Ando com medo de tudo e de todos, com medo de mim mesmo, porque já não me conheço mais.

Um trovão ilumina o céu e a noite, o que me dá alguns segundos para ver onde estou. Areia e árvores estão por todo o canto. Sei que estou em Windsor & Eton, mas não sei o local. Não vejo a vizinhança da casa de Harry por aqui, e não faço ideia se vim andando como um sonambulo ou alguma coisa do tipo.

Me abraço com força, me arrepiando com o frio, e dou alguns passos timidos através da escuridão. Não sei para onde estou indo, tudo que sinto abaixo dos meus pés é areia molhada e poças d'água.

Estou caminhando através das árvores, através da escuridão, raspando meus braços nas árvores e meus pés na areia e galhos.

Sinto rochas abaixo dos meus pés, estou subindo para algum legar, um lugar mais claro e alto. De longe, avisto um faról, no topo de onde estou subindo, clareando tudo à minha volta.

Estou com medo. Muito medo. Mas, por algum motivo, continuo andando. Continuo seguindo em frente, porque minhas pernas têm vida própria, não consigo pará-las. Minha mente me alerta que é perigoso, que estou enlouquecendo, mas sigo sempre em frente.

Logo estou em frente ao faról. Caminhando cautelosamente até a beira das rochas, noto que estou no topo de uma montanha.

Minha mente clareia assim como a luz do faról clareia a tempestade e a floresta. Tenho uma epifania.

Lembro claramente de Harry e eu aqui. No alto da montanha de W&E, perto do faról. Vínhamos aqui para conversar, gritar e brincar.

Esse era o lugar favorito de Harry no mundo. Era a valvula de escape dele quando as coisas ficavam ruins.

Mesmo sabendo onde estou, não entendo o porquê. Estou no local favorito do meu Harry, mas não sei se estou dormindo ou se estou acordado.

Vejo, ao longe, através da escuridão que o mar se tornou abaixo da montanha, um tornado. Está cada vez mais perto, dançando sob a água. O vento está muito forte, me arrastando para trás mesmo quando estou tentando dar passos para frente.

Meu peito arde e meu corpo está pesado, estou lutando contra o vento, tentando não ser levado junto. Quero gritar, me ajoelhar e fechar olhos. Quero fingir que isso não está acontecendo.

Um tornado está indo para a cidade, passando por mim. Quando me dou conta, já estou chorando e soluçando e gritando.

O tornado distruirá minha cidade, distruirá todas as casas e lojas. Distruirá a lanchonete onde Anne trabalha, onde ela provavelmente está agora. Distruirá a casa de Harry, onde sei que Harry está dormindo. E não posso fazer nada. Não posso impedir. E me sinto um nada, e o vazio nunca foi tão doloroso.

Tapa o ouvido com as mãos, para não ouvir o barulho do vento e da chuva, e fecho os olhos porque não quero assistir a destuição do meu lar de camarote. Estou pedindo para alguém, alguém que more lá em cima, que possa me ouvir e realizar algum tipo de milagre que os cristãos acreditam para que isso acabe. Mal oro, e não sei ao certo para quem o faço, mas preciso de um sinal agora.

Estou hiperventilando. Respirando e expirando rápido demais, mas não parece o suficiente. Meus pulmões doem e ardem, e minha garganta está seca, trancada. Me sento na cama, em pânico, colocando a mão sob o peito, que bate rápido demais.

Foi um sonho? Foi um pesadelo? Não sei. Sinceramente não sei. Estou enlouquecendo, não sei distinguir o que é real e o que é sonho.

Harry desperta ao meu lado, se sentando na cama vagarosamente, passando sua grande mão pelo rosto, sonolento.

Lou? - Sua voz é dez vezes mais rouca e grave que o usual.

Ele está preocupado, me observando com seus olhos verdes sonolentos, mas, mesmo assim, ainda incisivos.

Abro a boca, mas não consigo falar nada. Minha garganta está seca e dolorida. Fecho a boca, porque, mesmo que conseguisse falar, não tenho o que falar. Não sei o que falar.

Sua mão toca meu braço, e ele me puxa com delicadeza até o seu peito.

Só sei que há lágrimas nos meus olhos quando Harry as limpa com a mão vaga.

Teve um pedaselo?

Assinto, olhando em seus olhos lindamente verdes. Meu peito se acalma devagar, e consigo respirar normalmente.

Estar nos braços de Harry é tranquilizador. Me sinto seguro, bem. O pesadelo desaparece aos poucos da minha mente e o intervalo de piscadas dos meus olhos vão ficando cada vez mais lentos, até que adormeço.

Acordo com o colchão se movendo em baixo de mim. Abro os olhos devagar, piscando até me acostumar com a luz acesa.

A primeira coisa que vejo é Harry, está de costas para mim, só de cueca. Está parado de frente para a janela aberta, e parece absorto em pensamentos.

Não há sol hoje, e sinto falta do calor do sol na minha pele, e do contraste na pele de Harry.

Que horas são?

Harry se vira lentamente, um sorriso torto se abre em seu rosto e me pego pensando que nunca vi coisa mais sexy na vida.

Seus cabelos estão bagunçados em cima, e ele tem olhos verdes vividos e brilhantes.

Meio-dia. Você dormiu bastante.

Não me lembro da última vez em que acordei tão tarde. Até nas férias do colégio eu acordava ás 08:00 para ajudar minha mãe com as gêmeas. Um alarme soa na minha cabeça, me alertando com letras vermelhas e garrafais que perdi aula.

Perdi a aula. Droga.

Estou me levantando com pressa, alarmado.

Ei, calma. Você já perdeu a aula mesmo.

Paro. Harry tem razão. Já perdi a aula mesmo, não tenho o que fazer. É inútil.

Me sento de volta na cama, a tempo de ver Harry sorrindo abertamente.

Está com fome?

Assinto, lembrando que estou com fome. Para ser mais específico, com fome da camida de Anne.

Deve ter sobrado alguma coisa da janta. Vou esquentar.

Harry caminha lentamente pelo quarto, como que para me provocar, rebolando, e veste uma calça jeans amassada no chão.

Quando estou a sós no quarto, consigo parar para pensar. Não me sinto tão leve e calmo há muito tempo, desde quando fui embora daqui.

Me levanto, me espreguiçando, e caminho até o banheiro. Pelo espelho, vejo as pequenas manchas roxas abaixo dos meus olhos. Estou um pouco melhor, mas ainda assim, aparentemente cansado. Abro a torneira e lavo primeiro as mãos, pego um pouco de água com as mãos e lavo o rosto.

Perdi aula. Me sinto muito culpado. Nunca perdi um dia de aula, nem na escola pública de Doncaster, e agora matei um dia de aula na faculdade de W&E. Afasto esse pensamento para o fundo da minha mente quando sinto o cheiro de molho vermelho novamente. Respiro bem fundo, e sorrio. Amo a comida de Anne. Amo estar aqui novamente, como nos velhos tempos, almoçando e jantando a comida maravilhosa de Anne na companhia de Harry.

Penteio os cabelos com os dedos, não funciona muito, mas resolve o emaranhado de fios. Tiro as roupas de Harry e coloco as minhas. Dobro-as e coloco-as em cima da cômoda.

Desço rapidamente, de repente ansioso para o dia ao lado de Harry.

Harry está servindo os nossos pratos na mesa de jantar. Levanta o olhar para mim, e sorri quase minimamente, mas já é o suficiente para fazer meu estômago revirar.

Sento-me á mesa, e enrolo a massa com o garfo.

Você tem que passar no campus?

Não fizemos nenhum plano para hoje, nem pensei nisso ainda.

Sim. Quero tomar um banho e trocar de roupa.

Harry assente, chupando o macarrão. Desvio o olhar para o meu prato, porque sei que minhas bochechas estão da cor do molho.

Te largo na faculdade e te pego depois. Tenho algumas coisas para resolver.

Não pergunto nada, porque não sei que tipo de relações temos agora. Somos amigos, melhores amigos. Me lembro.

Depois podemos passar no trem. - Sugiro, timidamente.

Tenho ótimas lembranças de Harry e eu nos trilhos do trem, conversando e jogando pedrinhas. Harry simplesmente assente, e caímos em silêncio.

Entramos na picape de Harry, que range quando subimos, e fechamos as portas ao mesmo tempo. Seus dedos esguios tateiam o rádio, que sintoniza numa rádio indie. Não reconheço a música. Na verdade, meu conhecimento por música é limitado, tudo que conheço é rock antigo.

Estamos em silêncio desde o almoço. Fico preocupado com Harry e as suas "coisas para resolver".

Pela janela suja, vejo as casas da ruas de W&E. São coloridas e simples, mas muito bonitas e aconchegantes, como a de Harry. Amo essas ruas pequenas e pacatas. Lá fora não há sol, só nuvens claras e uma leve brisa. Apesar de sentir falta do sol, gosto do vento que bate no meu rosto conforme o carro anda.

Olho para Harry, que está dirigindo com uma mão, seu cotovelo está apoiado na janela e sua mão vaga está sob a boca, descansando. Está sérios, os olhos focados na estrada pouco movimentada, e as sobrancelhas unidas. Tamborila os dedos esguios na direção vez ou outra no ritmo de alguma música.

Resolvo ignorar o silêncio incomodo e a mudança de humor de Harry. Recosto minha cabeça na janela e fico admirando as ruas já conhecidas.

Desço da picape assim que Harry para. A picape arranca rapidamente, e bufo.

Porque Harry tem que ser tão intenso? Ele é tão cheio de emoções e sentimentos confusos. Não entendo suas mudanças de humor, parece que sempre estou pisando sob ovos. Se eu me mover rápido demais Harry pode explodir. Me sinto assim.

Caminho, segurando minha bolsa com a câmera quebrada. Ainda não resolvi o problema da câmera, e preciso lembrar Harry disso depois.

O campus ainda é o mesmo, com as mesmas pessoas. Vejo Viki sentada na escada com suas amigas, suas discipulas. Reviro os olhos, e passo reto por elas, ignorando suas risadinhas e piadinhas sobre eu estar repetindo roupa.

Vou até a porta da sala do Prof. Joseph e vejo os horários da semana que vem. Anoto-os rapidamente no aplicativo de agenda do celular, e guardo-o de volta no bolso.

Vejo muitos planfetos de festas e clubes, são sempre os mesmos, e sempre os ignoro. Não reconheço ninguém no caminho até o campus, por isso não me sinto tão mal pela minha aparência cansada. Vou até o dormitório dos garotos, cumprimento alguns ao longo do caminho, e consigo não gaguejar ou ficar vermelho.

Suspiro quando fecho a porta do meu quarto. É como estar em casa novamente. Amo a casa de Harry, mas aqui, nesse quarto, me sinto dentro da minha própria bolha.

Largo a bolsa na cama e caminho até a cômodo, demoro para encontrar algo descente. Não tenho roupas de marca, sei disso, mas não quero usar suéter novamente. Escolho uma camisa sem mangas, parecida com a que Harry usará ontem, uma calça jeans preta e meu vans.

Tomo um banho quente, escaladante, bem rápido, mas é o suficiente para me relaxar e me fazer parar de pensar sobre Harry. Visto minhas peças limpas.

Na frente do espelho, me sinto diferente. Não pareço tão patético assim, sem suéter, pareço mais descolado, mais normal. E gosto disso. Gosto da sensação. Procuro em uma das gavetas uma touca vermelha, sei que a tenho, mas não a uso há dois anos. Coloco-a estratégicamente sob o cabelo, e tomo cuidado para deixar minha franja aparente.

Não levo minha bolsa, pois minha câmera está estragada, e não vou precisar dela por ora. Fora do meu quarto, bato de cara com Taylor. Está com um moletom marrom colado, calça jeans e tênis de marca. Está simples, mas ainda assim parece um modelo ou jogador de futebol da seleção alemã.

Apesar do cabelo impecável, está com manchas escuras abaixo dos olhos, sinalizando que ele não dormiu. Fico instintivamente preocupado. Nunca vi Taylor assim, sempre foi animado e positivo. Nem nas festas após jogo, depois de uma grande ressaca, nunca o vi nesse estado.

Apesar de não ser meu amigo e de não termos intimidade, fico parado. Não sei o que dizer para confortá-lo, porque não sei pelo o que ele está passando.

Taylor? Tudo bem? - Tenho que perguntar, apreensivo.

Taylor demora alguns segundos para digerir, e abre um sorriso bem fraco, nem chego a ver seus dentes brancos perfeitamente alinhados.

Ah. Tudo bem, cara. - Ele bate no meu ombro, como normalmente os garotos se cumprimentam.

Sei que não está tudo bem, mas não tento nada.

Você quer o pen drive? Esqueci de devolver ontem, cara. Foi mal. - Ele fala lentamente, com a mão ainda sob meu ombro. Quando nota, a tira rapidamente, e noto que ele fica desconfortável com a situação.
Claro. - Minto. Nem lembrava do pen drive, mas, por algum motivo, finjo que estou ali para isso.

Taylor se vira e entra em seu quarto, faz um movimento rápido com a mão para que eu entre. O acompanho, entrando em seu pequeno quarto organizado, com diversos posteres de carros luxuosos e bandeiras de times de futebol.

Seu colega de quarto não está, como sempre, e me pergunto se alguma vez o vi. Olho ao redor, mas meus olhos focam na lixeira pequena ao lado da escrivaninha, como um ima. Um teste de gravidez.

Primeiro penso que não faz sentido, que provavelmente estou vendo coisas, mas então lembro que Steph, sua namorada líder de torcida, praticamente mora aqui. Não sei como ela dribla o diretor, mas está sempre aqui.

Arregalo os olhos quando compreendo o que está acontecendo. Se estou na linha certa de pensamento, então Steph descobriu que está grávida, e isso, sim, é um bom motivo para as olheiras de Taylor.

Aqui está. - Taylor interrompe minha linha de raciocinio, entregando-me o pen drive vermelho.
Gostou do filme?
Steph estava aqui, então… - Ele coça o queixo, olhando para os lados. - Você sabe, não vimos o filme direito.

Rapidamente entendo, assentindo mais do que o necessário. Isso é constrangedor.

Abano, mal olhando para Taylor, e saio do seu quarto.

Fora do dormitório dos garotos, sigo andando pelo campus. Não tenho muito mais o que fazer por aqui. Lembro-me rapidamente de não faltar aula amanhã, não quero perder a frequência nas aulas ou perder trabalhos importantes.

Ando distraidamente, admirando a bela paisagem verde que banha a W&E College, quando ouço uma voz conhecida. Demoro para entender sobre o que se trata a conversa, e quem são os autores dela.

Francine, a aluna de Belas Artes, está discutindo com sua voz baixa e dócil. E, ao fundo, ouço uma voz ainda mais alta e potente, masculina. Escondendo-me atrás do muro da faculdade, perto do estacionamento dos alunos, vejo de relance Francine discutindo, apontando o dedo para um dos seguranças.

Você está muito encrencada, mocinha!
Você não pode me acusar de algo que não fiz!
Todos sabemos do que você é capaz! - O segurança de roupas azuis e bigode grosso, está andando em sua direção, ameaçadoramente.

Me retiro de trás dos muros rapidamente, e só quando estou cara a cara com o segurança raivoso, que noto o que estou fazendo. Estou ficando cada vez mais impulsivo, sem sequer noto, tomo decisões. Perdi o medo das consequências que podem vir porque posso voltar no tempo, então não preciso ter medo.

Não fale com ela assim!
Saia daqui agora, seu moleque!
Ela é uma aluna, você não pode tratá-la desse jeito!
Você não sabe de nada sobre essa garota! Não se meta onde não foi chamado!

O segurança está avançando na minha direção, ameaçadoramente, assim como fez com Francine antes. Francine toca meu ombro, chorando e soluçando.

Vamos embora.

Ela pede tão docilmente, mesmo que entre lágrimas, que abro minhas mãos, antes fechadas em punhos, e assinto.

Deixamos o segurança para trás, com sua raiva incontida, e caminhamos pelo campus.

Francine está chorando, passando a mão pelos próprios braços, como que para se confortar.

Tenho pena de Francine. Limpa e sincera pena. Francine foi criada na igreja, por isso é tão dócil e disciplinada. No ano passado foi filmada no quarto com um garoto - um dos jogadores do time de futebol da faculdade - e seu vídeo foi posto na internet. Houveram boatos de que sua família a deserdou depois do vídeo, mas, até então, são só boatos.

Ele te fez alguma coisa? - Pergunto, preocupado.

Francine nega rapidamente, secando as lágrimas.

Não. E-ele só achou que eu havia estragado as bicicletas. - Sinto que ela está divagando, mentindo, mas ignoro.
Ele é um babaca.
Obrigada por me defender. - Ela sorri, ainda mais dócil.
Você é como uma amiga para mim. - Sorrio, tentando ser o mais simpático que consigo. Seus olhos se enchem de lágrimas.
A maioria das pessoas aqui riem de mim. É raro quando alguém se preocupa em parar de olhar para o seu próprio umbigo para olhar para o do próximo. - Algo em suas palavras me faz pensar e sentir algo. Não compreendo, completamente, mas sinto carinho, afeição e amizade por essa garota pálida e frágil.

Na verdade, Francine me lembra alguém. Alguém frágil e pálido, que nunca pensou que seria capaz de realizar coisas extraordinários. Francine me lembra o Louis, o antigo Louis, antes de do poder, antes de Harry.


Notas Finais


Espero que tenham gostado!
Se ficou confuso, me desculpem. Tenho muitas ideias aleatórias, e tento encaixar tudo aqui.
O próximo capítulo vai ser quen-te! Mas não se iludam. Ou se iludam. Quem sabe?
Escrevi esse capítulo correndo, porque fazia tempo que eu não postava (bloqueio criativo feat. preguiça), então não revisei mesmo, sorry. Mas fiz grande pra compensar a demora.
Obrigado a todos pelos comentários, visualizações, favoritos e leituras anônimas.
E, ah, anônimos, não sejam mais anônimos!
Amo vocês!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...