História Relatos de uma depressão - 16 de setembro de 2016

Querido amigo, hoje foi dia bem estranho. Não sei exatamente de que forma. Foi ruim porquê uma pessoa morreu, e bom por nunca ter presenciado a reação que presenciei hoje a uma morte. 
Hoje eu acordei com a minha mãe me pedindo desculpas por ter me acordado antes do horário, mas dizendo que eu precisava me levantar e ir de táxi para o colégio, pois a mãe de Bob falecera e eles estavam indo para o hospital.
Continuei deitada até 6:00, coloquei meu celular para tocar música e fui tomar banho. Após o banho, me arrumei, comi, tomei meu remédio, enrolei até 7:00 e chamei o táxi. Cheguei no colégio na hora da oração. 
Conversei com Felícia, Léa e Samantha, copiei as anotações, dei um selinho em Felícia e recebi uma mensagem da minha mãe pedindo para esconder o piercing, pois minha avó iria me buscar, me levar para almoçar e depois para o velório. 
Depois de sair da escola, fiquei na praça, minha avó me pegou, passamos em uma floricultura, encomendamos duas coroas de flores e fomos para a casa dela almoçar. Obviamente, minha avó não perdeu a oportunidade de dizer que Cecília, a mãe de Bob, não vai para o céu por que era idólatra, e reclamou do meu vestido, dizendo que não era apropriado, que as pessoas iam falar mal de mim e zombar da minha mãe. Pelo amor de Deus! Como se alguém num velório fosse reparar num decote! Acabei colocando uma blusa que ia quase até o pescoço por cima do vestido. O resultado ficou horrível. 
Fomos ao velório, dei meus pêsames à algumas pessoas e meu irmão me perguntou se eu conhecia algum palavrão que não estava em um papel que ele mostrou e ficamos ele, minha cunhada e eu brincando de achar palavrões. Depois tentamos pensar em fantasias de casais para o Halloween. Brincamos com uma garotinha de 5 anos e ficamos horrorizados com ela arrancando plantas inteiras para jogar numa fonte cheia de peixes. Às 17:00, nos reunimos ao redor do caixão, um pastor fez um discurso ruim, algumas pessoas fizeram discursos também e o caixão foi levado para uma sala, onde iria ser incinerado.
Fomos para a casa do pai do meu padrasto pouco depois, outras pessoas também foram e todos se ocuparam com algo. Minha mãe fez uma sopa, enquanto a sobrinha do meu padrasto preparava um macarrão à Bolonhesa. Abriram também um vinho para tomar em homenagem à Cecília. Acabei tomando também, apesar de estar tomando antidepressivo. O problema é que eu não comia desde o almoço e era vinho seco(que eu amo), então acabei ficando um pouco bêbada num jantar de família pós velório. Felizmente, eu não fui a única. 
A um dado momento, estávamos minha mãe, a irmã do meu padrasto, a sobrinha dele e eu conversando na cozinha e Mandy(a sobrinha) solta: "Eu não concordo com essa coisa de bi. Ou gosta de um ou gosta do outro". Eu sei que eu olhei para a minha mãe, minha mãe olhou pra mim e ela respondeu: "Você não tem que concordar com nada, as pessoas são e pronto." Eu fiquei tipo "Wooooowww AMEI". Depois estávamos comendo, eu disse à minha mãe que queria ir no encontro lgbt amanhã e ela disse para pedir ao meu tio para me deixar lá sem que Bob saiba, pois vai ficar chateado.
A propósito, deixe-me esclarecer uma coisa. Eu tenho uma maneira diferente de lidar com mortes. Eu não consigo ficar triste e muito menos chorar. Para mim, é como se a pessoa tivesse viajado para algum canto e tivéssemos perdido o contato, mas ainda pudesse esbarrar nela em qualquer esquina, como se ainda fosse vê-la novamente. O que eu acredito muito. Apesar de a maioria das pessoas encarar isso como uma insensibilidade, eu acho uma ótima maneira de lidar com mortes.
Conversei com Sam, depois fui para casa, conversei mais um pouco, mas as mensagens não estavam sendo enviadas,  eu estava extremamente cansada e com sono por causa do vinho, então desliguei o tablet e fui para o meu quarto. Nenhuma alteração hoje.
Até a próxima carta.
Agradecidamente, 
Victoria Parks.