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História Relatos de uma depressão - 7 de setembro de 2016


Escrita por: Moon_redwich

Capítulo 7 - 7 de setembro de 2016


Querido amigo, acho que já deu para perceber que sou uma montanha russa. Meu humor muda muito durante o dia, uma hora estou feliz e dançando e na outra estou triste e pensando sobre a morte. Em geral, essa variação segue um padrão. De acordo com o meu psicólogo, meu humor acompanha o sol. Poético, não? Talvez você não tenha entendido, mas eu vou explicar. Quando eu acordo, eu estou triste, sem motivação, e segue assim até umas 10:00. Depois disso eu fico mais animada, mas entre o final da tarde e a noite, eu vou ficando mal de novo, quase sempre me tranco no quarto, com as luzes apagadas(pois a luz me irrita),sem ânimo nem vontade de fazer nada. Isso dura até as 10:00 da manhã seguinte, que é quando recomeça o ciclo. 
Você não faz ideia do quanto essas alterações de humor são exaustivas, mas não sei se preferiria ficar só feliz. Sei o que deve estar pensando. "Victoria, quem não gostaria de ficar só feliz?". Eu gostaria, mas sempre que tenho um dia totalmente bom, eu fico tensa, esperando algo ruim acontecer. "Mas, Victoria, isso não é felicidade plena. E se não houvesse tristeza?". A essa pergunta eu lhe respondo com uma frase que ouvi algum dia. Não sei bem quem disse isso, mas faz muito sentido. "Se não houvesse tristeza, não saberíamos o quão doce é a felicidade".
Hoje eu acordei com o meu padrasto dizendo para eu acordar e ir para a praia com eles. Enrolei mais um pouco na cama mexendo no tablet, depois comi um pouco de maçã com granola, tomei meu remédio, tomei banho e decidi para a casa da minha avó, ao invés de ir para a praia. Vesti uma roupa quase toda branca, liguei para o meu avô para saber se eles estavam na firma ou no apartamento, mas ele não atendeu. Liguei para a minha avó e ela atendeu. Ela e meu avô estavam na firma, meu pai estava no apartamento com a minha tia e o marido dela, mas estes iriam para a firma depois do café da manhã. 
Depois de colocar As vantagens de ser invisível e Os caçadores de tempestade na minha mochila, sentei no sofá e fiquei esperando o meu padrasto chamar. Alguns minutos depois ele passou dizendo que eu demoro muito para me arrumar e meu irmão rebateu, dizendo que eu já estava pronta, caso ele não estivevesse vendo. Isso fez com que, depois que Mathew foi para o corredor, eu apontasse para lá e fizesse um coração com as mãos para a minha mãe. Eu amo meu irmão! 
Mathew não é meu irmão biologicamente, mas isso não importa. Ele é filho do meu padrasto do casamento anterior e é seis anos mais velho que eu. Ele me ensinou a surfar, a jogar War, Poker(o que eu desaprendi), canastra, e sempre foi maravilhoso comigo. Ele já assumiu a culpa por coisas que eu quebrei, pois sabia que Bob não brigaria com ele, mas comigo sim, já me ofereceu camisinha quando eu estava ficando com o primo dele, já foi me deixar em um encontro, me deu dinheiro, me levou para sair, me consolou quando eu estava chorando desesperadamente depois do meu primeiro fora de Cameron, entre muitas outras coisas. Nós nunca, nunca brigamos. Acho-o o melhor irmão do mundo e eu o amo muito!
Saímos de casa e meu padrasto teve que pegar um caminho mais longo para a casa da minha avó, pois hoje a parte que dá acesso à ponte e toda a extensão da ponte estava fechada para a Parada LGBT. Eu queria ter ido, mas meu pai está aqui e eu quero(e tenho) que ficar com ele. Além do mais, eu duvido que ele ficaria feliz em me ver em uma manifestação a favor da comunidade LGBT, uma vez que ele é de direita e participou de manifestações a favor da família tradicional. Cheguei na casa da minha avó e, como sempre, fui recebida com abraços e o velho "Você cresceu!", apesar de ter estatizado em 1,56 há três anos. 
Menos de 10 minutos depois, minha tia e meu pai chegaram, fui dar um abraço bem apertado no meu pai e ele também disse que eu cresci. Acho que é uma espécie de cumprimento dos mais velhos com os mais novos. Perguntei a ele sobre a minha madrasta e meus irmãos e ele me mostrou uma foto de Erick, meu irmão mais novo, com a cara pintada de tigre para uma apresentação escolar. Por foto, pude perceber o quanto ele cresceu desde a última vez que o vi. Mas também... Já faz mais de um ano! 
Ele me perguntou sobre a escola, as notas, os meus óculos, que eu ainda preciso comprar, devido a 0,75 graus de miopia com 0,75 graus de astigmatismo no olho esquerdo e 0,5 graus de astigmatismo no olho direito. Respondi que estava tudo bem na escola, estou acima da média em tudo e que ainda não fui conprar meus óculos. 
Quando meu avô estava distraído procurando peças para consertar aparelhos, minha avó estava na cozinha fazendo não sei o quê e minha tia estava em outro quarto, sussurrei para só o meu pai ouvir:
- Eu fui no psiquiatra. 
- E aí? 
- Eu to tomando remédio. 
- Que tipo de remédio?
- Antidepressivo. 
- O médico deu algum diagnóstico? 
- Depressão. 
- Só depressão? 
- Até agora, sim.
E não falamos mais nisso. Eu não quero que o resto da minha família saiba que tenho depressão. Não me importo que estranhos ou "amigos"(são conhecidos, não amigos. Eu não tenho amigos, amigos mesmo) saibam que tenho depressão, mas minha família sim. Não sei o motivo. Ainda passei um ou dois dias decidindo se ia ou não contar ao meu pai, mas ele é meu pai. E acho que ele deve saber, até mesmo para, de alguma forma, prepará-lo. Eu não sei quanto tempo eu ainda vou continuar resistindo. Ainda mais agora que tenho uma caixa de antidepressivos em casa. Eu sei que basta eu engolir todos aqueles comprimidos, tomar um pouco de vodka ou qualquer outra bebida forte e acabou. Eu andei pensando muito nisso no final da tarde. Eu quero muito, mas ainda tem tanta coisa que eu não fiz... Eu queria ter minha primeira vez, viajar para o exterior, ir a uma boate, amar alguém que me ame também, pular de paraquedas. E tem a minha mãe. Minha mãe só tem a mim, está presa a um casamento que a faz infeliz, está desempregada e não tem outros filhos. Seria injusto com ela, ela não aguentaria. Para ser franca, ela é o único motivo que me prende aqui.
Agora pensando,existe uma frase que diz: "Não faça com os outros o que não quer que façam com você". Mas porque o contrário é visto com tanta... Não sei. Por quê alguém se cortar não é visto tanto como um ato de violência como quando é feito com alguém? Por que alguém se matar é visto com tanto mais sangue frio do que um assassinato? Não foi uma ferida que se abriu? Não foi uma vida que se foi? Consentimento. Talvez seja isso.
Fiquei lendo As vantagens de ser invisível até a hora de irmos almoçar. Comemos em um restaurante perto da firma, voltamos, fiquei deitada na cama durante a tarde, conversei um pouco com Alice e percebi o quanto nos afastamos. Não somos mais melhores amigas. Ela não confia mais em mim e eu não confio mais nela. Talvez seja minha culpa. Eu perdi muito a confiança nas pessoas, não acredito em ninguém. E por quê deveria confiar? As pessoas mentem e eu cansei de acreditar nelas. É triste dizer, mas por mais que eu seja muito aberta com a minha mãe e tenhamos uma relação linda, eu não confio totalmente nela. Eu só confio em mim mesma. Somente.
Eu estou me sentindo sozinha e chata. Eu não consigo mais conversar com uma pessoa com quem eu tinha tanta conexão! Eu estou afastando todo mundo, não sei mais estar com as pessoas, não sou interessante, e eu preciso de alguém. Preciso desesperadamente de um amigo. E não estou falando de alguém para sair comigo e se divertir. Alguém que pergunte como eu estou e seja sincero ao perguntar isso, que realmente se importe, alguém que me entenda, que fique feliz de verdade em me ver feliz, alguém que me faça esquecer minha timidez. Eu queria muito um amigo. Não ter ninguém me deixa mais triste do que posso exprimir. Nenhuma alteração a tarde. 
Passei o resto da tarde ouvindo música e olhando o teto. Ouvi Why'd you only call me when you're high, apesar do pedido do meu psicólogo. Foi uma má ideia, pois estou começando a me sentir esquisita de novo, mas acho que não vou conseguir deixar de ouvi-la. Depois escrevi e só parei quando meu pai me chamou para comer pão de queijo que minha avó havia feito. Eles estavam ótimos. Comi também torta de maçã, tomei suco de uva, abracei o meu pai e fiquei me sentindo culpada. Eu sei que ele vai receber uma intimação e não falei nada a ele. Queria que minha mãe não tivesse me dito nada.
Meu tio chegou com a esposa e a filha dele lá pelas 20:00, ficaram todos conversando e eu voltei ao quarto para escrever. Parei novamente quando minha mãe chegou para me buscar, me despedi de todos e fui embora. Nenhuma alteração hoje. 
Até a próxima carta. 
Agradecidamente, 
Victoria Parks. 



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