História Release - Due.

Acordo suado, mesmo que tenha tirado minhas vestes de dormir.

Esfrego os olhos, que dor de cabeça. Acho que bebi um pouco a mais do que costumo – na verdade nem bebo, como Suzen.

“O que aconteceu ontem, Nico?” penso. Só lembro de um tumulto que ocorreu por causa de uma garota que bebeu demais, eu nem vi mais Suzen e foi a mesma quem me convidou para a festa.

A luz do dia  invade meu quarto. 07:00 am.

Meu celular sobre o a pequena comoda ao lado do despertador. Estou atrasado para o colégio, puta merda.

Ligo o visor e vejo notificações do snapchat, mesmo que eu não contate com ninguém, tem várias chamadas perdidas. E uma das fotos de uma conta do snapchat me chama atenção, um moletom cinza como o de Suzen...

Começa por um vídeo.

–  Está gravando? – perguntam uma pessoa aleatória.

E então aparece uma garota com moletom muito parecido com o de Suzen.

– Vamos, Suzen!

Puta merda!

Suzen aparece bêbada. Os cretinos estão a gravando bêbada. Sigo mas o vídeo é curto,o que se segue são fotos de Suzen – nenhuma nua ou qualquer coisa. E outros snaps da mesma, com alguns comentários, algumas coisas como “Aprendendo a jogar com Suzen”.

Alguém bate muito forte na porta do quarto, fazendo cintilar a dor na minha cabeça.

– Calma! – grito.

E não bate mais.

Não tem mensagem alguma de Suzen, só fotos do mesmo momento do vídeo, e um “SOS” numa foto que identifico como o lugar onde gravaram o video.

–  Nicholas! – minha irmã grita. – Aí não tenha nada que eu já não tenha visto!

–  Entra, porra!

E então ela aparece – de moletom e o cabelo preso num coque –, segurando o trinco da porta, um pouco afobada. E percebe o celular na minha mão, talvez soltaria uma piadinha mas percebe minha feição.

–   Suzen está internada. Aperentemente em coma.  – solta.

“Suzen está internada. Aperentemente em coma. Suzen está internada. Aperentemente em coma. Suzen está internada. Aperentemente em coma. Suzen está internada. Aperentemente em coma. Suzen está internada. Aperentemente em coma. “

Minha mente parou.

–  Eu também vi os vídeos, um pouco depois socorreram-a. – continua.

Senti vontade de tacar tudo contra a parede ao mesmo tempo que não conseguia reagir, como se tivesse congelado. Suzen não é de beber, por que ela? Teriam a obrigado beber? Ela recém se tornou destaque no time masculino, como conseguia no feminino, ela não gosta de beber.

Rangi os dentes enquanto meu estômago embrulhava. Queria socar a cara de todos do time de futebol, os principais.

–   Eu te levo, Nico. – disse meu apelido tentando confortar-me. E procura atonita por roupas minhas, joga uma camiseta de banda e minha calça jeans que estava sobre a poltrona. – Vamos, Nicholas! – saio debaixo da coberta, só com cueca samba-canção e visto-me rapidamente.

Consigo escutar os passos da minha irmã pelo corredor, procurando alguma coisa nervosa e ao mesmo tempo querendo ser um jato, e se não estivesse esperando por mim, já estaria no hospital.

Minha irmã tem uma certa ligação com Suzen mesmo com diferença de idade – talvez não a idade, mas fase. Suzen ensino médio e minha irmã na faculdade – conversava muito com minha irmã, às vezes eu sentia que minha irmã desejava abundamente trocar-nos e Suzen ser a nova irmãzinha dela, mas nunca declarou me odiar. Porém, eu a escutava com todo o papo de política e tudo mais. So que Suzen... Suzen a respondia e a observava falando como se Katherine fosse um super ídolo – como se David Gilmour (vocalista do Pink Floyd) estivesse a frente de Suzen.

Termino de me vestir, calço meu par de all star (totalmente detonado) e quase esqueço da minha jaqueta. Corro para a sala e depois para cozinha,  pego uma maçã e ouço minha irmã buzinar.

“Nico, você só se supera.”

Tranco a porta da frente e corro para dentro do carro, onde minha irmã se encontra bufando e de óculos! Ela quase nem os usa para sair.

E saímos em partida ao Hospital.

– Antes que diga algo, agora os uso para outras ocasiões. – diz – E antes que...

–  Suzen te convenceu.

–  Sim, coloca uma música aí. – ...Para distrair o quanto estou nervosa, e aparento estar mais preocupada que você. – completo.

Penso em uma. “Que música Suzen escolheria?”

A música inicia e só consigo pensar no vídeo do snap. Fecho o punho. Evito qualquer coisa para não deixar Katherine mais nervosa do que já está. A situação de Suzen me preocupa e muito, mas é como se a ficha não tivesse caído.

Por que ela bebeu? Onde eu estava? Ah, sim. Bebendo e quieto, jogado no meu canto. A culpa é minha, eu deveria ter ajudado, não voltar para casa sem dar um tchau.

Olho de soslaio, o olhar de Katherine é ódio total. Ela viu o vídeo?

[...]

Engulo em seco.

Pelo vidro consigo ver Suzen deitada em cima da maca, em coma. Sinto um aperto. Fecho os punhos outra vez. Minha irmã me espera na lanchonete, com um cappuccino de canela. Suzen adora Mocca. A enfermeira me olha como “entra, vamos” de um jeito simpático.

Giro o trinco da porta e entro.

“Aonde você está, Suzen?” pergunto.

Sento-me ao lado da maca, talvez se eu estivesse com ela isso não estaria acontecendo.

Meus olhos descem para seu braço esquerdo e não há cicatrizes de mutilação – seja lá o que tenha passado pela cabeça de Suzen na hora em que ela começou a encher a cara.

A enfermeira anda de um lado para outro.

“Quem te ajudou?” ou “Por que fizeram aquilo?”

– Ela está reagindo bem. – a moça tenta me tranquilizar.

Ela diz isso para todos que veem aqui?

– Uma moça a ajudou – para – e um garoto, os paramédicos disseram. Ela teve sorte.

Eu continuo olhando para Suzen – não sou apaixonado por ela, somos melhores amigos. Melhor amigo que não a ajudou numa hora trash –, como a enfermeira continua ali, e eu estou praticamente de costas a ela.

Umideço a boca antes de falar qualquer coisa.

– Ela não é de beber – quase gaguejo – Sabe? Não é mesmo – Nico você não precisa provar nada a esta enfermeira. – É a primeira vez que agrava, se ela ja bebeu outras. – estou me contradizendo!

Ela abafa um pequeno riso.

– S-UZEN! – tento me acalmar – ela só não bebe. Isso ajuda ou proporciona maior chance de uma rapida recuperação.

Minimo tempo para ela formular e eu volto a falar quase gaguejando:

– Ela é atleta e quase musicista. – digo, falando muito sobre Suzen – Uma pessoa saudável.

Eu devo ter lido algo sobre coma e como... Música ajuda.

– Isso é bom. – indaga.

Seguro meu celular e procuro albuns do Pink Floyd. E que foram Suzen quem me lembrou de salva-los no celular, ou simplesmente no spotify.

– Poderia usar o som? – pergunto, virando agora para e a enfermeira.

Percebendo sua estatura baixa e magricela, com bochechas gordinhas e rosadas com um pouco de sarda.

– Teria um cabo usb? – ela acena que sim.

E abre a porta do armário abaixo do aparelho de som e me entrega o cabo usb. Conecto e penso em qual música ela gostaria de escutar ou... Só Syd Barret.

Dark Globe – mp3.

Música favorita de Suzen.

Dou uma ultima olhadela para ela. E saio do quarto, deixando ela com a enfermeira, enquanto toca Syd Barret.

Caminho até a lanchonete, mas antes, num corredor encontro a mãe de Suzen, ela sorri triste ao me ver. Abraço-a. E sento ao lado dela.

– Desculpa, eu... – antes que eu termine, ela segura levemente meu braço e faz “sh”

Suzen é filha unica, mas sua mãe adotou outra menina. E me parte que a Suzen esteja aqui, a mãe dela costuma ficar tão sozinha na maior parte do tempo.

– Ela irá ficar bem. – e sorri tentando me confortar.

Eu apenas concordo tentando retriubuir o sorriso.

– Gostaria de ir comigo até a lanchonete? – pergunto – Ou eu trago um café para você...

– Tudo bem, não precisa.

Abraço-a e caminho até a lanchonete, encontrando minha irmã encarando um Mocca a sua frente, mesmo que ela adore cappuccino, e só cappuccino.

Estranho.