Ontem.
– Você acha que ela gostaria dessa música? – pergunto.
Concorda.
– Adoraria. – sorri, finalmente sorri .
Vejo que Katherine está pensativa desde que saímos do hospital, mas ainda não comentou. Só que cumprimentou quem ajudou a Suzen ou buscou saber quem era. Não lembro.
– Deixei Syd Barret tocando para ela. – digo, e ela sorri novamente.
Mesmo que seja bom, não é legal a forma como falamos de Suzen, e Katherine não responde muito talvez não queira falar sobre isso ou só não seja o momento.
Hoje.
Minha cabeça lateja, e meus olhos estão inchados. Sinto um cansaço enorme no corpo, desde ontem ficamos calados lá em casa; minha mãe perguntou como estávamos, mas mais a mim. E me deu um abraço. Passei a noite pensando sobre muita coisa e remexi meu computador.
Jogo as cobertas para o lado e visto uma roupa qualquer.
Será horrível ir para a escola. Não respondi a ninguém muita coisa. Me sinto caído.
Dou uma visão geral do meu quarto, ele continua com detalhes agressivos. E sobre a mesa fotos minhas com quem eu amo.
Desço até a cozinha e preparo um cereal.
– Quer uma carona? – Katherine quebra o silêncio.
Terça-feira? Não, olho para o calendário e com total esforço lembro que hoje é o dia em que Katherine se junta com suas amigas.
– Eu levo ele. – minha mãe responde.
Ela apenas diz “ok”. E minha mãe me espera ali na cozinha. Talvez ela quisesse conversar comigo, mesmo quieta como está.
Minha mãe para o que está fazendo e presta atenção em nós.
– Então, ela está em coma, certo? – e – Vocês não precisam agir como se estivessem de luto, pois, talvez ok, tenha algo circundando a mente de vocês, e se precisarem eu escutarei vocês.
Ergo os olhos e encontro os de Katherine da mesma forma. Ela até se prepara para indagar alguma coisa.
– Otimismo? – pergunta – Ok?! – aumenta o tom de voz.
Eu balanço a cabeça concordando.
– Kevin, olha para mim. – uau, ela me chamou de Kevin. – Podes conversar comigo no caminho, e... – vira para Katherine. – Quinze dias, mocinha. – enfasa, talvez seja algum assunto delas.
A resposta de Katherine é uma feição tanto entediada e um “ok” forçado. Minha mãe até releva.
Termino de comer e lavo o que sujei, e caminho até o carro junto com a minha mãe.
Dois minutos.
– Olha só, quer me contar o que está pensando? – pergunta.
De bancária passou a ser psicóloga.
– Vocês dois estão quietos demais, poxa. – diz – Não entenda como se eu tivesse querendo dizer que Suzen não mereça ou não significa nada para vocês – nego com a cabeça. – Ou melhor, nós. Adoro aquela garota. E bom que sabe.
Continuo em silêncio, deveria dizer algo. Mas o que? “Arrependo-me de ter enchido o cu de cachaça enquanto Suzen estava passando mal.” OK. Ela bebeu e escolha dela, mas mesmo assim, eu poderia estar lá.”
– Às vezes algumas coisas acontecem e, cara, elas acontecem. – começa – E não adianta nos questionar muito, talvez tirar algo dela para não cometermos mais. Não nos corroer e ficar martelando isso, ok, foi forte tal coisa que aconteceu, mas poxa, tira alguma lição. E como numa prova, o que você erra você refaz e entende qual foi o erro, não fica se martirizando, lembra disso na prova e, meu caro, tem muitas provas. – um tapa na cara.
Ela me encara esperando uma resposta.
Respiro fundo.
– Vou na casa de Suzen após a aula, tudo bem? Preciso dar uma olhada. – e – fazer pesquisas. Obrigado pela carona. – pisco para ela e ela semicerra os olhos para mim.
Fecho a porta do carro e ela me manda um beijo.
[...]
Caminho pelos corredores recebendo alguns olhares, a maioria sabe que eu e Suzen somos amigos e talvez maioria estava lá.
Arrumo as merdas que precisa usar hoje e outras que posso deixar ali.
Arrumo os livros dentro da bolsa e deixo outras coisas ali, me dá um aperto ao ver algumas fotos minhas com Suzen e minha irmã. E se eu abrisse o armário dela? Eu sei a senha, e mesmo que ela me bata quando acordar, tudo bem, talvez tenha algo lá.
– E aí, Gregory, aprendeu como se joga com sua amiga? – Danny pergunta, ignoro-o. Ele ri a mil, otário.
Fecho o meu armário.
– Se quiser, não precisa ter vergonha. Suzen também te ensina a jogar. – e os amigos dele riem.
– Mas ela está em coma.
– Pois então, quem sabe tu consiga fazer o que ela consegue fazer em coma.
Abro o armário. (tenho a senha)
“Eu sinto muito.” Num papel que cai na minha mão.
(?)
Puta merda. Aconteceu alguma coisa. Eu deveria jogar a minha mochila no chão e me socar por não ter percebido nada, eu sou um lixo total.
1-Suzen enche a cara e ela não costuma beber; 2 - abro o armário dela e cai um bilhete de alguém dizendo que sente muito.
Fecho o armario e quando viro o rosto, ao mesmo tempo que dou de cara com uma das principais líderes me olhando (acho que é a Anna?) com “pena” ela engole em seco, como se tivesse cuidando tudo que estou fazendo. Forço o olhar para ela, como se fosse um “vá se ferrar, garota, você ajudou a fazer aquilo e nem a ajudou”. Mas estranho ela estar me cuidando, uma sensação meio estranha.
– Caros alunos, encaminhem-se até o ginásio – para falar sobre Suzen.
Todos se encaminham entediados, tendo noção do assunto.
E que merda, continuam me olhando. Olhando como olharam para Suzen quando viram que a coisa era séria.
Sento na quarta fileira da ariquibanca e escuto uns comentários bem necessários. E a decoração dali e pessoas que não são do colégio dá uma noção do que vai ser.
O diretor se posciona no pulpito e começa a dizer o mesmo clichê de sempre.
– Sabemo que temos uma aluna internada e gostariamos de conversar sobre isso. – começa – Eu sei como é ser adolescente, o pastor que veio aqui hoje também sabe.
O que é isso? Querida aluna? Vá se ferrar.
Ao meu lado soltam um:
– Pelo menos para isso Suzen serviu. Estamos sem aula. – e riem.
“Nico, tu é um incapaz de gritar com eles e xinga-los, Suzen é sua melhor amiga e você está aí parado.”
– Achamos que temos o mundo em nossas mãos, saimos por aí bebendo... – lição de moral para Suzen?
Ridiculo. E quando estamos na fase adulta traimos nossas mulheres como você diretor. Eu socaria sua cara tanto.
Ele faz um enorme discurso sobre bebidas e drogas, como também fez para outras ocasiões do tipo. E também chamou o pastor para falar sobre como podemos mudar e que disponibolizava qualquer ajuda para amigos de Suzen, caralho, ela está em coma. E mais balburdias. Todos ali falam sobre, tomam três aulas, o que os alunos comemoram e o sinal está prestes a bater para o intervalo.
– Finalmente. – a garota diz quando o sinal bate.
Vejo uma garota magricela e negra. Com camiseta de banda pesada e jaqueta de couro, ela ri com alguns amigos que nem parece pertencer a escola. A fito de longe, e por sorte ela não percebe. Ela parece com as características que me passaram da garota que ajudou a socorrer Suzen, o nome dela é Elia. E teve um garoto, de óculos alto, branco e com cabelo curto e castanho, nome é Gregory.
Continuando olhando-a em camera lenta, sem contar que ela sorri de adoravelmente. Daqui a pouco ela me flagra e pensara que: “rapaz descarado”.
E então flagra. Por um momento o sorriso não dança mais em seu rosto,ela para e depois não expressa decepcão – ainda bem – apenas me olha. E eu levanto e mantenho olho a olho com ela enquanto desço a arquibancada, e interrompo quando viro-me e seria mais descaramente continuar com o rosto virado e com risco de bater em algum lugar por não prestar atenção no caminho.
Suzen costuma fazer isso, mas não fiz por ela fazer. Porque tive vontade.
Os corredores para o refeitório não estão tão cheios, e sim, o refeitório é o clichê dos filmes que a maioria costuma assistir.
No lado direito, bem no canto, enquanto Seba e Will – dois garotos super espertos, o Seba é revoltado e hacker, já Will é mais geek e exatas, mas também sabe hackear.
– E aí? – digo, sentando-me na mesa.
Eles se entreolham.
– Nós, ahm – Seba começa – vimos o quanto te gente adora Suzen hoje. – e Lucas expressa um “é”
Não consigo falar nada.
– São otários e filhos de um macho otario – começo a rir – Não é mesmo? Suzen nos ensinou assim.
– É, sinto falta do ativismo dela, e cara, que garota passava oito horas comigo além dela? – pergunta – Desde que passou a jogar futebol não passou mais oito, mesmo assim, uma ótima amiga.
Uma confusão dos principais celebres de merda do colégio puxa nossa atenção. Babaquice total.
Levanto o olhar e lembro do que gostaria de pedir ao Seba ou Lucas, principalmente Seba.
Ergo o olhar para ele, com os braços cruzados e percebe, e logo um “o que foi?“
– Eu gostaria de hackear o computador de Suzen. – digo, ele arregala os olhos, impressionado.
– Paixão platonica por ela? Não esperávamos. – diz. – Ok, sabemos que você não é apaixonado por ela, o que há?
Lucas o olha, como se soubesse.
– Acho que houve algo de errado na noite de sábado. – digo.
Lucas volta a falar.
– Claro que houve. Ela não deu uma lavada em vocês dois, ganhou de vocês quase da mesma quantidade de pontos que a mim – brinca, mesmo mostrando saber que não é isso.
Penso no que dizer, mesmo que pareça loucura, e irão dizer que estou lendo Sherlock Holmes demais e deveria ingressar ou Star Wars, ou Star Trek.
– É óbvio que houve. – Lucas diz.
– Com certeza. – Seba completamente.
Mas será que pensam no mesmo que eu?
– Em que está pensando? – pergunta.
– Foi muito estranho. – engulo em seco – E bem, eu abri o armário dela e...
Seba se impressiona outra vez.
– Você abriu o armário dela? – pergunta.
– Encontrou uma revista pornográfica feminina, tipo, de mulheres nuas? – Lucas pergunta – Já esperávamos, porém, o lado comunista dela poderia compartilhar conosco, ou só comigo. – e – Corpo feminino é arte.
Puta merda. Ele passou muito tempo com Suzen.
– Não... Caiu um bilhete com os dizeres “eu sinto muito”.
– Alguém deve ter ganho dela no jogo, eu tenho certeza. – volta a brincar. – Ok. Ok. Influências Suzen a parte. Como pensa em fazer? Acha que alguém partiu o coraçãozinho de nossa amiga?
– Não sei. Talvez passar na casa dela pegar o computador, dar uma olhada no quarto dela e tal.
Os dois se entreolham outra vez e um “acho que ela não se importaria.
– Com uma condição... – Seba começa.
E Lucas completa:
– Ela não batará em nós. – Lucas completa.
– Porque somos os... Nãoi importa.
Amigos(?)
Uma mão sobre meu ombro me tira total atenção. Quando viro meu rosto dou de cara com a garota do ginásio.
Ela estica as mãos e se apresenta como Elia, o garoto que aparece atrás acena e apresenta-se como Gregory.
– Nicholas. – eu sei, ela murmura.
Seba e Lucas acenam para ela como velhos conhecidos e acho que Gregory também.
– Melhoras para a Suzen. – ela diz.
Tento formular as palavras para não me engasgar.
– Olha, valeu mesmo por ter socorrido Suzen, mesmo. – digo.
– Tudo bem. – ela diz, se despede e fico meio sem noção.
Esqueci de perguntar a ela o que aconteceu além do que foi gravado, puta merda.
Os dois me encaram com os olhos semicerrados, volto ao assunto.
– Hoje a noite na casa da Suzen, pode ser?
“Combinado” expressam com gestos.
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