História Relembre-me - Monstro

~Seokjin pov

Não muito tempo depois de tomarmos café da manhã, fomos direto à empresa com certa pressa, mas ainda sem perder as brincadeiras. Chegando lá, cumprimentamos rapidamente nossos superiores e os demais funcionários da Big Hit no caminho para a sala de ensaios. Durante o trajeto, não consegui reprimir a vontade de procurar pelo único integrante que faltava, segurando o casaco e os óculos do mesmo, meu olhar vagava entre as pessoas na tentativa de achar Namjoon.

Já dentro do local tão conhecido por nós, para minha surpresa e preocupação, apenas o coreógrafo se encontrava ali um pouco estressado pela demora, o qual contou silenciosamente o grupo fazendo uma cara feia.

- SeokJin, cadê o Monster? – falou sem nem ao menos nos dar tempo de cumprimentá-lo direito.

- Ele disse que viria mais cedo à empresa, achei que já estaria aqui. 

- O pd-nim ligou pra ele feito louco de manhã, às vezes eles ainda estão discutindo sobre algo. – Hope complementou enquanto os outros assentiam.

- Tudo bem então, mas vocês terão que ficar até mais tarde ensaiando com ele para compensar – os meninos murmuravam em reprovação e Suga falava um “merda, Nam” encostando-se à parede, sonolento – Não adianta reclamar! Vamos começar com 21st Century Girls, então?

...

Já haviam se passado três músicas e nada do Nam, devido essa minha infeliz preocupação, eu ficava a cada cinco segundos olhando para aquela porta esperando ele entrar, o que fazia não só o coreógrafo ficar bravo comigo como também os meninos pelos meus erros contínuos nas coreografias, obrigando-nos a repetir tudo novamente.

Até que durante uma pequena pausa, onde Suga estava sentado no chão pingando junto de Hope que massageava seus ombros, escutamos alguns barulhos na maçaneta, parecia que a pessoa por de trás dela queria que ela virasse, mas na verdade estava quase a retirando da porta literalmente. Rindo, Jimin deixa a conversa animada com Tae e Kookie e vai abri-la, revelando um Monster totalmente vermelho e irritado.

- Hyung, não sabe abrir portas mais?

-Aish, essa merda que não queria abrir. – disse passando a mão pelo topete descolorido e entrando.

-Ela não queria abrir ou o monstro da destruição apareceu novamente? – Yoongi replicou, levantando-se pesarosamente para esperar a nova ordem do coreógrafo que logo chamou a atenção de todos a fim de recomeçarmos, dando uma breve bronca no líder.

Digamos que, agora o ensaio deveria render, já que estávamos todos lá e eu não tinha mais com o que me distrair, só focar no quão bom aquilo deveria ficar para o showcase que aconteceria aqui em Seoul no dia seguinte, entretanto, a cor da face do recém-chegado não se alterava, se a raiva não era pela maçaneta, seria por hoje de manhã? Não, ele não deixaria algo tão bobo o afetar. Dirigi meu olhar para o Min e percebi que o mesmo também o olhava preocupado. O Pd-nim havia falado alguma coisa e isso o estressou, mas o que?

Quando deu mais ou menos duas da tarde, somos liberados por quinze minutos para comer, rapidamente, peço escondido para que Suga entregasse os óculos e a blusa ao seu dono em meu lugar. Mesmo protestando, o alvo levou e ambos iniciaram uma conversa, tranquilizando-me em parte.

Logo, avistamos as várias sacolas de um restaurante aqui perto do qual todos nós gostávamos. Com um pouco de tumulto, cada um passou a travar uma briga pelo pedaço de carne ali contido e somente após ter roubado o meu tão amado alimento, percebo que Namjoon novamente havia saído sem nem ao menos relar em um dos pratos, e pela cara desconfiada de Yoongi, as coisas não estavam nada boas para o loiro.

~Namjoon pov

Quantas vezes o Bang pd-nim quer me puxar até aqui hoje?

Eu sabia que após o lançamento do M/V tudo seria mais cansativo e que o cuidado para conosco deveria ser redobrado, ele até citou tomar uma medida judicial para proteger a integridade dos membros e me pediu para que repassasse a ideia para os mesmos; havia também a discussão sobre os locais para os novos shows, em como dividiríamos as agendas, como nos prepararíamos nos dias em que o V não poderia comparecer por causa do drama; tudo era um aglomerado que eu precisava desembaralhar e, agora, ouvir até minha cabeça explodir por ter saído sem máscara comprometendo o caminho que nós fazemos todo dia para chegar até a empresa.

Passado algum tempo, finalmente tenho a chance de voltar para a sala de ensaios, dou uma olhada no relógio para ter certeza de que conseguirei comer um pouco, tinha exatamente sete minutos, não é muito, mas já vai dar para enganar a barriga de quem não come desde manhã, entretanto, se nenhuma conversa ou destrato a Seokjin conseguiram me fazer perder a fome, o que eu presenciei no momento em que abri aquela porta, fez.

Estavam todos aglomerados, Jimin desmanchava as primeiras lágrimas e Hope por pouco não o imitava sendo amparados por Jungkook e Taehyung respectivamente enquanto os dois mais velhos estavam compenetrados no celular do moreno dividindo sua atenção entre o aparelho e tentar acalmar os demais.

- Posso saber o que esta acontecendo aqui? – falei em tom calmo a fim de não assustá-los.

Não obtendo qualquer resposta, passei pelos mais novos que emitiram “hyung” meio receosos, vagando pelo quarto até parar em Jin que tentava controlar o choro, se mantendo forte graças... Graças à mão de Yoongi entrelaçada fortemente na sua. Se permitíssemos ser eu ali ao invés do branco, definitivamente eu o teria abraçado, uma mão afagando-lhe as costas e a outra os cabelos, sem olhar para suas lágrimas, apenas as deixando molhar minha blusa enquanto beijo seus fios entre cada soluço, fiz isso durante tantos anos que não é nenhum mistério para mim como cuidar dele, mesmo não o fazendo na prática.

- Suga – chamei sua atenção, a única que ainda não fora desviada para mim – me deixa ver seu celular. – ele fixou em meus olhos e estendeu o aparelho, mas antes de tomá-lo, Jin, com as mãos trêmulas, o tirou, emitindo uma falsa risada embargada.

- N-não precisa ver nada Nammie, e-está tudo bem não é, garotos? – assentiram.

-Ah, se não é nada me deixem ver, quem sabe eu não me divirto – arqueei a sobrancelha, estendendo a mão novamente e o rosado passou a segurar o objeto com mais força, negando. Dei uma breve respirada tentando controlar-me – eu sou o líder, e independente do que tiver aí eu preciso tomar ciência, por favor.

- Gente, fazer estardalhaço por um rumorzinho de merda como esse, vamos parar de preocupar o Namjoon – Yoongi falou meio engasgado, diminuindo o tom ao prosseguir – entre no Twitter do grupo.

E assim o fiz, passei por comentários elogiando, alguns falando que Taejin é novo OTP, sobre roupas, novos cabelos, desci a barra de rolagem por mais alguns segundos e foi aí que vi a primeira leva de comentários maldosos, pessoas combinando dar deslike progressivo na música, contando mentiras sobre os membros e...  Ameaçando dar black ocean no MAMA, mas por quê? Fizemos tudo que estava ao nosso alcance para dar o melhor comeback que poderíamos fazer, ganhamos prêmios por ele e agora, nosso trabalho não podia terminar assim.

Minha mão tremia levemente ao travar o aparelho, em sinal de nervosismo. Finco os dentes na própria boca, cada um ali queria ouvir algo de mim, todavia estava completamente chocado, a língua que não recuava ao criar raps estava paralisada, agonizando por não conseguir cumprir seu papel de dizer algo útil.

- N-nammie h-hyung! – o acinzentado finalmente dirigiu-se a mim, pegando na minha mão – o que faremos se isso acontecer? E-eu não quero, passamos por tanta coisa, e se eles não gostarem mais de nós?

Queria falar que isso era impossível, no entanto conforme essa possibilidade aterrorizante ia e voltava em minha cabeça, eu passava a crer em sua realidade. Por mais que externamente a atitude que eu tomaria fosse para tranquilizar o choro do baixinho, ela também valia para aliviar meu coração inquietante que se recusava a encarar sua face úmida. Sem tardar, puxo o menor para um abraço cogitando responder um “eu não sei”, o qual foi interrompido antes mesmo de ser proferido.

-Se não gostarem o caralho! Eu fico sem dormir para melhorar os raps e até aceito ensaiar mais horas as coreografias se precisar – Yoongi, um.

-Vou criar coreografias tão boas que vai ser impossível tirarem os olhos de nós – Hoseok embargado, dois.

-Vou dar duro para aprendê-las e fazer o melhor possível nas letras – Jimin, ainda com a face sob meu peito, três.

-Nós vamos arrasar, Hyung! – Taehyung e Jungkook, quatro e cinco enquanto o menor se afastava de mim para dar espaço a outro alguém, formando seis ao rodear-me com braços longos.

-Se tivemos dificuldades no pré-debut, já era de se esperar ter o dobro agora e por isso vamos superá-las da mesma forma que antes! Juntos. – limpou as lágrimas antes de virar-se – nós prometemos não errar mais nas coreografias! E o Nammie nunca mais vai quebrar algo, ele acabou de me jurar!

-Aish Jin! – todos começaram a rir e reparo que minha mão ainda permanecia encaixada como se fizesse parte da base da coluna do mais velho, acariciando-a com as pontas dos dedos, bruscamente retiro-a, recebendo um olhar assustado de sua parte, porém logo convocando todos a ensaiarem novamente.

...

Chegando ao dormitório, corro para o banheiro antes que qualquer outro o faça e tomo aquele tempinho pequeno para relaxar. Saindo dali, vou direto para o meu quarto, deparando-me com uma montanha de papeis com um bilhete em cima: “Monster, esses são as cartas dos fãs e o cronograma de amanhã. Como não pude separá-los mais cedo porque estava cuidando da desatenção de certo alguém, por favor, o faça e distribua para os membros. Ass: Bang pd.”.

Fecho os olhos, emitindo uma lufada de ar. Sim, mais trabalho para o Namjoon e não, não vou poder descer mesmo sendo chamado para comer aquilo que o Jin deliciosamente fez. Pacientemente, começo a separar e numerar ouvindo risadas da sala de jantar, parecia que quanto mais eu mexesse naquilo, mais coisas apareciam e quando já estava quase acabando, Hoseok entra no quarto secando os cabelos na toalha após seu banho.

- Ainda não acabou, Namjoon?

- Estou quase Hope, se incomoda se eu deixar a luz acesa por mais uns minutinhos?

- Não, mas não se esforce muito, precisamos do Rap Monster amanhã, sim? – disse lançando um sorriso preocupado antes de se deitar virando as costas para mim.

Não levo mais que 20 minutos para terminar, deixando o que corresponderia ao Jung e a mim no nosso quarto, desligo a luz e vou fazendo o mesmo na frente dos respectivos cômodos. Aproveitando que já estou de pé, passo na cozinha, por sorte, ao abrir a geladeira encontro um prato de sopa embrulhado para mim, mentalmente agradeço à delicadeza do Jin – já que na vida real eu definitivamente não faria isso – e rapidamente o como, voltando ao meu aposento com um leve incômodo na barriga, aish.

...

A claridade que atravessava a janela começa a me incomodar juntamente com o barulho dos meninos se arrumando, era cedo e precisávamos ficar prontos para irmos ao local onde aconteceria o show. Levanto-me um pouco tonto e cumpro minha rotina: banho, comida, entrar na van e chegar até lá.

Tudo se encaminha bem, se não fosse pelo sono excessivo ou o leve mal estar que provavelmente vinha da alimentação péssima de ontem, mas nada que abalasse meu desempenho, eu acho. O dia estava muito corrido, tentava ao máximo desviar a atenção dos meninos da notícia ruim entre os treinos através dos vídeos que gravávamos até dar a hora de subirmos ao palco.

Desde o momento em que entramos, fomos calorosamente aplaudidos, cantamos algumas músicas, interagimos com a plateia e nos recolhemos para uma troca de roupa rápida. Após vestidos, sento-me ao lado do Jinnie para que o maquiador possa fazer seu trabalho em nós dois, porém acredito que esse infeliz não tenha entendido sua função direito, já que estava flertando na maior cara dura com o Hyung que não se tocara mesmo estando demasiadamente próximo do profissional.

Podia ser meu ciúme excessivo combinado com os vários problemas físicos e mentais que eu estava sentindo? Sim, meu corpo praticamente me obrigou a sair dali pisando forte sem que ele ao menos terminasse seu trabalho em mim, dirigindo-me até o banheiro mais próximo.

A cada passo que dava uma nota de raiva aumentava em mim, era black ocean, música, Jin, pressão da empresa, do público, gente querendo ter o Jin quando ele era por direito meu e só meu, se não fosse a merda do Yoongi para se intrometer aquela vez e me segurar?

- Monster! Caralho, você tá bem?

Minhas pernas haviam ficado bambas de uma hora pra outra e se não fosse o hyung ali talvez eu realmente tivesse caído devido à tontura. Um pouco temeroso, Yoon me auxilia a endireitar o tronco, recostando-me na parede mais próxima.

- Porra, bem que Hoseok falou que você não estava dormindo direito, – esfregou os fios negros nervosamente – vou lá falar que você vai se ausentar na próxima metade do show, fica aqui.

- NÃO! – segurei na manga de sua camisa – eu aguento, não se preocupe.

-Você quase caiu na minha frente e está literalmente branco, do que adianta fazer a merda dum show se você vai passar mal?

- Eu não vou – respirei fundo –, foi só uma queda de pressão sei lá e... Os meninos precisam de mim. – ele fixou seu olhar em mim, testando-me, e eu forço um sorriso em resposta.

- Okay – bufou – mas se sentir qualquer coisa, avise. As armys vão entender.

Sem trocar mais palavras, voltamos para o palco juntamente com o turbilhão que eu estava sentindo. As luzes do local que eu tanto amava ao brilharem sobre meu rap estavam quase me cegando, a parcialidade de visão que proporcionavam envolviam somente Jin, dançando com esmero ao fazer os movimentos sexys que mesmo sendo difíceis eram perfeitos em seu corpo suado e realçado pela roupa colada parecendo tão naturais quanto sua beleza característica.

Inebriado, sem ao menos conseguir diferenciar qual era a parte em que estávamos da música, a dor que eu sentia era apagada pelo anseio de me aproximar daquele ser a fim de me curar por completo. Conforme nossas posições se aproximaram na linha de trás, falseio jogando todo o peso do meu corpo sobre o rosado, o qual não conseguiu suportar, fazendo com que eu praticamente o prensasse no chão abaixo de mim.

Com os olhos atônitos e uma expressão agonizante, Seokjin tenta se levantar, entretanto como eu estava totalmente paralisado por motivos incertos – a sensação de seu corpo molhado tão próximo a mim, a respiração cruzada entre nossos pescoços atiçando cada pelo milimetricamente escondido sob a nossa pele quente e seu membro ainda não desperto roçando em minha perna bem como o meu na sua a cada nova movimentação produzida, nem estar sobre uma nuvem macia seria mais delicioso do que estar sentindo aquilo após tantos anos – impedia-o que completasse tal ação.

Percebendo que nós não estávamos nos recuperando do ocorrido, o som foi interrompido ao passo que os dois mais novos correram para ajudar, deixando os demais com a função de aliviar a cena fazendo brincadeiras do tipo “Ahh, o Appa quis se aproveitar do Omma” – o que talvez, não fosse uma completa mentira.

Entre risadas e desculpas, prosseguimos com o show, novamente sem tirar os olhos do mais velho, percebendo que o mesmo estava totalmente vermelho, desconcentrado fazendo certas caretas de incômodo conforme o passo exigia de si. Isso, Namjoon, parabéns, você fodeu com o tornozelo do seu vocal.

Sem mais nenhum incidente, nos recolhemos ao camarim e sou completamente ignorado por Jin, que se dirigia apenas aos menores preocupados com nosso estado. Ainda sem saber o porquê, não recebo nenhuma chamada do nosso responsável, acredito que até ele deve ter percebido que a atitude do hyung nesse momento somada à raiva comigo mesmo por ter estragado a apresentação na frente de todos por motivos pessoais e desatenção eram castigo o suficiente.

Já devidamente vestidos, retornamos à van, onde os meninos deram a ideia de ir a um barzinho privativo aqui perto em comemoração do M/V e, é claro, para animar os ares. Como era de se esperar, o rosado disse que preferia ficar em casa e que não se importava se fôssemos sem ele, cogitei fazer o mesmo para recuperar-me, porém, mais do que descansar, precisava tomar algumas doses para esquecer os meus problemas.

~Seokjin pov

Mancando levemente, saio do carro e entro no apartamento após observar o mesmo partir com os garotos, aigo... Meu tornozelo doía pra caramba, o que o Namjoon tem na cabeça?

No dormitório tudo estava da mesma forma como deixamos, ou seja, arrumado na medida do possível, salvo por algumas peças de roupa sobre o sofá e louça na pia para ser lavada, a ideia de arrumar antes de descansar me passa pela cabeça, todavia o silêncio incômodo me faz repensar e direcionar-me para o banheiro. As coisas pareciam tão vazias sem eles, e igualmente meu coração sem o cara desastrado.

Depois de um banho breve, vou desleixadamente até meu quarto, deixando com que a água escorresse dos meus fios, manchando de rosa o fino pano azul sobre meu tronco enquanto a visão de alguém ia de encontro a minha memória, seus braços, seu corpo e seu toque, tão próximos e tão proibidos. Seria melhor se eu os tivesse acompanhado no passeio?

Não. Quanto mais eu olhava para o Nammie, mais a saudade daquele que realmente era o meu monstro me inundava de tal forma que não seria difícil eu me afundar no anseio pelo prazer de estar consigo novamente, porém sempre que estava no limite de me entregar deixando que meu ser caísse nessas pétalas de rosas brancas, azuis e vermelhas banhadas a morfina e o perfume que lhe dei na véspera do nosso primeiro aniversário que não chegou a acontecer, minha consciência me puxava para cima, para que eu pudesse sempre estender minha mão e buscar a verdade, não me contentando com uma realidade fictícia de um passado que tento manter imaculado, pois eu jurei a mim mesmo não mentir, a sempre me manter acordado, porque no fim, tudo que ele fez foi me fazer chorar.

Quando estava prestes a dormir, ouço barulhos vindos da porta da frente, parecia que estavam tentando arrombá-la. Olhei para o relógio, avistando seus números brilhantes, eram três e meia da manhã... Provavelmente os meninos haviam chegado, então somente ignorei, tampando os ouvidos com as mãos para que o som parasse de afetá-los, contudo estava cada vez mais perto e alto. Aish, se eles quebrassem alguma coisa na minha cozinha... Em um súbito, a madeira a minha frente é aberta, porém a pessoa que surgiu dali não era o costumeiro alvo.

Não sabia o que esperar, em um instante eu estava deitado, olhando para o teto do quarto que dividia com Suga, e no outro, Namjoon, aquele belo homem alto de cabelos tingidos e boca deliciosamente carnuda, havia entrado, trancado a porta e começado a me fitar com um sorriso que só quem já tinha provado saberia que era sinônimo de perigo.

- Jin... Você sabe por que me chamam de “monstro”? – disse pausadamente, adentrando ainda mais no cubículo, retirando sua camisa lentamente enquanto mordia seus lábios e os soltava como num verdadeiro orgasmo ao admirar sadicamente minha figura, isso até poderia ser extremamente sexy se eu conseguisse controlar as lembranças que passavam pela minha cabeça de tantos outros momentos em que pude desfrutar de igual forma sua pessoa e não simplesmente derramar lágrimas solitárias, que pesavam em meu rosto por automaticamente unir passado, presente e futuro a cada passo dado, cruzando ainda mais nossa respiração morna por antecipação – tudo isso é culpa sua, Jinnie – ele se aproxima de meu corpo, segurando minha mão delicadamente, contrastando com suas palavras duras, deixando que seu hálito de bebida batesse contra minha face molhada, movendo sua mão livre sutilmente entre meus fios, embaraçando-os e secando a água com seu calor até que meus olhos finalmente encontrassem os seus, hipnotizando-me com a profundidade que eu tanto temia não escapar – e-eu não aguento mais, eu preciso de você, Jinnie, você vai me dar o que eu preciso?

Eu achei que conhecia até mesmo o lado escondido de Namjoon, mas quando ele me beijou ferozmente sem aviso prévio, fazendo com que tomássemos daquela perfeita sincronia que fora guardada como uma preciosidade no tempo e que agora fora corrompida, trazendo um misto de saudade e angústia em cada parte que a eletricidade ali provocada alcançava em meu ser, destruindo a gaiola, matando meus pássaros, entorpecendo-me na dança de nossas línguas, cortando como faca cada fio que saía dos meus olhos já que estava mais que claro que finalmente sucumbira.

Eu fervia em ódio porque a parte que o amava insistia em correspondê-lo, em ordenar meu braço rodear seu pescoço e arranhar a pele desnuda para saborear ainda mais aquilo que eu irracionalmente desejava, marcando-o para provar que não era mais um sonho qualquer, numa noite qualquer, de um garoto qualquer gritando por ter seu coração partido nos braços de outro tão ferido quanto.

- Talvez eu te destrua hoje, princesa. – sussurrou após o termino do ósculo entre breves selinhos que ousadamente desciam por meu pescoço, mordiscando-o meticulosamente, se prontificando a sempre puxar a carne para cima ao terminar, mas somente quando senti as finas gotas d’água oriundas daquele acima de mim escorrerem atingindo minha derme, necessitei entrelaçar sua mão com meus dedos levemente receosos,  dizendo subliminarmente aquilo que eu sonhava um dia falar para ele em cima daquele coreto, segurando as flores, aconchegando-me em seu cheiro, no nosso casamento.

Em meio a suspiros involuntários e a cumplicidade formada há tanto tempo, só havia duas perguntas em minha mente: qual foi o nosso verdadeiro erro e por que eu estou permitindo que Kim Namjoon voltasse a fazer meu sangue pulsar ferozmente, mesmo o odiando tanto por ter permitido que terminássemos assim.

Talvez eu – não – devesse dar o que ele precisa, afinal fazia anos que ele não me chamava de princesa, não é mesmo, meu monstro?