“ 'cause I'm leaving on a Jet Plane
Don't know when I'll be back again...”
Point of View of Thomas O´Brien
Quase uma semana de preparação e acho que vou enlouquecer com tanta informação que fui obrigado a digerir em tão pouco tempo pela professora Malia e seu assistente de merda Galileu.
Kiev é uma Droga. Com D maiúsculo mesmo!
Me desculpem os Ucranianos, nada contra o povo, a cultura, a comida e tudo mais, mas como vou achar meu melhor amigo escondido por oitocentos e trinta e nove metros quadrados, numa cidade com mais de dois milhões seiscentos e onze mil e trezentos habitantes, estando a cento e setenta e nove metros, ou quinhentos e oitenta e sete pés do nível do mar, onde as letras que formam palavras mais parecem um garrancho do médico ordinário que me atendia quando era pequeno em Sitka?!
Ok, existem algumas informações bem relevantes que dificultam tudo, como o fato de ser uma das maiores e mais antigas cidades da Europa e centro industrial, científico, educacional e cultural da Europa Ocidental.
Ai a gente descobre que ao longo de sua história, Kiev passou por diversas fases de grande proeminência e de relativa obscuridade. Foi o centro comercial do eslavos orientais, destruída posteriormente em mil duzentos e quarenta na invasão mongol, foi controlada por muito tempo pelos vizinhos gananciosos como Polônia e Russia, voltando a prosperar durante a Revolução Industrial e ganhou o título carinhoso de um país com um histórico vasto de tragédias.
Sem falar no pequeno detalhe que A.D.Janson e sua quadrilha transformaram aquilo no que os jornais, revistas e pesquisas feitas pela internet nos revelaram ser a “cova do inferno”, que segundo o GRETA – GRUPO DE PERITOS CONTRA O TRÁFICO DE SERES HUMANOS do conselho da Europa, vem observando um crescimento e considerável aumento no número de vitimas para diversos fins lucrativos nesse negócio.
Para fechar o drama, a Ucrânia não tem uma política interna muito boa, os anos após o colapso da União Soviética transformaram o país num lugar caótico, de população claramente dividida entre ucranianos e cidadãos de origem russa, em um governo cada vez mais disfuncional, assediado por corrupção e uma disputa por poder. Certeza que esse tal de Janson comanda metade de tudo.
Os dados que encontramos chegam a ser assustadores e estão desatualizados, com certeza. Especialistas dizem que cerca de cem mil mulheres são forçadas a trabalhos sexuais dentro e fora do país. Veja bem, eu me referi apenas às mulheres e não homens. Imaginem quantos “Newts” não existem por lá, padecendo do mesmo mal?
A prostituição é um dos negócios mais rentáveis do mundo, desde séculos e séculos atrás, sendo o de crescimento mais rápido em toda economia global. Todos os anos milhares de pessoas são vendidos e obrigados a se prostituir, em condições de extrema desumanidade e violência. Até alguns anos atrás a Ásia e a América do Sul eram as principais fonte de escravos deste tipo de tráfico, porém o número está cada vez maior nos países do leste Europeu, sendo a nossa linda Ucrânia a principal fonte de origem do nosso problema.
Mas não para por ai e quanto mais Malia, Galileu e eu aprendemos sobre, mais cheios de desesperança ficamos na missão Lost Boys, porque além de ser uma transação rentável, é das mais seguras do mundo. A legislação e a polícia não estão preparadas para combater as máfias que dominam e nenhuma rede foi desmantelada até hoje, como Kira alertou. Além disso a legalidade da prostituição na Europa varia de país para país. Alguns proibiram oficialmente isso, mas em outros o pau come solto, literalmente.
Países Baixos, Alemanha, Áustria, Suíça, Grécia, Turquia, Hungria e Letônia fazem parte dos que gostam de foder, me perdoem o termo, ou sendo mais culto, são os locais onde a prostituição é legal e regulamentada.
Na Ucrânia, ela é criminalizada, porém tal proibição é largamente ignorada pelo governo do país(toda aquela papagaiada que falei deles lá em cima), onde o turismo sexual prospera entre os ucranianos e atraí um grande número de turistas estrangeiros.
“Para onde você vai?”
“Ucrânia!”
“Que lindo! Veio conhecer o Golden Gate em Kiev e a Catedral de Santa Sofia?”
“Não! Vim fazer turismo sexual!”
É mais ou menos nesse estilo que a minha cabeça está trabalhando desde que tudo isso caiu como uma bomba sobre mim. Entre Malia e Galileu, sou o mais afetado, isso é fato.
- Você checou esse blog? – Malia pergunta entre uma pilha de papeis e livros sobre a única escrivaninha do quarto, que foi arrastada até o centro dele, tornando-se peça fundamental no nosso QG.
- Não, sobre o que fala? – devolvo fazendo umas anotações em uma agenda.
- É um blog de um cara que dá dicas sobre o que fazer e o que não fazer na Ucrânia. Acho que deveria ler.
Ela empurra o notebook entre a pilha de papeis, virando a tela na minha direção. Passo a ler rapidamente as informações. Aparentemente adquiri leitura dinâmica e interpretação de texto Express na última semana.
Primeiro ele pede para nunca mentir para os oficias da alfândega, em qualquer país do mundo, alegando que eles não são nossos amigos e provavelmente só estão sendo simpáticos para pegar traficantes e pessoas inconsistentes que tentam ingressar no local. Já me ferrei nessa, pois entrarei com passaporte e identidade falsa.
Depois ele dá dicas para caras tarados a procura de sexo, indicando bairros e regiões onde você pode conseguir as melhores “carnes” da região. Exato, ele tratou humanos como “carnes”, o que me fez enjoar ao imaginar alguém tratando Newt Sangster como um pedaço suculento de bife.
Uma leitura aqui e ali, concluí que:
- Esse blog é uma droga e esse cara merece um soco no meio da fuça. – empurro novamente o computador para ela.
- Você é um otário mesmo, né O´Brien! – Malia revira os olhos – Tem certeza de que leu tudo? – indaga com seu melhor olhar de superioridade.
- Tenho! – afirmo categoricamente.
- Qual o nome do otário que merece um soco na fuça por escrever essas coisas nesse blog? – ela me desafia.
Paro por alguns segundos, levando as mãos até a testa, pensativo. Cavouco cada parte do meu HD interno, externo e auxiliar, tendo apenas um pequeno vislumbre da inicial do nome dele.
- D... D... Dexter? – arrisco.
- DEREK HALE!
Ela bate o punho fechado na madeira, trepidando não só meu copo com coca-cola e as canetas marca texto, eu também trepido, arrancando o computador pra mim.
- FILHO DE UMA PUTA! – ranjo os dentes e passo a ler tudo com muito mais atenção agora.
Após alguns minutos absorto nas informações, minha ficha cai.
- Esse cara está se passando por um blogueiro para... – murmuro.
- Atrair clientes, Tom! – Sangster completa a frase. – Ele dá algumas dicas aqui, olha! – ela marca o cursor sobre o parágrafo, dando um endereço e uma luz para nós.
- Podemos encontrar Newt nesse lugar! – digo empolgado, abraçando minha amiga.
- E será mais rápido do que a gente imagina! – Galileu surge do nada na sala, com um envelope Sedex nas mãos.
- Chegou? – pergunto soltando Malia e correndo até o outro loiro.
- Sim, o remetente é da Kira. – sorri tão empolgado quanto eu.
Abro afoito o papel pardo, ávido por informações sobre minha nova identidade, dados, documentos, equipamento de rastreamento, escutas, coisas de espião, deixando o 007 que habita em mim sair p...
- STILES STILINSKI? – grito chocado com meu novo nome.
- HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! – Malia cai na risada, perde o ar e passa a bater palmas, como uma hiena com problemas respiratórios.
- Qual a graça, futura esposa? – Gally não entende o motivo de tanta loucura vindo da mulher da sua vida.
- Stiles é o nome do cachorro do xerife Stilinski lá de Sitka, Poulter. Kira é apaixonada pelo cão da raça São Bernardo e vive se esfregando nele. – ela volta a rir após recuperar o ar e a sanidade.
- Devia ter escolhido Rusty Ryan enquanto teve a chance, man...
Galileu balança negativamente a cabeça, me repreendendo pelo deslize em não ter escolhido minha nova identidade. Um alarme soa na minha cabeça, fazendo-me endurecer o corpo repentinamente, o que causa um leve pânico entre os dois a minha frente.
- O que foi, Stiles? – Malia entra já no disfarce, preocupada com meu estado.
- Então é isso... – sussurro correndo até meu armário, afoito para colocar minhas roupas dentro da mala.
- Mas meu Deus, man, isso o que?
- Chegou a hora. – respondo rápido, puxando minha mala de viagem debaixo da cama.
- Nós ainda temos mais uma semana para f...
Interrompo Malia radicalmente.
- NÃO! EU NÃO VOU ESPERAR MAIS UMA SEMANA PARA PORRA ALGUMA SENDO QUE O QUE EU QUERIA QUE CHEGASSE ESTÁ BEM AQUI NA MINHA MÃO. – sou grosso mesmo, desculpe.
Os dois arregalam os olhos, chocados com tanta braveza vazando pelos poros de Stiles Stilinksomething. Ah, que se foda o meu novo sobrenome!
- Tom, eu entendo a importância disso para você, é a vida do meu irmão em jogo, mas temos que ser racionais.
- Malia! – solto minhas roupas no chão, espalhando os cabides para todos os cantos – Eu já fui racional por dez anos, fui compreensível por dez anos, eu esperei por esse momento por dez anos. Eu. Estou. Preparado. – digo pausadamente e confiante o suficiente para fazê-los acreditarem em mim.
*****
- Tome cuidado lá, Stiles. – Sangster me abraça tão forte que sinto minhas veias do corpo saltando para fora, como em um desenho animado.
- Pode deixar, eu irei me cuidar. – digo acariciando seus cabelos no aeroporto – Se meus pais...
- Blá, blá, blá... Deixa comigo que do Sr. e da Sra. O`Brien cuido eu, sei exatamente o que devo dizer para eles. Confie em mim. – Poulter está mais positivo e confiante após a tatuagem na bunda.
- Não tenha presa, estude bem o local, as rotas de fuga e se precisar de mais dinheiro nos avise que darei um jeito de conseguir. – a garota volta a me abraçar, como se fosse sua única chance ou opção de vida.
- Obrigado. – emito um sorriso fraco para os dois na entrada do embarque internacional do aeroporto.
- Não esquece seu casaco, Stiles. Estará frio lá quando desembarcar. – ganho um lembrete de Galileu, que sabe muito bem minha façanha em esquecer casacos em qualquer lugar da faculdade.
Me afasto com dificuldade dos dois, a todo tempo tenho a porra dos olhos deles grudados nos meus, implorando para que tudo isso dê certo, para que eu não fracasse nessa missão de resgate. Malia agora está chorando enquanto caminho devagar até a entrada de embarque, agradeço por ela ter agora Galileu para cuidar de tudo enquanto fico fora.
Ele a abraça de verdade, os dois ainda estão conectados as minhas ações enquanto coloco o casaco, minha carteira, meu celular e minha mochila na esteira.
Atravesso calmamente o detector de matais. O rastreador está no relógio de pulso que uso. Se ele não apitar agora, Kira e Jackson garantiram que BOSS e sua quadrilha nunca irão descobrir sua existência. Nada acontece, eu passo a ficar confiante pra caramba. Pego minhas coisas desajeitadamente e me dou ao luxo de dar uma última olhada, conferindo os que ficarão para trás.
- Quando encontrar com ele, diga que eu o amo muito. – Malia balbucia entre uma lágrima e outra, amparada pelos braços de Poulter.
- Você dirá isso pessoalmente. – firmo os pés no chão, segurando o nó na minha garganta antes de seguir em frente. – Porque eu trarei Newton Brodie-Sangster de volta para casa.
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