Point of View of Newton Brodie-Sangster
Tess está simplesmente maravilhosa.
Ao descer do carro de braços dados com Slave a morena me encara com um olhar fulminante, acho que já sacou o nosso jogo, mas não me dou por vencido ao ter suas orbes turquesas me fuzilando. Tommy é outro que também não cai na dela, assim que se aproxima de nós o moreno caminha até ela, toma sua mão e beija o dorso como um perfeito cavalheiro, oferecendo o outro braço para ela se apoiar.
- Isso é alguma piada, certo? – indaga ela ao cruzar por mim, que nego prontamente com a cabeça.
Tess e os meninos vão na frente, enquanto sigo atrás. Somos guiados para dentro do teatro, um lugar amplo e simplesmente maravilhoso. Com arquitetura boemia que remete ao século dezenove, o local comporta facilmente umas 4 mil pessoas entre as cadeiras e camarotes.
Thomas escolheu um camarote, lógico, por isso temos que subir uma longa escada toda acarpetada em vermelho com detalhes em dourado, daquelas que eu só vi em filmes e agora ao vivo e a cores bem na minha frente.
Chego em um camarote reservado com seis lugares, Slave conduz Teresa para os assentos da frente, já Tommy me puxa para permanecer atrás com ele.
- Curioso? – o moreno questiona pra mim ao notar minha cara de expectativa.
- Muito!
Estico meu pescoço e tento espiar o palco, mas as longas e densas cortinas pretas não revelam nada além de nada. Um garçom surge no camarote servindo taças de champagne antes do espetáculo. Cogito tentar descobrir sobre o que se trata, se é uma peça ou um show, até mesmo pode ser uma orquestra, porém o senhor que nos serve parece não falar um pio além da sua língua difícil.
Teresa esquece que estou na fileira de trás da sua e engata uma conversa baixinha com o moreno que a acompanha, direciono minhas orelhinhas para tentar captar algo da conversa deles, mas O’Brien me coloca de volta no lugar, dando mais privacidade aos dois.
- Você é muito curioso, Pudim! – me repreende.
- Sou sim, desde que nasci. Eu só queria escutar um pouquinho, oras!
- Deixa de ser enxerido e procure não atiçar a fera.
- Afinal, quem é esse cara que chamou pra fazer companhia para ela?
- Um conhecido. – Tommy responde bebericando sua champagne.
- Da onde?
- Ai, mas que curioso, menino! Esquece ele e vem aqui.
Tommy prende meu queixo entre seus dedos e beija minha boca antes que eu volte a questionar sobre Slave, Teresa e espetáculo. Segundos depois as luzes se apagam, revelando a apresentação. Luzes, música alta, muitas outras luzes piscando, cordas coloridas caindo do teto, pessoas fazendo malabares, mais luzes, a música cada vez mais forte...
- Cirque du Soleil? – exclamo apertando com força os ombros de Teresa ao me debruçar na cadeira dela.
- Me belisca, Sugar! Me belisca que eu to sonhando! – ela pede vibrando comigo.
Conheço Cirque du Soleil, nunca cheguei a ver, mas lembro de quando era pequeno e tinha uma vida normal, fazendo coisas de gente normal, com uma família e amigos. Meus pais sempre falavam e combinavam de levar minhas irmãs e eu para assistir a um espetáculo. Eu ia assistir a uma apresentação na noite em que sumi de Londres.
- Como soube? – pergunto no ouvido de Thomas, sem desgrudar da visão perfeita de bailarinos circenses arrasando no palco.
- Malia me contou tudo sobre o dia em que desapareceu. – devolve sorrindo.
Logo nos primeiros minutos já sei sobre o que se trata a apresentação, que leva o nome de “Michel Jackson, One”. Os figurinos, cenários, enredo, tudo é de propriedade deles e agora neste show contam a trajetória de um músico que fazia sucesso quando eu era pequeno. Meu pai adorava esse cara.
- O que o Michel Jackson faz agora? Ele ainda canta? – sussurro para o moreno.
- Uh, não. Ele morreu, Newt.
- ELE O QUE? – exclamo chocado, ganhando alguns olhares feios na minha direção.
- Morreu.
- Como um dos Beatles?
- Não, acho que foi do coração.
- O que mais eu perdi todos esses anos? – estou passado com a quantidade de coisas que devem existir (e não mais existir) no mundo que eu nem faço ideia.
- No jantar conversamos sobre isso, agora foco, Pudim! – Tommy devolve meu rosto para a direção do palco.
Point of View of Teresa Agnes
- Não acredito! Mentira! – Newt está chilicando na mesa do restaurante, que fica no topo de um hotel chiquérrimo aqui em Kiev.
O espetáculo foi bem bacana, mal consegui piscar, salvo as vezes que o meu amigo loirinho tentava conversar com Thomas bem no meio da apresentação. Agora estou aqui, sentada a mesa com três cavalheiros lindos, sendo dois deles gays e um que mal encostou a mão em mim desde o início da peça. Isso me deixa confusa, ele não era meu escravo?
- O que mais? – Newt está impossível hoje, tagarelando sem parar.
- Tem a morte da Amy Winehouse – Thomas diz. – Mas essa acho que você nem sabe quem é. Ela começou a fazer sucesso em 2006. – diz experimentando a sobremesa.
- Hm... – Slave chia antes de levar uma colherada de creme burlè a boca – Brad Pitt e Angelina Jolie não estão mais juntos.
- JURA?! – dessa vez sou eu quem tem um ataque sobre as fofocas do mundo exterior.
- Disseram que ela quem pediu a separação.
Me divirto com a quantidade de coisas inúteis que estes dois homens sabem sobre as mais variadas coisas. Me divirto com a comida, me divirto ao ver Newt feliz e sorrindo, me divirto até com o frio na barriga que sinto agora ao ser lavada para uma sacada, acompanhando Slave em seu cigarro.
- Você fuma? – ele pergunta oferecendo o maço.
- Uh, não. – nego com a cabeça também.
- Quer experimentar?
- Pode ser! – dou de ombros, estendendo a mão até o maço.
Slave o guarda em seu bolso, permanecendo apenas com o cigarro dele. O moreno dá um longo trago, até que aproxima o rosto do meu, tocando audaciosamente seus lábios no meu e fazendo a fumaça passar da sua boca para a minha em um sopro quente e molhado. Por um segundo eu tenho uma vontade insana de inclinar meu rosto para frente e roubar um beijo dele, mas seria loucura fazer isso, eu não posso me encantar com um cara que nem sei se vou ver novamente.
Isso é uma estupidez, Teresa!
Afasto meus lábios dos seus antes que seja tarde de mais. Sopro para fora toda a nicotina, atingindo a sua cara.
- O que foi? – questiona ele franzindo a testa.
- Cansei disso. Eu não tenho estômago para essas coisas. – falo ríspida, desejando correr daquele lugar o mais rápido possível.
E é isso que eu faço na primeira oportunidade. Corro para longe desse homem lindo e misterioso, que nem ao menos eu sei o verdadeiro nome. Vamos combinar que com a vida que eu levo, será um milagre chegar viva até os vinte e oito, será um milagre maior ainda eu encontrar o Newt no meio dessa gente, já que estou desgovernada pelo restaurante.
Avisto o loirinho em um canto, ele está abraçado a Thomas, sorrindo. A forma como o moreno o segura em seus braços é tão... Perfeita, Newt parece tão feliz e seguro, que chego a enjoar com isso. Ele não pode se apaixonar, isso vai acabar mal para todo mundo, ele sabe disso, eu sei disso, mas por que é tão complicado e dói tanto assim?
- Vamos embora! – peço com grosseria ao loiro.
- O que foi, Tess? O que aconteceu?
- Eu quero ir embora! – friso minha decisão quase aos prantos.
Meu peito está doendo e sinto falta de ar, parece que um buraco está se abrindo sob meus pés, tragando essa garota bem direto para o fundo do poço, um lugar frio e solitário. Eu não devia ter medo dele, sempre estive em lugares assim minha vida toda desde que cheguei a quadrilha de Janson. Por que agora dói tanto?
- Eu levo você para casa. – o moreno misterioso aparece atrás de mim, tentando controlar a situação.
- CASA? VOCÊ ME LEVA PARA CASA? – falo batendo meu punho fechado contra seu peito – EU NÃO TENHO CASA! – urro chorosa.
- Tess, por favor, se acalme! – Newt pede me abraçando.
- Vamos embora, Newt. Por favor... – imploro ao loirinho, retirando as mãos que Slave insiste em colocar nos meus ombros para me acalmar.
- O que você fez? – Thomas parece preocupado com o cara, enquanto acerta a conta do bar.
- Eu não fiz nada! – protesta ele me encarando confuso. – Tessie, por favor, deixe-me acompanha-la de volta.
- Tessie? Mas que merda!
Começo a chorar quando meu apelido sai da boca perfeita dele, como se realmente se importasse comigo, como se fosse a droga do meu príncipe encantado, finalmente chegando a cavalo para me resgatar da bruxa má.
Só consigo pegar o pulso de Newt e arrastá-lo para fora comigo antes que eu tenha um troço ao lado dele.
- Tess, calma! Precisamos esperar o Tommy! – ele chia e tenta me segurar.
Não dou ouvidos para ele, continuo a puxá-lo para fora, cruzando o elevador que vai nos levar para o térreo ou a maldita garagem. Fecho a porta na cara dos morenos, descendo apenas eu e Newt na caixa metálica.
Eu choro alto, ainda aperto com força o pulso do meu amigo que permanece calado, acho que com medo da minha reação. Quando a porta abre, voo para fora com o loiro, que agora parece pesar mil toneladas, sei que ele faz força para me segurar no lugar, um truque para ganhar tempo.
Percebo que a porta do outro elevador abre, revelando Thomas e o moreno com ele, ambos chamam pelo meu nome e dessa vez passo a correr para fora sem que Newt venha comigo, eu só tenho que respirar, tipo, agora!
- Hey, Tess, pare de correr! – um deles me chama.
Perco uma das minhas sandálias.
- Cinderela, estou com seu sapatinho! – sei que essa voz pertence a ele, ao moreno, e ela me faz gelar.
Paro de correr na hora e encaro os três rapazes há apenas uns cinco passos de mim.
- Não seja por isso! – digo retirando a outra sandália do pé – Fique com essa droga também! – taco o outro par na direção deles, que protegem o rosto e o saco, com medo da minha pontaria.
- SUA GROSSA, AGORA VOCÊ VAI VER! – parece que irritei Thomas.
O moreno avança na minha direção, eu tento escapar, mas não chego a dar nem quatro passos para que ele me agarre com força, prendando meu corpo contra a parede.
- EU TENHO UMA AMIGA COMO VOCÊ, ELA É BRAVINHA, PRETOTENTE, FAZ TIPINHO DE MULHER MACHO, MAS NÃO PASSA DE UMA BEBEZONA, IGUAL A TI. OU VOCÊ SE ACALMA, OU VOU FAZER CONTIGO O MESMO QUE FAÇO COM ELA! – me ameaça.
- Ah, é, mentiroso Stiles? Tô pagando pra ver! – empurro ele com raiva.
Espero que Thomas me bata, enfie um tapa na minha cara, passe uma rasteira, me jogue no seu ombro, no entanto ele passa a me provocar com seus indicadores, fazendo muita, mas muita cócega em mim.
- É assim que controla sua amiga? – digo meio rindo, tentando escapar das investidas dele.
- Eu sempre ganho dela. Vocês duas são iguaizinhas, não é a toa que Newt ama você.
- E quem é essazinha ai? – pergunto tentando acertá-lo com algumas cosquinhas também.
- Malia, irmã do seu melhor amigo.
Paro de me esquivar e me debater, encarando Thomas. Ele me olha de igual para igual, oferecendo um sorriso.
- Podemos ficar numa boa agora, garota?
- Só se for com você Tom e você... – aponto para o loirinho –Já com ele... – aponto para Slave – Não. Quero ele longe de mim.
- Tudo bem, eu levo você embora, mas apenas pare de correr, okay?
- Ok, Thomas.
O moreno se despede do cara junto com Newt, ele até tenta falar comigo, mas me escondo atrás do loirinho.
- Não vai nem querer sua sandália de volta? – questiona ele balançando ela nos dedos da mão direita.
- Enfia essa sandália no seu...
Thomas tapa a minha boca e me leva até o carro, evitando que eu comece uma nova discussão com o amiguinho dele. Bufo uma par de vezes, hora cansada, hora curiosa.
- Pode perguntar, Teresa, eu sei que quer perguntar algo. – Newt sibila do banco dianteiro, ao lado de Thomas.
- Sei que ele não se chama Slave, aposto que vocês inventaram esse apelido ridículo. Qual o nome verdadeiro dele?
- Pra que quer saber? – Thomas pergunta me encarando pelo espelho retrovisor.
- Porque quero adicionar ele nas minhas redes sociais e dar block no Tinder. Mas que pergunta idiota, Thomas, só estou curiosa!
Como se tivéssemos redes sociais e essas coisas da mídia. Thomas troca alguns olhares com Newt, parece pensar sobre o assunto, o loirinho concorda brevemente com a cabeça, então o mais velho sorri pelo espelho.
- Quer o nome de guerra ou o verdadeiro?
- Ele tem nome de guerra? – indago.
- Terá.
- Como assim... Terá? – estou ainda mais curiosa – Ain, fala logo, mas que lerdeza! – reclamo. – Nunca mais vou vê-lo mesmo, pra que tanto mistério?
- Ah, minha cara Teresa, é aí que você se engana, você ainda vai ver muito daquele carinha que te irritou. Tenho até medo agora.
- Como assim eu vou vê-lo muito?
- O que Thomas ver dizer e está te torturando agora, Tess... – Newt diz calmamente – É que DareDavil, ou Matt Daddario para os íntimos, irá muito em breve fazer parte dos garotos e garotas de Janson.
- ISSO. SÓ. PODE. SER. BRINCADEIRA! – exclamo chocada, puta de vida e excitada.
Mas não vamos contar ao Tom essa última parte!
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