Point of View of Thomas O’Brien
Ariana foi embora faz tempo, largando-me imerso no meu mar de questionamentos e sentimentos a deriva. Merda! Não devia estar chorando, mas estou. Eu devia levantar dessa cama e correr atrás de Newt e dizer o quanto o amo e o quanto preciso dele comigo, mas não consigo fazer nada além de botar um oceano de lágrimas para fora.
Eu sou capaz de qualquer coisa por esse garoto.
Armei um plano furado de resgate, vim para a Europa atrás dele, me meti em mais encrencas aqui do que minha vida inteira, sou capaz de ficar sem respirar, sem comer, ficar dias sem dormir, escalar a droga do Everest. Sou capaz de fingir um sorriso, forçar uma risada, esconder minha dor e minhas lágrimas, Segurar o peso do mundo, capaz até de dançar e interpretar esse papel fajuto de Stiles, se é isso que traz Newt pra perto de mim, se é dessa forma que terei meu amor de volta, se é isso que ele precisa.
Eu posso fazer isso.
Eu quero fazer isso.
No entanto não consigo encontrar forças para levantar dessa cama, sou apenas um humano perdido em um pranto dolorido, sangrando de dentro para fora, totalmente arrebentado e desmontado, com meus caquinhos espalhados pelo chão. Suas palavras tornaram-se facas em meu coração, mas acho que as minhas foram mil vezes mais rudes e machucaram ele com muito mais força.
Pra mim não existe um mundo sem Newt agora. Não mais.
Eu vivi dez anos quieto e calado, perdido nos meus sentimentos, desejando revê-lo e eu sabia no fundo do meu coração que um dia o encontraria.
“Ah, Thomas O’Brien, mas você viveu dez anos sem ele. Como é que agora está fazendo todo esse drama a cerca do que aconteceu?” – parece que escuto a voz de Malia me dando um sermão.
A questão é: eu sobrevivi, e não vivi. É totalmente diferente. Sobreviver é viver sob uma condição negativa, com alguma coisa acima do viver, como se fosse um pesar. Você o faz, porque está tecnicamente vivo e respirando, mas não tem o mesmo gosto e prazer de antes, tudo torna-se um fardo.
No viver é simplesmente desfrutar da vida e tudo que ela nos proporciona, de maneira intensa. Parece simples, mas é bem mais complexo e difícil do que a gente imagina. Quantas pessoas existem por ai que estão apenas sobrevivendo ao mundo e sua rotina? Quantas pessoas não estão acomodadas com seus relacionamentos, trabalhos e obrigações? Quantas pessoas não estão de saco cheio de repetir a mesma função diariamente, conviver com as mesmas pessoas sem graça e não receber estimulo algum em troca disso? Já pararam para pensar?
Eu já. Eu penso nisso a todo instante e embora esteja cheio de razão falando estas coisas, sou um acomodado que prefere ficar aqui trancado nesse quarto escuro, chorando e sofrendo, do que correr atrás do que me deixa completo e feliz. Falta coragem, esse eterno caso de amor com o desconhecido.
Enquanto choro aqui, meu pequeno provavelmente faz o mesmo, mas meus pensamentos são dissipados quando duas batidas fortes socam a minha porta. O quarto está escuro, no mais completo breu mas lá fora, no corredor, há luz e consigo enxergar pela fresta da porta uma silhueta grande, impaciente e que acabou de desferir mais algumas porradas contra a camada de madeira que me separa dele, mantendo minha segurança.
Abrir ou não abrir, eis a questão!
Levanto da cama sem fazer barulho, procuro pela minha arma próximo a muda de roupa que deixei jogada pelo chão. Tateio em busca do meu celular pela cama e ligo a lanterna dele, para caminhar até a porta, onde curvo o corpo no sentido da maçaneta, tentando espiar quem está do lado de fora.
Mais umas três batidas fortes me assustam, lançando meu corpo temeroso para trás. Eu acho que fiz xixi nas calças e acho bobagem tentar encontrar minha coragem a essa hora da noite. Atrás dessa porta pode ser qualquer pessoa. Pode ser Newt choroso correndo em busca de amparo e carinho, pode ser Teresa querendo devorar minha alma viva, pode ser também Janson pronto para matar a porra do Stiles Stilinski, ou até mesmo Benjamin arrependido de ter fugido e abandonado nossos planos.
Enfim, crio forças e um pingo de coragem aliado a curiosidade para abrir a porta. Posiciono a arma na minha mão direita, mirando o espaço, pronto para destrancá-la com a esquerda. Assim que abro uma pequena fresta da porta, meu corpo voa longe, atingindo o chão com um baque forte.
Meu agressor está sobre mim, a arma voou longe, tudo está escuro, o que me resta apenas enfiar um chute no saco do homem que me prende no chão.
- AI PUTA MERDA, THOMAS! – o cara protesta dizendo meu verdadeiro nome.
- Gally? – questiono – Galileu Poulter, é você?
- NÃO, CRIATURA DAS TREVAS! É a mãe Joana! É claro que sou eu, sua peste! Porque me atacou?
- Eu não te ataquei, foi você quem me atacou! – retruco procurando o interruptor de luz.
Ascendo a luz e encontro meu amigo ainda estatelado no chão, entre minhas roupas espalhadas e minha dignidade perdida neste quarto, tentando se levantar.
- O que faz aqui? – pergunto eu.
- Eu te mandei mil trezentas e oitenta e sete mensagens, te liguei mais umas oitocentas vezes, você não checa mais seu celular não?
- Não! – murmuro.
- Eu precisava falar com você!
- E cruza o oceano Atlântico para isso? Não podia deixar um recado para a recepcionista do hotel? – indago desacreditando que esta pessoa na minha frente é real.
- Não tinha somente isso, eu precisava saber se estava vivo, afinal você não retornou minhas mensagens.
- Gally, você é maluco!
- Eu? Eu sou maluco? Tu me cruza o mundo, vem parar em Kiev, decide bancar o agente secreto e eu que sou maluco? Vamos rever os conceitos, seu lindo! Cadê o garoto perdido?
- Newt?
- E existe outro, por acaso? – ele ergue sua sobrancelha gigantesca.
- Eu! – chio baixinho e volto a chorar.
- Minha santa tartaruga, o que está acontecendo man?
Gally passa a mão no meu ombro e segue comigo até a cama, sentando-me ao seu lado. Ele tenta conversar e saber o que está acontecendo, porém meu choro alto ecoa pelo quarto, impedindo que meu amigo consiga descobrir o que me aflige.
- Ele morreu? – pergunta o loiro.
Nego com a cabeça e ele respira aliviado.
- Ele te deu um fora?
- Não... – murmuro baixinho.
- O cara malvado lá quebrou o contrato e você não tem mais a posse do seu melhor amigo? – continua a indagar.
- Não é isso. Eu só fui um idiota com ele.
- Ah... – Poulter suspira – Isso é de praxe, pra que encanar? – dá de ombros vestindo sua cara de paspalho, tirando uma da minha cara. – É só pedir desculpas. Onde ele foi parar?
- Ele voltou para a quadrilha e me deixou aqui sozinho.
- Mas que pessoa em sã consciência desiste da sua liberdade e volta de livre e espontânea vontade para uma quadrilha que trafica seres humanos? – Galileu não compreende metade das coisas que acontecem por aqui. – Uh, é verdade, ele é irmão da louca da Malia, a dona do meu coração em pedaços.
- Tudo é bem mais complexo que isso, Gally, vai levar dias para entender o que se passa, afinal, não consegue nem entender de leis familiares que é fácil pra caramba, como eu espero que entenda a complexidade disso? – encolho meus ombros.
- Assim você fere meus sentimentos!
Galileu faz um beicinho charmoso e me abraça com força, trazendo conforto e tranquilidade nessa momento difícil.
- Estou aqui para te ajudar a enfrentar tudo isso agora e juntos vamos conseguir vencer mais essa.
- Mas e Harvard? Como fica? E meus pais? – estou confuso sobre como as coisas vão funcionar a partir de agora.
- Harvard pode esperar, já você não. Terei a vida toda para me formar em direito e virar gente para casar com a Malia. E quanto aos seus pais, menti dizendo que foi para um retiro espiritual na Tailândia após ler Comer, Rezar e Amar. Todo mundo caiu.
- Você o que? – estou embasbacado com meu amigo.
- Isso mesmo. Aleguei que você estava refletindo bastante sobre a vida após ler o livro de Gilbert e quando chegou na parte “rezar” da história, algo ascendeu uma chama dentro de ti, clamando por respostas mais profundas sobre a vida. Todo mundo achou poético isso, exceto seu ex.
- Meu ex? – chio perplexo – O que Troye tem a ver com isso?
- Troye te procurou na faculdade, contei a mesma versão para ele, só que ele não caiu. O filho da mãe disse que sua parte preferida do livro tinha sido “comer” e se você estivesse viajando, estaria uma hora dessas na Itália se entupindo de massa e vinho até o brioco fazer bico e não num retiro espiritual, sendo que nem o Pai Nosso tu sabes rezar direito.
- Meu Deus, Gally, estou um pouco lento com tanta informação despejada na minha cabeça dessa maneira.
- É assim que me sinto ao lado da Malia! – ele ri em demasia, quase fazendo coraçõeszinhos rosa saltarem dos seus olhos. – E ai, bora resgatar seu melhor amigo desaparecido? – olha no fundo dos meus olhos, me encorajando.
- Diria que ele está mais para meu amor roubado. – confesso.
- Hm... – Galileu solta um pigarro, limpando a garganta. – Amor sempre move montanhas e movimenta guerras. Acho justo a luta. Vamos nessa, seu idiota apaixonado!
- Você fala sério? – sento meu corpo na cama pronto para calçar os sapatos.
- Claro que não! São duas e quarenta e sete da madrugada. Amanhã cedo a gente corre para onde quer que seu amigo esteja.
Galileu me decepciona, achei que ele havia sido afetado pelo ar insano de Kiev também ao descer do avião.
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