Point of View of Thomas O’Brien
- Pudim, meu pequeno, você tem que sair desse quarto, tomar um ar, olha só que lindo que está o dia! – sorrio forçadamente escancarando as cortinas da janela, expondo ao loirinho um pouco do agito da cidade fora desse quarto de hotel.
- Eu quero dormir, Tommy... – ele protesta enfiando-se debaixo das cobertas.
- Você está hibernando há duas semanas, mas pra mim está mais para um bicho preguiça do que para um urso. – Galileu tenta me ajudar na difícil tarefa de tirá-lo do quarto.
- Hmmm... me deixem em paz! – ele geme quando arranco a camada de edredom e a lanço para longe.
Assusto quando a porta ganha duas batidas. Poulter veste sua cara de mau e destranca o quarto, dando de cara com Darek Hale segurando um convite.
- Entregue isso para o Sr. Stiles, é o convite para um baile a fantasia daqui quatro dias. BOSS faz questão que seu chefe compareça lá juntamente de Sugar.
- Vou pensar no seu caso, dobermann! – o loiro faceiro bate a porta na cara dele, nos encara e balança o convitinho de forma abestalhada. – Festinha! Bailinho! Que grande merda! – ele brada enfiando um dedo do meio da direção da porta.
- Deixe-me ver. – peço esticando minha mão, conferindo o convite.
O material dele é espesso, fino, as letras impressas são douradas e suntuosas, com certeza ele gastou uns 50 mil do meu dinheiro para pagar algo tão chique assim. Meu nome configura a parte frontal do envelope, com o nome de Newt em seguida, como meu acompanhante. O lacre, em vermelho, leva as iniciais do Maison Fue. Abro lendo o conteúdo:
Sr. Stiles & Sugar
Não é todo dia que você pode ser o que quiser.
Um rei, um astronauta, uma princesa, um sonhador.
Uma fantasia encobre não só seu corpo, mas alguém que você talvez não deseja ser, dando a oportunidade de adquirir uma outra personalidade.
Aproveite a brincadeira. O poder está em suas mãos!
Dia 24 de Março à partir das 22 horas até o sol raiar
Dress code: fantasia obrigatória
Open bar e open food
RSVP 555-3750 - Lydia
Zhylianska St. 75, Kiev, Ukraine Maison Fue Enterteinment
- O que acha? – volto minha atenção ao loirinho agora sentado na cama, fitando minha ação.
- Acho que não. – ele nega com afinco, chacoalha a cabeça em negativa, faz um sinal de não com o indicador e se deixar treme o corpo todo.
- Acho que... – tento dar minha justificativa para Newt, mas meu celular toca, atrapalhando nossa conversa. O número que o visor revela é do Maison, o que não me agrada nem um pouco. Atendo bem contrariado a ligação.
- Alô, Sr. Stiles? – reconheço a voz fanha de Lydia do outro lado da linha.
- Ele.
- O Sr. A.D.Janson gostaria de falar com o senhor, um instante por favor. – a garota transfere e ligação.
No meu ouvido nada das músicas triviais ou clássicas, melodias calmas e estimulantes, Janson acha lindo seus clientes esperando na linha ao som de Anaconda-Nick Minaj, o que me faz duvidar que a humanidade ainda tem salvação.
- Sr. Stiles, bom dia! – a voz do filho de uma puta vibra do outro lado.
- Bom dia. – devolvo ríspido, quase que bufando.
- Creio que a essa hora já tenha recebido meu convite para o baile à fantasia, não?
- É, recebi, seu dobermann veio entregar ao trocar de turno com o chihuahua.
Mas que merda, Thomas! O que você está dizendo para ele?
Galileu não controla o riso ao perceber que chamei Derek e Parrish respectivamente, pelos apelidos hilários que Poulter utiliza diariamente.
- Enfim... – BOSS parece desconcertado com as palavras que acabei de dizer.
Eu também, cretino. Eu também.
- Faço questão de presença de vocês no baile.
- Acho que não vai dar... – encaro Newt enquanto falo com o homem. Ele sorri quando nego o convite.
- Creio que isso não seja possível, Sr. Stiles, vale lembrar que você assinou um contrato e na artigo vinte e três, parágrafo três, diz que Newton é obrigado a comparecer em eventos dentro e fora da casa.
Agito os braços sem parar, exigindo a atenção de Gally. Enquanto BOSS fala sem parar, sibilo as palavras “MINHA PASTA”, “CONTRATO”, “ME DÁ ESSA MERDA AGORA” para meu amigo, que corre até a escrivaninha do quarto e me entrega um envelope com a merda que assinei tempos atrás quando “comprei” Newt.
Abro as folhas indo diretamente para onde o calhorda indicou.
Art. 23 A posse de Sugar é total de seu comprador pelo período corrido de noventa dias a contar da data vigente deste contrato, exceto quando:
1* - o comprador desistir do contrato.
2* - o comprador exceder ou não cumprir com todas as clausulas estipuladas previamente.
3* - quando houverem eventos dentro e fora do Maison Fue, sendo de total obrigatoriedade a presença da mercadoria e seu comprador.
Filho de uma cadela!
- Compreendo, Sr. Janson. Estou com o contrato aberto na minha frente. – lanço um olhar para o pequeno loirinho acuado num canto da cama, a ponto de chorar a qualquer momento.
- Temos mais que um acordo, certo? – o nojento firma.
- Sim senhor, temos sim, porém já aviso se antemão: se alguém ousar chegar perto dele, tirá-lo de perto de mim ou relar o dedo em um fio de cabelo sequer, eu acabo com a festa no mesmo instante. Preciso de convite para mais cinco. – lanço no ar.
- Mais cinco? – ele fica espantado do outro lado da linha.
- Exatamente, mais cinco, sem negociação. Tenho meus seguranças e os quero comigo. Temos mais que um acordo, certo? – brinco com as mesmas palavras dele comigo a pouco.
- Certamente, Sr. Stiles. Estarei ansioso por vocês no baile e certamente curioso sobre a fantasia de ambos.
- Pode tirar esse sorriso filho de uma puta que está estampado na sua cara agora imaginando o meu garoto fantasiado. Passar bem.
Desligo o telefone na cara dele e noto os olhares vidrados de Alby, Newt e Gally sobre mim.
- Temos uma festa então? – Galileu parece bem animado com a novidade.
- Me desculpe, Newt... – nego com a cabeça dirigindo meu olhar e minha preocupação somente a ele, meu amor.
- Tudo bem, Tommy. – ele engole a seco e corre para o banheiro, se trancando lá.
- Mas que merda! – dou um soco no colchão, totalmente de mãos atadas devido a este contrato.
- Do que vamos fantasiados? – Poulter realmente está animado para a festa, dá para notar em seu olhar.
- Sério que está mesmo pensando nisso? – devolvo desanimado, encarando a porta do banheiro.
- Se não eu, quem vai fazer você feliz?
- Topa mesmo se vestir de qualquer coisa? – provoco Gally.
- Mas é claro! É uma festa a fantasia, Thomas! Em Kiev! No cu do Judas! Ninguém nunca vai poder me zuar se me vestir de Velma do Scoobydoo, por exemplo!
E não é que Galileu me deu uma boa ideia sobre nossas roupas?
- Só não entendi porque pediu cinco convites a mais... – o loiro raciocina enquanto checo se Newt está bem no banheiro.
- Newt? – digo devagar e calmo apoiando na porta – Está tudo bem? – questiono e ele não responde. – Por favor, pequeno, abra e vamos conversar. – peço.
Espero alguns segundos, sem retorno. Encaro Alby, como quem dissesse “Eu vou arrombar essa porra!”. Respiro fundo mais uma vez, tentando mais um contato.
- Vamos, pequeno. Não vou sair dessa porta até você me deixar entrar... – tento todo carinhoso.
- O que ele quer dizer, cunhadinho, é que se você não abrir essa porra em cinco segundos ele vai enfiar um pezão na porta e entrar, por isso abre logo antes que ele o faça e eu tenha que passar a tarde de quatro nesse chão catando lascas de madeira! – Galileu grita do meu lado, usando toda sua psicologia esmurrando a porta.
- Meu Deus, Gally! – enfio um soco no braço dele.
- Ouch, grosso! – ele faz uma careta de dor - Minha mãe sempre disse que devemos dizer a verdade.
Sua justificativa é boa, por isso nem contesto, ainda mais quando Newt destranca a porta e aparece em uma pequena frestinha, com os olhos vermelhos de choro e faz um sinal com a cabeça para que entre, onde bato a porta na testa de Gally, que se achou no direito de entrar e bater um papo conosco também.
- Newt, o que foi? – encosto na porta ao trancá-la, observando ele perdido pelo espaço.
- Eu... – ele gagueja, andando de um lado para o outro.
- Você? – o encorajo a se abrir, sem mover um músculo na sua direção.
- Eu não... – ele tenta mais uma vez, porém as palavras fogem.
- Você não? – repito tudo que ele diz, como se eu fosse um gravador.
- Argh... – ele suspira e solta o corpo, sentando no tampo do vaso sanitário.
- Pudim, pode dizer pra mim, seja lá o que for. Estou aqui para ajuda-lo.
- Eu sei, Tommy... – ele volta a arfar fundo, há algo dentro dele querendo sair para fora.
O loiro perfeito para, encarando as próprias mãos apoiadas nos joelhos, em seguida fita o vazio, mordendo os lábios em um gesto involuntário. Se ele soubesse o quão lindo fica assim, inocente e frágil, sem a menor intenção de seduzir alguém, quando na verdade está causando uma revolução pelo meu corpo, especialmente nos países baixos, ele não o faria. Nunca!
- Eu não estou bem. – finalmente começa a se abrir ao soltar um pequeno fio de voz.
- Eu sei. – tento parecer compreensivo e tranquilo, mostrar a ele que vim em missão de paz – Quer se abrir comigo?
Ele concorda com a cabeça, é quase um gesto imperceptível, mas dessa vez fui ligeiro o suficiente para captá-lo. Movo um pé de cada vez, lentamente, até sentar na borda da hidro, bem de frente a ele. Tenho vontade de tocar nele, acho até que minha mão deu uma titubeada no ar desejando isso, implorando pelo contato da sua pele com a minha.
- Por que dói tanto? – questiona ele, olhos em lágrimas, aguardando minhas palavras.
- Porque isso não foi correto, ninguém merece ser invadid...
- Não isso, Tommy. – Newt atravessa minha fala, quando eu ia divagar sobre Janson e todo o mal que ele fez contra Newt dias atrás.
- Então o que, pequeno? – agora estou confuso.
Escolhi me tornar advogado porque sou bom com as palavras. Foi uma escolha também porque gosto de ajudar as pessoas, tentar resolver problemas, tentar fazer o correto para o bem estar de todos. Nunca achei que houvesse uma pessoa no mundo capaz de me deixar confuso, sem palavras e principalmente sem reação para os fatos. Newt exerce esse poder em mim, é como se ele tivesse em algum lugar do seu corpo, bem escondidinho, um dispositivo daqueles que desarmam bombas, frequências de telefones celular e toda aquela parafernália de espiões. Eu fico sem rumo!
- Você.
Uh!
O homem que eu amo está sentando na minha frente, tentando entender porque eu o machuco, é isso? Porque se diz que dói tanto e quando pergunto o que, ele diz que sou eu, esta é a questão, certo?
- Eu te machuco, Newt? – preciso de mais, ele tem que me entregar mais.
- De uma certa forma. Eu não te mereço. – isso parte definitivamente meu coração.
- Não diga isso! Nunca mais diga isso! – avanço até seus pés, choroso.
- Mas é verdade! Olha só pra você e tudo que está fazendo por mim. Eu não mereço isso, você não merece passar pelo que está passando por minha causa.
- Newt, pelo amor de Deus, eu amo você, eu faria qualquer coisa por você. – tento tocá-lo, eu realmente preciso tocá-lo.
Encosto no seu rosto, secando uma lágrima teimosa que insiste em cair. Ao resvalar nele, é como se minha mão estivesse cheia de ácido, ele não me repele, mas seu corpo inteiro grita com o menor dos toques na sua pele.
- Viu? – sussurra ele, me encarando.
- Vi. – engulo a seco, eu o estou machucando.
Eu entendi onde ele quer chegar. Não foi Janson e toda sua brutalidade. Não foi o canalha que roubou ele da sua família e o violentou noutro dia. Não foram os vários hematomas pelo seu corpo, causadas pelo carrasco que o mantém preso e o privou de toda uma vida. Não foram também as palavras afiadas, os tapas na cara, a corda que machucou seu pulso ou ver seu amigo morrer diante dos seus olhos.
Fui eu.
Aliás, sou eu.
É tudo culpa de todo esse carinho e todo esse amor sem medida, que sai desgovernado pelos meus poros, tentando atingi-lo. Ele nunca teve isso, ele não sabe lidar com sentimentos que não conhece, porque a coragem tem medo do desconhecido também.
- Deixe-me amar você, até que aprenda a se amar também.
Digo erguendo seu queixo, mesmo que minha mão o machuque, mesmo que o contato da sua pele com a minha o fira.
Ele se acha culpado pela maneira como se sente com relação a mim, Newt nunca teve um exemplo de amor real, algo palpável, desde que foi afastado da sua família. Volto a questionar: Como você pode entender de algo que nunca teve?
- Deixe-me amar você, até que aprenda a se amar também. – volto a repetir, mais firme, mais decidido, ainda segurando seu queixo. Não com força, mas com carinho. Sei que isso machuca, mas prefiro arrisca do que perder a chance.
Posso ver a dor através dos seus olhos castanhos, a dor tem estado lá há muito tempo, tempo demais para alguém tão jovem e tão cheio de vida, com muitos sonhos ainda pela frente. Eu quero ser aquele ao seu lado. Não na frente, e nem atrás. Ao lado, caminhando junto, crescendo junto, descobrindo um mundo juntos.
- Quero te mostrar o que o amor verdadeiro pode fazer, Newt, e eu amarei você, até que você aprenda a amar também.
- E se eu cair? – ele questiona calmo e sereno, um pequeno brilho atinge seu olhar, fazendo-me lembrar de uma frase do seu livro preferido.
- Oh, meu querido, e se você voar? – devolvo como Peter Pan na Terra do Nunca.
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