História Remember Me - Newtmas - He's Fallen Behind

Point of View of Newton Brodie-Sangster

Permaneço mudo, tentando realmente captar os sons a minha volta. Percebo a voz de Buttler abafada, ele não fala mais a nossa língua, fala algo que eu não consigo compreender, talvez francês pelo acento. Ouço Derek e Parish rindo, falando sobre Lydia e seus dotes físicos, parece que a ruivinha anda traindo BOSS com Parish as escondidas. Considero isso como sua sentença de morte, pois se Janson descobrir, morre ela e o babaca do pau amigo.

O carro freia bruscamente, meu corpo dá um leve tranco para frente, onde acerto minha cabeça contra a lataria do mesmo.

- Escutem aqui. – Hale começa sério logo que alguém puxa o freio de mão – Ao tirar esse capuz, quero os dois andando de cabeça abaixada. – diz. – Vocês me entenderam?

Eu não sei Teresa, mas eu concordo com a cabeça como uma cadelinha obediente.

- Tentem alguma gracinha e voltam pra casa como o amiguinho de vocês e eu posso garantir que o Theo sentiu muita dor antes de morrer. – Parish ri, pouco se lixando para a vida de Theo, um amigo nosso que perdeu sua vida ao tentar fugir semanas atrás.

Foi horrível e ele literalmente voltou em pedaços dentro de um saco para cadáver. BOSS fez questão que todos nós solvêssemos aquela cena péssima dele picadinho, provando mais uma vez que esses cretinos são capazes de qualquer coisa mesmo para nos manter em rédeas curtas. Sonya foi a mais afetada de todos com isso, passou dias chorando e deu um belo de um trabalho para Janson, que no fim das contas amaçou fazer o mesmo com ela se não calasse a boca e engolisse o choro.

Após concordar com os capangas, Derek retira meu capuz, não ouso olhar para os lados. Ele faz um movimento com os dedos, exigindo que eu continue a fitá-lo. Ele entrega uma camisa limpa e um par de sapatos, quer que me troque antes de sair do carro e entrar no hotel. O mesmo acontece com Teresa.

Os capangas descem na frente no instante em que termino de fechar as casas da camisa, sigo atrás de Tess, mantenho a cabeça abaixada e caminho com pressa, observando para onde os passos de Derek nos levam.

O saguão do hotel é chique, dá pra sacar isso pelo chão todo de mármore claro e o tapete vermelho e cheiroso em que agora piso. Escuto mais um pouco o som ambiente, tento captar todo e qualquer barulho que me dê alguma pista de onde estamos. Parece russo, alemão, holandês, chuto até um turco. Dez anos nesse inferno e nunca descobri onde estou, nem uma mísera pista. Todas as comidas que chegam para nós no bordel tem as embalagens retiradas, BOSS realmente sabe como esconder as coisas dos seus garotos.

Sigo até o elevador todo dourado, tendo Buttler, Tess, Parish e Derek no encalço. O homem cantarola uma música irritante, batucando seus pés, bem animadinho com a tarde e a noite que terá em breve.

A porta abre, então passo a caminhar pelo corredor, sempre atrás de Teresa. Buttler destrava o quarto e faz as honras para entrarmos. O homem sela a porta assim que eu passo, deixando Derek e Parish de guarda lá fora. Estanco meu corpo ao lado de Tess, observando o babaca caminhar pelo espaço.

- Podem levantar a cabeça. – ele pede, então o vejo atrás de um imenso bar servindo-se de mais e mais e sempre mais doses de Whisky.

Ele enche três copos e entrega um para cada um. Normalmente não podemos beber em serviço, temos que transar com nossos clientes sóbrios, BOSS quer que cada um sinta e aprecie de verdade como nossa vida é uma bosta, mas já que Janson não está aqui para controlar, sou o primeiro a entornar a dose de uma única vez, queimando e arranhando minha garganta.

- Hey, hey, calma garotinho! – Buttler segura minha mão, tirando o copo da mesma. – Quero você bem acordado quando enfiar meu pauzão nessa sua bundinha deliciosa.

Encaro o cretino sem ao menos piscar. Ele me toma em seus braços, sufocando-me com sua boca nojenta clamando pela minha. A vontade de mordê-lo fala mais alto, ou distraí-lo com meus dotes, para Teresa correr e enfiar todas as garrafas do bar em sua cabeça e assim arquitetar nosso plano de fuga.

Mas nada disso acontece, claro.

Quando dou por mim já estou submisso de quatro no chão, chupando o babaca enquanto ele engole Teresa viva.

Tenho uma tática e passo a usá-la no momento em que tenho minhas roupas retiradas, meu corpo jogado de bruços contra a cama, pronto para receber mais um cliente dentro de mim. Em todas as vezes eu apenas fecho meus olhos, fecho eles e imagino que estou em outro lugar, numa outra realidade, bem diferente do que acontece diariamente por aqui.

Num dia sou um cowboy cavalgando Pé de Pano no Faroeste, quando na verdade estou sentando no colo de algum velho asqueroso. No outro viro um escavador em algum arquipélago, de quatro pelo chão escavando ossos e coisas do tipo, mas todos sabemos que estou de joelhos na cama, tomando umas bem dadas por alguém que tem idade para ser meu pai. As cenas são as mais diversas possíveis e me ajudam a escapar dessa maldita realidade.

Agora por exemplo estou deitado numa prancha de surfe, curtindo uma vibe no Hawai, mas francamente tenho Buttler e seu nada generoso membro invadindo-me com tanta força, que meus olhos chegam a lacrimejar. Deixo ele fazer todo o trabalho sozinho, na minha cabeça estou chapado demais para interagir com ele.

Teresa está por ai, não faço ideia, não ouso abrir meus olhos e acordar para a realidade. Seu vai e vem aumenta, ele geme contra meu ouvido, puxa meus cabelos, parece que vai me partir ao meio. Eu gemo, pois sei que é isso que ele quer ouvir. Gemo mais alto, ofegante, é como se estivesse fazendo muito esforço para surfar essa onda de nove metros em Honolulu. Entro nela, surfo radicalmente, estou no tubo e ninguém pode me tirar daqui, somente Buttler. A onda explode, sua espuma branca se espalha por todos os lados, isso significa que o round 1 acabou.

Buttler sai de cima de mim e esparrama seu corpo suado ao meu lado, ascende um cigarro e fuma satisfeito, faço menção em sair do seu lado, mas ele me impede.

- Fica quieto ai, Sugar. – ordena. – Onde está sua amiguinha? Blue? – chama por Teresa, que surge seminua na porta do quarto, tentando não me olhar diretamente. – Junte-se a nós, gracinha.

Ele pede batendo dois dedos sobre o lençol amarrotado, convidando-a para sua festinha particular. Encolho meu corpo, não tenho vergonha dela, tenho respeito, é diferente. Tess vai direto de encontro ao homem, desliza suas mãos pelo rosto cansado dele, tenta distraí-lo, roubar a atenção somente para ela. Sei que faz isso para me proteger, ou dar um tempo até que eu me recupere do que acabou de acontecer. Buttler retira as mãos dela com força, jogando-a na cama.

- Não encoste em mim, encoste nele! – sibila tragando mais do seu cigarro, apontando para mim.

- Pensei que você quisesse isso. – ela joga com o cara, tenta seduzi-lo, tanta realmente inverter a situação.

Tess não se dá por vencida, fica de quatro sobre a cama na tentativa de chupá-lo, porém novamente ele a empurra contra mim.

- Nele! – dita com um sorriso perverso no rosto – Chupe ele!

Minha amiga engole a seco, posso ouvir a saliva escorregando com dificuldade pela sua delicada garganta. Ela está relutante, pois sabe o quanto isso pode me machucar. Dois anos fazendo isso e nunca transei na presença dela ou com ela. Já fui obrigado a fazer coisas com Minho, Aris ou Winston. É diferente. Teresa é uma irmã pra mim, sei que significo o mesmo para ela, por isso estamos chocados com o que Buttler quer.

- Anda logo, garota. Estou pagando você para isso.

- Só isso que deseja? – indaga ela com a voz bem falha, não tenho certeza se foi uma pergunta muito inteligente.

- Não meu amor. Depois que ele estiver bem duro, quero vê-lo fodendo você. – devolve cruzando os braços, esperando que a brincadeira comece.

*****

- Você está bem? – sussurro para Teresa assim que Buttler sai de cima dela desfazendo esse sanduíche de Blue e segue sozinho para o banheiro tomar uma ducha. – Tess, estou falando com você...

Insisto para o corpo imóvel da garota ainda sobre mim. Ela está respirando, consigo sentir seu peito subir e descer contra o meu. O que aconteceu agora foi... terrível, defino assim. Ter dois caras dentro de você é algo que a gente nunca esquece, eu ao menos nunca me esqueci quando isso aconteceu comigo.

A morena finalmente desenterra o rosto do meu pescoço, seus olhos estão marejados, cheios de tristeza e medo. Ela escora sua testa na minha, beija com carinho a ponta do meu nariz e sorri fraquinho.

- Estou bem, Newt. – ela mente tão bem quanto eu.

- Vem, precisamos cuidar de você. – digo levantando com ela, enrolando o lençol em seu corpo.

Sigo nu até o bar e pego uma garrafa de água. Depois do que acabei de fazer com Tess não há mais motivos para tentar esconder meu corpo. Molho um pouco a ponta do lençol e limpo primeiro o rímel que mancha toda região dos seus olhos lindos, depois disso cuido dos seus lábios com resquícios de sangue, ela levou umas belas porradas do imbecil durante o sexo.

- Me perdoe... – peço baixinho ao fitar a garota com o olhar perdido, sentadinha na ponta do sofá.

- A culpa não é sua, meu amor... – Tess abre os braços num caloroso abraço.

Corro para eles, quero senti-la, quero tirar toda e qualquer dor que possa machucá-la, até que Teresa me repele, expandindo suas pupilas encarando um ponto fixo nas minhas costas. Tenho medo de virar e dar de cara com Buttler com duas correntes, louco para nos amarrar nessa cama.

- Newt... – ela geme e chacoalha meu corpo, aponta para o aparador. – O celular dele...

Giro minha cabeça em busca do aparelho, é uma ótima e uma péssima ideia. Péssima ideia mesmo é passar a vida toda servindo de escravo sexual para BOSS e sua quadrilha.

- Vigie a porta do banheiro. – digo confiante, quero agarrar essa chance, preciso acreditar que isso vai dar certo.

- Newt, se ele pegar, você sabe o que o BOSS fará com você. – minha amiga adverte preocupada.

Porém eu não ligo, BOSS não é louco de me perder, não sua mina de ouro, não seu garoto que movimenta seus negócios como mágica, por isso tenho que e vou me arriscar. Pego o aparelho sobre o móvel, torço para ele não ter senha. Deslizo meus dedos pela tela, então ela abre no menu inicial, o que me fez tremer dos pés a cabeça. Espio rapidamente o horário. São quinze horas e doze minutos. Não sei onde estou. No Alasca pode ser duas da manhã, cinco da tarde, meia noite, oito da matina, não estou nem ai.

Disco um velho número conhecido: o da minha casa. Rezo para ainda ser o mesmo, rezo para meus pais ainda morarem no mesmo lugar, rezo para que algum parente meu esteja na residência e atenta essa ligação.

- Anda logo, Newt... – Teresa pede apreensiva, montando guarda na porta onde o babaca ainda está enfurnado.

Digito o código dos Estados Unidos, depois o código da cidade e por último o número de casa, o qual eu seria incapaz de esquecer. Todas as noites repasso ele mentalmente, até que pegue no sono, como uma das canções de ninar que mamãe cantava para mim. Teresa sabe o meu, mas ela infelizmente esqueceu o seu. Meu coração vai saltar pela boca, estou tremendo, muito mais do que imaginei esse momento.

Um toque – sinto falta de ar.

Dois toques – tenho vontade de gritar.

Três toques – peço que o senhor tenha misericórdia de nós.

Alguém finalmente atende.

- Alô? – digo desesperado, muito mais alto do que gostaria. Preciso me acalmar, manter um tom baixo de voz, não podemos nos dar ao luxo de estragar tudo.

- “Esse número de telefone não existe. Favor consultar o catálogo telefônico ou chamar o serviço de informações”.

A voz de uma mulher desconhecida do outro lado da linha anuncia que minha vida literalmente acabou. Eu não passo de um garoto para sempre esquecido.