30 horas depois...
Point of View of Thomas O’Brien
Franzo a testa e forço meus olhos, a claridade ofuscante faz com que minha retina processe apenas uma cortina branca a frente. Ao fundo escuto vozes abafadas, talvez um telefone tocando e passos apressados em algum lugar de onde estou.
- Argh...
Gemo incomodado quando tento me mexer. Eu não consigo me mover direito, sinto como se todos os ossos do meu corpo estivessem quebrado e mesmo tendo duzentos e oito deles espalhados pelo corpo, tenho certeza de que ao menos 205 estão comprometidos.
- Ele finalmente está acordando! – parece a voz de Malia Sangster zumbindo no meu ouvido.
- Onde estou? – minha voz sai numa frequência baixa e tremula, parece que sou um porco na assadeira mordendo uma maça verde no dia de Ação de Garças.
- Hoje está no hospital, Tom. Eu e Gally estamos aqui com você.
Mais uma vez forço a vista, insistindo em lutar contra a claridade que ofusca meus olhos. Quando a névoa se dissipa da vista consigo avistar Malia em pé do meu lado, segurando minha mão. Galileu está com o rosto inchado, encolhido em um canto. Eu sei que ele chorou e não foi pouco, Poulter sempre fica com cara de Bulldog quando chora além da conta.
- O que aconteceu? Onde está Newt?
Estou confuso, além dos duzentos e cinco ossos quebrados pelo corpo tenho uma cabeça dolorida e uma forte dor no maxilar. Estreito meus olhos para meus braços e pernas, todos intactos até onde consigo ver, exceto um pequeno corte próximo ao punho esquerdo e alguns hematomas roxos. Noto que Malia não respondeu a minha pergunta e não acho que deva insistir nisso, pois ao invés de me informar sobre o paradeiro do meu amor, ela resolve descobrir como estou.
- Espero que esteja melhor, Tom. Você nos deu um baita susto. – ela sorri fraco, acariciando minha mão.
- Há quanto tempo estou aqui? – questiono elevando meu tronco na cama de hospital.
Não tenho muita noção de como vim parar aqui, mas pelo que pude perceber devo ter sofrido um acidente ou algo do gênero.
- Está aqui já faz quarenta e oito horas, Peter Pan! – quem me responde é Galileu levantando da poltrona no canto do quarto caminhando devagar até mim. – Fico feliz que esteja bem.
- Onde está Newt? – volto a questionar, redirecionando minha questão ao meu amigo, sei que ele não é capaz de me esconder nada, por isso pergunto para ele.
Gally engole a seco por alguns segundos e embora tente disfarçar seu nervosismo, flagro ele expandindo suas pupilas azuladas para Malia, pedindo ajuda aos universitários para a resposta.
- Alguém quer me dizer onde está ele? Por favor... – suplico mordendo os lábios, deixando um pequeno desespero tomar conta de mim.
- O que você se lembra, Tom? – minha amiga tenta fazer terapia comigo.
- Malia, apenas pare! Me diga onde ele está? – serro os dentes como se este simples ato fosse convencê-los de que preciso de uma resposta.
- Nós não sabemos... – ela responde séria, com o cenho impassível, como se não tivesse coração.
- Como assim não sabem? – me desespero de vez, agarrando a mão dela.
- Simplesmente não sabemos, Thomas! – ela age agressivamente, repelindo o contato com a minha mão. – Enquanto seguíamos para o aeroporto, o transito parou repentinamente na rodovia. Galileu e eu saímos do carro para tentar ver algo e eu tentava desesperadamente ligar para você para avisar que estávamos presos no congestionamento. Mais a frente vimos luzes de resgate, corremos até elas e era seu Porsche que estava no acostamento.
- Sofremos um acidente?
- Não acho que tenha sido acidente, Thomas. – Sangster assente com a cabeça. – Primeiro que Newt não estava no local do acidente quando o resgate chegou, segundo que haviam marcas de pneu e sapatos na terra, que não eram seus e nem do seu carro e terceiro... – ela suspira, parece morder a parte interna da bochecha e me encara com preocupação – Alby foi morto com um tiro na testa. Isso foi uma execução.
- Al... – perco a fala, hiperventilando preocupado – Alby foi m-morto? – gaguejo triste e devastado.
- Infelizmente, meu amigo, infelizmente... – Galileu me consola com um afago protetor nas costas.
- Janson... – sussurro com um dor absurda dilacerando meu coração. – Foi Janson, foi ele, ele roubou Newt de mim... – murmuro acuado igual a um garoto de cinco anos.
- Nós sabemos que sim, Tom. Como ele descobriu o plano, não faço a mínima ideia, mas... Kira e Jackson estão atrás deles.
- Nós já sabemos onde esse filho de uma puta está, é só baixarmos no Maison e tirar todos de lá. – digo.
- Aí é que está, meu amigo, o Maison não existe mais. Ele pegou fogo ontem a tarde. Encontraram apenas um corpo carbonizado.
Gally me fita com expectativa, pois ele sabe o que farei. E eu faço exatamente o que ele sabe que quero. Levanto num sobressalto da cama, arrancando o cateter em minha veia. Malia que olha com suas pupilas avelãs dilatas e embora queira me devolver de volta a cama do hospital, ela sabe que a procura pelo seu irmão vale muito mais do que alguns dias dodóizinho nessa merda.
- Certo. Fuga! – digo chamando os dois com um gesto, formando um Squad – Vocês. Porta. Eu. Janela. – digo apenas palavras solta, para fácil entendimento.
- E depois, gênio da lâmpada? – Malia quebra o clima super 007.
- Depois vamos para o hotel de vocês, deeerrrr. – devolvo fazendo uma careta.
- Não estamos em hotel algum. Kira nos advertiu a não utilizar cartão de crédito e nada com nossos nomes, ela tem certeza de que Janson virá atrás de nós. – a loira devolve.
- Vamos para o hotel de Jackson então! – Gally sugere. - Janson desconhece a existência deles, estaremos seguros lá.
- Fechado. – concordo com a cabeça e iniciamos a nossa fuga.
*****
- Péssima ideia! Isso foi uma péssima ideia!
Murmuro para mim quando noto que Galileu e Malia sumiram pela porta principal e eu estou com um pé no batente da janela e outro no piso frio do quarto, raciocinando como vou descer daqui ao constatar um pequeno detalhe que filho da puta algum me informou que existia: estou só no terceiro andar dessa merda! COMO EU VOU DESCER DAQUIIIIIIII?
“Pule!”
Paro todos os meus movimentos quando escuto a doce voz de Newt. Giro bruscamente para trás a procura da figura do loirinho. Eu acho que estou enlouquecendo, não há ninguém no quarto além de mim e minha respiração entrecortada.
“Pule, Tommy, não tenha medo”.
A voz de Newt insiste, como uma prece para meus ouvidos.
- Como? – sussurro para o nada, na expectativa de que o vazio responda a minha pergunta.
Lanço insistentemente os olhos para baixo, observando a rua. Já avisto Malia e Galileu no estacionamento, fazendo gestos para que pule, mas... São no mínimo uns seis metros de altura, desde quando criei coragem para enfrentar isso?
“Use a roupa de cama, Tommy! Pense! Pense! Faça uma corda com elas, já é meio caminho andado”.
Newt insiste em meus pensamentos, estimulando meu lado mais selvagem a saltar. Corro até a cama e executo o que ele me pede, faço um laço com o lençol e todos os outros que encontro em um armário no quarto. Tranco a porta e prendo eles nos pés da cama, jogando minha fuga pela janela.
“Viu? Não é tão difícil assim Tommy! Corra! Eu estou te esperando, meu amor!”
- Você fala como se tudo fosse fácil... – resmungo num monólogo, passando uma perna de cada vez pelo batente da janela.
“Quanto mais dificuldades a vida lhe propor, mais saborosos serão os frutos que colherá, Tommy. Arrisque-se!”.
- Newt, fecha a sua boquinha, tá! Eu esqueci de te contar, mas eu morro de medo de altura. – bufo fitando o lençol servindo de corda, Galileu e Malia pulando no estacionamento para que eu ande logo e o chão... Ah o chão...
Tão escuro e sinistro, que faz meu mundo tremer, além de suar frio. Os carros e pessoas parecem tão pequenos vistos daqui de cima, dando a ilusão de que estou muito mais alto do que realmente estou.
- E além do mais, Pudim, você parece meu professor de filosofia falando e posso te garantir que ele não sexy em absolutamente nada... – digo em voz alta. – Você me ouviu? – indago quando a voz da minha cabeça desaparece.
Newt mais uma vez foi embora, seja nos meus pensamentos, seja na minha vida e se tem uma coisa que esse garoto precisa agora, é de mim. Tomo coragem, respiro fundo e passo a descer lentamente, sacolejando horrores, tendo a certeza de que se não morrer da queda, morro do coração.
- Desce logo, Tom! Você parece uma aranha manca nessa parede. – a graciosa e delicada Srta. Sangster reclama da minha falta de agilidade e aptidão para o mais novo papel de Homem Aranha no cinema.
Ignoro seus grunhidos e sons irritantes, focando apenas em mim, tentando ao máximo preservar a minha vida nessa descida, mas como o bom principiante em escalada que sou, não há lençol suficiente para chegar com segurança até o chão. Acabo paralisado de medo, agarrando o tecido branco como se fosse minha vida.
- PULA! – Gally grita.
- É, Tom, pula! Você está a apenas uns dois metros e meio do chão. No máááááááximo. – a loira tenta me tranquilizar. – Vem, eu seguro você! - Malia para seu corpo bem debaixo do lençol e abre os braços, sorrindo.
Tá, eu caio na dela, porque seu sorriso é tão lindo quanto o de Newt e fiquei cego de uma hora para a outra. Então pulo assim, de qualquer jeito, despencando de bunda no chão, pois era óbvio que Malia Sangster não tinha forças para me segurar e muito menos pretendia amparar a minha queda.
- Levanta logo, seu molenga! – ela me recrimina, dando as costas e saindo até a rua.
Lembram dos duzentos e cinco ossos quebrados? Terminei de ferrar com os outros três restantes.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.