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História Remember Me - Newtmas - Last Chapter - Home


Escrita por: LadyNewt

Notas do Autor


L O S T F O L L O W E R S,

Chegamos no último chapter.
Esse sem duvida alguma foi o mais longo que escrevi em toda minha vida, afinal alguns detalhes não podiam passar.
Link da música escolhida para encerrar essa jornada está nas notas finais, com tradução.
Amanhã eu volto com o Epílogo e com o trailer final, mostrando o destino de todo mundo que chegou até aqui.
E é claro, volto com a despedida :)

Respira fundo.
Conta até três.
Segura no P* merda.
E vai!

B o a L e i t u r a!
LadyNewt

Capítulo 79 - Last Chapter - Home


Fanfic / Fanfiction Remember Me - Newtmas - Last Chapter - Home

Point of View of Newton Brodie- Sangster

 

- Vai demorar muito, Malia?

- Hm, não sei Gally, os médicos disseram que seria algo rápido, mas que muito provavelmente ele acordaria confuso.

Esses são os primeiros sons que escuto, além de tiros, vidro quebrando, gritos e a voz nojenta de Janson contra meu ouvido. Ouço também um barulhinho irritante de algo pingando, soro talvez? E bem lá no fundo escuto um bip fraquinho, provavelmente alguma máquina.

Ainda não abri meus olhos, nem preciso fazê-lo para saber onde estou neste exato momento. Pelo cheiro sem graça e a falta de sons animados, tudo leva a crer que estou no hospital. Antes de abri-los, trato primeiramente de checar se cada pedacinho do meu corpo ainda responde às minhas ordens, afinal não me lembro de quase nada após Janson me derrubar no chão.

Testo primeiro meus pés, começando pelo dedão. Mando uma mensagem para meu cérebro e ele prontamente mexe somente o dedo que planejei.

Ótimo! Isso é muito bom!

Em seguida provoco o outro pé, que também se move. Uma coisa já constatei: ainda tenho o movimento das pernas. Com tanto tiro que rolou naquele inferno, considero um milagre ter saído sem sequelas até agora.

Segundo passo é verificar os movimentos dos meus braços. Repito o mesmo processo dos dedos, só que ao invés do dedão, mando logo um dedo do meio, pois é justamente ele que desejo esfregar na fuça daquele infeliz do Janson. Ao fazer isso, ouço uma risada.

Ok, dedos e braços funcionando. Agora é abrir os olhos.

Respiro fundo, conto mentalmente até três e os abro com lerdeza impressionante.

- Finalmente a bela adormecida acordou! – o tom grave e nem um pouco divertido vem do lado direito da cama. Galileu.

Tombo a cabeça para o lado oposto ao dele, procurando outras pessoas. A segunda que vejo, ainda que meio embaçado, é minha irmã, essa que não se controla e salta sobre a cama, me beijando da cabeça aos pés.

- Smack! Smack! Smack! – seus lábios famintos me devoram a cada milésimo de segundo – Eu nem acredito que você finalmente acordou.

- Thomas... – minha voz saí fraca, não tenho certeza se minha irmã ouviu o que eu acabei de falar.

- Você teve uma sorte dos infernos! – murmura me alisando, principalmente meu rosto e meus cabelos.

- Thomas... – insisto, agora finalmente enxergando-a melhor.

Malia está abatida, tem olheiras grosseiras abaixo dos olhos e o brilho fraco do seu olhar é algo inteligível. Giro a cabeça até Gally, disposto a conferir o estado do cara. Igualmente como Malia, ele tem o rosto cansado, está mais magro e aquela cara de bocózão simplesmente desapareceu. Volto minha face novamente até minha irmã, engolindo com dificuldade a saliva pela garganta seca.

- Você não me respondeu... – murmuro ainda zonzo de tanta medicação.

- Todos estão seguros na embaixada, Newt. Não se preocupe. A INTERPOL está fazendo o trabalho deles. – minha irmã responde num tom cético.

- O que foi que aconteceu? – questiono, encarando-a.

- Você não se lembra de nada, certo? – rebate ela, sentando-se do meu lado da cama.

- Não exatamente. Lembro de algumas coisas.

- Do que você se lembra, Newtie?

- Eu me lembro de corpos, como os de Lydia, Parrish e Justin. Lembro também de Aris ardendo em chamas e... Oh meu Deus, Nick está bem? – me lembro do moreno e de todo o trabalho que foi retirá-lo do bordel.

- Ele deu entrada em estado grave, está na UTI e corre risco de morte. Eu sinto muito, irmãozinho. – Malia engole a seco, realmente chateada ao me dar essa informação. – Mas os médicos estão cuidando dele, não se preocupe. O que mais você se lembra?

Paro e penso alguns segundos, repassando um filme em minha cabeça.

- Me recordo de ter retornado ao bordel, Janson ter me usado de refém e escudo humano, além dele ter discutido com Thomas e Teresa, depois descarregado sua arma contra eles.

- O que mais, Newt? – Malia insiste, fazendo agora um carinho no dorso da minha mão.

- Bom, depois disso pelo que eu me lembre, Janson me jogou no chão e passou a me sufocar. Foi nesse instante em que vi Thomas e Teresa em pé atrás do balcão e logo em seguida notei Matt avançando contra Janson. Só que eu não lembro de mais nada após isso. A quanto tempo estou aqui?

- Um dia e meio. – quem responde é Gally.

- Você sabe como vim parar aqui? – indago ao loiro.

Gally está parado em pé do lado da minha cama, tem os braços cruzados e as sobrancelhas em linha reta, num tom analítico.

- Depois que apagou, Matthew conseguiu imobilizar Janson. Foi neste instante que a INTERPOL invadiu o Maison e deu voz de prisão para todos que ainda estavam lá, como aquele tal de Darek, a garota Ren e inclusive Janson. Christopher Arget morreu. Os homens trouxeram você diretamente para o hospital e o restante dos seus amigos seguiram para a Embaixada Americana prestar depoimento e tentar localizar as famílias das vitimas.

- Entendo... – murmuro franzindo a testa, incomodado com várias coisas nessa história.

A porta do quarto abre, revelando a silhueta de um homem calvo, baixinho, vestido com um jaleco branco até os joelhos. Ele se aproxima da cama, deixando a porta do quarto aberta, varro meus olhos pelo local, constatando no mínimo três policiais do lado de fora, fazendo a segurança do quarto.

- Boa tarde, jovem Sangster, como se sente? – o doutor questiona ao sacar seu estetoscópio do bolso do jaleco.

Meu corpo todo arrepia ao ouvi-lo me chamar pelo meu sobrenome: Sangster. É isso que eu sou agora. Nada de Sugar, docinho, delícia, gostoso, vagabundo, putinha, garotinho e qualquer outro adjetivo nojento que me faça lembrar dos mais de três mil seiscentos e cinquenta dias em posse daquela quadrilha maldita.

- Estou confuso. – respondo fraquejando quando a ponta gelada do aparelho encosta no meu peito, trazendo um frio surreal – E com fome. – revelo.

Leio “Doutor Stein” na pequena placa dourada presa nas vestes do homem de meia idade, em seguida vejo letras confusas junto com aquela escrita, fazendo-me lembrar de que ainda estou em Kiev. Stein me examina, ausculta meu peito, checa minha garganta e meus olhos, confere o soro e minha medicação antes de dirigir-se a mim.

- Você é um rapaz de muita sorte! – ele sorri me encarando – Vamos jogar a real, pois é isso que faço com todos os meus pacientes – Malia continua do outro lado da cama, me apoiando – Você está desnutrido, bem abaixo do peso, mas nada que tomando as vitaminas certas e se alimentando direito não resolva esse problema. Realizamos exames de sangue assim que chegou no hospital. Os resultados foram os esperados para pacientes no seu estado de estresse constante e maus tratos. Suas plaquetas estão baixas e já conversei com um hematologista sobre seu caso, não é nada grave e algo que precise se preocupar de imediato.

Vou absorvendo aos poucos cada palavra dele, tentando compreender o efeito de cada uma delas na minha vida.

- O mais importante de tudo, seu exame para HIV deu negativo e como podemos ver você não sofreu nenhuma sequela por ficar alguns minutos sem respirar após desmaiar. Não sei se lhe contaram, mas foi preciso um procedimento de RCP.

- RCP? – indago franzindo a testa ao médico.

- Você foi reanimado a caminho do hospital, o fato de ficar sem respirar alguns minutos poderiam acarretar sequelas graves e irreversíveis no seu estado, por isso realizamos uma bateria de exames assim que deu entrada na nossa unidade.

Stein saca uma micro lanterna do seu bolso, inclina o corpo sobre a cama e checa meus olhos novamente, quase me cegando.

- Seus reflexos estão lentos, porém bons. Nos testes iniciais nada foi afetado na sua coordenação motora e pelo que posso notar, nem na sua fala.

- Quanto tempo mais ficarei aqui, doutor?

- Eu sei o quanto quer ir para casa depois de tudo que passou, você tem uma longa etapa de depoimentos pela frente, mas para isso precisa ficar forte e saudável. Creio que no máximo em mais dois dias consiga liberá-lo.

- Dois dias? – resmungo emburrado.

- Eu sinto muito, senhor Sangster. – ele se afasta, guardando seus pertences – Se precisar de algo, não hesite em me chamar. – agora ele faz um sinal com os dedos, chamando minha irmã. Malia corre até ele, colocando-se bem na frente do homem. – Ele está bem, não precisa se preocupar. Conforme disse, é bem provável que apresente um quadro de confusão mental, devido ao trauma e a medicação. Tenham paciência com ele. Tudo que Newton mais precisa agora é carinho e amor.

Malia assente com a cabeça, Stein saí do quarto, e então ela volta até onde estou.

- Preparado para falar com papai e mamãe?

- Eles estão aqui? – exclamo dando um salto da cama.

- Infelizmente não, meu amor. Eles irão nos esperar em Sitka, pensei em fazer um facetime, o que acha? – sorri fraco, eu concordo com a cabeça.

Minha irmã saca o celular do bolso antes de deitar do meu lado, então prepara-se para discar o numero deles.

- Espera! – seguro o pulso dela, tenho um pouco de medo – Como eles estão? Digo, com tudo isso que aconteceu, como eles estão reagindo?

- Bom, mamãe chorou sem parar desde que soube que está bem. Mia está histérica, desesperada para ver você. Lembra que salvou ela ao jogá-la pela janela, evitando que ela fosse arrastada para esse inferno com você? – eu concordo com a cabeça – Então, ela bateu com força aquela cabeça oca no chão e desde então ficou meio maluca! – Malia tenta rir da sua piada, Galileu não move um músculo sequer.

- E o papai?

- Papai continua o mesmo de sempre, você sabe, ele quem segurou as pontas lá em casa. Bom, vamos fazer esse facetime?

- Vamos! – suspiro penosamente e aguardo ela buscar na sua agenda o contato do celular da nossa mãe.

Ele chama uma, duas, três, até que ela atende no quarto toque.

- Ah meu Deus! – é tudo que ela diz ao me ver deitado na cama, fraco e pálido, provavelmente com o cabelo desgrenhado e com a mesma cara horrível de quanto tinha sete anos e peguei catapora.

- Oi mãe... – sou incapaz de dizer outras palavras, eu caio no choro compulsivo, assim como ela.

Mamãe está um pouco diferente do que me lembrava. Mais magra e com os cabelos mais longos, ela ganhou algumas rugas perto dos olhos e eu sei que sou o culpado delas.

- Hey, mãe, não chore, ele está bem! – Malia tenta tranquiliza-la.

- Eu sei meu amor, eu sei... – ela funga sem parar, limpando o nariz com a barra da jaqueta. – Venha logo para casa, meu amor, estamos morrendo de saudades de você.

- Eu quero falar com ele! Me deixa falar com ele! – escuto e vejo o vulto do meu pai tentando roubar o celular da mão dela.

Minha mãe manda um demorado beijo com as mãos, até que transfere o aparelho para ele. Assim que o vejo, sorrio como o garotinho dele sempre fazia. Eu e papai éramos grandes amigos, sempre pescando juntos, andando de bicicleta e até mesmo escalando árvores e construindo iglus. Papai agora tem barba no rosto, mas continua com a mesma cara de espoleta de sempre.

- Meu garotão, olhe só pra você! – diz emocionado, sem conter as lágrimas – Como está enorme! – se gaba todo – Trate de ficar bom logo e voltar para casa, estaremos lhe aguardando aqui cheios de surpresa e muito amor.

- Okay, pai, não vejo a hora de abraçar todos vocês. Mia está ai?

- Mia teve que ir para a aula, está em semana de provas, mas saiba que ela está eufórica para te ver.

- Mande um beijo para ela. – peço um pouco cansado.

- Muito bem, nós só queríamos saber como está. Vamos deixa-lo descansando, assim você volta logo para casa.

- Okay, pai, fiquem com Deus.

- Eu te amo muito, meu filho. – meus pais dizem ao mesmo tempo, ambos bem emocionados.

Malia toma o celular das minhas mãos e caminha apressada para fora do quarto, desejando finalizar a ligação.

- Por que ela anda tão estranha? – questiono para Galileu, encolhido em um canto do quarto.

- Estamos todos cansados, Newt, apenas isso. – ele devolve sorrindo fraco.

Volto a acomodar melhor minhas costas no encosto da cama, um tempo depois Malia retorna, avisando que ela e Galileu precisam sair.

- Temos que comparecer a Embaixada Americana e regularizar nossa partida, procure descansar, é bem provável que alguém da INTERPOL venha te interrogar em breve.

Eu concordo com a cabeça. Malia deixa um beijo molhado em minha testa, apanha sua bolsa sobre uma poltrona e caminha de mãos dadas com Galileu até a porta. Antes que ela saia, peço algo importante.

- Pode pedir para o Tommy vir até aqui me ver? Estou com saudades e preciso saber como ele está! – justifico.

Minha irmã molha os lábios excessivamente com a língua e devolve um okay fraco com a cabeça, sem me direcionar o olhar. Ela abre com força a porta do quarto e arrasta Galileu com ela, desaparecendo de vista. Me resta apenas fechar os olhos e aguardar por Thomas.

Tento tirar um cochilo, mas rolo de um lado para o outro, incapaz de descansar sem O’Brien do meu lado. Vez ou outra entra uma enfermeira checando meu soro e trocando minha sonda, que diga-se de passagem é uma merda.

- Quando poderei levantar e fazer xixi como uma pessoa normal? – pergunto para uma loira platinada com cara de bruxa má.

- Assim que o Dr. Stein liberar. – responde secamente, dando-me as costas.

Novamente rolo de um lado para o outro, parece que as horas não passam. Estou eufórico e desesperado por informações sobre meus amigos. Minutos depois sento na cama, impaciente.

- Isso é uma droga... – bufo emburrado me divertindo apenas com meus pés descalços balançando no ar.

- Posso te ajudar? – meu médico surge na porta do quarto.

- Eu não consigo dormir.

- Podemos dar um jeito nisso, Sangster. – diz ele, bipando para uma enfermeira – Esse estado de euforia é normal, ainda mais depois de tudo que passou.

- Pode ao menos tirar minha sonda? – faço uma careta convincente e o homem assente com a cabeça.

Dormir ainda não consigo, mas mijar sozinho sem a porra de um canudo saindo da cabeça do seu pau já é um milagre. Uma enfermeira chega com uma bandeja, com cuidado retira minha sonda e aplica um “remedinho” para dormir, segundo o doutor Stein.

- Você vai ficar um pouco zonzo, desorientado e em minutos apagará.

- Obrigado. – murmuro me cobrindo com o cobertor.

E é batata! Minha vista fica turva e pesada, eu não paro de bocejar, até que tombo minha cabeça para a esquerda, finalmente apagando.

 

*****

 

Abro meus olhos assustado.

A primeira coisa que faço é checar o relógio digital na parede do quarto frio do hospital.

- Três e vinte da madrugada. Que beleza! – exclamo franzindo o cenho com a claridade que sai de dentro do banheiro. – Tem alguém aí? – exclamo.

Não me lembro de ter deixado luz alguma acesa antes de apagar. Ajusto meu corpo no colchão, acionando o comando eletrônico para elevar a cabeceira da minha cama. Em momento algum desprendo meus olhos da porta e me choco quando vejo um volto saindo de lá.

Alto, moreno, cabelos desajustados, bochechas avermelhadas e dono de um sorriso fraquinho, mas ainda sim o sorriso que eu mais amo no mundo.

- TOMMY! – exclamo saltando da cama, correndo até o moreno.

Não foi uma boa ideia.

Despenco de cara no chão assim que dou o primeiro passo, ainda estou fraco para certas ações, mas não sabia que andar seria uma delas. Espalmo minhas mãos pelo piso, erguendo a cabeça. Tudo que vejo é O’Brien debruçar o corpo na minha direção. Assim que termino de erguer meu corpo, grudo com força no moreno, soluçando de tanto chorar.

Não sei porque choro, talvez tenha muitos sentimentos ainda guardados dentro de mim, eu deixo as lágrimas nos abraçarem, revelando o quão frágil sou perto dele.

- Eu te amo tanto, tanto, tanto. – murmuro com o rosto enterrado em seu peito.

Thomas nada diz, o moreno funga sem parar no meu cabelo, beijando com carinho o topo da minha cabeça. Suas mãos entrelaçam com a minha e ele me guia de volta para a cama, cuidando de mim.

Cobre meu corpo, acaricia meus cabelos, me olha e me analisa com seus olhos castanhos lindos, repletos de melancolia. Sei que todos ainda estão muito chocados com o que aconteceu, estarmos aqui, agora, é uma dádiva e embora ele permaneça mudo, não precisamos trocar palavras para expressar o sentimento que nos envolve nesse reencontro.

Thomas intensifica o cafuné em meus cabelos, deixando que eu deite a cabeça sobre seu peito, cheiroso e aconchegante.

- Assim eu vou dormir de novo... – advirto ele, já fechando meus olhos.

 

*****

 

Acordo novamente num sobressalto, muito mais assustado e ofegante do que gostaria.

- Isso não foi um sonho! Isso não pode ser só um sonho! – digo em voz alta, conferindo todos os cantos do quarto atrás de Tommy.

Encontro o moreno sentado no sofá ao lado de Teresa, os dois estão em silêncio, observando minha carinha de quem acabou de acordar. No relógio agora são por volta das oito da manhã. Tommy levanta da poltrona e segue até mim, apontando para a bandeja com o café da manhã, muito provavelmente deixada ali por alguma enfermeira. Enquanto eu não como tudo direitinho, nem Thomas e nem Teresa saem do meu lado, obrigando-me com seus olhinhos julgadores a devorar tudo.

- Vochês tambéhm precisam cumêr! – digo de boca cheia, realmente achando a comida sem sal do hospital uma delícia, não que Caçarola cozinhasse mal, Deus me perdoe, ele me alimentou por vários anos, mas comer algo que não seja as rações contadas que Janson oferecia para nós soa como uma manjar dos deuses.

Tanto Tommy quanto Tess negam a refeição com a cabeça, os dois só sabem socar mais e mais comida na minha boca, até que eu exploda.

- Vejo que está se alimentando bem! – o doutor Stein entra no quarto, afastando meus amigos de mim.

Tommy e Tess voltam para o canto, olhando para a cena.

- Como se sente, jovem Sangster?

- Bem melhor agora.

- Bom, isso é muito bom, pois terá um longo dia de depoimento pela frente. Há dois homens lá fora que aguardam para interroga-lo sobre a quadrilha, tudo bem para você contribuir com algumas informações?

- Sim, claro, sem problemas. – sorrio ao médico.

- Vou pedir para entrarem.

Stein faz um sinal aos homens do lado de fora, são dois: um alto, moreno, de terno preto e outro baixinho, grisalho, de terno azul escuro. Eles se apresentam como Ethan e Jason, agentes da INTERPOL que estão agora com o caso da quadrilha de BOSS.

Durante horas sou interrogado pelos dois, que me enchem de perguntas sobre tudo que passei durante esses dez anos. Eles querem detalhes, argumentam que a partir do depoimento de cada sequestrado eles irão poder determinar os crimes cometidos e o quanto os advogados podem exigir de pena a ser cumprida por cada um dos acusados.

- Onde eles estão? – pergunto curioso.

- Estão em um local secreto e seguro, Newton, não precisa temer. Estas pessoas nunca mais vão encostar um dedo em você. – o moreno garante para mim.

Volto a ditar as atrocidades que vivi, dou detalhes, forneço nomes como o de Stilinski e Bohen, conto as torturas vividas, relembro de amigos que passaram por nós, na esperança que estes homens os encontre, como Chuck e Allison. Durante todo meu depoimento Thomas e Teresa permaneceram no quarto, sem dar um pio, respeitando as autoridades presentes. Eu só paro meu relato para trocar soro, medicamentos, ir no banheiro ou comer as refeições servidas.

Permaneço o dia todo fornecendo dados a Ethan e Jason, os dois anotam tudo em notebooks e gravam nossa conversa com um pequeno gravador portátil e uma câmera HD. Quando eu acho que tudo acabou, eles voltam a me pressionar por mais informações, fazendo-me reviver alguns momentos tristes, como a morte de Theo e Lemonade, Winston com um tiro na cabeça, Troye me salvando e Janson se aproveitando de mim das maneiras mais sádicas e nojentas possíveis.

- Bom, acredito que temos dados suficientes já, mas tenha consciência de que seu depoimento não termina por aqui, infelizmente. Assim que regressar ao Alaska o Estado irá entrar em contato com você para darmos início ao processo, tudo bem?

- Sim, eu acho que sim. – digo fraquinho.

- Agradecemos muito o seu depoimento. – o baixinho diz.

- Espero que se recupere logo reencontre sua família. – o outro sibila.

- Embora eu esteja morrendo de saudades dele, tenho tudo que preciso aqui comigo.

Lanço um sorriso e um olhar cumplice até onde Thomas está.

O pessoal da INTERPOL saí do quarto, seguido de Thomas e Teresa. Creio que eles desejem conversar com os homens também, comer alguma coisa, trocar de roupas, sei lá. Aproveito para tomar um banho, com dificuldade caminho até o banheiro, abro a ducha e me banho, agradecendo mentalmente por tirar esse cheiro de mim. Eu ainda acho que estou fedendo a bordel e isso é péssimo.  Esfrego minha pele com força, o cheiro do sabonete dos hospital não é um dos melhores, mas sem dúvida alguma é bem mais gostoso do que sexo, bebidas, drogas e prostituição. Minha única alternativa é vestir um avental limpo do hospital, já que não encontrei roupas minhas pelo quarto.

Ao regressar, Malia e Galileu estão sentados na cama, me esperando.

- Olha só, os bonitos resolveram aparecer! – debocho me enfiando no meio deles. – O que fizeram de bom hoje, já que só voltaram agora a noite?

- Burocracias, Newt. Apenas burocracias e... temos boas notícias! – minha irmã diz um pouco mais alegre.

- O que é então?

- Você terá alta amanhã, o Dr. Stein disse que não há necessidade em mantê-lo aqui, se levarmos a sério sua hidratação e alimentação durante a viagem, e além do mais, ele não aguenta a quantidade de policiais e pessoal da imprensa que estão fazendo campana na porta deste hospital.

- Isso é perfeito! – exclamo contente.

- Sim, isso é magnífico! – ela toca minhas mãos, fazendo um carinho – Logo estará com papai e mamãe. Outra coisa... – sibila – Stein deixou que ganhasse uma regalia nesse sua última noite. Você pode escolher o que quiser comer!!!

- JURA? – eu quase grito de felicidade.

- Sim, seu tolinho! O que quer comer? – ela devolve.

- Eu queria muito suas panquecas, mas já que é algo impossível, queria um hamburger cheio de bacon.

- Hm, acho que isso é fácil de providenciar. Mais alguma coisa, príncipe Sangster? – Malia me provoca.

- Sorvete! – digo sorrindo.

- Ok, vou encontrar um de chocolate bem gostoso pra você porq...

- Chocolate não! – corto ela – Traga de cereja! Thomas adora cereja e assim que ele voltar aqui tomarei junto com ele.

- Thomas veio aqui, é? – questiona franzindo a testa.

- Sim, ele passou o dia todo comigo, saiu agora a pouco. Teresa também estava junto com ele. – respondo. – Por que, algum problema?

- Não, problema algum. – Gally sorri, pegando rapidamente a mão da minha irmã – Vamos comprar as coisas que deseja comer, nós já voltamos.

- Tudo bem, mas não demorem, aqueles dois devem estar famintos. – volvo bem mais animadinho agora.

Aguardo ansioso, tanto pelas minhas comidas, quanto por Thomas. O moreno vai surtar quando descobri que vamos partir amanhã. Minha irmã e o - namorado? – sim, acho que posso chama-lo assim, retornam trinta minutos depois trazendo tudo que pedi. Devoro o sanduíche em um novo recorde mundial, revirando os olhos a cada mordida, a cada gostinho que o bacon deixa na minha boca, provando ser talvez a segunda coisa que mais ame no mundo. A primeira é Tommy, claro.

- Posso pedir um favor? – falo encarando Mali e Galileu já acomodados no sofá do quarto. – Será que vocês dois podem, hm... Como vou dizer isso... Podem, hmmm... Dormir em outro lugar? – peço sorrindo amarelo.

- E por que? – minha irmã mais velha indaga com uma careta.

- Digamos que eu queria passar a noite sozinho com Thomas, e...

- NEWT! – Malia diz meu nome brava, como se fosse um crime o que eu estivesse planejando fazer. – ISSO É LOUCURA, CHEGA! PRA MIM NÃO DÁ MAIS! – ela grita, correndo para fora do quarto.

- O que deu nela? – chio até Gally. – É errado querer namorar?

- Não ligue para ela, Newt. Deve estar preocupada com seu estado, mas saiba que vou deixa-lo sozinho, ok. Vou atrás dela e deixarei sua irmã longe desse quarto, assim pode aproveitar e curtir sua noite da maneira que quiser.

- Obrigado, Gally! Você é o melhor cunhado do mundo! – sorrio em demasia para ele.

- Thomas veio mesmo aqui?

- Sim, ele veio! Você não o viu?

- Não. As coisas andam bem agitadas desde que saíram do Maison. Todos estão prestando depoimentos, indo atrás de suas famílias e respectivas Embaixadas, a única pessoa que vi foi Matt, nem com Kira ou Jackson conseguimos falar.

- Uh... – gemo decepcionado – Espero que esteja tudo bem com eles.

- Está sim, Newt, não se preocupe. Amanhã de manhã nos falamos.

- Ok!

- Pode fazer um favor pra mim? – o grandalhão para seu corpo truculento na porta, encarando o nada, depois sorri e volta a olha para mim – Pode dizer a Thomas que eu o amo?

- Claro, mas acho melhor fazer isso pessoalmente, afinal ele vai conosco no mesmo avião para casa, não é?

- Sim, Newt, ele vai conosco, você... – ele suspira cansado após uma pausa - Você tem razão. – volve sério.

- Mas mesmo assim eu direi o que pediu, porque o que mais gosto de dizer para ele é que o amo.

- Está certo, baixinho. Aproveite a noite.

O loiro se despede, finalmente deixando-me sozinho no quarto. Espero impaciente pela hora em que Thomas vai aparecer. As horas passam lentamente e por volta das onze da noite o moreno aparece sozinho no meu quarto, um pouco antes de quase apagar de sono.

- Meu Deus, Tommy, achei que não voltaria nunca! – murmuro mimado, abrindo meus braços para recebe-lo.

Meu moreno vem direto para mim, deitando seu corpo cansado ao meu lado, esfregando sua cabeça contra meu corpo, como se fosse um gato ronronando, pedindo carinho.

- Malia comprou sorvete de cereja!

Solto seu tronco e desço da cama, buscando pelo pote dentro de uma pequena geladeira no canto do quarto. Pego a colher de plástico da sorveteria e sento com o moreno na cama, abrindo o pote. Um forte aroma de cereja perfuma o quarto, Thomas fecha os olhos e funga forte, tragando todo o cheiro só para ele. Ofereço a primeira colherada, mas meu Tommy nega, direcionando minha mão até minha boca.

- Issoh tah umah delíciah. – pronuncio com dificuldade, o geladinho da massa está congelando toda minha boca.

Eu nem percebo, mas quando dou por mim noto que devorei todo o pote sozinho, fazendo Thomas rir da minha gula. Estranho ao notar o moreno com as mesmas roupas de cedo, provavelmente ele não teve tempo de se trocar ou tomar um banho.

- Quer tomar uma ducha comigo? – ofereço.

Ganho um sim com um aceno breve de cabeça. Tomo a mão de Thomas, guiando-o comigo até o banheiro. Com cuidado retiro sua roupa, começando pela camisa, tenho certeza de que meus olhos nunca vão se cansar de admirar seu corpo perfeito. Em seguida é a vez da calça e da boxer, deixando o moreno nu em segundos, fazendo todas as peças ruírem até seus pés.

- Gally pediu para dizer que te ama... – digo divertido, mordendo os lábios.

Encaro o moreno olho no olho, retirando o meu avental ridículo, tentando parecer sexy o suficiente quanto ele. Thomas suspira alto ao observar meu corpo, tenho alguns hematomas e cortes, bem ao contrário dele. Eu nada vejo, nem um arranhão sequer.

Puxo nossos corpos até a ducha, ligo o registro e coloco o moreno debaixo da água morna, enfeitiçado pelo beleza dele com as gotinhas escorrendo pelo seu corpo perfeito. Passo a deslizar a esponja por cada partícula do seu corpo, criando uma grossa camada de espuma branca. A todo momento Thomas está de olhos fechados, com a palma das mãos apoiadas na parede, respirando fundo a cada movimento que desfiro contra ele.

- Eu quero você! – sussurro contra seu ouvido, fazendo-o amolecer em meus braços.

Tommy gira bruscamente seu corpo, agarra minha cintura e me beija, como nunca nos beijamos antes. Não é um beijo calmo e tranquilo, como sempre fazíamos. É um beijo afoito, carregado de desejo e desespero, como se essa fosse a nossa última noite na terra. Suas mãos exploram todo meu corpo, sugando minha sanidade. Quando dou por mim já estou gemendo seu nome, tendo minhas costas nuas pressionadas contra a parede de azulejos.

Ele segura com firmeza minhas pernas em seu colo, estocando com força, chupando e mordiscando todo meu pescoço oferecido, que se abre para O’Brien descaradamente. Eu gemo arrastado, mesclando meus chiados com a água vigorosa tocando nossos corpos e piso. Tommy não para, suas bombadas ficam cada vez mais intensas, sendo capaz de me partir ao meio.

Minha ereção cresce contra seu abdômen, eu nunca estive tão excitado em toda minha vida. Engancho minhas mãos em seus cabelos, puxando eles com força para trás, erguendo o rosto do moreno dono de todo esse meu fogo. Seus olhos estão fechados, sua testa enrugada e ele tem uma leve expressão de dor na face, mas em momento algum para de me penetrar, até que nós dois atingimos o orgasmo juntos, arfando fundo, desmoronando nossas faces em cada ombro.

Permanecemos assim abraçados, até ele me colocar com ternura no chão e me banhar, como fiz com ele a pouco. Após isso sigo com ele para ao quarto, onde visto novamente meu avental e ele suas roupas. Junto-me a ele na cama, onde ambos preferimos ficar calados, apenas olhando um para o outro entre beijos, abraços e carícias, até adormecermos.

 

*****

 

Ao levantar, ignoro o café da manhã como Thomas e aguardo ansioso minha liberação. Malia e Galileu aparecem com roupas limpas, ignorando a presença de Thomas e Teresa no quarto. Me troco na velocidade da luz e finalmente recebo a alta do Dr. Stein, seguindo com eles até a saída do hospital.

Malia e Gally vão na frente, eu sigo atrás ao lado de Thomas e Tess. Ao abrir a porta principal, meus olhos são ofuscados por milhares de flashes disparando contra nós. Diversos carros, repórteres, câmeras e microfones na nossa direção, fazendo as perguntas mais diversas.

- Newton, conte-nos sobre como foi a fuga do Maison!

- Por favor, conceda uma entrevista exclusiva para a BBC!

- Senhor Sangster, já conseguiu encontrar seus amigos?

- Já falou com seus pais?

- Vão diretamente para o Alaska?

- O que acha do fato da polícia de Kiev estar envolvida nesse escândalo?

Escuto uma pergunta trás da outra, atordoado com o tanto de vozes diferentes me questionando coisas diversas a respeito da quadrilha e minha vida roubada anos atrás. Gally destrava um carro, alguns policiais fazem um cordão humano de isolamento para passarmos sem sermos incomodados, o loiro segue na frente com minha irmã, eu sigo atrás, deixando que Tess e Tommy entrem primeiro no carro.

Nosso automóvel é escoltado por no mínimo três carros de polícia enquanto seguimos ao aeroporto.

- Isso foi uma loucura, não? – indago encarando Tommy e Tess. – Precisava ver a cara de vocês dois, foi hilária! – digo rindo.

Percebo Malia me encarando pelo espelho do banco do passageiro, retocando seu batom nude. Eu sou o único falante nessa merda de carro, todos seguem mudo e moribundos, como se estivessem indo a um maldito enterro.

- Sério, não sei o motivo de vocês quatro estarem com essas caras de bunda. Vamos para casa, pessoal! PA-RA CA-SA! – sibilo pausadamente, com uma cara óbvia, explodindo de felicidade.

Nosso carro chega no aeroporto internacional de Kiev e Gally nos leva diretamente para uma área de embarque destinada as aeronaves particulares. Creio eu que iremos regressar para casa no avião dos pais de O’Brien. Minha barriga arde, tenho falta de ar, mas não mais do que uma empolgação fora no normal, mesclados com medo, afinal, foram mais de dez anos longe de casa, vivendo em um mundo obscuro e muito triste, repleto de dias nublados, choro, angustia e muita tristeza.

O que me espera agora é desconhecido, mas tenho certeza de que será mil vezes melhor do que qualquer coisa nesse inferno onde Janson me colocou com oito anos de idade.

O carro finalmente para, desço junto com todos, suspirando alto ao respirar o ar puro do local a céu aberto. Hoje o dia está nublado, o céu encoberto por uma cortina cinza e a temperatura bem baixa, mas eu não ligo, em Sitka tenho certeza que encontrarei o mesmo clima.

Malia vai na frente, Poulter segue atrás e por fim eu puxo Thomas, tomando a dianteira dele. Minha irmã já está no quarto degrau da escada, estou prestes a colocar os meus pés ali quando Thomas puxa minha mão, estancando seu corpo. Giro para trás, encarando o moreno.

- O que foi, Tommy? Não tenha medo! Vamos fazer isso juntos. Eu, você e a Tess! – sorrio docemente, tentando encorajá-lo.

É nesse instante em que vejo alguns funcionários do aeroporto chegando perto da nossa aeronave, em um daqueles carrinhos com bagagens, mas ao invés de malas e os pertences de Galileu, minha irmã e dos outros, vejo duas coisas que me deixam perplexo.

- MAS QUE PORRA É ESSA? – giro sobre o calcanhar, encarando Malia. – O QUE É ISSO, MALIA? – insisto com a voz trôpega, totalmente embargada.

- Eu sinto muito, Newt... – ela murmura com os olhos cheios de lágrimas.

- NÃO! – grito dando três passos para trás, inconformado quando vejo dois caixões lacrados chegando até o compartimento de cargas.

Malia e Galileu descem correndo as escadas, tentando me segurar.

- NÃO! ISSO NÃO ACONTECEU! – urro ainda mais alto, incapaz de respirar com tanta dor e aperto no meu peito.

Volto a encarar Thomas e Teresa. Os dois me olham com lágrimas nos olhos e só ai percebo o que realmente aconteceu, é como se o chão sob meu pés abrisse um gigantesco penhasco, me puxando totalmente para baixo, tragando de vez o que restou de mim para a escuridão.

- Newtie... – minha irmã me chama, segurando minha mão e conseguindo minha atenção – Você precisa deixá-los partir, por favor... Eles tem que partir... - ela aponta para minhas costas.

Lentamente direciono meu pescoço até Tommy e Tess.

Dessa vez os dois não estão com as mesmas roupas de sempre. A cena que vejo é simplesmente assustadora. E sei que dessa vez é real.

As vestes de O’Brien estão todas sujas de sangue e seu peito todo cravejado de balas, como Teresa. Há traços de sangue pelo rosto, agora pálido, com olheiras grotescas abaixo dos olhos. Ambos estão em frangalhos, destruídos, toda aquela imagem sublime e perfeita desapareceu, na verdade ela nunca existiu, era uma coisa apenas da minha cabeça.

Tudo agora faz sentido!!!!

Ele não falou comigo em momento algum, ele não comeu, ele não interagiu com as outras pessoas ao meu lado... Céus... Isso é... Isso é tão confuso.

- Tommy... – murmuro desabando no chão, em frente a imagem do moreno que somente eu sou capaz de enxergar.

Uma mão gelada toca o topo da minha cabeça, tentando me amparar. O toque quente, macio e curioso de ontem a noite desapareceu, dando lugar a algo que eu não quero acreditar. Eu não posso acreditar.

- Newt, levanta do chão, por favor... – minha irmã pede, tentando me levantar.

É automático, eu repilo a mão dela, aos berros.

- ME DEIXE AQUI! EU PRECISO FICAR AQUI...

- Newt, por favor, não faz isso comigo, todos nós estamos sofrendo também... – ela argumenta já chorando – Não faz isso comigo...

- EU SÓ PRECISO ME DESPEDIR DELE... ME DEIXA DESPEDIR DELE... – choramingo afundando cada vez mais no solo.

Meu choro ecoa alto. Ele vem carregado de desespero, saudades, medo, culpa, raiva, ódio, solidão... Tudo ao mesmo tempo misturado, confundindo minha cabeça afetada.

- Por que você fez isso? – questiono erguendo meu rosto anestesiado na direção de Thomas, sem me importar em parecer completamente maluco na frente dos outros ao falar com um espírito que só eu vejo. Ele encontra-se de mãos dadas com Teresa e me olha com tristeza – Por que tinha que me deixar? Por que tinha que levantar de trás daquele bar? Por que simplesmente não me deixou lá? Por que?

Mas é claro que Tommy não me responde, ele nem existe mais.

- Eu amo você porra... – levo as mãos no rosto, sem conseguir respirar.

Permaneço de joelhos no asfalto da pista, escondendo meu rosto pelo que parece ser uma eternidade. Eu choro, Malia chora, Galileu chora, o mundo a minha volta chora. Na minha cabeça, ideias, pensamentos, frases, momentos, imagens, repasso lentamente tudo que aconteceu até aqui, solvo novamente todo o sofrimento que Janson me fez passar desde os oito anos de idade.

Esse cretino roubou minha vida e agora tirou Thomas de mim...

Tenho vontades crescendo dentro de mim que eu nem sabia que existiam, como arrancar a cabeça desse babaca ou surrá-lo até a morte, mas Thomas com certeza ficaria chateado comigo, ele sabe que não sou assim, que nós não somos assim.

Ao desenterrar minha face das mãos, espio os caixões já acomodados no compartimento de carga. Tommy e Tess permanecem parados no mesmo lugar, aguardando por mim. Eu sei o que preciso fazer, embora não queira. Eu preciso deixá-los partir, preciso fazer isso desde o momento em que Janson descarregou sua metralhadora contra eles lá no Maison. No fundo eu sabia, eu tinha certeza de que tudo havia terminado ali, com dois corpos atrás do bar, mas por que Thomas e Teresa me disseram o contrário, por que os dois simplesmente “levantaram” como se nada tivesse acontecido?

- Foi para te encorajar a prosseguir.

Meu queixo caí no segundo em que a voz de Thomas responde a minha pergunta mental.

- Você precisava de força.

Ele insiste, quebrando o silêncio entre nós.

- Newt, meu pequeno, levante-se...

Estende sua mão na minha direção, desejando me tirar do fundo do poço onde fui parar minutos atrás. Eu faço o que ele pede, entrego a O’Brien minha palma, sendo içado por uma força sobrenatural, colocando-me de pé com decisão. Engulo a seco e o encaro, mesmo não sendo a imagem mais perfeita da terra, mesmo ele parecendo um zumbi.

- Você sabe que isso não é o fim. – ele sorri, segurando agora meu queixo. – Eu faria tudo de novo e você sabe. A culpa de nada disso é sua.

Volto a chorar, dessa vez é um pranto silencioso, comedido, bem diferente do meu ataque histérico a pouco. Thomas desliza seus dedos gélidos pela minha face, limpando toda e qualquer lágrima que se atreva a sair dos meus olhos.

- Você tem que prometer pra mim que vai seguir em frente, prometer que curtirá cada segundo dessa sua nova vida, sem se arrepender de nada. Vai transformar todo segundo sequer em um sopro de vida, sem lamentações, sem preguiça, sendo permitido apenas saudade. Você pode me prometer isso?

- Sim, eu posso.

Concordo com a cabeça, fechando os olhos e deitando minha face sobre sua mão, aproveitando cada segundo restante ao lado dele.

- Ótimo. Eu gosto assim. – murmura seguro – Abra os olhos, Pudim. – o moreno pede e eu o faço.

Solto um demorado suspiro ao fita-lo totalmente diferente agora. Toda sua dor, todos os seus machucados, todo o sangue e o sofrimento sumiram dele, trazendo o meu bom e velho Tommy de volta, trazendo o homem pelo qual eu sempre fui apaixonado. Teresa também está como ele, como minha melhor amiga linda que sempre foi.

- Eu te amo, Newt. E é por te amar desesperadamente que eu fiz tudo isso.

- Eu sei... – chio arrastado. – Eu também te amo, Tommy, por isso... – respiro fundo, tentando superar o nó na minha garganta sobre o que estou prestes a abrir mão – Por isso eu os deixo partir... - dou minha sentença final, ganhando um sorriso casto dos dois.

Teresa caminha até onde estou e beija a pontinha do meu nariz. Me sinto péssimo por tudo que ela passou e no fim das contas terminar dessa forma trágica. Não precisamos trocar uma palavra sequer, somente com o olhar eu sei o que ela espera de mim. Tess quer que eu seja alguém forte, decidido e que saiba dizer não para as pessoas, mas que acima de tudo saiba colocar meus desejos e minhas vontades em primeiro lugar também. Ela deixa uma pequena lágrima escorrer das suas turquesas, me da as costas e espera por Thomas, esse que me abraça com força, fungando forte no meu pescoço.

- Cheirinho de Newt! – ele exclama, depositando um suave beijo no local. – Vou levar ele para sempre comigo. – me solta, segurando agora meu rosto. – Força. Coragem. Determinação. E amor. Nunca deixe isso escapar de você, certo? E sem adeus.

- Certo! Sem adeus. Porque dizer “adeus” significa ir embora... – ofereço um sorriso com a frase de Peter Pan, concordando com a cabeça.

- ... E ir embora significa esquecer! – ele completa a frase do meu livro preferido.

Pela última vez Tommy me beija. Não um beijo afoito como da noite passada, ele é calmo e paciente, como se nós dois desejássemos guardar para sempre cada pedacinho um do outro. É como se o mundo parasse outra vez, tendo apenas nós dois no planeta Terra. O gosto, o toque, os movimentos suaves, gravo tudo na minha mente, desejando que esse momento fique para sempre comigo. E eu sei que ele vai ficar, até nos reencontrarmos novamente.

- Eu tenho que ir... – solta meus lábios, rindo de maneira pura e charmosa.

- Se comporte! – chio enquanto ele se afasta, entrelaçando suas mãos nas de Teresa.

- Olha quem fala!

Ele pisca de forma divertida, mordendo os lábios. Não seguro um riso com a cena. Observo calado os dois se afastando, sentindo meu coração ainda em pedaços, mas mil vezes mais leve depois dessa despedida. Antes de desaparecer por completo, Thomas para, volta metade do seu corpo para trás e sopra um beijo na minha direção. Eu nunca achei que seria tão brega assim, mas eu realmente capturo aquilo no ar e faço como se estivesse guardando ele no meu peito.

... Até que eles caminham em direção a luz... e somem em definitivo.

Fico parado no mesmo ponto por alguns segundos, até ter certeza de que ele realmente se foi. Quando giro, Malia e Galileu estão me encarando de queixos caídos, sem acreditar na minha loucura. Ou talvez não, talvez não seja tão loucura assim, talvez eles também tenham sentido a presença deles, mas eu fui o único capaz de enxerga-los de verdade.

- Vamos? – arfo fundo, segurando a mão da minha irmã.

- Vamos? - Malia sorri fraco e repete minha pergunta, franzindo sua testa.

De repente tudo fica cristalino e uma paz gigantesca invade meu peito.

- Exatamente Wendy, vamos para casa! Eu não sou mais um garoto perdido. – respondo puxando ela até o interior da aeronave.

Escolho um lugar, acomodo meu corpo na poltrona e afivelo os cintos, encarando a paisagem através da janelinha. Minha irmã escolhe seguir do meu lado, chamando minha atenção.

- Isso daqui era seu, estava com Thomas todo esse tempo. – ela diz entregando meu livro antigo e ilustrado do Peter Pan que ganhei ainda bem pequeno e que adorava ler.

Mordo a parte interna da bochecha e aceito o objeto, tomando ele em meus dedos trêmulos e depois repousando-o no meu colo. O piloto avisa que nossa aeronave está pronta para a decolagem e pede parar mantermos o cinto e a posição das cadeiras no lugar. Passamos a taxiar pelo asfalto, até que o avião esteja na cabeceira da pista, se preparando para partir.

O motor acelera, ele pega impulso percorrendo longos metros pela pista, até que decola, derrubando meu livro no chão. Passo a encará-lo aberto, virado de boca para baixo, notando todas as frágeis folhas tremerem contra o piso acarpetado da aeronave. Espero até que o aviso de desatar os cintos seja desligado, para só então pegar o que me pertence.

Capto ele da maneira que está e quando o viro, observo a página em que ele caiu aberto no solo, ficando arrepiado da cabeça aos pés.

Sei que Thomas tem a ver com isso.

Leio e releio a frase impressa na página, lutando para conter minhas lágrimas.

 

“Você conhece aquele lugar entre dormir e acordar, o lugar onde você ainda pode lembrar de sonhar? É onde eu sempre te amarei. É onde eu estarei esperando”.

 

- Eu também estarei te esperando, Tommy – murmuro tocando a página da obra de J.M. Barrie e acabo sorrindo, não porque sou masoquista ou um desgraçado que não tem respeito algum pelas vidas que acabei de perder. Sorrio porque finalmente compreendo as coisas.

Quando Thomas saiu de Sitka atrás mim meses atrás, ele tinha um desejo e, embora ele não esteja acontecendo na maneira que eu planejei, ele chega no final esperado, no final que Tommy almejou e que eu vou dar o meu jeitinho de fazer valer a pena.

Thomas finalmente conseguiu o que queria...

Ele me devolveu a vida.

Ele devolveu minha família.

Ele me deu uma nova chance de fazer tudo de novo, dessa vez de uma maneira muito mais incrível e sensacional, sem desperdiçar a chance de ser feliz.

Eu estou voltando para casa!


Notas Finais


LINK DA MÚSICA DO CAPÍTULO: https://youtu.be/6Gm9PRKEWM0
Christina Perri - Arms

Até amanhã, Lost Followers! <3


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