Um filme inteiro se passava pela minha cabeça.
Um filme que um dia, quando eu tinha uns 17 anos, assisti.
Era um daqueles filmes de romance em que sempre havia finais felizes, tudo sempre ficava tudo bem. Pensar nisso me fez soltar um riso, mas por estar machucado.
Em minha mente, eu continuava constantemente tentando entender o porquê de isso tudo ter acontecido.
Por que eu não poderia ter meu final feliz?
Por que aquilo aconteceu?
Por que logo hoje?
Por que com Kouyou?
Continuava ali, largado naquele chão sujo, com um curativo encima da minha sobrancelha, na qual, devo dizer, levei tantos pontos que nem contei, e nem me importa, na verdade. Mas tanto a dor física quanto a emocional só aumentavam a minha agonia.
Agonia que nasceu a partir do momento que levaram o amor da minha vida desacordado, com um corte horrível na cabeça e que não parava de sangrar, para dentro de uma sala de cirurgia.
O que era para ser um grande dia, transformou-se no pior da minha vida.
Havia horas que eu não tinha uma notícia sequer do meu loirinho, e aquilo só me fazia chorar mais. Desesperado, uma palavra que nunca se encaixou bem como para a forma como eu estou agora.
Levantei-me apressado assim que o médico que levou Kouyou se aproximou com uma feição não muito boa.
Deus, por favor, não.
- Shiroyama-san?
- Sim! – Respondi rápido, tentando ao máximo possível secar as lágrimas que ainda insistiam em cair. – Por favor, doutor, como está o Kouyou? Já faz horas que vocês estão lá dentro com ele, só... por favor, me fala que ele ta bem.
O médico olhou-me com compaixão e ali eu soube que Kouyou não deveria estar nada bem. Desesperei-me, os soluços vieram com toda força que só senti braços de algumas enfermeiras tentando me fazer sentar em uma das cadeiras que havia na sala de espera.
- Por favor, Shiroyama-san, acalme-se! O senhor acabou de sofrer um acidente, por favor.
O médico tentava falar comigo, mas eu não ouvia nada. Deus se o Uruha partisse por minha causa...
- Takashima-san bateu muito forte a cabeça, fizemos uma cirurgia para conter a hemorragia no seu cérebro. Ele está estável agora, já está no quarto. Só temos que aguardar ele acordar e ver como ele está realmente. O senhor pode ir vê-lo se quiser! Mas, por favor, mantenha a calma.
Então Kouyou estava bem? Céus.
Uma das enfermeiras trouxe um copo com água, fazendo-me tomá-lo todo, ajudando-me a me recompor. Tomei o mais rápido possível e pedi para que me levassem para o quarto onde Uruha estava.
No caminho, pedi para umas das moças ligarem para os pais de Kouyou, pois eu não tinha forças nem emocional para ligar e dar uma notícia como essa. Prontamente, uma delas disse que ligaria e eu agradeci.
O médico responsável por Uruha abriu a porta do quarto e a cena que vi me machucou mais do que imaginava. Não contive a enxurrada de lágrimas que caiu pelo meu rosto.
Kouyou estava com a cabeça toda enfaixada, os olhos que eu tanto amava estavam arroxeados em volta e a boca tão bonita estava com um corte horrível. E se não fosse os batimentos cardíacos soando no aparelho ao lado de sua cama, diria que ele estava morto, de tão pálido e ferido. Deus, eu tinha feito tudo aquilo com ele.
Cai ajoelhado, minhas pernas simplesmente não aguentaram a carga que atravessou meu corpo com aquela cena. Horas antes ele estava sorrindo para mim, e agora estava ali... ferido, desacordado, imóvel.
Quando o médico ameaçou de me tirar dali, eu tive de me recompor. Eu não poderia ficar mais um minuto sem Uruha.
- Por favor senhor, tome esse calmante – a enfermeira, que aparentava estar bem comovida, deu-me o comprimido e eu o engoli rapidamente, pois precisava daquilo e Kouyou precisava de mim.
Vendo que eu estava mais calmo, o médico informou-me de mais algumas coisas sobre o estado de Kouyou e disse que, se ele acordasse, era para o biparem rapidamente. Logo em seguida, ele saiu junto com as enfermeiras, deixando eu e Uruha a sós.
Aproximei-me da cama, contendo mais lágrimas, e segurei em uma das mãos do meu loirinho, que mesmo ferido e machucado daquele jeito horrível, continuava um anjo lindo, o meu anjo.
- Kou, me perdoe – Não contive o soluço, beijando a mão cuidadosamente – Eu tinha planejado tudo, eu pensei em te levar para um piquenique, mas sei que você odeia os insetos que tem no parque. Pensei em te fazer o pedido em casa, mas eu não queria algo assim. – Disse, olhando atentamente para o seu rosto, enquanto acariciava seu braço – Queria algo que você se lembrasse, mas acho que agora você vai se lembrar da pior forma possível, me desculpa meu amor, eu te amo tanto, eu...
Mais lágrimas manchavam meu rosto, mais soluços, era inaceitável aquilo acontecer logo com Uruha. Comigo.
Logo os pais dele chegaram e entraram no quarto, a mãe desesperada indo abraçar o filho da forma que pode, enquanto o pai...
- Eu sabia, desde que Kouyou saiu de casa, sabia que algo assim aconteceria. – Disse da forma mais rude.
Oh não, não nesse momento, por favor.
- Está satisfeito agora, Shiroyama? Pelo que vejo você está muito bem, enquanto meu filho virou um vegetal.
- CALA ESSA BOCA! – Explodi, assustando não só o pai, mas a mãe de Kouyou, que estava aos prantos ao lado do filho. – Não é hora nem momento para isso Takashima-san, pode botar a culpa em mim, me bater, faça o que quiser porque era eu que estava no controle daquele carro, agora se chamar o Kouyou de vegetal mais uma vez, eu esqueço que o senhor é mais velho e quebro a sua cara.
Diante das minhas palavras de revolta, o pai do Uruha prontamente se calou.
Eles ficaram mais algum tempo com Uruha, enquanto eu saí do quarto para tomar um ar. Não poderia ficar mais ali e achei melhor dar privacidade aos pais do Uruha para que pudessem ficar com o filho e entender a situação. Deixando de lado todos os rancores, eles certamente devem estar na mesma situação de desespero em que eu me encontro.
Eu nunca me dei bem com Takashima-san, pois ele sempre me acusava de ter tirado Uruha de debaixo das suas asas, de ter feito ele fazer a faculdade que tanto queria e que, consequentemente, isso afastou Kouyou do seu escritório. Acusava-me por eu ter feito dele uma “aberração”.
Kouyou sempre me defendia de seu pai, e eu sentia que poderia enfrentar qualquer problema que viesse se ele sempre ficasse comigo, sempre ao meu lado.
Acendi um cigarro, tragando-o fortemente, enquanto ligava para Reita e Ruki, que eram nossos amigos mais antigos. Ruki sempre foi mais ligado ao meu loirinho, enquanto eu e Reita éramos próximos.
Com a voz trêmula, avisei-os do ocorrido e em menos de 5 minutos os dois chegaram. Ruki abraçou-me com tanta força que desmoronei novamente, agarrando-me ao baixinho, pois eu necessitava de um abraço daqueles. Reita apertava meu ombro, tentando me dar mais forças para aquele momento.
Os pais de Uruha já tinham ido embora quando Reita e Ruki entraram no quarto para ver Kouyou, Ruki parecia abalado demais vendo o amigo naquele estado, enquanto Reita o acalentava.
- Cara, e você, tá bem? – disse Reita, aproximando-se, apontando para o corte em minha testa.
Assenti lentamente; o que importava agora era Kouyou.
Logo o médico entrou, avisando que a hora de visitas havia encerrado, e que só o acompanhante ficasse. Reita e Ruki despediram-se e saíram.
E foi assim durante 2 torturosos dias.
Eu não havia saído do hospital, nem do lado do Uruha, exceto para tomar banho, comer alguma coisa e voltar. Reita e Ruki vinham sempre visitar e saber como Kouyou estava, a mãe de sempre ligava para saber de algo... mas Kouyou não acordava.
Até que um dia, enquanto dormia, sentado na cadeira e com a cabeça apoiada na cama, senti uma movimentação.
Logo, a mão que eu segurava enquanto dormia apertou fracamente a minha. Levantei a cabeça o mais rápido possível, sentindo ela girar.
E ali estava, os olhos dourados tão lindos abertos, tentando compreender o que estava acontecendo, até repousarem em mim.
Felicidade e alívio passaram como eletricidade em todo o meu corpo.
- Kou, Kou – A felicidade era tanta no meu corpo, que eu não sabia como reagir.
Uruha estava ali, finalmente acordado, depois de dias de agonia. Ele estava ali.
Tentei segurar sua mão com a minha, mas estranhei seu movimento, quase assustado demais e repentino.
Ele havia afastado a mão, impedindo o meu toque.
E eu teria sido a pessoa mais feliz em ouvir sua voz depois de tanto tempo, depois de dias vendo-o desacordado, dias de agonia e desespero.
Mas o efeito foi totalmente o contrário quando eu a ouvi. Com aquela pergunta, que me machucou mais uma vez, abrindo uma ferida bem mais funda.
- Quem é você?
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