História Remember me - Anos novos

Dezembro 2017

- Eu nem acredito que é nosso primeiro ano novo sem ela.- Dinah disse encarando o próprio copo e eu suspirei.

- Não precisava tocar no assunto Jane.- Eu resmunguei me sentando ao seu lado.

- Porque, Lauren Jauregui?- Ela perguntou com a voz arrastada por conta da bebida.- Porque? Minha melhor amiga tinha que fazer isso comigo? 

- Eu também não entendo China.- Falei suspirando, ela pegou a garrafa ao seu lado e encheu seu copo mais uma vez.

- Aaaaah!.- Exclamou.- Qual é o problema? Essa vida é uma droga.- Ela disse negando com a cabeça.- Sabe?- Perguntou e eu a encarei.- Eu realmente gosto dela, ela cozinha tão bem, dança tão lindo, é tão bonita e eu quero convida-lá para morar comigo.- Disse dando um gole no copo e eu encarei surpresa.- O que você acha? É... Foi o que eu pensei, cedo demais!

- Não é cedo para nada Dinah.- Eu disse encarando o céu acima de nós.- Olhe para mim, eu deveria ter aproveitado mais, só agora percebi que não é cedo para nada.- Falei me virando para ela que agora tinha a cabeça tombada para o lado e dormia de boca aberta.- Convide ela para morar com você Dinah, não custa nada pensar no futuro.- Eu disse dando dois tapinhas em sua perna e levantei.

Dezembro 2012

- Lauren, você não pode fazer isso.- Ela exclamou gargalhando.- Pare de roubar minhas rabanadas.

- Só mais um pedacinho, Camz.- Eu implorei a abraçando.

- Eu disse para você pegar mais de uma.- Disse me extendendo a rabanada.- Mas você disse: "eu estou satisfeita Camz".- Falou imitando a cena que tinha ocorrido a menos de cinco minutos atrás.

- Você é a melhor namorada de todo o mundo.- Eu disse apoiando-me na madeira que cercava a varanda da casa na árvore.

- Eu sei disso.- Disse sorrindo com a língua entre os dentes.- Onze segundos.- Disse olhando para o relógio no pulso.

- Dez..- Eu disse me virando para ela.

- Nove...-Rebateu me encarando.

- Oito...

- Sete...

- Seis...

- Cinco...-Passou os braços em meu pescoço.

- Quatro...- Envolvi minhas mãos em sua cintura.

- Três...- Sussurrou bem perto do meu ouvido.

- Dois...- Eu disse perto de seus lábios.

- FELIZ ANO NOVO!- Gritamos juntas antes de colarmos nossos lábios com todo nosso amor.

- Mesmo quando só estavam só passando um tempo, não estavam só passando o tempo. É como se todo o tempo que passassem juntos sempre fosse importante.- Ela disse depois do beijo.

- Quem disse isso?- Perguntei curiosa.

- Um cara num livro.- Falou sorrindo.

- E era sobre o que?

- Um casal em um filme.- Disse dando-me um selinho.- O que eu quero dizer é que ele podia estar falando da gente.- Falou sorrindo. <<Referências... referências.>>

- Isso é verdade.- Sorrimos antes de nos beijarmos mais uma vez.

- Feliz ano novo, Lolo.- Disse alisando meu rosto.- Eu amo você.

- Feliz ano novo, Camz.- Eu disse dando-lhe um selinho.- Eu amo você.

- Kaki!- Fomos interrompidas por uma Sofi emburrada.- Mamãe mandou vocês entrarem, eu estou cansada de todo ano vir aqui chamas vocês.

Eu troquei um rápido olhar com Camz antes de descermos as escadas correndo e pegarmos Sofia no colo e sairmos disparadas para dentro da casa.

Já era perto de quase três da manhã quando eu sai do quarto de Sofi após deixá-la em sua cama já adormecida. Eu entrei no quarto de Camila e depois de fechar a porta, eu a encontrei com as mãos nas costas sorrindo.

- O que você está aprontando?- Eu perguntei desconfiada.

- Nada.- Falou divertida e logo veio em minha direção rodeando os braços em meu pescoço.- É que é nosso primeiro ano novo como namoradas e eu só estou feliz.

Nós sempre passávamos os natais com nossas famílias e os anos novos juntas.

- Eu também estou muito feliz por isso, parece surreal.- Confessei segurando sua cintura, ela começou a movimentar seu corpo levemente nos fazendo iniciar uma dança lenta.

- Eu espero poder passar todos eles ao seu lado, Lauren.- Disse inserta e eu suspirei.

Ela teve mais dois pesadelos como o primeiro, isso acabou a deixando insegura e as vezes distante. Camz tinha medo de ser esquecida por mim e mesmo eu dizendo diversas vezes que isso seria impossível, ela ainda não tinha total segurança em minhas palavras.

- E vai amor.- Falei e dei um selinho em seus lábios.- Vamos passar muitos anos novos juntas, Camz.- Eu enterrei meu rosto em seu pescoço e continuamos nossa dança.- Eu prometo.- Sussurrei perto de seu ouvido.

Camila estremeceu quando os gritos a alguns metros do seu quarto começaram, eu sabia que tinha algo diferente acontecendo entre os pais da minha namorada. 

- Meninas?- Sinuhe deu duas batidinhas na porta com o rosto um pouco vermelho.

- Entra mãe.- Camila pediu e nos afastamos.- Desculpe, esqueci da porta.

- Tudo bem querida.- Sua mãe disse caminhando até a cama e deixando dois cobertores para nós.- Pode deixá-la fechada hoje, está um pouco frito.

Não era só por causa do frio, ela queria abafar os gritos que ainda estavam por vir.

- Okay!- Disse retribuindo o beijo de sua mãe.- Boa noite!

- Boa noite meninas.- Desejou depois de beijar minha testa, ela deu um olhar em minha direção ao perceber a cara da filha e eu apenas dei a ela um leve aceno com a cabeça, Sinu fez o mesmo e logo saiu fechando a porta.

Eu caminhei em silêncio até a cama e abri um dos cobertores. Tirei meus sapatos e logo depois minha jaqueta, abri uma das gavetas do armário de Camz e peguei minhas roupas que sempre ficavam lá. Tirei minha blusa e vi que Camila encarava cada um de meus movimentos, eu pensei em vestir meu moletom mas decidi pegar uma blusa de mangas longas, vesti minha calça de moletom e caminhei em direção a minha namorada. Peguei na barra de sua blusa e a puxei para cima vendo-a apenas de sutiã, ela não se opôs, peguei meu moletom e a ajudei a vesti-lo, me abaixei e comecei a tirar seus sapatos. Olhei para cima e fixei meus olhos nos delas como um pedido mudo de permissão para descer a calça que ela vestia, e quando tive certeza que podia o fiz. Nós ainda não tínhamos confiança para isso, desde que começamos a namorar nós nunca mais tínhamos trocado de roupa na frente uma da outra.
Depois de ajudá-la com as roupas, eu a puxei até a cama e nos deitamos lado a lado. 

- Porque você faz promessas que nem mesmo você quer fazer, Lauren?- Ela perguntou e eu suspirei.

- Porque eu tenho medo de não conseguir cumpri-las, por isso as evito.- Respondi com sinceridade.

- Então, você só faz porque eu insisto, não é?

- Talvez você me pressione um pouquinho.- Disse de forma brincalhona.- Mas eu acho que já as prometi há muito tempo.- Eu peguei a mão dela e coloquei sobre meu peito.- Aqui!

- Eu queria ao menos fingir ser forte pra você.- Ela confessou.

- Você não precisa ser forte pra mim, assim como eu não preciso ser sempre forte pra você.- Falei fazendo carinho em sua bochecha.- Sua vida pode estar uma merda hoje, amanhã e depois de amanhã. Mas eu vou estar aqui com você, vou te apoiar e só vou sair do seu lado se você quiser que eu saía. 

- Minha mãe fica agindo como se não importasse, mas eu sei que ela chora sempre que está sozinha, ou pelo menos acha que está.- Eu sabia que tinha alguma coisa diferente com os pais de Camila, só que não achei que esse era o motivo dessa insegurança toda dela.- Meu pai diz que sempre está trabalhando mas outro dia eu passei no escritório para convida-lo para um almoço, como antigamente e sua secretária disse que ele estava trabalhando em casa já há algum tempo e que só aparecia no escritório em caso de urgência.- Eu limpei a primeira lágrima que desceu de seus lindos olhos.- Quando ela viu minha cara surpresa, foi humilhante, o olhar de pena em seu rosto. 

- Você acha que ele pode... estar?- Perguntei com certa incerteza.

- Não é óbvio, Lauren?- Perguntou com o maxilar travado.- Sempre fazendo viagens ou chegando tarde, ligações de trabalho que ele fala aos sussurros, cheiro de perfume feminino que não é de nenhuma das três mulheres que moram com ele. Não é possível que um escritório de arquitetura com dois sócios de tanto trabalho assim, não é mesmo?

- Camz, e-eu...

- Tudo bem, Lauren.- Ela disse me cortando.- Não é como se fosse uma coisa rara de acontecer, o tempo todo tem gente se separando por aí, não é como se fosse uma coisa surreal.

- Não faça isso.- Eu pedi séria.- Não comece a agir como se não se importasse, porque eu sei que se importa, eu também sei que seus pais são a coisa mais importante do mundo para você. 

- Você tem razão, eles são.- Disse chorando.- Mas eu não posso consertar um casamento perdido, não posso pedir a meu pai que fique quando ele finalmente criar coragem pra dizer que está indo embora, não posso dizer a minha mãe que vai ficar tudo bem e nem a minha irmãzinha o motivo do nosso pai nos abandonar.

- Amor, você não precisa pedir a ele para ficar, não precisa dizer a sua mãe que vai ficar tudo bem, nem vai precisar dizer a sua irmãzinha o porque do pai de vocês ter ido embora. Ele vai fazer isso, ele vai conversar com vocês, pode ser difícil no começo e vai ser, mas quando ele se for, sua mãe vai voltar a ser feliz e isso não significa que ele não vai ser mais seu pai ou de Sofi. Ele só não vai mais morar aqui.

Eu não recebi nada como resposta, ela apenas virou de costas para mim e eu a abracei, fazendo uma concha com nossos corpos.

•••

- Não faça barulho, Lauren ainda está dormindo.- Camila disse e ouvi o barulho da porta fechando e o colchão ao meu lado afundar.

- Kaki?- Sofi a chamou e Camz fez um som nasal para que ela continuasse.- Se um dia você e a Lolo morarem juntas como papai e mamãe você promete não se esquecer de mim?- Perguntou envergonhada.

- Claro que eu nunca vou me esquecer de você Sofi.- Camz disse desesperada e surpresa pela pergunta da irmã.- Quem vai cuidar dos meus filhos com a Lauren?- Ela perguntou e a mais nova gargalhou baixo.

- Kaki, Lauren não gosta de crianças e não vai ter elas com você.- Sofi disse séria.- Ela disse que eu sou a única criança de sua vida e a única que ela gosta também.

- Lauren é uma estupida Sofia, ela não sabe o que fala.- Camila disse brava cruzando os braços e Sofi riu ao perceber que eu as observava.- Nós vamos ter cinco filhos e se ela continuar com isso, serão dez deles.

Minha namorada estava de costa para mim e sentada na ponta da cama, então foi fácil empurra-lá.

- LAUREN!- Ela gritou do chão enquanto eu e Sofi gargalhávamos.- Sua maldita estupida!- Exclamou com raiva.

- Não me chame de estupida sua banana podre.- Eu disse ainda sorrindo e foi o tempo dela levantar como um raio e me levar para o chão do outro lado da cama junto com ela.- Ai Camz! Eu só estava brincando amor.

- Vamos Sofi, deixe essa estupida pensar sobre...- Me encarou antes de abrir a porta.- "Eu só estava brincando amor".- Me imitou antes de bater à porta me deixando sozinha no chão de seu quarto.

Depois de escovar os dentes, eu desci as escadas vendo todos já na mesa do café, inclusive Dinah que sorriu largo ao me ver.

- Bom dia!- Desejei a todos.

- Olha só isso.- Falou empolgada vindo em minha direção.- Quanto tem amiga, não nos vemos desde o ano passado, certo?- Perguntou me abraçando e eu neguei revirando os olhos.

- Jura? Nem senti sua falta.- Eu disse com um sorriso falso e ela me olhou incrédula.- Feliz ano novo, Jane.

- Feliz ano novo, Jauregui.- Desejou-me de maneira desanimada.

- Tome café e me deixe roubar sua namorada um pouco.- Disse me empurrando em direção à mesa.- Ande Camila, ainda tenho que pegar meus irmão na casa dos meus tios.- Gritou subindo as escadas.

- Eu estou indo, okay?- Perguntou e eu assenti enquanto misturava o leite com café na minha caneca.- Quando terminar você sobe?

- Pode deixar.- Concondei com a cabeça sorrindo e ela assentiu antes de se retirar.

Era estranho estar na mesa com Sinu e Alejandro, antigamente eles me lembravam meus pais, sempre animados na mesa, se olhando de forma apaixonada e de alguns meses para cá, era como estar na mesa com dois estranhos. Eles eram o casal que eu admirava, era por causa de casais como eles que eu ainda acreditava no amor e era por causa de casais como eles também, que eu desacreditava às vezes.

••

- Você tem que parar com isso, Mila.- Eu parei de andar ao ouvir o tom repreendedor que Dinah usava.- Lauren não vai te abandonar, essa menina é louca por você.- Eu me aproximei mais da porta.

- É só que...- Suspirou antes de falar.- Meu pai também era louca pela minha mãe, China.

- Camila, seus pais cometeram erros e não é porque eles são seus pais que você está destinada a fazer o mesmo com Lauren e nem ela com você.- Dinah disse e eu suspirei deslizando pela parede até o chão.

- E se ela não me quiser mais Dinah? Você viu como a Marie olha pra ela? E se ela simplesmente cansar de mim e arrumar outra mais bonita e melhor que eu e se...

- Pare de pensar nos "se" Mila, eu conheço Lauren minha vida toda, ela nunca gostou tanto de alguém, ela nunca viveu tanto por alguém, Lauren nunca amou alguém como ama você Camila.

Era hora daquela conversa totalmente sem sentido acabar, eu estava chateada e resolvi intervir antes que eu ouvisse mais besteiras.

- Entra.- Camila disse depois de eu dar duas batidas em sua porta entre aberta.- Oi amor.

- Eu vou indo, só passei mesmo para desejar feliz ano novo para minhas melhores amigas.- Dinah disse levantando da cama beijando e a testa de Camila, fazendo o mesmo em minha bochecha.- Tchau, amo vocês.- E foi embora nos deixando sozinhas.

Eu encostei meu corpo na porta atrás de mim, ficamos em silêncio apenas observando uma a outra.

- Você ouviu não foi?- Perguntou envergonhada e eu apenas afirmei lentamente com a cabeça.- Desculpa.- Pediu com a cabeça baixa.

- Não precisa se desculpar.- Eu disse séria.- Eu que devo, por ser uma péssima namorada. Eu devo ser uma realmente ruim pra você pensar sempre que eu vou te abandonar.- Meu tom de voz foi rude, eu estava realmente chateada.

- Lauren...- Ela começou mas eu a interrompi. 

- Não, Camila!- Eu disse um pouco mais alto assustando a menina em minha frente.- Eu estou cansada, você não confia em mim!- Falei suspirando alto.- Camz... amor, eu amo você, amo tanto e você parece nunca lembrar disso. 

- Eu também amo você Lauren, é só que...- Respirou fundo antes de continuar.- Eu acho que esse é o problema, e se eu não for o suficiente? E se você perceber que eu fui um erro?

- Você é o suficiente e nunca vai ser um erro!- Eu disse firme, ela era mais que o suficiente.

- E se eu não for a pessoa certa?

- Você é!

- Tem certeza?

- Eu tenho toda a certeza do mundo.- Disse me sentando ao seu lado e a puxando para um abraço de lado.- Sabe porque?- Ela negou com a cabeça.- Porque meu coração me contou.- Ela riu pelo nariz.- Ele inclusive me disse que eu tenho sorte por ter você em minha vida. 

Ela levantou a cabeça e me encarou por alguns segundo antes de falar:

- Eu sou muito feliz por te amar, sabia?

- Aconteça o que acontecer amanhã ou no resto das nossas vidas, agora estou feliz por amar você também, Camz.

•••

Janeiro 2018
Narrador pov

Um bar sujo no meio de Nova York tocava uma música qualquer enquanto a mulher circulava a borda do copo de whisky com a ponta do dedo indicador. A mesma era observada poucos metros por outra que já analisava antes mesmo daquela noite.

- Eu sempre observei que você gostava de preto.- Disse ao se sentar no banco.- Mas eu esperava ver você com pelo menos uma peça de roupa branca no ano novo.

Ela arqueou as sobrancelhas por tamanho abuso que escutara.

- Okay...- Disse ao não receber nenhuma resposta.- Eu sou...

- Eu sei quem você é, assim como você sabe quem eu sou, certo?- Perguntou de forma rude e viu a outra assentir.

E após um silêncio extremamente desconfortável a "desconhecida" resolveu se pronunciar.

- E sei sua história e só queria dizer que sinto muito.- Disse levantando-se.- Se precisar de uma amiga ou só alguém para conversar, você sabe meu nome. Feliz ano novo.- Desejou antes de se retirar.