História Remember Me - Sozinho

Sozinho

adj.

1.Que está só, solitário.

2.Abandonado, largado, desamparado.

[Amy P.O.V]

Ethan mais uma vez me decepcionando. Mais uma vez fazendo aquilo que sempre pedi para que ele não fizesse, e desta vez eu não pude aguentar. Eu precisei sair, precisei correr para bem longe de tudo isso que agora me corroía por dentro. Eu precisava de um abraço daquela que esteve sempre lá por mim, mas também já era tarde demais. Quando abri a porta e não encontrei nada lá além do imenso vazio eu desmoronei. Cai de joelhos ao chão e chorei como se não houvesse amanhã. Senti uma dor imensa ao não ver mais minha família ali onde sempre costumavam estar. Não ver minha mãe com o Sam na sala, não ver Dylan na cozinha, não ver os móveis lá, isso tudo me doeu.

O pior foi não ser avisada e nem saber para onde foram.

Continuei ali no chão chorando, os soluços já tomavam conta me deixando com falta de ar. A escuridão por todo lado já não me assustava mais, no estado em que estava eu já não me importaria se alguém me aparecesse para fazer o mal. Tudo o que eu mais desejava naquele momento era minha mãe de volta, na verdade, toda minha vida atarefada de estudos de volta. Isso é uma droga.

Ligo meu celular na esperança de ter alguma mensagem da minha mãe, mas não havia nada além de mensagens do Grayson, e nenhuma do Ethan. Idiota. Se ele soubesse o quanto estou odiando ele agora, ele pensaria muito antes de fazer qualquer coisa. Não que eu seja aquela namorada chata que mande em tudo, mas sei de todos os problemas que ele tem e de todos o pior é a bebida.

Houve um tempo em que ele praticamente se afogou na bebida, não se importando mais com nada além disso. Era todos os dias chegando em um estado deplorável e tudo por conta de que sua mãe encontrou alguém para ela. Ele foi fraco e deixou que a bebida tomasse conta de seu corpo. Basicamente só Grayson sabe o que passamos para fazer com que ele parasse de beber e voltasse ao normal. E hoje ao ver que ele estava voltando a fazer isso novamente, me senti derrotada. Senti como se não importasse, como se todo esforço que fiz tivesse sido em vão. Lembrar disso me dói. É como se eu pudesse sentir tudo novamente o que passei só de lembrar.

Me levanto indo em direção a porta, as lágrimas ainda desciam e não me importei. Estava bem frio e as ruas já vazias. Minha única esperança agora seria Mia, e estava torcendo para que ela me atendesse. Era um pouco mais das dez da noite, e faltavam mais duas ruas para que eu chegasse até sua casa, e confesso que parece a caminhada mais longa que já fiz.

― Posso entrar? – pergunto ao ver Mia na porta me olhando incrédula.

― Claro. – ela abre espaço para que eu passe.

― Obrigada. – agradeço e logo me sento no sofá.

― O que te traz aqui? A essa hora da noite? – ela pergunta.

― Eu não sei se consigo explicar. – respondo desviando o olhar, logo enxugando as lágrimas que ainda caiam.

― Que tal começar desde o dia em que você sumiu do colégio. – ela senta na minha frente e espera que eu comece a falar.

― Tudo bem. – respondo.

Respiro fundo algumas vezes e tento pensar na melhor forma de dizer a ela sobre meus poderes, eu sei que não poderia fazer isso, ainda mais depois de tudo o que ela me fez. Mas sei de todas as razões pela qual aconteceram certas coisas, e vejo que errei em esconder tudo dela, que afinal sempre foi minha melhor amiga.

Começo a contar de tudo o que me aconteceu, desde que descobri dos poderes até o dia de hoje, tentar explicar a ela sobre a nossa missão que foi o mais difícil, eu pude ver o medo em seus olhos, e sabia que de agora em diante eu acabara colocando sua vida em risco. Eu só precisava contar tudo a ela de uma vez, e talvez esse tenha sido o único momento certo. Afinal, nunca sei quando não voltarei de uma missão.

Quando vi seu olhar de espanto para mim, sabia que ela talvez não estaria acreditando. Pensei em uma maneira de mostrar a ela que tudo aquilo era real e então vi novamente a surpresa em seus olhos.

― O que houve com seus olhos? – ela pergunta um pouco espantada.

― Eles sempre mudam de cor quando fico nervosa ou quando sinto perigo. – ela se levanta vindo até mim na intenção de me tocar.

Sendo mais rápida seguro sua mão a impedindo, sei o que aconteceria se ela fizesse isso e não seria uma coisa boa agora.

― Porque não posso? – ela pergunta intrigada.

― Se você tocar no meu rosto, assim como se eu tocar no seu, acabarei vendo coisas do seu passado e antepassados, e isso te deixará fraca e basicamente posso acabar te matando com tanta força que é sugada. – ela se afasta assustada e senta-se no sofá com as pernas encolhidas.

― Tudo bem, evitarei contato. – ela desvia o olhar de mim.

― Também não é assim Mia. Não precisa não olhar para mim. Isso só acontece quando não estou no controle de mim. Geralmente quando estou nervosa. – explico.

― O Ethan já te ligou?

― Não, só Grayson. – esfrego minhas mãos em meu jeans afim de esquenta-las.

― E o que pretende fazer? Se esconder pra sempre? – a encaro tentando entender se foi um sarcasmo ou realmente uma pergunta válida.

― Eu não sei, eu só não quero ficar lá no meio da briga dos dois. Eu já não aguento mais tudo isso.

― Você ainda ama o Grayson, não é? – essa pergunta me fez travar por alguns momentos.

― De verdade, eu não sei. – lamento e não consigo olhar em seus olhos. – Por favor, não me julgue por isso. É que o Grayson sempre esteve lá comigo, e me acostumei com ele que nunca parei pra pensar que eu estava fazendo ele sofrer com isso. Eu não sei se você entendeu.

― Eu entendi Amy, mas você já pensou que tudo isso que o Ethan fez e passou, possa ser por conta disso? Talvez ele ache que você não o ame mais e só está com ele por obrigação. E agora eu te pergunto, você o ama mesmo?

― Claro que amo, Mia. Amo o Ethan mais que tudo, é só que. – suspiro e começo a chorar.

― É só que você ainda se sente dividida entre os dois. – nego com a cabeça pois isso não podia ser a verdade.

― Não, Mia. Eu amo o Ethan, nada vai mudar isso. – falo convicta. – Eu só preciso de um tempo pra digerir tudo isso que está acontecendo.

Me levanto e começo a andar de um lado a outro um pouco nervosa. Será mesmo que eu ainda amo o Grayson e não percebi? Eu não posso responder a isso certamente, os dias que se passaram tem corrido tão confuso que as vezes nem mesmo sei o que comi. Mia continua me encarando certa de que o que disse é a verdade e eu continuo a negar para mim mesma. Isso não pode ser possível. Não é.

― Você vai cavar um buraco no chão se continuar assim. – ela diz vindo em minha direção me segurando. – Vem, tome um banho e depois vamos comer algo.

Concordo apenas seguindo-a até seu quarto.

[...]

― Está se sentindo melhor? – Mia pergunta.

― Um pouco. – respondo encarando meu celular que não parava de tocar. – Sabe, eu nunca tive tempo de vir aqui te pedir desculpas.

― Não é você quem me deve desculpas, sou eu quem devo pedir. – ela parece chateada. – Fiz tanto mal a você nesse tempo que me sinto idiota por isso.

― A verdade é que está tudo ainda tão confuso. – respondo-a segurando em sua mão como forma de conforto.

― Olha, atende esse telefone pelo amor de Deus, já não aguento mais ver você encarando ele sem atender. – ela pede sorrindo e eu apenas sorrio de volta.

― Não sei se devo. Pode ser o Ethan ligando do celular do Grayson. – coloco o celular de lado ainda o observando.

― Mande uma mensagem. Pergunte algo que vocês fizeram que mais ninguém sabe.

Paro para pensar, talvez seria uma boa ideia. Mas não sei se estou pronta para falar com Grayson, tudo aconteceu não tem nem vinte e quatro horas. Droga.

Se for o Grayson, diga-me uma coisa que só nós dois sabemos.

Se lembra de quando você estava no hospital e logo que chegou enquanto você tomava banho eu preparei um sanduiche para você, e logo depois fomos para o seu quarto. Você estava caindo de sono, eu te peguei no colo e te carreguei até o seu quarto...

Ok, me ligue agora.

O celular toca e atendo rapidamente.

― Diga. – falo logo.

― Onde você está Amy? Estou preocupado com você. – sua voz sai como um sussurro.

― Eu estou bem Grayson, vou ficar bem. – respondo um pouco ríspida.

― Ethan destruiu quase o apartamento inteiro, ele perdeu o controle eu não sei o que fazer. – ele continua sussurrando, sei que é para Ethan não ouvir.

― Me encontre no parque. Em dez minutos.

Antes que ele possa responder desligo o telefone e me levanto da cama. Mia me encara incrédula, e eu apenas peço que ela tenha calma e abro a janela.

― Você não vai pular, né? – sem responder pulo da janela e logo vejo ela me olhar assustada por me ver voando. – Eu devo estar louca. Toma cuidado, tá?

Mia não mora muito longe do parque, era exatamente o tempo que gastaria para chegar lá. Do alto consigo pensar melhor no que irei dizer a ele. Talvez eu deva desistir dessa missão e assim conseguir ter paz. Ou talvez eu deva ir embora para um lugar bem longe, onde nada irá atrapalhar Ethan e eu. Mas talvez a certeza que tenho é que eu devo me afastar do Grayson.

Já no parque caminho até um ponto em que sempre ficávamos, e já o vejo lá inquieto, andando de um lado a outro. Quando me vê corre em disparada me abraçando forte a ponto de tirar meus pés do chão. Antes mesmo de dizer alguma coisa já começo a chorar e sei que não conseguirei dizer tudo aquilo que pensei.

― Onde você está ficando, doce? – ele pergunta e eu ignoro.

― Isso não vem ao caso agora. Eu quero que você se afaste de Ethan e eu.

Não sei descrever a dor que sinto agora por dizer essas palavras. Grayson literalmente estava pálido, como se estivesse vendo um fantasma a sua frente. Sei que essas palavras foram como tiros em seu peito, assim como foram no meu.

― O que? Porque? Porque agora? Eu não consigo entender. – sua mão vai até sua testa, vejo preocupação em seus olhos.

― Não tente entender Grayson, será melhor assim. Confia em mim. – sem olhar para ele o respondo.

― Não, Amy! Eu não vou fazer isso. – ele grita. – Eu não vou te deixar, ainda mais agora. Precisamos estar unidos, você não se lembra disso?

― Sim, eu me lembro. Mas algo de errado está acontecendo, e preciso dessa distância por um tempo. – dou as costas para ele, mas ele segura meu braço me virando para ele.

― Você não pode fazer isso. Me diz o que está errado? Eu posso tentar mudar. – ele parece desesperado.

― Não, você não pode. Você só precisa se afastar. – repito.

― Porque? – ele grita desesperado.

― Porque eu acho que ainda amo você. – grito de volta e sinto lágrimas caírem descontroladamente.

― Eu também amo você, e você sabe disso. Mas nunca fiz nada para interferir no seu relacionamento com o Ethan. – ele agora também chora. – Você se lembra que me sacrifiquei por vocês dois? Você acha que outra pessoa faria isso? Deixa a pessoa que você ama ir com outro?

― Eu não acho nada, Grayson. – seguro em minha cabeça que agora começa a doer. – Eu só quero um pouco de paz.

Começo a sentir nós se formarem em minha garganta, e tudo o que faço é gritar. Esse ainda continua sendo o único jeito de me aliviar da tensão. Era como se meu grito me libertasse de tudo aquilo que estava me deixando aflita. Sei que ele não resolve tudo, mas me ajuda sempre em que estou desesperada com algo, desde que eu não esteja perto de tantas pessoas.

Grayson está com as mãos em seus ouvidos e não consigo ouvir o que ele tenta dizer. De relance, sinto ele me abraçar forte me impedindo de gritar, meus joelhos batem no chão junto aos dele e continuo a desabar em seu abraço agora.

― Eu não posso deixar você, Amy. – ele sussurra.

― Mas você precisa ir. – tento me manter firme.

Me afasto dele logo me levantando. Eu preciso sair dali, antes de mais alguma palavra dele me faça mudar de ideia.

― Ethan ia te pedir em casamento. – essas palavras foram o suficiente para me fazer parar e entrar em choque.

― Grayson, isso não é hora para mentiras.

― E quando foi que eu menti para você? – ele me encara sério.

― Quando? Quando Ethan te disse isso? – pergunto.

― Na noite em que você foi até meu quarto. – ele não olha para mim.

Sinto como se tudo aquilo que aconteceu fosse uma armação. Ethan disse antes ao Grayson e logo ele tem pesadelos fazendo-me dormir com ele. Eu não posso acreditar que ele possa ter feito isso com o próprio irmão. O pior de tudo que o que ele fez foi destruir o Ethan novamente, fazendo com que ele voltasse a beber. Maldito!

― Você armou tudo. – digo segurando a raiva.

― Não, claro que não. Você pode acessar minhas memórias, você vai ver que eu não armei nada. Eu juro. – ele se levanta desesperado e quando vai tocar em mim eu desvio.

― Não toca em mim. – digo respirando fundo. – Adeus, Grayson.

Continua...