História Remember Me - Sangue, suor e lágrimas

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Sangue, suor e lágrimas

                 – Sério, eles me obrigaram a usar isso a semana inteirinha! Foi horrível! – disse Jimin num tom dramático apontando para o suéter que estava usando, o qual considerava horroroso.

                Não demorou muito para ouvir a risada exagerada do namorado, o que o fez rir também. Ambos estavam se comunicando por um aplicativo de celular, já que não estavam mais aguentando a saudade. O garoto ouviu sua mãe chamar-lhe para entrar no carro, então resolveu que era hora de se despedir do outro.

                – Tenho que ir. Estarei aí em mais ou menos cinco horas. Eu te amo.

                – Eu também te amo, Chimchim. Venham com cuidado, estarei te esperando.

***

                Jimin dormia tranquilamente no banco de trás do carro, alheio ao caminho que percorriam no retorno ao lar. Seus pais conversavam sobre assuntos aleatórios num tom baixo para não acordar o garoto. A família havia viajado a fim de rever alguns parentes e amigos de Busan e agora retornavam à Seul. Não havia muito trânsito na estrada, portanto logo chegariam em casa; a viagem teria sido um sucesso se não fosse pelo acidente. Aconteceu apenas a alguns metros da residência da família. Um motorista, que posteriormente se assumiu bêbado à polícia, dirigia em alta velocidade e acabou colidindo com o veículo numa esquina pouco movimentada.

                Jungkook estava fazendo alguns trabalhos para a faculdade quando recebeu a notícia. Um anônimo havia encontrado o celular de Jimin fora do carro e ligou para um dos contatos indicados na lista de quem contatar em caso de emergência. O garoto deixou o celular escorregar por entre seus dedos e cair no chão. A única coisa que era capaz de sentir era seu coração batendo de maneira acelerada. Correu para fora da casa, sem se importar por estar usando um pijama considerado infantil. Também não ligou para o fato de que seu namorado morava consideravelmente longe; ele não teria tempo para esperar um ônibus ou qualquer coisa do tipo. Ele não se sentia cansado, a adrenalina e o medo presentes em si eram maiores do que qualquer outra coisa. Seus pés descalços ardiam e provavelmente estavam machucados por conta das pedras que deveriam estar no meio do caminho. Chegou ao local do acidente e só então sentiu o cansaço e a dor. Seu peito doía como o inferno – ele só não sabia dizer se era pela corrida ou pela cena que infelizmente presenciava.

                Boseon, pai de Jimin, estava sentado no meio-fio com apenas alguns arranhões no rosto e nas mãos. Ele mantinha uma expressão aérea, desatenta, como se sua mente estivesse em outro lugar. A mãe do garoto aparentemente havia acabado de sair do veículo, com sangue escorrendo por um dos braços, olhos perdidos e marejados, gritando para os paramédicos ao redor que a ignorassem e ajudassem o filho.

                Acontece que o impacto maior da batida havia sido exatamente na parte onde Jimin se encontrava. A porta estava completamente destruída e fora o maior sufoco tirar o garoto de lá sem causarem maiores danos. Jungkook consegue lembrar perfeitamente de todos os detalhes; Seu amado estava coberto por sangue. Em seu rosto angelical estavam algumas partes do vidro da janela que havia se desfeito por completo e em seu braço haviam ferimentos de tamanho considerável. Sua perna direita estava quebrada e encontrava-se em um ângulo estranho, e tudo aquilo fez o estômago do Jeon revirar. Sentia-se tonto, impotente. Queria gritar, mas nenhum som lhe saía da boca.

                A primeira coisa que viu foi o sangue. Depois, sentiu o suor escorrendo pela testa, causado pela correria. Logo em seguida, as lágrimas invadiram-lhe os olhos e sua visão ficou embaçada. Seus pulmões imploravam por ar, suas pernas fraquejavam, seus lábios tremiam e sua garganta emitia sons estranhos, como soluços que ficaram entalados no meio do caminho. Observava com pesar o namorado desacordado sendo carregado às pressas até a traseira da ambulância. Ele só queria que Jimin estivesse vivo. Não era um garoto religioso, mas naquele momento rezara para todos os deuses existentes e inexistentes para que mantessem seu garoto vivo.

                Precisou sentar-se antes que caísse ou desmaiasse ali mesmo. Sentia-se extremamente fraco e os soluços antes reprimidos agora eram soltos para quem quisesse ouvir. Cobriu o rosto com as mãos e tentou respirar fundo para que se acalmasse, porém seu ato fora em vão – apenas desesperou-o ainda mais. Ficou ali chorando por mais um bom tempo, tentando digerir tudo aquilo.

***

                O Sol já não se fazia mais presente e o cansaço – tanto físico quanto emocional – se alastrava por seu corpo, porém Jungkook continuava firme no hospital. Caminhava de um lado para o outro, impaciente, aflito por não ter notícia alguma até então. Seokjin estava sentado numa cadeira próxima dali, tão cansado que sua cabeça tombava para o lado e seus olhos fechavam automaticamente.

                O moreno já havia derramado tantas lágrimas que ao menos conseguia manter os olhos completamente abertos. Estavam vermelhos, assim como seu nariz, e muito inchados, quase como se estivesse com uma alergia forte. A visão estava embaçada e tudo em si pedia por um descanso, porém ele não podia se dar ao luxo de dormir ali e perder qualquer notificação do estado de seu amado. A respiração estava pesada e a cabeça doía por conta do choro contínuo. Estava prestes a roer o pouco que restara de suas unhas quando o médico responsável por Jimin apareceu em sua frente.

                – Familiares de Park Jimin? – perguntou receoso, apontando para os garotos. Jin acordou em um sobressalto ao ouvir o nome do amigo e Jungkook assentiu freneticamente com a cabeça, logo perguntando com a voz desgastada como ele estava – Ele precisou passar por uma cirurgia na perna para que pudéssemos recolocar o osso quebrado no lugar e... Bem... Sugiro que o senhor se sente.

                Mesmo estranhando o pedido, Jeon o fez de imediato. Sentou-se ao lado do loiro e esperou pelas palavras do profissional.

                – Preciso lhes informar de que Park Jimin encontra-se em coma. Pode levar algum tempo até que acorde novamente...

                O moreno parou de ouvir qualquer ruído existente naquele local. Sua mente focava na palavra “coma” e nada além disso.

                – Quanto... Quanto tempo? – perguntou com a voz trêmula, sem coragem alguma para encarar o médico.

                – Não sabemos ao certo... Podem demorar meses, ou então alguns anos. Na situação dele, estimamos cerca de um ano.

                Sua respiração falhou por diversas vezes e ele levou a mão à cabeça, enroscando seus dedos em seu cabelo. Jin segurou sua outra mão e tentou lhe tranquilizar, entretanto nada parecia funcionar. As lágrimas retornaram agora de maneira mais amena, já que não tinha mais forças para chorar. Sua voz já estava rouca de tantos soluços que haviam escapado por seus lábios entreabertos.

                Não poderiam ver o garoto ainda, portanto Seokjin resolveu que seria melhor voltarem para casa. No carro, o loiro ligou para o namorado e informou-lhe o estado de Park enquanto Jungkook respirava tão fundo quanto podia. Chegando na casa do mais novo, dirigiram-se diretamente ao quarto do mesmo em silêncio. Jeon deitou em sua cama e chorou silenciosamente enquanto Jin acariciava seus cabelos até que ele estivesse adormecido.

                A partir de então os pesadelos apenas começaram.