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História Renegades - Hallelujah


Escrita por: FeJA

Capítulo 1 - Hallelujah


"Esperar" se torna o ato mais doloroso quando se espera por notícias de alguém. Nas sete últimas horas essa vem sendo a minha realidade, espero saber sobre minha mãe, ela está em meio a uma cirurgia muito criteriosa para a retirada de uma bala alojada na cabeça quando o meu pai em meio a uma revolta em busca por dinheiro pra manter seu vício acabou descontando nela e depois ao ver seu erro atirou em si mesmo. Ele morreu na hora, e ela está ali pagando por uma sequência de escolhas erradas tomadas por ele.

– Lucy Hale – Um homem vestido com roupas do operatório e com a máscara abaixada sob o queixo chamou a minha atenção, me levantei abruptamente pronta pra ouvir suas palavras. "Por favor Deus, ela tem que estar bem, ela tem que estar bem!" Ficava repetindo internamente desejando que aquelas palavras tomassem magicamente um poder de fazê-las reais.

– Sim, sou eu mesma – Falei com a voz embargada dado o momento emocional ao qual me encontrava. Ele começou a me olhar com uma cara de piedade e ali eu já estava me preparando para o pior.

– Fizemos todo o possível, lamentamos muito a sua perda –Apenas isso? "Fizemos todo o possível"? Eu não queria o possível, queria  que a salva-se, queria a minha mãe comigo. Meus pés fraquejaram e ali eu senti que eu estava sozinha, o que era bem uma verdade eis o fato de que a única pessoa que me restava nesse mundo acabou de me deixar, ela não podia ter feito isso comigo, eles não deveriam ter deixado ela fazer isso comigo, talvez não existisse alguém olhando por nós, talvez não existisse um Deus e tão pouco uma justiça. Senti algumas mãos me segurarem, talvez fosse uma enfermeira ou algo do tipo, não cheguei a notar, meu coração parecia ter parado. Não, ele realmente havia parado, ela era meu coração e se foi. As imagens ficaram turvas repentinamente, não havia mais chão, ou ao menos meu corpo se rendeu a gravidade e pendeu.

Estava desacordada.

                             [...]

POV Johannah

– Pode suspender a medicação, creio que ela não correrá mais riscos – Falou Claire, uma gentil enfermeira que me deu assistência o tempo inteiro desde que cheguei aqui pra ver a minha afilhada.

– Nossa, fico muito feliz - sorri indo até a cama e peguei a mão da Lucy.– Receio que ela não ficará nada feliz em saber que perdeu o funeral da mãe, mas também sei que não aguentaria – acariciei sua cabeça e depositei um beijo na mesma.

– Ela repetiu inúmeras vezes que não lhe restou mais ninguém. Sua relação com ela era tão distante assim? – a pergunta me surpreendeu, aparentemente a Mila não lhe contou sobre mim, e era de se esperar, eu no lugar dela também optaria por esquecer todos aqueles ligados a um passado tão triste.

– Bem, eu e ela nos distanciamos desde que a Lucy nasceu – Respirei pesadamente –Mas nunca deixei de me importar com elas.

– Entendo – Ela não parava um minuto, estava organizando as coisas da Lucy pra podermos ir embora.

– Como andam as coisas por aqui? – O Troy entrou no quarto, nitidamente impaciente, mas mesmo assim havia feito muito pra me ajudar.

–Pode começar levando essa mala pro carro.– Ele apontou pra a grande mala ao meu lado.

–Não, não. Eu fui buscar na casa dela, achei que ela não quisesse voltar pra o lugar onde assistiu toda essa desgraça.

– É, você sempre pensa em tudo. – Ele veio até mim e depositou um selinho em meus lábios. Sorri o olhando pegar a mala e logo depois se retirar.

– Ele é muito prestativo, já é a décima vez hoje que vem se disponibilizar – Claire, falou contente executando seu ofício.

– É, eu o adestrei bem – Falei meio baixo como se estivesse confidenciando a ela essa informação e ela deu uma risadinha.

                        [...]

POV Lucy

– É, eu o adestrei bem – Ouvi a voz de uma mulher seguida de uma risadinha e aos poucos fui abrindo meus olhos – mãe! – a chamei, queria entender como havia parado ali, e onde ela estava.

–Oi Lucy! – Uma mulher que aparentava estar no auge dos seus trinta anos segurava a minha mão.

– Quem, quem é você? – A olhei um tanto nervosa – Onde está a minha mãe?!

–Ô minha querida – Ela tinha um certo "pesar" na voz – Por acaso não se lembra o que aconteceu com ela? – de fato, agora eu lembrava, de tudo. De estar estudando em meu quarto e de ouvir dois disparos, desci apavorada procurando a origem daquele som, me deparei com a minha mãe ensanguentada no chão ainda consciente e meu pai caído ao seu lado segurando uma arma. Me lembro de gritar e chorar desnorteada, os vizinhos entraram em minha casa e ligaram pra a polícia, que enviou uma ambulância. Dei meu depoimento e depois vim parar aqui, onde tive a pior notícia de toda a minha vida. Minha mãe morreu.

–Então é verdade? – Senti meu coração se comprimir parecendo encolher e ficar cada vez menor, meus olhos marejaram  e logo eu estava chorando outra vez.

– Não chore, ao menos não mais – Ela secou as minhas lágrimas com o dorso de sua mão, parecia tão abalada quanto eu. – Ela está em um lugar melhor agora.

– Ela não pode ter me deixado! Ela me abandonou aqui – mordi meu lábio inferior tentando parar de chorar.

– Menina, não encare as coisas dessa forma, você tem que ser forte, sempre haverão pessoas por você – Uma enfermeira que estava ali, falou.

– Tudo bem, mas e quanto ao enterro? – Não queria mais apertar a mesma tecla, teria que me preparar para o funeral dela. Sei que agora, mais do que nunca, eu teria que reunir forças. Me concentrei em meu interior, buscando alguma parte de mim que ainda se mantia em bases fixas, utilizaria isso como meu novo pilar.

– Lucy, conversaremos sobre isso quando estivermos em casa – a mulher parecia evitar tocar nesse assunto.

– Não sei se entendeu, mas a minha mãe é a coisa mais importante pra mim agora, e não vou a lugar algum com alguém que nem ao menos conheço! – Já estava impaciente.

– Querida, sua mãe foi enterrada ontem – Ela tentou falar da forma mais clara possível, e não sei se era possível ser mais clara que isso.

– Vocês sequer me deixaram dar o meu último adeus a ela! – Protestei em indignação.

– Lucy, você não estava em condições, mal conseguia se manter acordada, estava em completo choque, não poderíamos deixar sua mãe em uma geladeira fria por muito mais tempo. – Ainda por cima  a mulher me fala isso? Aquilo acabou comigo, me deixou mais abalada do que realmente estava.

– Chega! Agora você passou dos limites, Não pode falar esse tipo de coisas pra mim! – Exclamei em um tom severo.

–Desculpe se me excedi, não tinha o intuíto de magoá-la, eu realmente não tive essa pretenção – Ela secou uma lágrima que estava correndo por seu rosto, baixei a guarda.

– Não se desculpe, reconheço que não pensei que também está vivenciando essa dor – Suspirei, me sentando na cama e ela me ajudou apoiando sua mão em minhas costas, mas a afastei. – Eu consigo sozinha, estou bem. – me levantei.

– Podemos ir visitar o túmulo dela no caminho para casa – Ela sorriu solidária. Afinal, de quem se tratava aquela mulher que estava sendo tão gentil comigo?

– Desculpe, não a deixei se apresentar ainda. – a olhei enquanto a enfermeira veio até mim segurando algumas vestimentas que reconheci como minhas. As segurei.

– Sou Johannah, sua madrinha. Sei que talvez não exista nenhuma associação sua em relação a mim, mas é que eu e sua mãe nos desentendemos pouco antes do seu nascimento – Ela respirou fundo, pareceu lembrar de algo que a magoava. Por isso decidi não questioná-la quanto a isso.

                           [...]

Tomei um banho e me vesti, Anna –como passei a chamar a minha madrinha – e eu tomamos um breve café na lanchonete do hospital, ela disse que havia um café da manhã me esperando em casa, mas eu insisti por estar sentindo muita fome. Ela e o seu marido, o Troy, foram extremamente prestativos e me deram todo o tempo que eu precisava junto ao túmulo da minha mãe.
Em seu túmulo havia a gravura fúnebre feita em mármore:

             Mila Baldwin Hale
         
                   1982 - 2016

   Mãe amada e amiga honrada

–Oi mãe - limpei uma lágrima que estava escorrendo por meu rosto. – É tão estranho falar assim com você, é tão difícil aceitar que agora não tenho mais o seu colo que costumava me acalentar. Lembra mãe? Lembra quando eu caí enquanto tentava aprender a andar de bicicleta? – sorri mordendo meu lábio inferior enquanto  arrumava as flores colocadas pra ela. – Você me disse, que não deveria existir queda maior do que a minha determinação de levantar, mas acho que dessa vez o tombo foi feio demais, e já não te tenho mais pra me  instruir. Eu sei, eu deveria ter aprendido com você, aprendido a ser mais forte, mas isso eu não posso ser, sou incapaz de encarar a falta extraordinariamente cruel que me faz. Nunca mais eu vou ouvir sua voz doce – meu queixo tremia e as palavras saiam pesadas – nunca mais terei seus conselhos tão sábios, nem verei seus olhos, sentirei o cheiro de sua pele, ou terei a calmaria de um abraço tão acalentador quanto o seu. "Outra vez", isso perdeu o sentido pra mim, porque sei que a única coisa que eu desejaria outra vez, não posso ter. Por isso te peço desculpas mãe, por te decepcionar, mas eu vou sim baixar a guarda.– Me levantei e saí dali caminhando pra fora do cemitério. Recebi um abraço da Anna, e um carinho no ombro do Troy, entramos no carro e logo chegamos ao meu novo endereço.

A casa era pequena, como as típicas casas de São Francisco, não muito diferente da que eu vivia com a minha mãe. O interior é que tinha um diferencial, Anne havia dado a casa um ar muito aconchegante com uma decoração minimalista. Fui conduzida ao meu quarto, era o cômodo menos atrativo dali, mas mesmo assim ainda estava agradecida.

–Eu não tive tempo de fazer muita coisa, afinal tinha o funeral pra providenciar – Anna abriu as cortinas deixando a luz natural invadir o ambiente, o que o deixou incrivelmente agradável.

– Ele é perfeito Anna, não sei como agradecer por tudo o que está fazendo – sorri fraco.

– Imagine só, sua mãe teria feito o mesmo por mim.

– Não cheguei a perguntar sobre o que aconteceu com o meu pai – Não sei porque perguntei aquilo, dentro de mim havia alguém que adoraria muito odiar aquele homem pro resto da vida, mas não conseguia ignorar tudo o que passei com ele antes da maldita droga chegar ao nosso lar.

– O funeral dele foi um pouco mais simples, mas também teve uma despedida digna – Dessa vez ela falou com indiferença, ela não tinha porquê ter algum sentimento por ele, afinal não conheceu o lado paterno dele.

– Não sei como eu estaria sem a sua ajuda agora – "Provavelmente em algum abrigo", pensei comigo.

–Não tem que pensar nisso agora. – O Troy subiu com a minha mala a deixando sobre a minha cama.

– Precisa de ajuda pra arrumar as suas coisas? – Anna perguntou indo ficar ao lado dele.

– Não, acho que a partir daqui eu me viro – sorri fraco, e foi o máximo que consegui esboçar em agradecimento.

– Tem alguns cabides no closet, mas se precisar de mais algo é só chamar, agora vamos te deixar a vontade – Assenti e eles caminharam pra fora do quarto logo fechando a porta. Me vi sozinha mais uma vez com os meus pensamentos, mas não me dei tempo pra chorar, ocupei-me em organizar todas as minhas coisas, que não eram muitas. 

                             [...]

Era fim da tarde, por volta das 18:00 h min, hora do jantar, a Anna iria recepcionar o filho que estava acabando de chegar de uma viagem com os amigos, ele não morava aqui, mas parece que tinha que buscar algumas coisas que guardava com ela. Eu não estava com nenhum humor pra enfrentar uma reunião social como essa, mas teria que fazer isso depois de tudo o que fizeram por mim.
Vesti uma camiseta branca simples, uma calça preta e um tênis branco e concordei comigo mesma que assim estava bom, pra quem já não queria nem mesmo descer. Juntei todas as minhas forças e desci.
A sala tava cheia de rapazes todos vestidos de preto, aquilo parecia mais uma congregação ou uma ceita do que uma reunião social, de repente o olhar de todos foi voltado pra mim.

– Eita Louis, você não podia nem esperar pra ir com a gente pra a boate, já tinha logo que mandar trazerem uma garota pra você? – Um rapaz falou em tom de sarcasmo.

– Uma garota dessas? Até eu teria encomendando com antecedência, e garanto que não esperaria
mesmo pra botar as mãos nela– um loirinho falou com um sorriso safado nos lábios.

– Cala a boca Niall, ela é hospede da minha mãe!– O cara que imaginei ser o Louis interviu.

– Johannah, parabéns, você tem excelentes contatos – Esse outro me olhou de cima a baixo com um olhar de cobiça. Me senti ruborisar nitidamente constrangida com a situação.

– Chega, chega meninos! –a Anna finalmente apareceu, os meninos riram juntos com exceção de um garoto, que estava ali sentado, ele sequer ergueu o rosto, e parecia não se divertir com aquela situação. Éramos dois – Essa daqui não é pro bico de vocês, é minha mais nova filha e vocês devem tratá-la com respeito.

– Louis, sua nova irmã é uma gostosa! – o Niall, pelo que ouvi o Louis chamá-lo, falou.

– Eu já disse pra parar Porra!– Ele realmente tinha saído do sério – Mãe, por favor, tira ela daqui.

– Tudo bem, vamos lá Lucy – Ela me conduziu pra a sala de jantar. – Como eu não pude imaginar que ia dar nisso? Esses meninos não tem jeito mesmo. Senta aí querida.– Eu a obedeci, logo estava me sentando à mesa. Os meninos vieram logo depois, não sabia o que o Louis tinha dito, mas voltaram bem mais contidos.

                             [...]

O jantar havia sido bem tranquilo, e pra a minha surpresa até que foi distrativo, consegui manter os meus pensamentos leves até o final dele, até fiquei me questionando sobre a figura mais curiosa ali na mesa, Harry, era o seu nome e foi o máximo que consegui descobrir, ele era muito mais observador e poucas vezes falava algo, apenas descobri isso porque o tempo inteiro a Anna o oferecia algo.
Os rapazes ficaram mais um tempo conversando bobagens na sala, a Anna subiu pra descansar depois de eu muito ter insistido pra cuidar da louça suja.

– Ô garota! – Uma voz rouca chamou a minha atenção, me voltei em sua direção. – Me manda uma Long Neck aí! – O tom foi de prepotência. Era o Harry.

– Não sou sua empregada então se quiser vem pegar! – Se tinha uma coisa que eu não aturava era caras mandões.

– O que disse? – Ele pareceu surpreso e irritado com a minha resposta.

– Eu disse, pra pegar você mesmo seu ótario! – Bufei enquanto voltei ao que estava fazendo. Ele chegou mais perto.

– Me chamou do quê? – Porra, ele só podia ser surdo.

– Tô começando a achar que você sofre de problemas auditivos, seu ótario – Dessa vez dei ênfase a palavra o que foi a gota d'água para ele que avançou contra mim, segurou em meu braço com força e apertou meu rosto entre sua outra mão.

– Escuta aqui sua vadia desprezível, me chama dessa merda denovo que eu garanto que não vou cometer o deslize de te deixar passar ao menos sem uma surra! – Ele começou a gritar do nada, eu que segurava um copo em minha mão, acabei o deixando cair no chão, o mesmo se fez em mil estilhaços.

– Você vai bater em uma mulher? Aí que eu te chamo de Ótario! – Não recuei, por dentro estava me corroendo de medo, mas também estava irada, e essa parte de mim jamais iria baixar a cabeça, por isso continuei com a estupidez de o enfrentar. Ele ergueu a mão pra me bater, mas alguém segurou em seu braço o puxando e desferiu um soco em seu rosto.



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