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História Renovação - Amigos ou não?


Escrita por: LULUNATIC_ e LULUNA2R

Capítulo 7 - Amigos ou não?


  O adolescente encarava Gary de forma totalmente séria, mas logo um sorriso se formou em seus lábios. Um sorriso provocativo que Gary usava com bastante frequência, da mesma maneira.

— Mas o que temos aqui? O famoso adolescente sociopata da cidade. Ainda fico surpreso de como conseguiu sair daquele lugar.

— Pois é, imagino que não tenha sido da mesma maneira que vocês pelo visto. Sua fama, em específico, não é muito melhor que a minha aqui fora.

  Aquele encontro não parecia muito agradável. Como Gary tinha tanta calma em provocar um grupo desse nível que mal conhecia. Era muito informação para a mente nervosa de Pete, ele só conseguia pensar no quanto ele estava realmente arrependido de ter aceitado sair de seu “aconchegante” quarto do dormitório para acompanhar Gary.

— Gary, vamos embora...

     Pete estava totalmente desconfortável, mas quando notou que ao invés de se irritar o jovem delinquente formava em seus lábios um sorriso desafiador, Pete ficou sem entender o que realmente acontecia. "Eles por acaso se conhecem?” Pete pensou consigo.

Amizades e Gary na mesma frase era algo deveras raro. Gary chamava a todos de amigos, mas não por ter um vínculo de amizade, e sim apenas por uma mania insistente de tentar se aproximar de qualquer pessoa para conseguir o que queria. Foi assim com Jimmy e assim com muitas outras pessoas.

 — Relaxa, Petey, eles não irão te fazer nada.

   Então parecia que de certa forma, Gary conseguiu fazer a palavra “amigos” ser usada em outra pessoa, mas justamente de um bando de delinquentes. Se Gary começasse a ter esse tipo de “amizade” com ele, com certeza seu antigo eu causador de caos escolar estaria tão próximo quanto Pete poderia imaginar

— Gary, Gary. Não sabia que tinha amigos. Como alguém pode querer andar com alguém como você?

— Eu deveria fazer a mesma pergunta, conseguiu arrumar um bando de idiotas pra não ter que apanhar sozinho ou só está os usando como escolta para não ser apanhado novamente e mandado para o hospício ao qual você fugiu?

     Gary provocava o garoto com gosto a cada palavra que soltava. Ele nunca teve um filtro em seus diálogos brutos. Tudo o que ele pensava em sua mente agitada ele soltava a quem estivesse perto, não importando se isso fosse fazer a outra pessoa surtar e ir para cima dele aos socos.

— Você não mudou nada... vai acabar voltando pra lá mesmo que tenha saído sem precisar fugir.

— Não me compare a você, se você ao menos usasse um por cento dessa sua cabeça, saberia como diminuir sua estadia lá. Mas pelo visto, você deve amar aquele lugar, conhece a todos, sai e entra com facilidade. Na verdade, você tem muita coisa em comum com aquele hospício: os dois são um lixo.

   A conversa que os dois tinham era assustadoramente diferente do que Pete estava acostumado a ver. Os dois pareciam se entender perfeitamente como se conhecessem há muito tempo.

— Sua língua continua afiada como sempre, é melhor mantê-la segura na boca ou algo mais afiado pode corta-la. — O adolescente disse com tranquilidade. — Mas... voltando ao que eu estava fazendo antes de você me interromper. Eu quero saber quem é ele.

   O jovem desviou o olhar diretamente para Pete. Ele tinha semelhanças com Gary e parecia não se irritar com o que o cicatrizado lhe dizia, mesmo que todas as palavras fossem direcionadas a ele de forma diretamente provocativas na intenção de irrita-lo, ele não se importou.

 — Esse é meu colega de quarto, e meu admirador não tão secreto nas horas vagas.

  Pete olhava para Gary revirando seus olhos enquanto seu rosto se aquecia com o que acabava de ouvir de sua apresentação inusitada feita pelo cicatrizado.

— E-eu não sou nada seu, além de colega de quarto. Pare de dizer bobagens.

— Ah, um “amigo” do Gary. Então você está manipulando esse pobre garotinho? — O jovem passava a mão sobre os cabelos de Pete os espalhando por completo.

— Sim, meu amigo, não é mesmo Petey?

   Ele realmente não queria dizer nada como resposta e amigo não era a palavra exata que ele usaria para descrever sua relação com Gary, mas qualquer coisa serviria para tirá-lo daquela situação.

— É, talvez o único.

    Gary o encarava um pouco surpreso com a resposta de Pete. O fato de Pete afirmar que os dois eram amigos sem protestar e a forma que ele usou um pouco de sarcasmo mesmo estando ao lado de uma pessoa que há alguns meses o intimidava, fez com que Gary guardasse aquele comportamento na memória. Pete realmente pensava que Gary nunca teve realmente amigos em sua vida, mas ele já havia tido amigos além dele, mas Pete talvez seja o único que não tenha desistido mesmo com seu caráter nada convidativo.

— Então, se isso responde a sua dúvida, temos que voltar para a escola. Realmente estou tentando não cometer crimes, pelos menos não por enquanto.

  Gary puxou seu pequeno companheiro, ainda o envolvendo pelos ombros e se distanciou do grupo sem muita cerimônia. Os dois adolescentes, agora em silencio, seguiram seu caminho de volta a academia.

   “Finalmente”, Era o pensamento de Pete depois de se livrar da situação desconfortável em que estavam antes. Gary não parecia abalado, parecia um tanto quanto feliz se era isso que significava o meio sorriso que estava em seu rosto.

— Qual o motivo do sorriso? — Pete perguntou diretamente.

— Ah, perdão, eu estava distraído pensando em como você parece com uma criança arrumando brigas com gente que não é do seu tamanho, literalmente. Francamente, Petey... Você parecia um bebê, estava quase chorando lá atrás. Se eu demorasse alguns minutos a mais, você estaria no mesmo nível do Algie com as calças totalmente molhadas... — Ele respondia com o sorriso mais aberto.

— Idiota. Eu não precisava da sua ajuda, teria resolvido tudo sozinho e já que tocou no assunto, de onde você os conhece?

— Ciúmes?

— Claro que não, só não sabia que você tinha “amigos”. — Pete respondia em um tom de deboche com total ênfase na palavra amigos.

— Você não sabe realmente muito sobre mim, só acha que sabe, então não palpite as coisas. Se quer saber, apenas me pergunte.

— Sei o bastante pra afirmar que se eu perguntar algo sobre você, as chances de você não me responder ou dar uma reposta falsa são de noventa por cento.

— Exatamente. — Gary afirmava. — Mas eu só conheço aquele... como posso chamar? O “líder”. Ele já foi mandado várias vezes pro lugar onde eu estava antes de voltar pra escola.

— Então ele tem algum problema?

— Não, pelo menos eu acho que não... só é idiota mesmo.

— Ah, igual a você. — Pete respondeu com tranquilidade até demais.

   Gary parava seus passos próximo aos portões da escola. Ele encarava o rosto de Pete agora com uma expressão fechada. Ele parecia um pouco impaciente com o humor repentino de Pete, mas não o intimidou por isso.

— O que tem com você hoje, Femme-boy? Não lembro de ter te dado um passe livre para achar que somos realmente amigos íntimos.

     Gary dava um leve empurrão em Pete para que ele se afastasse e logo se virava seguindo para a outra parte da cidade. Ele seguiu andando pela calçada da rua com as mãos enfiadas nos bolsos de sua calça acinzentada.

— Volte para o dormitório e faça a droga dos seus malditos deveres, e não me siga. Estarei de volta mais tarde. — Gary dizia se virando para Pete com total desinteresse.

— Aonde você vai?

— Andar um pouco, sei lá... Relaxa. Voltarei logo, logo.

  Ele se afastou rapidamente do olhar de Pete, sua expressão era indescritível, não se dava para saber o que ele iria realmente fazer, mas Pete decidiu deixa-lo ir sem protestar contra. Ele apenas se virou e seguiu para o dormitório.

  “Aquele idiota vai fazer alguma coisa, mas quer saber? Tanto faz, podiam sequestrá-lo e não iria fazer nenhuma falta pra ninguém”. Pete pensava consigo.

  Entrando no dormitório, Pete encontrava Jimmy mais uma vez seguindo para o caminho oposto ao dele. Nada de anormal vindo de Jimmy que parecia nunca parar no mesmo lugar.

— Ah, Pete, você voltou, mas... — Jimmy tentava encontrar a outra pessoa com quem ele via Pete saindo mais cedo. — Cadê o idiota?

— Eu não sei, ele disse que iria andar por aí e que depois voltaria.

— Não é muito bom ouvir isso, quanto mais longe ele estiver de nós, mais perigoso será o resultado. Vou tentar ficar de olho e você, tome cuidado.

— Tá tudo bem, já estou bem informado sobre como Gary funciona.

— Certo... vou indo então, preciso resolver umas coisas. — Jimmy acenou com a cabeça continuando seu caminho para fora do dormitório.

   Pete seguiu para seu quarto. Ele desistiu de tentar manter Gary sobre controle. Talvez agora ele finalmente tivesse um pouco de paz sem ele por perto, sem se preocupar se ele fosse ou não morto.

   Terminando todos os deveres acumulados que tinha para fazer, ele se jogava em sua própria cama. Pete estava um tanto quanto inquieto, olhando para as rachaduras do teto enquanto balançava os pés. Ele não tinha nada em mente e não parecia estar tranquilo mesmo depois de estar na paz em que tanto desejava.

  Novamente, a insistente chuva começava a cair devagar lá fora, foi quando ele despertou de seu pequeno transe e olhou para o relógio em seu pulso. Já era tarde e os monitores já estavam em suas patrulhas noturnas. Gary ainda não havia voltado.

— Não é da minha conta mesmo, não sou babá de ninguém. — Ele tentava convencer a si mesmo, mas no fundo ele sabia que se algo acontecesse e a culpa fosse de Gary ele também estaria com problemas. Eles eram companheiros de quarto justamente para que Pete pudesse fazer com que Gary não cometesse nenhuma atrocidade novamente. Mesmo que não fosse a melhor coisa a se fazer ele decidiu procurar Gary, mesmo com o risco de ter que se explicar para o diretor do motivo de quebrar as regras da escola mesmo estando em posto que necessitasse total exemplo.

— Gary, seu idiota. Onde você se meteu?

  Se esgueirando pelos muros para não ser visto, Pete andou por toda a escola a procura de seu companheiro, mas não encontrou nenhum rastro sequer de onde o cicatrizado havia se metido. Ele acabou por concluir que Gary não havia nem ao menos retornado a academia. Então com um pouco de incerteza, pensando seriamente entre desistir e voltar para seu quarto ou entre ir atrás de um idiota e talvez encontrar com quem não pudesse enfrentar. Ele fechou os punhos amaldiçoando a si mesmo pelo que iria fazer e seguiu para fora da escola.

  As ruas da cidade se encontravam um tanto quanto vazias. A chuva ainda caía muito levemente. Pete caminhava rapidamente olhando para todos os lados atentamente, com seu guarda-chuva apertado em suas mãos a procura de Gary. Ele já estava bem longe da academia e os guardas patrulhavam pela cidade. A essa hora ele só conseguia encontrar bêbados esparramados pelas calçadas e adultos com olhares maldosos em becos escuros, ele apenas os ignorava e seguia procurando. Nas ruas próximas a costa da pequena praia, ele avistava de longe alguém sentado em um banco ao fim do píer principal e vagamente caminhou até lá. Ele se aproximou cautelosamente notando que a pessoa falava sozinha e essa voz não poderia ser de mais ninguém além de quem ele tanto procurava: Gary. Pete se aproximou ficando um pouco surpreso com a situação em que Gary se encontrava. Hematomas pelo rosto e arranhões pelos braços, suas roupas estavam sujas e ele parecia um tanto quanto irritado.

— Gary? O que aconteceu com você? — Pete perguntava um pouco preocupado com a situação do cicatrizado.

— Eu não tinha dito pra você não me seguir? — Gary dizia com uma expressão um pouco abalada.

— Vamos... temos que tirar você daqui, está chovendo. Vai acabar ficando doente.

— Não posso voltar pra escola assim, os monitores estão em cima de mim desde que voltei. Se me pegam assim, vou ter que ouvir o diretor e minha família no meu ouvido novamente enchendo o saco. prefiro morrer de hipotermia na chuva.

   É verdade que Pete não podia simplesmente voltar com Gary naquele estado para a escola. Os monitores perceberiam com toda certeza e além de Gary ter problemas com isso, ele também teria por abandonar a escola em toque de recolher mesmo com seu papel autoritário e ainda por cima, com a única pessoa na academia inteira que não deveria estar na situação em que estava. Ele pensou por um instante no que deveria fazer enquanto compartilhava um pequeno espaço em seu guarda-chuva com seu colega.

— Acho que a casa do farol ainda tem os pertences de Jimmy, ele não vai ligar se usarmos. — Ele olhava para Gary com um pouco de pena. — Vamos, não é um quarto luxuoso, mas acho que qualquer coisa é melhor do que os dormitório da academia.

  Ele ajudou Gary a se levantar e serviu como apoio para que ele conseguisse caminhar para o abrigo arranjado. Gary estava realmente fraco, e a melhor coisa que Pete podia fazer era ajuda-lo a não piorar a situação o mantendo fora dos olhares dos vigilantes da noite.

   Os dois caminharam pela areia molhada chegando ao seco do interior da casa. Gary se sentou no velho colchão que parecia ser a coisa mais precária daquele local e Pete ficava de pé em frente a ele com os braços cruzados sobre o peito na espera de uma explicação.

— Então, você vai me dizer o que aconteceu?




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