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História Renovação - Traumas e Gentilezas


Escrita por: LULUNATIC_ e LULUNA2R

Capítulo 8 - Traumas e Gentilezas


   Já era tarde da noite quando Gary finalmente decidiu contar o que havia acontecido antes de ser encontrado por Pete. O menor escutou atentamente a tudo o que o cicatrizado dizia. E em um modo despreocupado, Gary contava tudo do que se lembrava sem se importar com o que havia acontecido.

— Então, você levou uma surra daqueles idiotas?

  Gary não respondia, apenas o encarava com total desinteressante no sermão que levaria se respondesse.

— Você levou uma surra porque foi atrás do que já estava quieto por simples diversão...? Merecido.!

— Você sabe que eu não consigo me conter. É tão divertido ver o quão rápido as pessoas saem do sério.

— Da próxima, só se lembre que você é apenas um. Você deu sorte de que nem todos eles estavam mais juntos, você poderia te morrido... — Pete disse com um pouco de preocupação.

— Ah, eu posso aguentar muita coisa. Cair do telhado da escola direto na sala do diretor com um Jimmy imenso caindo por cima de mim me dando chutes e socos, é um bom exemplo de resistência.

— Sim, mas Jimmy não seria capaz de te matar. Enfim, está doendo muito?

— Não muito, só estou exausto. — Gary tentava esticar o corpo. — Está preocupado comigo?

  Pete não queria admitir, mas no fundo ele se preocupou quando viu o estado de Gary.

— Eu te procurei por toda a escola e tive sorte de te encontrar aqui... só queria ter certeza de que você ainda estava vivo.

 Gary levantava o rosto encarando os olhos de Pete sem comentar nada sobre o que ouvia.

—Bem, é melhor você descansar. Jimmy não vai se importar de estarmos aqui. — Pete repensou um pouco no que disse — Na verdade... ele não se importaria se EU estivesse aqui, já você...

— Não posso.

— Por que não?

— Eu estava na chuva, esqueceu? Minhas roupas estão molhadas, quer que eu morra enquanto durmo?

 Só agora Pete percebeu que as mãos de Gary tremiam levemente.

— E o que você quer que eu faça? Ninguém te mandou ficar sentando em um banco no meio da chuva. — Pete o repreendeu.

 O adolescente menor pensava em algo que pudesse ajudar. Havia um guarda-roupa no local e Pete torceu para que algo útil estivesse dentro. Ele o abriu encontrando algumas roupas de Jimmy. Era provável que ele trouxesse alguns de seus vestuários para cada moradia de gangues ao qual ele fazia parte, já que muitas das vezes ele não tinha tempo de retornar a escola antes do toque de recolher.

— Olha, tem umas roupas do Jimmy aqui, você pode usa-las e deixar seu uniforme secando pela noite.

 Pete esticou o braço com um dos uniformes de Jimmy o entregando a Gary que o encarava de cara feia.

— Era o que me faltava, ter que usar as roupas desse idiota.

— Digamos que você não tem muita escolha. — Pete disse o encarando de volta

  Gary puxou o uniforme da mão de Pete retirando seu colete verde molhado e a camisa que vestia por baixo. Ele rapidamente os trocou pelas roupas que recebeu de Pete. O adolescente menor olhava tentando segurar os risos abafados que saíam de sua boca. Por mais que Gary fosse um pouco mais alto que Jimmy o uniforme ainda ficava em um tamanho maior em seu corpo por Gary ser bem mais magro. Era como ver uma criança usando as roupas dos pais escondidas.

 — Do que você tá rindo?

 — Nada não. — Pete desviou o olhar tentando disfarçar.

  A chuva lá fora se engrossava rapidamente, acompanhada de luminosos raios e estrondosos trovões. Pete procurava por um lugar que pudesse se aconchegar, já que Gary ficaria com a cama e obviamente ele não ficaria junto a ele.

 — A chuva tá piorando. Se eu não tivesse te encontrando logo...

 — Oh, obrigado, meu amor, por ter vindo ao meu encontro e por ter me salvo dessa terrível chuva. Não sei o que faria sem você. — Gary zombava da situação e Pete revirava os olhos se jogando no sofá encostado na parede perto do colchão. 

 — Vou me deitar aqui, mas acho que não vou conseguir dormir. Amanhã cedo voltamos para escola. — Pete afirmou.

    A chuva só piorava cada vez mais, estava um clima um tanto quanto assustador com os trovões e raios que caiam lá fora. Não é como se que aquilo fosse um tipo de catástrofe ou algo do tipo, mas Pete sentia muito medo desde muito novo. Vamos chamar isso de um pequeno trauma de infância que ele nunca conseguiu perder e a única coisa que conseguia fazer era se cobrir por inteiro e fechar muito seus olhos com força para se forçar a dormir, mas naquela noite, não havia nada com que ele pudesse se cobrir e aquele pequeno medo só aumentava cada vez mais a cada trovão que estendia-se com o barulho por toda a cidade. Pete só conseguia se encolher e tremer, com as mãos cobrindo os ouvidos para tentar não ouvir o barulho.

   “Não tenha medo Pete, é só uma tempestade, nem crianças de cinco anos tem medo dessas coisas”. Pete tentava se tranquilizar.

  Foi quando uma mão segurava o braço de Pete o chacoalhando repetidamente até que Pete abriu seus olhos assustado a ponto de ter um infarto ali mesmo.

 — Ei, você tá legal?

  A pessoa que menos imaginava que fosse perguntar esse tipo de coisa era Gary.

— Você está tremendo muito... e tá muito suado. Tá tudo bem? — Gary repetia a pergunta.

— Ah, s-sim... estou bem. — Mentiu Pete um pouco sem graça.

— Você tá de frente com a pessoa conhecida como a cobra de Bullworth, que sabe mentir maravilhosamente bem. Você não engana ninguém assim. Me diz o que tá acontecendo. — Gary dizia um pouco sonolento.

— Se você prometer não rir...

— Isso é coisas de criança. Você sabe muito bem que eu vou rir se for engraçado, só conte logo.

— Eu tenho medo...

— Medo de...?

— De tempestades...

  Gary ergueu uma das sobrancelhas, encarando Petey que se encolhia cada vez mais no sofá.

— Assim como um bebê. Eu deveria ter imaginado.

 Gary segurou um dos braços de Pete o puxando do sofá.

— Não é que eu esteja preocupado com você ou coisa do tipo, mas se você continuar com esse seu medinho a noite inteira eu não vou conseguir dormir.

  Pete estava confuso com o que Gary tinha em mente, o maior apenas o encarava com um cansaço estampado em seu rosto.

— Você pode dormir comigo, mas não entenda errado. Não toque em mim durante a noite e não faça barulho ou te chuto pra longe.

  Pete só conseguia pensar no quão louco estava sendo a atitude de Gary nesse momento. Ele aprendeu com o tempo que o espaço pessoal de Gary nunca deveria ser divido, ele era a prova maior de que essa regra não deveria ser quebrada, mas uma aproximação feita pelo próprio era uma coisa nova até para o adolescente menor.

— E-eu não vou dormir com você, já disse que estou bem...

— Cala a boca e deita logo antes que eu te prenda no armário.

  Gary já havia se deitado de costas para ele e estava a ponto de cair no sono novamente, mas Pete; pelo contrário de Gary, ainda se encontrava em pé sem acreditar no que estava acontecendo.

— Petey... deita logo, não vou repetir. — Disse Gary uma última vez sem nem olhar para trás.

  Pete se movia lentamente e deitava com cuidado de costas para Gary para não incomoda-lo, mas seu medo ainda estava lá. Ele apenas se encolheu e tentou dormir tapando seus ouvidos para que não pudesse ouvir nada que viesse de fora, mas parecia inútil com a chuva muito mais barulhenta do que antes. Ele tremia cada vez mais até repentinamente se assustar mais uma vez com um braço que o agarrava. Foi um pequeno e leve susto que por reflexo o fez olhar para Gary.

— Apenas vá dormir, estou tentando ser legal com você.

   Gary havia se virado e estava com uma cara meio irritada que quase não se dava pra ver com a pouca luminosidade da casa. Pete continuou do jeito que estava; de costas para ele, e Gary apenas jogava um de seus braços em volta do corpo do adolescente menor. Seus corpos não estavam juntos e se mantinham com uma distância favorável para os dois. E aquilo foi o bastante para Pete se acalmar. Ele apenas fechou os olhos e não pensou em mais nada, apenas sentindo o calor que era gerado entre os dois. O sono acabou surgindo naturalmente e ele apagou por toda a noite.

 Pela manhã o tempo já havia mudado e a luz do sol refletia pelas persianas das janelas. Pete acordou se deparando com a cara de Gary o encarando com um meio sorriso no rosto. Ele já havia acordado e trocado o seu uniforme, estava de pé com uma cara paciente para Pete.

— Dormiu bem, princesa?

— Cala a boca. — Disse Pete tentando manter seus olhos abertos. — Que horas são? Temos que votar pra escola logo.

— Se você levantar agora, talvez possamos chegar antes das primeiras aulas começarem

— Certo, já estou de pé.

  O sol estava realmente como um aquecedor, com um calor aconchegante que fazia Pete se sentir disposto. Os dois, depois de uma noite um pouco conturbada, fizeram seu caminho de retorno a academia sem dizer uma única palavra, até Gary cortar o clima de tranquilidade.

— Petey, nada de ontem aconteceu. Estamos entendidos?

— Ah, Ok. — O rosto de Pete se aqueceu ao lembrar.

— Bom garoto.

   Mas claro que para Pete, havia sido um dia deveras estranho e agitado. Conhecer pessoas novas e nada amigáveis, “salvar” Gary de um possível resfriado. E a retribuição vinda de um forma gentil de quem ele menos esperava. Talvez, fosse apenas um dia de teste para a cabeça acostumada com as regras e normalidades que Pete tinha. Ou talvez não.

— No que você está pensando? vamos logo antes que a aula acabe e você fique reclamando que a culpa foi minha.

— Ah, mas a culpa já é sua mesmo. — Disse Pete com um sorriso divertido.

— Deixe pra reclamar mais tarde.

  Ele parecia feliz ou era apenas uma impressão de Pete. Talvez o cicatrizado só tivesse acordado de bom humor, mas Gary estando de bom humor não era um bom sinal. Na verdade, era quando ele ficava mais animado com seus insultos. De qualquer forma, Pete achou melhor aproveitar enquanto ele não fazia nada para tentar expulsar alguém novamente.

— Por que você está rindo?

— Nada não, só acho que os dias serão longos daqui pra frente.

 Pete apenas sorria de uma forma gentil, e Gary ficava confuso sem entender o motivo de tal alegria.

 — Petey...

 — Hm?

 — Obrigado.

 — O que você disse? Obrigado? tá doente? — Pete perguntava deveras impressionado.

 — Você tá muito engraçadinho ultimamente.

 — Essa não, estou andando muito tempo com você.

  Pete apenas riu e os dois seguiram para as aulas como se nada tivesse acontecido antes. Talvez fosse apenas impressão, mas Gary parecia estar mudando. Gentileza não era algo que fazia parte de Gary e mesmo assim ele a concedeu um pouco a Pete. Até mesmo os insultos pareceriam menores e Pete não sentia nenhum pouco de falta dessa parte. Na verdade ele agradecia a cada evolução que ele notava em Gary.

 — Acho que você tá diferente.

— Diferente de que jeito?

— Só... diferente.

  Os dois já estavam em aula, Gary apenas virou o rosto desviando sua atenção do rosto do adolescente menor que o encarava.

— É... pode ser.




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